António de Ataíde, 5.º Conde da Castanheira

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António de Ataíde, 5.º Conde da Castanheira
Nascimento 1564
Morte 14 de dezembro de 1647 (82–83 anos)
Lisboa
Sepultamento Convento de São Francisco da Cidade
Cidadania Reino de Portugal
Progenitores
Filho(a)(s) Jerónimo de Ataíde, 6.º Conde da Castanheira
Ocupação chefe militar, político, vice-rei de Portugal, donatário
Lealdade Império Português
Título Conde da Castanheira, Conde de Castro Daire, Dom

D. António de Ataíde, 1º conde de Castro Daire e 5º conde da Castanheira (1564[1] - Lisboa, 14 de dezembro de 1647) foi um destacado político e comandante naval do período da União Ibérica. Além de governador de Portugal de 1631 a 1633, e titular de dois condados, herdou também o cargo de Alcaide-Mor de Guimarães, confirmado por carta régia de 6 de fevereiro de 1593[2][3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Era o 3.º filho do 2.º casamento (que ocorreu c. 1555)[2] do 2.º conde da Castanheira, igualmente chamado D. António de Ataíde, falecido em 1603. Sua mãe, D. Bárbara de Lara (nascida provavelmente c. 1530), era filha do 3.º marquês de Vila Real, D. Pedro de Meneses, com D. Brites de Lara (filha única e herdeira de D. Afonso de Viseu, 8.º condestável de Portugal).[2]

Na crise da Independência, morto o Cardeal-Rei, seguiu o partido de Filipe I, tomando parte na expedição do marquês de Santa Cruz contra a Ilha Terceira.[4][5]

Serviu sob as ordens de D. Martinho de Ribera, general das galés de Espanha, e prestou tão bons serviços que foi nomeado, sucessivamente, capitão de cavalos, fronteiro-mor dos coutos de Alcobaça, general de uma armada da costa, coronel de Infantaria, capitão-mor da armada da Índia, e, finalmente, general das armadas de Portugal.[6]

Foi um dos raros comandantes de armada da época que dominava perfeitamente a arte de navegar, tendo até, em pelo menos uma ocasião, em 1612, assegurado pessoalmente a pilotagem de uma embarcação, no caso a nau capitânea da Carreira da Índia, e escrito o respectivo diário da viagem de regresso a Lisboa, algo de verdadeiramente excepcional na história da Carreira.[4]

O espólio que deixou, reconstituído em parte pelo historiador C. R. Boxer, é considerado "um elemento precioso para o conhecimento da realidade marítima e naval no período em que nela participou".[4][7][8]

Porém, não obstante os seus profundos conhecimentos da arte de navegação, quando em 1622 a nau «Nossa Senhora da Conceição» regressava da Índia, com seu valioso carregamento, foi incendiada por corsários "turcos" (na realidade da Argélia, na época ligada ao império otomano), que iludiram a vigilância de D. António, incumbido de a esperar e comboiar.[4]

A nau foi atacada por 17 navios argelinos junto à costa portuguesa, da qual se aproximava no termo da sua viagem de regresso da Índia. Após dois dias de combates explodiu, perdendo-se assim o que na altura foi considerado "um dos mais ricos transportes que alguma vez tinham vindo do Oriente". Esses acontecimentos, bem como as provações dos viajantes - que foram no final capturados, escravizados e levados para Argel - seriam depois objeto de um texto escrito por João de Carvalho Mascarenhas, integrado no que ficou conhecido como pseudo-terceiro volume da História Trágico-Marítima.

A nau deveria ter sido defendida pela armada da costa, pelo que o respectivo comandante, D. António de Ataíde, foi imediatamente encarcerado. Ele porém logo contra-argumentou, queixando-se de haver indícios de que a sua culpabilização resultava de uma perseguição pessoal, e alegando que lhe tinha sido simplesmente impossível socorrer o navio da Índia, por as condições de navegação não lho permitirem.

Por isso, concluído o julgamento, foi no final absolvido, reconhecendo-se que havia cumprido o seu dever, embora mal sucedido.

Filipe III de Portugal, querendo marcar tal circunstância e seu real apreço, nomeou-o gentil-homem de sua Câmara, mordomo-mor da Rainha D. Isabel, conselheiro de Estado do Conselho de Portugal e presidente do Conselho de Aragão.

Além disso, foi agraciado com o título de conde de Castro Daire, concedido por alvará de 30 de abril de 1625, assinado em Aranjuez por Filipe III, e confirmado por carta régia de 20 de junho do mesmo ano de 1625.[2]

Em 1628 - 1629, foi enviado à Alemanha como embaixador extraordinário junto do imperador Fernando II.[6]

Nomeado para o cargo de governador do Reino de Portugal,[9] juntamente com o Conde de Vale de Reis, de 14 de agosto de 1631 a 1 de abril de 1632,[10] depois dessa data exerceu a mesma função sozinho, até maio de 1633, quando tomou posse de presidente da Mesa de Consciência.[2][11]

Sucedeu também ao seu sobrinho, D. João de Ataíde, como 5º conde da Castanheira, depois deste falecer em 1637, sem deixar geração dos seus dois casamentos. Herdou assim todos os senhorios hereditários da casa da Castanheira, incluindo o cargo de donatário da capitania de Itaparica e Tamarandiva, no Brasil.

Quando em 1640 houve a revolução, colocou-se a favor do duque de Bragança.[12] Isso não impediu que fosse preso em 1641 por suspeita de envolvimento em atividades favoráveis à Espanha, mas foi posteriormente absolvido e libertado.[6]

Foi sepultado no Convento de São Francisco da Cidade de Lisboa, com o seu epitáfio redigido em Latim.[2]

Casamento e descendência[editar | editar código-fonte]

Casou "clandestinamente"[2] com sua parente, D. Ana de Lima,[13] que foi a 7.ª senhora de Castro Daire por carta régia de confirmação de 7 de outubro de 1593 e também senhora da alcaidaria-mor de Guimarães;[2] era filha e herdeira de D. António de Lima, 6.º senhor de Castro Daire, com D. Maria de Vilhena.

Por este casamento, a casa dos Limas, senhores de Castro Daire, passou para os Ataídes da Castanheira.

D. António e D. Ana foram pais de D. Jerónimo de Ataíde, que herdou os condados paternos, como 2.º conde de Castro Daire e 6.º conde da Castanheira.

Obra[editar | editar código-fonte]

Homem culto, amante das letras, elogiado por Lope de Vega,[14] escreveu, entre outros textos, os seguintes:

Referências

  1. Arquivo historico português. Volume IX. Lisboa: Imprensa Libânio da Silva. 1914. p. 475. A 17 de agosto [de 1596] compareceu D. Antonio de Athayde, de 32 annos de edade, alcaide - mór de Guimarães 
  2. a b c d e f g h Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra. Livro Terceiro. Robarts - University of Toronto. Coimbra: Coimbra : Imprensa da Universidade. pp. 103–105, 420–421 
  3. Cordeiro, Adriano Milho (2014). «D. António de Ataíde, cerzindo ideias e políticas por terras de Portugal e de Espanha, no tempo dos Filipes». Servicio de Publicaciones: 149–163. ISBN 978-84-697-1337-2. Consultado em 20 de janeiro de 2024 
  4. a b c d e Domingues, Francisco Contente. «O regimento dos capitães da armada de D. António de Ataíde [2012]». Consultado em 20 de janeiro de 2024 
  5. «A Nobreza de Portugal e do Brasil. por Zuquete. Tomo II. (Afonso Eduardo):» Castanheira (Condes da), Castro Daire (Condes de). www.abebooks.com. 1960. p. 521. Consultado em 20 de janeiro de 2024 
  6. a b c «AIM25 - Archives in London, collection description. ATAÍDE, António de, 1st Count of Castro-Daire (1567-1647)». aim25.com (em inglês). Consultado em 21 de janeiro de 2024 
  7. «Ataíde, D. António de - Arte de navegar, roteirística e pilotagem - Centro Virtual Camões - Camões IP». cvc.instituto-camoes.pt. Consultado em 18 de abril de 2024 
  8. «Harvard Codices (Portugal) – The Nautical Archaeology Digital Library. Compiled by D. António de Ataíde, a 16th century naval officer and political appointee» (em inglês). Consultado em 18 de abril de 2024 
  9. «VIRREINATO DE PORTUGAL». web.archive.org. 19 de outubro de 2009. Consultado em 29 de janeiro de 2024 
  10. Ver A. Braamcamp Freire, op. cit., (Brasões da Sala de Sintra, Livro Terceiro), p. 104: "D. António de Ataíde, 1.º conde de Castro Daire por carta de 20 de junho de 1625 e 5.º conde da Castanheira ... foi governador do reino com o conde de Vale de Reis de 14 de agosto de 1631 a 1 de abril do ano seguinte, e sozinho desde então até maio de 1633".
  11. «La fama austriaca, o Historia Panegirica de la vida y hechos del Enperador [sic], Ferdinando Segundo ... / [por Don Ioseph Pellicer de Tobar y Abarca, señor ...». HathiTrust (em inglês). pp. 9–10. Consultado em 18 de abril de 2024. Inscription Dedicatoria A Illustrissimo Principe DON ANTONIO DE ATAYDE tercero del nombe quinto conde de la Castanhera, y primero de Castro de Ayro... Presidente de la Mesa de Conciencia y de Ordenes en el Reyno de Portugal .. y Governador del Reyno de Portugal 
  12. Cordeiro, Adriano. «D. António de Ataíde: percursos de uma vida de palavras e de atos». Adriano Milho Cordeiro: 8. Consultado em 20 de janeiro de 2024 
  13. A avó paterna de D. Ana de Lima, D. Isabel de Castro, senhora de Castro Daire, era bisneta de D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, 1.º Conde de Atouguia. Ver Anselmo Braamcamp Freire, op. cit. (Brasões, LIvro Terceiro), pp. 100-101
  14. a b c Machado, Diogo Barbosa (1741). Bibliotheca Lusitana historica, critica, e cronologica ... dos Authores Portuguezes, e das obras que compuserão. T. I. Lisboa: Na Officina de Antonio Isidoro da Fonseca. pp. 211–213. El gallardo D. Antonio de Ataíde ... dedicado, y elegante en Poesia 
  15. «Cargos que resultaraõ da devassa que os governadores de Portugal mandarao tirar de Dom Antonio de Attayde, capitaõ geral da armada de Portugal, acerca da perda da nao da India Nossa Senhora da Conceissaõ, que os inimigos queimaraõ o anno de 1621. e resposta de Dom Antonio aos cargos». www.europeana.eu. Consultado em 20 de janeiro de 2024 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Precedido por:
João de Ataíde
Armas dos Ataíde, titulares do Condado de Atouguia
Conde da Castanheira

1637 - 1647
Sucedido por:
Jerónimo de Ataíde
Precedido por:
novo título
Armas dos Ataíde, titulares do Condado de Atouguia
Conde de Castro Daire

1625 - 1647
Precedido por
Diogo de Castro, conde de Basto (presidente); D. Afonso Furtado de Mendonça, bispo de Coimbra e conde de Arganil; e Diogo da Silva, conde de Portalegre
Armorial das Espanhas
Membro do Conselho de Regência do Reino de Portugal
(presidente, exerceu em conjunto com Nuno de Mendonça, 1.º conde de Vale de Reis)

14 de agosto de 1631 - 1 de abril de 1632
Sucedido por
Ele próprio (António de Ataíde)
Precedido por
Ele próprio, António de Ataíde, presidente do Conselho de Regência; e Nuno de Mendonça, 1.º conde de Vale de Reis
Armorial das Espanhas
14.º Vice-Rei de Portugal

1 de abril de 1632 - 12 de Maio de 1633
Sucedido por
D. João Manuel de Ataíde, arcebispo de Lisboa