Abastecimento de água em Porto Alegre

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Virgilio Calegari: Construção dos tanques da Hidráulica Guaibense, 1890.

O abastecimento de água em Porto Alegre iniciou, historicamente, com a coleta direta da água do lago Guaíba e de nascentes na região, e com a abertura de alguns poços.

O primeiro registro sobre uma fonte pública em Porto Alegre data de fins de 1780, quando o ouvidor Manoel Pires Querido Leal mandou estabelecer uma fonte pública nos terrenos de Francisco de Magalhães Menezes Lara e Antônio Alves de Paiva, que foram instruídos a franquear a toda gente o acesso à fonte através de suas propriedades. Em 19 de fevereiro de 1790 a Câmara Municipal ordenou o conserto desta "fonte que está fora do portão", e mandava igualmente proceder à criação de "uma fonte dentro da Vila para bem comum do povo". A fonte externa aos portões da Vila de Porto Alegre estava localizada no encontro da atual Rua Avaí com a Avenida João Pessoa, motivo pelo qual a Rua Avaí era chamada de a Rua da Fonte. A dita fonte criada dentro da vila era um poço sito na esquina da Avenida Borges de Medeiros com a Rua Jerônimo Coelho, que ficou conhecida como a Rua do Poço. Este poço serviu à cidade até meados de 1830, quando a Câmara debatia sobre a má qualidade da água, sua localização inadequada no meio da rua estorvando o trânsito e o estado arruinado da escavação.[1]

Com o sítio da cidade na Revolução Farroupilha, complicou-se o abastecimento de água por causa do impedimento de acesso às fontes das chácaras suburbanas, e os problemas de falta de água são assinalados pelo viajante Nicolau Dreys em 1838. Uma saída para o problema foi a criação de um trapiche sobre o Guaíba para coleta de água potável diretamente do leito fluvial mas longe das imundícies das margens, que eram usadas como depósito de lixo. O destino das fontes até então existentes é obscuro depois do encerramento da Revolução, uma vez que em 1846 o então Conde de Caxias, presidente da Província, relatava a inexistência de fontes públicas ou outros mananciais na cidade, e ordenava a construção daquele trapiche com 200 palmos de extensão rio adentro defronte à praça do Mercado Público, e outro na desembocadura da Rua do Ouvidor, a atual Rua General Câmara.[1]

O Chafariz do Imperador na Praça Pedro II em 1867
Companhia Hidráulica Porto-Alegrense em 1895.

Na década de 1850, para minimizar o problema de escassez de água potável, o poder público municipal mandou serem abertos outros poços na antiga Rua da Margem (Rua João Alfredo), a Fonte do Bello, e nos fundos do palácio do governo, a Fonte dos Pobres. Em 1858 foi instalada na Praça da Harmonia uma fonte de água bombeada manualmente do Guaíba, e operada pelos presos da Casa de Correção.[1]

Um melhoramento decisivo para o abastecimento de água foi a criação na década de 1860 da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, com seu sistema de chafarizes públicos e canalizações domiciliares, captando água das cabeceiras do Arroio Dilúvio (chamado então de Arroio Sabão) através de canos de ferro e levando-a até um grande reservatório subterrâneo na Praça Pedro II, de onde era distribuída. Entre 1864 e 1866 foram construídos chafarizes, alguns deles belamente ornamentados, nas praças do Portão, da Alfândega, do Paraíso e da Caridade, na Várzea e no Alto da Bronze, e uma bica na Praça Pedro II, logo adornada em 1867 com o Chafariz do Imperador, uma fonte de mármore com estátuas personificando os grandes rios da bacia do Guaíba. No ano seguinte foi proibida a venda particular de água retirada do Guaíba e do Arroio Dilúvio, em cumprimento de um contrato de monopólio com a Companhia Hidráulica. Em 1869 já eram 1.082 residências abastecidas diretamente com canalizações, número que dez anos mais tarde já dobrava.[1]

Em torno de 1884 o sistema já era deficitário, e o fornecimento pelo Arroio se revelava escasso principalmente nos meses de verão, quando o sistema era desligado desde a metade da tarde até a madrugada seguinte, pelo que a empresa passou a sofrer a hostilidade do público. Isso levou a em 1885 ser autorizada a criação de uma companhia concorrente, a Companhia Hidráulica Guaibense, que tencionava extrair água diretamente do Guaíba. A empresa começou a operar de forma comercial em 1891 atendendo a 1.065 residências. Porém sua expansão encontrou obstáculos na falta de capital e na dificuldade de importação de equipamentos, e em 1896 a má qualidade da água servida e a incapacidade da empresa de aumentar a rede de atendimento eram motivo de protestos.[1]

Bebedouro da Praça Rui Barbosa, c. 1900-1910, foto de Virgilio Calegari.

Face aos problemas aparentemente insolúveis da iniciativa privada, em 1904 a Intendência Municipal decidiu assumir o fornecimento de água adquirindo a Hidráulica Guaibense e iniciando a construção de uma nova usina de bombeamento na Rua Voluntários da Pátria e um novo reservatório no bairro dos Moinhos de Vento. Por volta de 1912 um relatório do intendente José Montaury assinalava que estava atendida uma área delimitada pelas ruas Ramiro Barcellos, Venâncio Aires e João Alfredo, até o litoral do Guaíba, e mais os bairros Navegantes e São João.[1]

Em 1926 o reservatório da Praça da Matriz e a rede de canalizações urbanas da Hidráulica Porto-Alegrense foram encampados pelo município, o que levou a uma rápida expansão nos serviços, embora a qualidade da água ainda deixasse a desejar e o produto era visto com desconfiança pela população. Por causa disso, até bem depois da encampação eram figuras comuns os pipeiros, distribuidores particulares de água em pipas levadas em lombo de burro até as residências, e coletada nas boas fontes ainda ativas na época, como a fonte do Freitas, da Floresta, e do José Francisco, no Bom Fim. Em 1928 foi criada a Diretoria Geral de Saneamento, que determinou o tratamento da água servida à população, e começou a funcionar também a Hidráulica 24 de Outubro, com equipamentos de filtragem modernos que produziam água que qualidade até então desconhecida na cidade. Em 1935 os bairros da Glória e Teresópolis, servidos apenas por poços domésticos, passaram a ser integrados no sistema, e em 1944 o sistema de adutoras nas cabeceiras do Arroio Dilúvio também foi incorporado pelo município.[1]

Na década de 1960 a cidade, em franca expansão, exigia novos melhoramentos, e foi criada a autarquia do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), que estabeleceu novas hidráulicas nos bairros Tristeza, Menino Deus e São João, e desde então tem se responsabilizado pelos serviços de abastecimento de água em Porto Alegre, bem como pelo tratamento dos esgotos.[1]

No início da década de 1980, o DMAE fornecia água a 98% da população porto-alegrense. Em 2007 o DMAE recebeu o certificado ISO 9001:2000 pela boa qualidade de seus serviços [1], apresentando os seguintes números:

  • Índice da população atendida com água: 100%
  • Extensão da rede distribuidora de água: 3.615,35 km
  • Número de ligações de água: 271.282
  • Economias atendidas: 581.101 (economias não ligadas à rede pública são atendidas gratuitamente com carros-pipa)
  • Índice de hidrometração: 96,69%
  • Estações de tratamento de água (ETAs): 8
  • Estações de bombeamento de água bruta (EBABs): 8
  • Estações de bombeamento de água tratada (EBATs): 92
  • Reservatórios: 99
  • Capacidade total de armazenamento dos reservatórios: 193.890 m³
  • Carros-pipa: 13
  • Volume médio de água distribuída pelos pipas: 172.297m³/ano (2006)

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre: EDIUFRGS, 2006. pp. 15-19