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Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ensaio: Enciclopédia e enciclopedismo na Wikipédia

Quem ouve falar do Projeto Wikipédia pela primeira vez, muito provavelmente irá associá-lo imediatamente, pelo próprio nome, a uma enciclopédia. O mesmo acontecerá ao se conhecer um dos cartões de visita do projeto na internet, o famoso slogan "A enciclopédia livre que todos podem editar". Dessa frase de impacto e de muito apelo mercadológico, de estrutura aparentemente simples, outros tantos terão condições de inferir mais algumas informações relacionadas. Além da óbvia associação a uma enciclopédia, haverá a inferência de quem seria o seu público-alvo: editores. Assim, a outra informação, a de que a mesma é "livre", vislumbraria à primeira vista tratar-se da característica do "ambiente de trabalho" oferecido a esses editores: de liberdade e criação, audácia, democracia, regras flexíveis e princípios gerais (embora essas duas últimas conotações estejam menos ligadas a liberdade e mais ao liberalismo ao gosto anglo-americano). Evidentemente que, ao se conversar e interagir com os veteranos ou alguns novatos mais espertos, membros do projeto, infelizmente (para mim) haverá a constatação dessa conotação ser um pouco diferente ou mesmo enganosa à medida que tem a ver na verdade ou, principalmente, à licença livre que acompanha o material editado que abastece o projeto. Mas esse aspecto em particular deixará de ser desenvolvido nesse ensaio.

Assim, nessa simples frase poderemos encontrar quase que imediatamente o que seria a razão para a notoriedade do projeto dentro da sua faceta de ser um site da internet que propicia o acesso a uma enciclopédia virtual, universal na medida que milhões de pessoas o acessam com frequência, em muitas partes do mundo: a de oferecer o privilégio de "editar", livre ou não, algo que torna a interação com a Wikipédia muito especial para essas mesmas pessoas. Mas isso também trará um dos mais agudos dilemas da Wikipédia. Afinal, ao pensar-se em uma enciclopédia tradicional, qualquer um responderia que o público-alvo são os leitores em geral: pesquisadores, estudantes, trabalhadores profissionais, curiosos além de seres esquisitos como fãs e colecionadores. Mesmo esse editores podendo ser divididos em editores que leem, editores que não leem e leitores que não editam, a questão é que na Wikipédia os editores ganharam essa proeminência e, com a experiência que adquiri ao longo do tempo, afirmo que defenderão com unhas e dentes a essa atribuição oferecida. E isso trará algumas situações embaraçosas que acredito envolveriam basicamente os editores que não leem mas, por ser de difícil comprovação, para todos os efeitos estarei a falar apenas de editores e leitores de enciclopédia.

Muitos frente a essa questão em relação aos editores, a atenuariam alegando que, na verdade, trata-se a Wikipédia de uma enciclopédia "em construção" (daí o outro nome, "Projeto"), ou seja, os editores receberam essa citada proeminência pois sem eles evidentemente não haveria nada para se ler. E, como ninguém sabe quando termina o fluxo do material enciclopédico, provavelmente essa proeminência continuará enquanto o projeto existir. Assim, ao continuarmos a pensar numa enciclopédia tradicional em comparação com a enciclopédia virtual que o projeto Wikipédia busca ser, devemos aceitar quase que imediatamente essa primeira diferença crucial. Mas essa não será a única e nem talvez a mais polêmica. Basta continuarmos nesse exercício de comparação do que é uma enciclopédia tradicional ao que é a enciclopédia Wikipédia, o qual eu pretendo e ouso desenvolver ao longo das demais linhas desse ensaio.

Enciclopédia tradicional - Mais considerações[editar | editar código-fonte]

Se alguém tiver a curiosidade de acompanhar a página "mudanças recentes" poderá ocasionalmente ler mensagens que acompanham retiradas de edições, avisando ao autor rejeitado "ser a Wikipédia uma enciclopédia". E se a alguém dentro do nosso metiê for perguntado se saberiam responder o que seria uma, 100 entre 100 editores responderiam que sim, sabendo perfeitamente o que é esse objeto fabuloso. Mas, sem maldade, será que sabem mesmo? Arriscaria dizer que muitos dos editores mais jovem visualizariam uma enciclopédia como um tipo de Google, que na terminologia wikipédica seria o mesmo que dizer "repositório de informações". Essa descrição consta de uma política que define não ser o projeto justamente um repositório de informações desordenadas mas há uma questão sobre ser do outro tipo, ou seja, as ordenadas. Assim, não se pode deixar de notar o link colocado nesse texto que direciona o leitor/editor à recomendação "critérios de notoriedade". Talvez para o editor que colocou esse link, não lhe seria nada estranho definir alternativamente a Wikipédia como um repositório de informações ordenadas pela notoriedade (ou relevância ou notabilidade, sinônimos dados pela recomendação). Evidentemente que qualquer conclusão que se chegue apenas com esse jogo de palavras será frágil. Para continuar a explorar o que pensa ou sabe um editor sobre o assunto enciclopédia, precisarei passar agora a descrever o que chamo de "enciclopédia tradicional".

As primeiras características de uma "enciclopédia tradicional" em meus termos naturalmente é ser de papel, ter apelo comercial para possibilitar lucros ou ao menos ser subsidiada por patrocinadores geralmente educacionais governamentais ou filantropos em geral que buscam divulgar e ampliar o conhecimento da população ou de setores pré-determinados de uma. Vejam bem, eu disse conhecimento e não informação. Normalmente, quando esses mesmos patrocinadores almejam aumentarem a informação do público-alvo, evidentemente buscarão publicar jornais e revistas, não uma enciclopédia.

Continuando com o processo, normalmente teremos a fase da elaboração desse produto, com a escolha pelo proprietário ou equivalente de um tipo de conselho editorial, caso não tenhas condições de assumir ele próprio essas funções. Como um produto, comercial ou pedagógico, será oferecido ao mercado ou ao público, naturalmente ambos majoritariamente formado por leitores, ou clientes que intermediarão a compra até eles, os leitores. Seguindo-se a essa característica, caberá a esses editores definirem vários aspectos formais do produto e do negócio, como escolher se a enciclopédia será geral ou específica, acadêmica ou popular, a um preço caro ou barato, ou mesmo gratuito. Uma das medidas mais importantes será a contratação ou reunião de um núcleo de professores e revisores do material a ser publicado. Espera-se que seja pedido a essas pessoas que reunissem todo o conteúdo de conhecimento a respeito dos assuntos dos quais ficaram encarregadas. Nessa fase, o professor se confundirá também a um editor pois, apesar dele ter acesso a supostamente todo o conhecimento de um assunto que estude, ele sofrerá algumas limitações como o tempo e a sua própria capacidade e aspectos da personalidade. Ele poderá decidir escrever mais sobre alguns assuntos que ele considere notório, relevante e notável do que outros que tenha alguma restrição, seja porque não considere importante, seja porque o mesmo será polêmico ou até porque chamará a atenção para trabalhos de outros professores dos quais tenha alguma rivalidade ou antipatia. Ao finalizar o material que lhe cabe, poderá haver a ação editorial propriamente dita. Os editores poderão influenciar a diminuição ou aumento do material de várias maneiras, fixando de forma legítima um numero de páginas maior ou menor. Outras não muito legítimas como eliminar passagens polêmicas, impróprias, antipáticas ou acrescentando assunto que por ventura estranhe que não tenha aparecido, etc, serão operações delicadas e terão que ser muito bem negociadas e executadas para não se contrariar os dignos professores. Até aí podemos perceber que o editor tem normalmente a capacidade de formatar o produto como um todo, de modo a alcançar o maior número do público-alvo que serão os leitores.

Mas e os leitores, o que esperam eles ao ter em mãos uma enciclopédia? Eu, quando lia uma, achava que a mesma devesse, em princípio, conter todo o material disponível sobre um determinado assunto. Quando me frustrava, o que era comum, só me restava buscar outra que não fosse muito cara e esperar que daquela vez conseguisse ter o almejado acesso a todo o conhecimento disponível desse mesmo assunto. Conseguia avançar um pouco mais, mas poderia novamente não ficar satisfeito (ou ser enganado). Esse desejo de reunir todo o conhecimento da Humanidade suponho estar presente nos objetivos dos primeiros Enciclopedistas ou de algumas enciclopédias mais ambiciosas como a Britânica. Acredito que por diversos motivos essa ideia tenha se tornado opaca ao longo das décadas e ficara parecida mais como uma idealização da realidade do que o que acontece na realidade, só sendo reativada justamente nesses dias em que vivemos que alguns denominaram de "Era do Conhecimento". E a Wikipédia, ao se apresentar como uma enciclopédia virtual universal, ilimitada, atemporal, sem censura, que permite a interação efetiva e especial entre leitor-editor, prometia ser esse obscuro objeto de desejo dos leitores e de alguns enciclopedistas idealistas que não deveriam ser esquecidos. Mas, evidentemente, o mundo das ideias, como abstraía Platão, se torna sombrio e fugaz quando é representado no cotidiano dos pobres mortais como são os negligenciados leitores e idealistas de enciclopédia.

Enciclopédia virtual e tradicional[editar | editar código-fonte]

Editores da wikipedia tendem a olhar somente para o próprio umbigo?

E assim chegamos ao Admirável Mundo Novo que oferece ao público a possibilidade de contar com uma enciclopédia virtual. Mais especificamente, o projeto Wikipédia. O que esse projeto tem em comum e no que difere de uma enciclopédia tradicional? Talvez a palavra "ilimitada" seja a mais emblemática ao se compararmos os dois tipos. Pra começar, obviamente uma virtual significa não ser de papel, não existe restrição editorial de fixar um número de páginas qualquer. Também quem abastece o conteúdo enciclopédico do projeto não é um número fixado de pessoas, por conseguinte não há qualquer restrição a capacidade, personalidade, rivalidade e outros aspectos que citamos quando falamos do núcleo de professores e revisores tradicionais. Então até aqui não haveria obstáculos a enfim podermos contar com uma ferramenta que potencialmente traga todo o conhecimento da Humanidade. Obviamente, há um porém em todo esse cenário. Por não sabermos quem são os autores do material enciclopédico disponibilizado, o mesmo só poderá ser aceito caso haja fontes indicadas. É o chamado "princípio da verificabilidade", que se considera materializado na Política da Verificabilidade. Mas isso não é propriamente uma diferença de uma enciclopédia tradicional, pois, mesmo os professores renomados sabem que para haver credibilidade científica e até mesmo respeito aos autores originais, suas fontes devem estar sempre indicadas. É claro que para um editor de conteúdo comum citar corretamente fontes pode ser uma dificuldade imensa mas não chega a detonar novamente a ideia do conhecimento total. A Wikipedia conseguirá isso então? Receio que pelo cenário atual pelos menos a sua versão lusófona cultiva as sementes do fracasso nesse intento.

Isso porque há uma grande restrição que trabalha contra o conhecimento total, sempre à sombra de quem pesquisa e dedica, sempre deixando de lado os interesses dos leitores. E esse inimigo não é outro senão...os próprios editores. Como isso acontece, é intencional, planejado, determinado? A resposta pode ser complexa, polêmica, antipática, pois, muitos dirão com a melhor boa-vontade que não há razão para a pergunta. Todos os editores querem uma enciclopédia e todos querem a divulgação do conhecimento. Será? Em ensaio felizmente pouco conhecido, um colega meu editor ensina que não se deve perder tempo escrevendo sobre um riacho quando o melhor seria dedicar-se a desenvolver um artigo sobre o Amazonas. Não é uma proibição mas sem dúvida soa como ao se associar a determinada regra do projeto que dá aos editores o poder de eliminar artigos que não sejam sobre assuntos notórios, relevantes e notáveis (Critérios de notoriedade). Assim, essa restrição potencialmente danosa e virulenta, contrária a meta do conhecimento total, surge sem uma razão aparente, a não ser dos próprios editores que por sua vez indicam os critérios de notoriedade como uma das regras básicas (obviamente escrita pelos próprios editores).

Evidentemente não há o que discutir em ser os "Critérios de Notoriedade" uma regra do projeto, aprovada pelos editores. Mas sobre ser uma "regra básica", particularmente considero uma inverdade ao se falar do conteúdo enciclopédico do projeto. Daí uma das questões obscuras e mal compreendidas sobre a Wikipedia. Para mim, em seu formato atual ela não concentra apenas conhecimento, mas também muita informação - essa sim carente de critérios para sua aceitação. Para iniciar essa análise, vejamos primeiramente o que diz de fato uma das regras básicas, o chamado Primeiro Pilar (sobre a natureza enciclopédica do projeto), obviamente escrito por um editor e aceito por quase todos em sua totalidade:

A Wikipédia é uma enciclopédia de amplo escopo que compreende elementos de enciclopédias generalistas, de enciclopédias especializadas e de almanaques. A Wikipédia não é um repositório de informação indiscriminada. A Wikipédia não é um dicionário, não é uma página onde se coloca o currículo, um fórum de discussão, um diretório de ligações ou uma experiência política. A Wikipédia não é local apropriado para inserir opiniões, teorias ou experiências pessoais. Todos os editores da Wikipédia devem seguir as políticas que não permitem a pesquisa inédita e procurar ser o mais rigorosos possível nas informações que inserem

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Como se vê há aqui novamente o termo "repositório de informações" mas sempre delimitado por uma restrição, dessa vez por "indiscriminadas". Além disso há a menção a amplitude do enciclopédia, reconhecidamente bem vasta inclusive com a polêmica inclusão dos "almanaques", reforçando o sentido de permissão do repositório de informações desde que sejam discriminadas. Dessa forma, um almanaque deve ser considerado uma "enciclopédia menor" ou uma enciclopédia do povão, "popular"? Difícil de fazer essa associação. O almanaque tradicional seria aquele que basicamente traz um calendário com a marcação das fases da Lua, ótimo para se planejar pescarias ou cortes de cabelos, além de algumas previsões astrológicas. Mas normalmente não é só isso que seria pouco que justificasse uma publicação de cunho popular. Assim geralmente um almanaque traz também seções de culinárias, humor, curiosidades, as quais estariam mais afinadas com um apanhado de informações de gosto popular do que em material de enciclopédia que não se vincula a um gosto em particular. Anteriormente já havíamos nos referido a "Era do Conhecimento" que, acrescento, é tida como sucessora da "Era da Informação". Essa elevação deve-se à constatação de que as ferramentas atuais de que dispomos permitem que a informação seja "ilimitada". Mas, como diriam alguns cientistas da informação, muita informação gera desinformação. Os editores da Wikipedia parecem ter dificuldades em lidar com essa transposição de "conhecimento" e "informação". Não haveria problemas em se criar limites para informação, como os tais "critérios de notoriedade", mas para o conhecimento não deveria haver limites nenhum a não ser aqueles formais como edições sem fontes, defeituosas por parcialidades, etc. Assim como há transtorno em receber várias informações sem critérios, também ocorrerá o mesmo ao eliminar-se conhecimento por critérios limitadores de informação. Um conhecimento total não pode ser a meta a partir do momento em que os editores começarem escolher qual o conhecimento é notório, relevante ou notável. Ainda há os agravantes, pois um editor costuma justificar a eliminação de conhecimento com uma regra do projeto. Como todas as regras são escritas pelos editores e aprovadas pela comunidade de editores (leitores não votam), a justificativa será estranha, pois o editor está se justificando por algo que ele indiretamente escreveu, pois sãos os mesmos pontos de vista. Costumo provocar proponentes de eliminação que estariam se justificando "com base em nada" quando se limitam apenas a indicarem uma regra (quase sempre o critério de notoriedade).

Enciclopédia do ponto de vista do leitor[editar | editar código-fonte]

Um leitor internauta provavelmente chegará ao site da Wikipédia através de um dos motores de busca disponível na internet. Não será difícil de achar, diante dos resultados obtidos, que esse site organiza dados de uma maneira enciclopédica, ao contrário dos motores de busca que filtram um repositório de informações com base em um algoritmo talvez baseado principalmente num índice de procura e acesso que será dado pelos pesquisadores, a maioria leitores. Mas dificilmente um leitor de enciclopédia ou mesmo dos resultados de pesquisa em internet entenderá que os dados da Wikipedia são filtrados por notoriedade, relevância ou notabilidade. São coisas estranhas para uma enciclopédia pois, afinal, não existe conhecimento relevante quando se fala em conhecimento total. Mesmo sabendo que a Wikipedia apresenta também informações mais gerais e populares e sendo natural que a maioria dos leitores entenda que os dados podem não ser de uma enciclopédia tradicional imagina-se que estejam organizados por "enciclopedismo", ou seja, informações formatadas como verbetes de enciclopédia, e nunca por notoriedade, etc. Então por que vários editores irão propor eliminação de informações por "falta de notoriedade" quando as mesmas estariam referenciadas e atenderiam ao enciclopedismo? Não vale a pena nos estendermos mais sobre o ponto de vista dos editores. Seja como for são eles que fazem, interpretam e aplicam as regras. O que os leitores podem fazer diante disso? Provavelmente continuar no papel de leitores passivos e não entrar para o projeto como editores...

Conclusão[editar | editar código-fonte]

  1. A Wikipédia é feita por editores (os "wikipedistas") e sob o ponto de vista deles.
  2. Não há reciprocidade com os leitores que somente serão ouvidos se passarem a ser editores, mas isso significa que terão que adotar o ponto de vista dos editores em suas ações, senão terão vida curta no projeto
  3. Verificabilidade não é o mesmo que notoriedade mas isso do ponto de vista dos editores em geral será ignorado em favor do segundo conceito.