Tucumã

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaTucumã

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Arecales
Família: Arecaceae
Género: Astrocaryum
Espécie: Astrocaryum aculeatum
Sinónimos
Astrocaryum tucuma
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Tucumã-do-amazonas ou simplesmente Tucumã (Astrocaryum aculeatum G.Mey.) é pertencente à família Arecaceae.[2] É amplamente utilizado no Amazonas como forma de alimento e matéria-prima para artesanato, alimentação outros fins.[3]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Seu nome vem do tupi e significa "fruta de planta espinhosa".[4][5]

Características[editar | editar código-fonte]

A árvore[editar | editar código-fonte]

A árvore é uma palmeira que pode atingir 15 metros de altura de estipe ereta com faixas de espinhos negros. Apresenta folhas pinadas e ascendentes de até 5 metros. Apresenta inflorescência do tipo panícula.[6] São solitárias e geralmente encontradas em locais abertos como capoeiras e pastos abandonados, com solo pobre e degradado. Cada palmeira produz cerca de 50kg de tucumã ao ano.[7]

A temporada de florescimento do tucumãzeiro vai de julho de um ano a janeiro de outro, frutificando no período do ano restante (fevereiro a agosto), porem, é comum que nos grandes mercados de Manaus se encontre o fruto em outros períodos. Cada palmeira produz em média de 3 a 4 cachos por ano, indo de 2 a 7 cachos, dependendo do indivíduo. Em média um cacho pode ter 240 frutos, mas pode varia entre 35 a até 700 frutos.[8]

O fruto[editar | editar código-fonte]

A árvore começa a dar frutos por volta do seu sétimo ano, quando atinge entre 6 e 9 metros de altura.[8] O fruto é redondo, composto de polpa alaranjada ou amarela de massa fibrosa, compacta e firme. Acima da polpa está a casca, podendo ser amarelo-claro ou escuro. Abaixo da polpa está um caroço negro lenhoso que ao ser partido apresenta amêndoa de massa branca, oleaginosa e dura.[9] O caroço com a amêndoa corresponde a cerca de 60% do fruto.[10]

Características gerais do fruto: [7]

  • Epicarpo - a casca corresponde a cerca de 17,2% do peso do fruto fresco, sendo verde-amarelado e fibroso. Este pode ser utilizado como parte da alimentação de aves, peixes e outros animais.
  • Mesocarpo - a polpa é alaranjada e corresponde a cerca de 21,2% do peso do fruto fresco, é utilizada como produto alimentício humano.
  • Endocarpo - o caroço rígido, preto, correspondendo a 60,5% do peso do fruto. O tegumento do caroço corresponde a 37,8% do peso dele desidratado e serve para a produção de carvão.
  • Endosperma - amêndoa branca que corresponde a até 61% do peso do caroço desidratado, pode ser utilizada para produção de óleos, cosméticos e biodiesel.

Muitos animais silvestres utilizam o tucumã como fonte de alimento, sendo a cutia seu principal consumidor e dispersor, uma vez que costuma enterrar o fruto para consumir gradualmente e acaba os esquecendo, favorecendo assim a germinação.[8]

Cultivo[editar | editar código-fonte]

Jovens tucumãzeiros em meio a capoeira recém desmatada

Os agricultores trabalham no manejo principalmente de tucumãzeiros que nascem de forma natural, pois estes levam de dois a três anos para germinar, o que se tornou uma dificuldade enfrentada pelos produtores.[8] Em 2012 a EMBRAPA desenvolveu uma técnica que tornaria o cultivo mais fácil, quebrando o "tempo de dormência" das sementes.[11] O comércio de tucumã é importante nas feiras de Manaus, onde entre Maio de 2011 e Abril de 2012 foram comercializados 367,8 toneladas do fruto, com as vendas acontecendo por saca(até 41kg de frutos), dúzia de frutos íntegros (46,6%) e quilo de polpa (53,4%). Esses frutos são provenientes de todos os cantos do estado do Amazonas e também parte do oeste do Pará, baseando-se no extrativismo.[12]

Uso humano[editar | editar código-fonte]

Os tucumãs são encontrados ao longo do ano e podem ser utilizados como forma de alimento, sendo consumidos em larga escala como parte de um sanduiche de pão e sua polpa, sendo também utilizados para produção de sorvetes, sucos, licores, doces e óleos. O seu caroço atende à demanda de artesãos para produzir anéis, brincos, pulseiras e colares. O caroço pode ainda servir de fonte energética sustentável, podendo substituir combustíveis fósseis. Além disso, 85% da composição do carvão de seus caroços é composta de magnésio, sódio, potássio e silício, podendo ser um potencial fertilizante do solo.[6] Há ainda o uso da casca para produção de cosméticos e da sua palha para produção de cordas, redes de pesca e de descanso.[13]

Valores para referência nutricional[editar | editar código-fonte]

Valores nutricionais correspondentes à 100 gramas de polpa do fruto:[14]

Componente Valor por 100g
Energia 262 calorias
Carboidratos 26,5 g
Proteínas 2,1 g
Gorduras 19,1 g
Fibras 12,7 g
Vitamina A 808 mcg
Carotenoides 6265
Luteína 79 mcg
Zeaxantina 16 mcg
Vitamina C 24 mg
Potássio 401 mg
Magnésio 121 mg
Cálcio 46 mg
Fósforo 53 mg
Zinco 0,9 mcg

Benefícios à saúde[editar | editar código-fonte]

O tucumã é uma fonte importante de nutrientes. Estudos têm demonstrado que os frutos do tucumã apresentam um perfil nutricional equilibrado, com teores significativos de carboidratos, proteínas e lipídios, além de vitaminas, fibras e compostos bioativos.[15]

Os carboidratos são o principal componente do tucumã, fornecendo energia de forma rápida ao organismo. Além disso, o tucumã é rico em fibras alimentares, que desempenham um papel fundamental na saúde gastrointestinal, auxiliando no trânsito intestinal e na prevenção de doenças, como constipação e câncer de cólon. No que se refere aos lipídios, o tucumã é conhecido por sua alta concentração de ácidos graxos saturados e monoinsaturados. Esses lipídios são importantes para a manutenção da integridade celular, fornecimento de energia e síntese de hormônios.[15]

O tucumã também é uma fonte de vitaminas e minerais essenciais, em especial, as vitaminas A, E e C, que possuem ação antioxidante e auxiliam na proteção celular contra danos causados pelos radicais livres. Quanto aos minerais, o tucumã é especialmente rico em cálcio, ferro e potássio, que são fundamentais no desenvolvimento e funcionamento do organismo.[15]

Além dos nutrientes essenciais, o tucumã contém uma variedade de compostos bioativos, como carotenoides, tocotrienóis, compostos fenólicos e flavonoides. Esses compostos conferem ao tucumã propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antimicrobianas, que podem contribuir para a saúde e prevenção de doenças.[15][16]

A polpa do tucumã é fibrosa e por isso ajuda a prevenir a prisão de ventre e também diminui a absorção de carboidratos, atuando na prevenção do diabetes. A presença do ômega-3 atua ajudando a diminuir o nível de colesterol ruim. A presença de luteína e zeaxantina ajuda a proteger os olhos. Pela presença de vitaminas A e C e carotenoides, ajuda a fortalecer o sistema imunológico. Outros benefícios do consumo são a inibição do envelhecimento precoce e controle dos níveis de açúcar no sangue.[17]

X-Caboquinho[editar | editar código-fonte]

Polpa de tucumã para consumo humano.

Em Manaus e boa parte do Amazonas o tucumã é consumido como ingrediente principal de um sanduiche conhecido como "X-caboquinho" sendo considerado um dos "pratos típicos" do Amazonas. O X-Caboquinho consiste de um pão francês recheado principalmente com polpa de tucumã e queijo coalho, podendo ter outros ingredientes. A polpa de apenas um tucumã já seria o suficiente para suprir a demanda do organismo por Vitamina-A.[13]

Biodiesel[editar | editar código-fonte]

Em 2012 o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia(Inpa) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) destacaram o tucumã como uma das espécies oleaginosas amazônicas com um dos maiores potenciais para produção de bioenergia. De acordo com o grupo de estudos “Cadeia Produtiva Sustentada do Tucumã do Amazonas” o fruto vinha sendo estudado para essa finalidade desde o ano de 2004 por sua amêndoa ser grande fornecedora de óleo. De 1kg de amêndoa é possível extrair 500ml de biodiesel.[10]

Óleos[editar | editar código-fonte]

Dois tipos de óleos são produzidos por este fruto: o óleo da polpa externa e o óleo da amêndoa. O óleo encontra-se, no fruto, na seguinte proporção:[18]

Óleo de Tucumã
Parte do fruto R. Bolton (%) Autor (%)
Óleo na polpa externa 47,50 33,00
Óleo na amêndoa 32,50 - 43,50 36,50
Óleo na semente inteira 21,20 20,94

Industria cosmética[editar | editar código-fonte]

O óleo da polpa do tucumã é usado para a fabricação de sabão. Aliem disso, pelas suas propriedades ricas em ômega 3,6 e 9, o óleo é bastante empregado em produtos cosméticos para a hidratação da pele, loções corporais e produtos capilares para cabelos danificados.[19]

Composição acido graxos do óleo de Tucumã (Polpa)

Palmitico 25,7%
Oléico 65,67%
Lonoleico 3,65%
Linolênico 4,97%

Dados fisico-quimico

Indices Unidades Valores de referencia
Acidos graxos livres % 1,4562
Indice de refração - 1,4562
Indice de Iodo gl2/100g 82
Indice de saponificação mg KOH/g 188,4
Materia insaponificavel % 1,4
Ácidez mgKOH/g 2,58
Indice de Peroxido meq/Kg 1,72
Densidade gr/ltr 0,982
Ponto de fusão ºC 27-35

Sinônimos[editar | editar código-fonte]

Tem por sinônimos os heterotípicos[20]:

Astrocaryum dasychaetum Burret

Astrocaryum gymnopus Burret

Astrocaryum gynacanthum var. dasychaetum Burret

Astrocaryum gynacanthum var. munbaca Trail

Astrocaryum minus var. terrae-firmae Drude

Astrocaryum minus var. terrafirme Trail

Astrocaryum munbaca Mart.

Astrocaryum rodriguesii var. minus (Trail) Barb. Rodr.

Referências

  1. Barker, A. (2021). Astrocaryum aculeatum (em inglês). IUCN 2021. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2021​: 3.1. doi:https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2021-2.RLTS.T67531313A67531316.en Página visitada em 15 de maio de 2023.
  2. SiBBr. «Species: Astrocaryum aculeatum». ala-bie.sibbr.gov.br (em inglês). Consultado em 15 de maio de 2023 
  3. Almeida, Lorena; et al. (2009). «ENTOMOFAUNAASSOCIADAAOTUCUMÃ,Astrocaryumaculeatum Meyer» (PDF). INPA. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  4. «TUCUMÃ: DESCUBRA TODOS OS BENEFÍCIOS DO FRUTO AMAZÔNICO!». Natura. 31 de janeiro de 2022. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  5. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 724, 1 725
  6. a b Nascimento, Paulo César (2013). «Pesquisas demonstram potencial energético da semente de tucumã» (552). Jornal da UNICAMP. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  7. a b Figliuolo, Roberto; da Silva, João Domingos (2009). «Cadeia Produtiva Sustentável e Integral do Tucumã do Amazonas: do lixo à produção de cosméticos e biodiesel.» (PDF). Sociedade Brasileira de Química. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  8. a b c d da Costa, Joanne; van Leeuwen, Johannes; Costa, Jarbas. «Tucumã-do-amazonas» (PDF). Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica. Center for International Forestry Research. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  9. Renata Paes (27 de dezembro de 2016). «Larvas do fruto do Tucumã são usadas para extração de óleo natural». Rede Pará. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  10. a b Mária Derzi (14 de abril de 2012). «Cientistas descobrem uma nova utilidade para o tucumã». A Crítica. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  11. «Prosa Rural - Técnicas para facilitar a germinação das sementes de tucumã». Embrapa. 9 de agosto de 2012. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  12. Didonet, Adriano; Ferraz, Isolde (junho de 2014). «O COMÉRCIO DE FRUTOS DE TUCUMÃ(Astrocaryum aculeatum G. Mey - ARECACEAE) NAS FEIRAS DE MANAUS (AMAZONAS, BRASIL)». Revista Brasileira de Fruticultura. Jaboticabal, SP. pp. 353–362. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  13. a b «Tucumã». Frutiferas. 2023. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  14. «Tabela brasileira de composição de alimentos - 4ª edição» (PDF). UNICAMP. 2011. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  15. a b c d MACHADO, A. P. da F.; NASCIMENTO, R. de P. do; ALVES, M. da R.; REGUENGO, L. M.; MAROSTICA JUNIOR, M. R. Brazilian tucumã-do-Amazonas (Astrocaryum aculeatum) and tucumã-do-Pará (Astrocaryum vulgare) fruits: bioactive composition, health benefits, and technological potential. Food Research International, Ottawa, v. 151, e110902, 2022. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.foodres.2021.110902>. Acesso em: 07 jun 2023.
  16. AMORIM, I. S.; ALMEIDA, M. C. S.; CHAVES, R. P. F.; CHISTÉ, R. C. Technological applications and color stability of carotenoids extracted from selected Amazonian fruits. Food Science and Technology, v. 42, p. e01922, 2022. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/fst.01922>. Acesso em: 21 jun 2023.
  17. «Benefícios do Tucumã». Tua Saúde. Dezembro de 2022. Consultado em 28 de fevereiro de 2023 
  18. PESCE, Celestino. Oleaginosas da Amazônia. –Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2009.
  19. Óleo de tucumã (polpa). Amazon Oil industry
  20. «Flora e Funga do Brasil». floradobrasil.jbrj.gov.br. Consultado em 15 de maio de 2023