Arte românica: diferenças entre revisões
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'''Arte românica''' é o estilo artístico vigente na [[Europa]] entre os séculos [[século XI|XI]] e [[Século XIII|XIII]], durante o período da [[história da arte]] comumente conhecido como "românico". O estilo é visto principalmente nas [[igreja]]s [[catolicismo|católicas]] construídas após a expansão do [[cristianismo]] pela Europa e foi o primeiro depois da [[queda do Império Romano]] a apresentar características comuns em várias regiões. Até então a arte tinha se fragmentado em [[pré-românico|vários estilos]], sendo o românico o primeiro a trazer uma unidade nesse panorama. |
'''Arte românica''' é o estilo artístico vigente na [[Europa]] entre os séculos [[século XI|XI]] e [[Século XIII|XIII]], durante o período da [[história da arte]] comumente conhecido como "românico".<ref name="Livre">Dr. Andreas Petzold and Valerie Spanswick, ''[https://brewminate.com/an-introduction-to-romanesque-art-and-architecture/ An Introduction to Romanesque Art and Architecture]'', Brewminate, 31 de março de 2017</ref> O estilo é visto principalmente nas [[igreja]]s [[catolicismo|católicas]] construídas após a expansão do [[cristianismo]] pela Europa, e foi o primeiro depois da [[queda do Império Romano]] a apresentar características comuns em várias regiões. Até então, a [[arte]] tinha se fragmentado em [[pré-românico|vários estilos]], sendo o românico o primeiro a trazer uma unidade nesse panorama. |
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== O românico == |
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A arte em si é mais antiga que o termo ''românico'', empregado a partir da [[década de 1820]] por [[Charles de Gerville]] e [[Le Prevost]], e usado sistematicamente pelo [[Arqueologia|arqueólogo]] [[Arcisse de Caumont]], que conseguiu batizar com esse |
A arte em si é mais antiga que o termo ''românico'', empregado a partir da [[década de 1820]] por [[Charles de Gerville]] e [[Le Prevost]], e usado sistematicamente pelo [[Arqueologia|arqueólogo]] [[Arcisse de Caumont]], que conseguiu batizar com esse termo as construções hoje conhecidas como tais (embora ele tenha incluído também exemplares de períodos anteriores).<ref name="fonte 1">RAMALHO, Germán. ''Saber ver a arte românica''. pp. 3-4.</ref> A arte hoje dita românica foi redescoberta, visto que por um longo tempo foi desprezada, escondida debaixo de reformas e outros estilos, ou mesmo ignorada e destruída. |
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== História == |
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Depois de passar por muitas turbulências, desde o fim do [[Império Romano]] até o [[século XI]], aproximadamente, a Europa [[Idade Média|medieval]] vive um momento de estabilidade e crescimento. O [[comércio]] volta a florescer e as [[Cidade|cidades]] começam a prosperar, mesmo que timidamente. |
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Até então, a arte era difusa e diferente entre os variados [[Grupos étnicos da Europa|povos europeus]]. Isso mudaria com o "crescente entusiasmo religioso",<ref name="fonte 2">JANSON, H. W. ''História da arte''. pp. 279.</ref> cujas causas são, entre outros fatores, as [[peregrinação|peregrinações]] que cresceram e as [[Cruzadas]] para libertar a Terra Santa. Com todas essas mudanças, é plausível o nome ''românico'', visto que a Europa se romanizou como nunca desde o início da Idade Média. A única coisa que faltava, a autoridade política central, foi, até certo ponto, ocupada pelo [[Papa]]. Sem um poder nas mãos de um único rei, foi a [[Igreja]] que centralizou o controle sobre o pensamento e a vida da época, e foi a primeira responsável pela unificação da Europa desde a [[queda do Império Romano]]. |
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Esse crescimento religioso se refletiu na construção de muitas igrejas. Nas palavras do monge Raoul Glaber, citado por Ramalho,<ref name="fonte 3">RAMALHO, Germán. ''Saber ver a arte românica''. p. 8.</ref> ''"à medida que se aproximava o terceiro ano após o ano 1000, via-se em quase todo o universo, em particular na Itália e nas Gálias, a reconstrução das basílicas religiosas… Era como se o mundo sacudisse de si o pó do tempo, para despojar-se de sua vetustez, e quisesse se revestir, por toda a parte, de um manto branco de igrejas"''. |
Esse crescimento religioso se refletiu na construção de muitas igrejas. Nas palavras do monge [[Raoul Glaber]], citado por Ramalho,<ref name="fonte 3">RAMALHO, Germán. ''Saber ver a arte românica''. p. 8.</ref> ''"à medida que se aproximava o terceiro ano após o ano 1000, via-se em quase todo o universo, em particular na Itália e nas Gálias, a reconstrução das basílicas religiosas… Era como se o mundo sacudisse de si o pó do tempo, para despojar-se de sua vetustez, e quisesse se revestir, por toda a parte, de um manto branco de igrejas"''. |
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== Características == |
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As igrejas são as maiores até então, e para que isso seja possível houve uma evolução dos métodos construtivos e dos materiais. A pedra foi empregada na construção e o telhado de madeira foi trocado por [[abóbada]]s de [[abóbada de berço|berço]] e de [[abóbada de aresta|aresta]], mais condizentes com uma igreja que representa a ''fortaleza de Deus''. |
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Ao contrário da [[arte paleocristã]], as igrejas são ricamente decoradas externamente. A [[escultura]] em pedra em grande escala renasce pela primeira vez desde os romanos, atrelada à [[arquitetura]], assim como |
Ao contrário da [[arte paleocristã]], as igrejas são ricamente decoradas externamente. A [[escultura]] em pedra em grande escala renasce pela primeira vez desde os romanos, atrelada à [[arquitetura]], assim como à [[pintura]]. A escultura e a pintura são carregadas de esquematização e [[símbolo|simbolismo]], típico de um período em que o [[artista]] aprende a representar o que sente, e não somente o que vê. |
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Pedra-construções sólidas, paredes grossas, com contrafortes ao estilo de fortificações com recurso a ameias; |
Pedra-construções sólidas, paredes grossas, com contrafortes ao estilo de fortificações com recurso a ameias; fachadas lisas e simples, poucas janelas; interiores escuros, sombrios e simples; uso de arcos redondos ou abóbadas perfeitas (também designadas abóbadas de berço); uso da [[cruz]] latina como [[Planta (geometria descritiva)|planta]], geralmente com três naves (central e duas laterais mais escritas). |
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Fachadas lisas e simples, poucas janelas; |
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Interiores escuros, sombrios e simples; |
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Uso de arcos redondos ou abóbadas perfeitas (também designadas abóbadas de berço) |
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Uso da cruz latina como planta, geralmente com três naves (central e duas laterais mais escritas). |
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As igrejas de [[peregrinação]] foram muito características desse período. Elas ficavam no caminho para os locais sagrados, como [[Santiago de Compostela]], [[Roma]] e [[Jerusalém]], e serviam de apoio e pouso para os peregrinos, além de oferecer como atrativo as [[relíquia]]s, objetos supostamente pertencentes a [[Jesus Cristo]], a [[Maria (mãe de Jesus)|Maria]] e aos santos, como os cravos que pregaram as mãos e pés de Jesus, ou os espinhos da coroa, ou ainda fios de cabelo da Virgem. |
As igrejas de [[peregrinação]] foram muito características desse período. Elas ficavam no caminho para os locais sagrados, como [[Santiago de Compostela]], [[Roma]] e [[Jerusalém]], e serviam de apoio e pouso para os peregrinos, além de oferecer como atrativo as [[relíquia]]s, objetos supostamente pertencentes a [[Jesus Cristo]], a [[Maria (mãe de Jesus)|Maria]] e aos santos, como os cravos que pregaram as mãos e pés de Jesus, ou os espinhos da coroa, ou ainda fios de cabelo da Virgem. |
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Essas igrejas seguiam a [[Planta (geometria descritiva)|planta]] em forma de |
Essas igrejas seguiam a [[Planta (geometria descritiva)|planta]] em forma de cruz latina, com várias [[nave (arquitectura)|nave]] , geralmente três ou cinco, em que as naves laterais se prolongavam e passavam por detrás da [[ábside]], formando o [[deambulatório]]. Do deambulatório, saiam as [[capelas radiantes]], ou absidíolas. Esse conjunto era característico das igrejas de peregrinação e ficou conhecido como ''cabeceira de peregrinação''. Entre as igrejas desse tipo estão as de [[Igreja de Saint-Sernin de Toulouse|Saint-Sernin de Toulouse]], [[Catedral de Santiago de Compostela|Santiago de Compostela]], [[Igreja de Santa Madalena|Santa Madalena]] de [[Vézelay]] e [[Igreja de Saint-Martin de Tours]]. |
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=== Os mosteiros === |
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Os [[mosteiro]]s foram importantes para o estabelecimento da arquitetura românica, principalmente os das ordens de [[Ordem de Cluny|Cluny]] e [[Ordem de Cister|Cister]]. Desse conjunto característico, a dependência a |
Os [[mosteiro]]s foram importantes para o estabelecimento da arquitetura românica, principalmente os das ordens de [[Ordem de Cluny|Cluny]] e [[Ordem de Cister|Cister]]. Desse conjunto característico, a dependência a destacar-se é o [[claustro]], por vincular o mosteiro ao templo e por ser a dependência mais bem cuidada do ponto de vista artístico. Geralmente possuem quatro lados, com tendência a formar quadrados perfeitos e quatro corredores resultantes em pórticos abertos com [[arcada]]s sustentadas por [[coluna]]s. |
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== Expressões == |
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A arquitetura em pedra vem reforçar a característica de monumentalidade e fortaleza, possível depois de toda a evolução dos meios construtivos. Os conjuntos arquitectónicos seguem, geralmente, a |
A arquitetura em pedra vem reforçar a característica de monumentalidade e fortaleza, possível depois de toda a evolução dos meios construtivos. Os conjuntos arquitectónicos seguem, geralmente, a planta basilical, uma, três ou cinco naves (geralmente três), colunas que sustentavam as abóbadas e um aspecto maciço e horizontal (mesmo que muitas das igrejas sejam bem altas). As paredes são cegas, pois não é possível, ou é muito difícil, abrir grandes janelas nas paredes, já que elas servem como estrutura e suportam todo o teto. Haverá grande decoração, externa e internamente, através de esculturas nos [[tímpano (arquitectura)|tímpanos]] nas portas de entrada e nos [[capitel|capitéis]] e colunas, e pintura parietal nas ábsides e abóbadas das naves. |
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=== Escultura === |
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A [[escultura]] renasceu no românico, depois de muitos anos esquecida. Seu apogeu se dá no [[século XV]], quando inicia um estilo realista, mas simbólico, que antecipa o [[estilo gótico]]. A escultura é sempre condicionada à arquitetura e todo trabalho é executado sem deixar espaços sem uso. As figuras [[entalhe|entalhadas]] têm o tamanho do elemento onde foram esculpidas, e os trabalhos de superfície acomodam-se no lugar em que ocupam. Dessa característica parte também a ideia de esquematização. |
A [[escultura]] renasceu no românico, depois de muitos anos esquecida. Seu apogeu se dá no [[século XV]], quando inicia um estilo realista, mas simbólico, que antecipa o [[estilo gótico]]. A escultura é sempre condicionada à arquitetura,<ref name="Livre"/> e todo trabalho é executado sem deixar espaços sem uso. As figuras [[entalhe|entalhadas]] têm o tamanho do elemento onde foram esculpidas, e os trabalhos de superfície acomodam-se no lugar em que ocupam. Dessa característica, parte também a ideia de esquematização. |
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Outra importante característica é seu caráter simbólico e antinaturalista. Não havia a preocupação com a representação fiel dos seres e objetos. Volume, cor, efeito de luz e sombra, tudo era confuso e simbólico, representando muitas vezes coisas não terrenas, mas sim provenientes da imaginação. |
Outra importante característica é seu caráter simbólico e antinaturalista. Não havia a preocupação com a representação fiel dos seres e objetos. Volume, cor, efeito de luz e sombra, tudo era confuso e simbólico, representando muitas vezes coisas não terrenas, mas sim provenientes da imaginação. Mas não que isso seja uma constante em todo o período. Em algumas esculturas, nota-se a aparência clássica, influência da [[Idade Antiga|Antiguidade]], como no ''Apóstolo'', de Saint-Sernin de Toulouse. A principal característica da escultura românica eram as [[Cor|cores]] fortes e vivas. |
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Mas não que isso seja uma constante em todo o período. Em algumas esculturas, nota-se a aparência clássica, influência da [[Idade Antiga|Antiguidade]], como no ''Apóstolo'', de Saint-Sernin de Toulouse. A principal característica da escultura românica eram as cores fortes e vivas. |
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=== Pintura === |
=== Pintura === |
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[[Ficheiro:Meister aus Halberstadt 001.jpg|thumb|right|150px|Iluminura de Paulo]] |
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A pintura não se destacou tanto quanto a arquitetura nesse período. Os principais trabalhos são a [[muralismo|pintura mural]], as [[iluminura]]s e as [[tapeçaria]]s. A '''pintura parietal''', ou seja, executada nas paredes, era dependente da arquitetura, como pode-se deduzir, tendo aquela somente função didática. Em um período em que a grande maioria da população era analfabeta, a pintura era uma forma de transmitir os ensinamentos do [[cristianismo]].<ref name="nota">Essa função da pintura já havia sido discutida durante o período da [[Iconoclastia]] e foi "legalizada" no [[Segundo Concílio de Niceia]], em [[843]].</ref> |
A pintura não se destacou tanto quanto a arquitetura nesse período. Os principais trabalhos são a [[muralismo|pintura mural]], as [[iluminura]]s e as [[tapeçaria]]s. A '''pintura parietal''', ou seja, executada nas paredes, era dependente da arquitetura, como pode-se deduzir, tendo aquela somente função didática. Em um período em que a grande maioria da população era [[Alfabetização|analfabeta]], a pintura era uma forma de transmitir os ensinamentos do [[cristianismo]].<ref name="nota">Essa função da pintura já havia sido discutida durante o período da [[Iconoclastia]] e foi "legalizada" no [[Segundo Concílio de Niceia]], em [[843]].</ref> |
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== Ver também == |
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* {{link|es|2=http://www.arteguias.com/arquitectura.htm|3=Guia da arte românica}} |
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Revisão das 17h05min de 20 de julho de 2020
Arte românica é o estilo artístico vigente na Europa entre os séculos XI e XIII, durante o período da história da arte comumente conhecido como "românico".[1] O estilo é visto principalmente nas igrejas católicas construídas após a expansão do cristianismo pela Europa, e foi o primeiro depois da queda do Império Romano a apresentar características comuns em várias regiões. Até então, a arte tinha se fragmentado em vários estilos, sendo o românico o primeiro a trazer uma unidade nesse panorama.
O românico
A arte em si é mais antiga que o termo românico, empregado a partir da década de 1820 por Charles de Gerville e Le Prevost, e usado sistematicamente pelo arqueólogo Arcisse de Caumont, que conseguiu batizar com esse termo as construções hoje conhecidas como tais (embora ele tenha incluído também exemplares de períodos anteriores).[2] A arte hoje dita românica foi redescoberta, visto que por um longo tempo foi desprezada, escondida debaixo de reformas e outros estilos, ou mesmo ignorada e destruída.
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/66/Mosteiro_Santa_Mar%C3%ADa_de_Armenteira.jpg/220px-Mosteiro_Santa_Mar%C3%ADa_de_Armenteira.jpg)
História
Depois de passar por muitas turbulências, desde o fim do Império Romano até o século XI, aproximadamente, a Europa medieval vive um momento de estabilidade e crescimento. O comércio volta a florescer e as cidades começam a prosperar, mesmo que timidamente.
Até então, a arte era difusa e diferente entre os variados povos europeus. Isso mudaria com o "crescente entusiasmo religioso",[3] cujas causas são, entre outros fatores, as peregrinações que cresceram e as Cruzadas para libertar a Terra Santa. Com todas essas mudanças, é plausível o nome românico, visto que a Europa se romanizou como nunca desde o início da Idade Média. A única coisa que faltava, a autoridade política central, foi, até certo ponto, ocupada pelo Papa. Sem um poder nas mãos de um único rei, foi a Igreja que centralizou o controle sobre o pensamento e a vida da época, e foi a primeira responsável pela unificação da Europa desde a queda do Império Romano.
Esse crescimento religioso se refletiu na construção de muitas igrejas. Nas palavras do monge Raoul Glaber, citado por Ramalho,[4] "à medida que se aproximava o terceiro ano após o ano 1000, via-se em quase todo o universo, em particular na Itália e nas Gálias, a reconstrução das basílicas religiosas… Era como se o mundo sacudisse de si o pó do tempo, para despojar-se de sua vetustez, e quisesse se revestir, por toda a parte, de um manto branco de igrejas".
Características
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4a/Basilique_Saint-Sernin_de_Toulouse_nef_et_transept_sud%2C_clocher.jpg/170px-Basilique_Saint-Sernin_de_Toulouse_nef_et_transept_sud%2C_clocher.jpg)
Há diferenças entre a arte executada nas diversas regiões europeias, de acordo com as influências regionais recebidas, mas há também uma série de características comuns, que definem o estilo românico.
As igrejas são as maiores até então, e para que isso seja possível houve uma evolução dos métodos construtivos e dos materiais. A pedra foi empregada na construção e o telhado de madeira foi trocado por abóbadas de berço e de aresta, mais condizentes com uma igreja que representa a fortaleza de Deus.
Ao contrário da arte paleocristã, as igrejas são ricamente decoradas externamente. A escultura em pedra em grande escala renasce pela primeira vez desde os romanos, atrelada à arquitetura, assim como à pintura. A escultura e a pintura são carregadas de esquematização e simbolismo, típico de um período em que o artista aprende a representar o que sente, e não somente o que vê.
Pedra-construções sólidas, paredes grossas, com contrafortes ao estilo de fortificações com recurso a ameias; fachadas lisas e simples, poucas janelas; interiores escuros, sombrios e simples; uso de arcos redondos ou abóbadas perfeitas (também designadas abóbadas de berço); uso da cruz latina como planta, geralmente com três naves (central e duas laterais mais escritas).
Igreja de peregrinação
As igrejas de peregrinação foram muito características desse período. Elas ficavam no caminho para os locais sagrados, como Santiago de Compostela, Roma e Jerusalém, e serviam de apoio e pouso para os peregrinos, além de oferecer como atrativo as relíquias, objetos supostamente pertencentes a Jesus Cristo, a Maria e aos santos, como os cravos que pregaram as mãos e pés de Jesus, ou os espinhos da coroa, ou ainda fios de cabelo da Virgem.
Essas igrejas seguiam a planta em forma de cruz latina, com várias nave , geralmente três ou cinco, em que as naves laterais se prolongavam e passavam por detrás da ábside, formando o deambulatório. Do deambulatório, saiam as capelas radiantes, ou absidíolas. Esse conjunto era característico das igrejas de peregrinação e ficou conhecido como cabeceira de peregrinação. Entre as igrejas desse tipo estão as de Saint-Sernin de Toulouse, Santiago de Compostela, Santa Madalena de Vézelay e Igreja de Saint-Martin de Tours.
Os mosteiros
Os mosteiros foram importantes para o estabelecimento da arquitetura românica, principalmente os das ordens de Cluny e Cister. Desse conjunto característico, a dependência a destacar-se é o claustro, por vincular o mosteiro ao templo e por ser a dependência mais bem cuidada do ponto de vista artístico. Geralmente possuem quatro lados, com tendência a formar quadrados perfeitos e quatro corredores resultantes em pórticos abertos com arcadas sustentadas por colunas.
Expressões
Arquitetura
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/23/ChapitoStGeorges3.jpg/150px-ChapitoStGeorges3.jpg)
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3a/Magnifying_glass_01.svg/17px-Magnifying_glass_01.svg.png)
A arquitetura em pedra vem reforçar a característica de monumentalidade e fortaleza, possível depois de toda a evolução dos meios construtivos. Os conjuntos arquitectónicos seguem, geralmente, a planta basilical, uma, três ou cinco naves (geralmente três), colunas que sustentavam as abóbadas e um aspecto maciço e horizontal (mesmo que muitas das igrejas sejam bem altas). As paredes são cegas, pois não é possível, ou é muito difícil, abrir grandes janelas nas paredes, já que elas servem como estrutura e suportam todo o teto. Haverá grande decoração, externa e internamente, através de esculturas nos tímpanos nas portas de entrada e nos capitéis e colunas, e pintura parietal nas ábsides e abóbadas das naves.
Escultura
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3a/Magnifying_glass_01.svg/17px-Magnifying_glass_01.svg.png)
A escultura renasceu no românico, depois de muitos anos esquecida. Seu apogeu se dá no século XV, quando inicia um estilo realista, mas simbólico, que antecipa o estilo gótico. A escultura é sempre condicionada à arquitetura,[1] e todo trabalho é executado sem deixar espaços sem uso. As figuras entalhadas têm o tamanho do elemento onde foram esculpidas, e os trabalhos de superfície acomodam-se no lugar em que ocupam. Dessa característica, parte também a ideia de esquematização.
Outra importante característica é seu caráter simbólico e antinaturalista. Não havia a preocupação com a representação fiel dos seres e objetos. Volume, cor, efeito de luz e sombra, tudo era confuso e simbólico, representando muitas vezes coisas não terrenas, mas sim provenientes da imaginação. Mas não que isso seja uma constante em todo o período. Em algumas esculturas, nota-se a aparência clássica, influência da Antiguidade, como no Apóstolo, de Saint-Sernin de Toulouse. A principal característica da escultura românica eram as cores fortes e vivas.
Pintura
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/43/Meister_aus_Halberstadt_001.jpg/150px-Meister_aus_Halberstadt_001.jpg)
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3a/Magnifying_glass_01.svg/17px-Magnifying_glass_01.svg.png)
A pintura não se destacou tanto quanto a arquitetura nesse período. Os principais trabalhos são a pintura mural, as iluminuras e as tapeçarias. A pintura parietal, ou seja, executada nas paredes, era dependente da arquitetura, como pode-se deduzir, tendo aquela somente função didática. Em um período em que a grande maioria da população era analfabeta, a pintura era uma forma de transmitir os ensinamentos do cristianismo.[5]
Ver também
- Arte paleocristã
- Arte bizantina
- Estilo gótico
- Românico em Portugal
- Rota do Românico do Vale do Sousa
Referências
- ↑ a b Dr. Andreas Petzold and Valerie Spanswick, An Introduction to Romanesque Art and Architecture, Brewminate, 31 de março de 2017
- ↑ RAMALHO, Germán. Saber ver a arte românica. pp. 3-4.
- ↑ JANSON, H. W. História da arte. pp. 279.
- ↑ RAMALHO, Germán. Saber ver a arte românica. p. 8.
- ↑ Essa função da pintura já havia sido discutida durante o período da Iconoclastia e foi "legalizada" no Segundo Concílio de Niceia, em 843.
Bibliografia
- BAUMGART, F. Breve História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999. ISBN 85-336-1062-9.
- GOMBRICH. E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985.
- JANSON, H. W. História da Arte. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1992. ISBN 972-31-0498-9.
- RAMALHO, G. Saber Ver a Arte Românica. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
Ligações externas
- História da arte: arte românica
- «Guia da arte românica» (em espanhol)