Avelino Fóscolo

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Antonio Avelino Fóscolo
Avelino Fóscolo
Nascimento 14 de novembro de 1864
Sabará, Minas Gerais
Morte 29 de agosto de 1944 (79 anos)
Belo Horizonte, Minas Gerais

Antonio Avelino Fóscolo (Sabará, 14 de novembro de 1864Belo Horizonte, 29 de agosto de 1944) foi um anarquista e escritor brasileiro, passado à história da literatura brasileira por ter sido o primeiro autor de um romance ambientado em Belo Horizonte, A Capital, cuja ação se passa nos primórdios da construção da cidade.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Avelino Fóscolo pertenceu à chamada estética do naturalismo tardio da literatura brasileira, isto é, na virada do século XIX para o século XX, cujos livros foram todos encenados nas Minas Gerais. Era descendente por parte de sua bisavó de Ugo Foscolo, famoso escritor italiano de origem greco-veneziana.[1][2][3][4][5]

Em suas obras há a preocupação da denúncia social motivada pelas desigualdades sociais, a escravatura e ainda casos de suicídio, estupro e castração, típicos da tendência literária a que pertenceu.

Foi uma personalidade errante. Saiu de casa ainda adolescente e logo ingressou na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, onde trabalhou por alguns dias. Destacou-se também como ator de circo e percorreu alguns países da América Latina, representando espetáculos de sua autoria.

Em Sabará, Fóscolo inicia sua carreira jornalística e literária na década de 1880, envolvendo-se nas lutas abolicionista e republicana.

"Era um anarquista de carteirinha", conta a professora Letícia Malard, autora de uma biografia do escritor mineiro. Fóscolo deixou outros seis romances, que abordavam temas como a liberdade sexual feminina no início do século e os últimos momentos da escravidão em Minas Gerais.

A partir do início do século, em Taboleiro Grande, adere ao anarquismo. Exercendo o ofício de farmacêutico, aproveita o espaço de seu estabelecimento para a difusão de suas concepções. Funda jornais, bibliotecas e grupos teatrais. Em seus escritos, lida constantemente com a figura do semeador. Em 1915, muda-se para Belo Horizonte.

Passou grande parte de sua vida na cidade mineira de Tabuleiro Grande, hoje Paraopeba, onde exerceu a profissão de farmacêutico, e onde também se casou com Maria Gonçalves Ribeiro, união que lhe deu dez filhos. Teatrólogo brilhante desde a infância, jornadeou por Minas, como comediante e fixou-se definitivamente em Belo Horizonte, onde faleceu. Dirigiu jornais e revistas, colaborando em diários no Rio de Janeiro.

Fato curioso acontecido em sua vida, quando ainda morava em Tabuleiro Grande, é o que vem sendo relatado dentro da própria família, ou entre antigos moradores de Paraopeba, a cada geração: Como era farmacêutico, e embora já casado e com vários filhos, Avelino partiu para a Alemanha para fazer cursos de especialização na Bayer, o que aliás lhe valeu, mais tarde, a criação de várias novas fórmulas de vários medicamentos. Decorrido algum tempo de sua estada na Alemanha, chegou a Taboleiro Grande a notícia de que "Seu" Avelino havia falecido na Europa. Para a numerosa família e a comunidade, foi um grande choque. Rezadas todas as missas de praxe, dona Mariquinha—como era chamada sua esposa—vestiu-se de preto e assim, também, o fez toda a família. Não tardou muito, entretanto, para que um viajante de Tabuleiro, cavalgando pelas trilhas de burro da região, vislumbrasse, ao longe, a figura de um homem que se assemelhava à de Avelino. Quando constatou que a figura era, realmente, idêntica, imediatamente deu a volta, e galopando pelas ruas empoeiradas de Tabuleiro, gritava para todos: "Eu vi a alma do Seu Avelino...., eu vi a alma do Seu Avelino". Mas, logo em seguida Avelino entraria, vagarosa e serenamente—como lhe era peculiar—na vila de Taboleiro, cavalgando sua montaria. Segundo consta, foi uma verdadeira festa para a família e a comunidade. A notícia de sua morte foi resultado de uma mensagem truncada entregue, por erro, à sua família. No entanto, conjecturou-se que o próprio Avelino pudesse, talvez, ter enviado a mensagem com a finalidade de analisar as reações da família e da comunidade, o que lhe daria material para escrever um novo romance. A família e amigos jamais acreditaram nisso em virtude da seriedade, austeridade e respeitabilidade que sempre marcaram a vida de Avelino Fóscolo.

Escreveu diversas obras, entre as quais, A Mulher, em companhia de Luís Cassiano Martins Pereira; O Mestiço (1903), que retrata hábitos sociais de uma fazenda e a triste realidade dos escravos; A Capital (1903), o primeiro romance ambientado em Belo Horizonte, onde denuncia as falcatruas da distribuição de lotes; O Caboclo (1902) e O Jubileu (1920). Além dessas, há o drama social em três atos chamado O Semeador.

Legado[editar | editar código-fonte]

O escritor e anarquista aos 78 anos.

Na opinião de Agripino Grieco, foi ele o fundador do romance social na América do Sul. Augusto Franco ao analisar o romance O Caboclo, entendeu que se tratava de obra naturalista.

Frente aos conflitos sociais da época, sua obra é marcada pela imagem da revolução - como um vulcão prestes a explodir. No final de sua vida, o isolamento e o esquecimento em que Fóscolo cai é expressivo do declínio do anarquismo no Brasil, a partir do final da década de 1920.

Foi membro e fundador da Academia Mineira de Letras (ocupando a cadeira número 7), cujo patrono é Luís Cassiano. Eduardo Frieiro foi seu sucessor.

No ano de 2013 foi homenageado pelo Coletivo Mineiro Popular Anarquista, que lhe deu o nome de sua livraria anarquista recém lançada, a Livraria Anarquista Avelino Fóscolo. [6][7]

Obras[editar | editar código-fonte]

  • 1890 A Mulher, romance, (com Luís Cassiano Martins Pereira), Typ. Moreira Maximino;
  • 1902 O Caboclo, romance, Bello Horizonte: Imprensa Official;
  • 1903 O Mestiço, romance, Joviani & Comp.;
  • 1903 A Capital, romance, Typographia Universal;
  • 1914 No Circo, romance
  • 1920 Vulcões, romance, Porto, Casa Editora de Carlos Ventura e Comp. Ltda.
  • 1920 O Jubileu, romance, Juiz de Fora: A Commercial João Madeira;
  • 1921 O Semeador, drama em três atos, Bello Horizonte, Typ. Renascença;
  • Morro Velho (Manuscrito datilografado provavelmente por seu filho Hugo Fóscolo, em 1944, e publicado somente em 1999 pela UFMG);

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Ugo Foscolo: An Italian in Regency England, Vincent, Eric Reginald Pearce, 1894, Cambridge University Press, pg. 106
  2. The Chronicles of Fleetwood House, Adam John Shirren, 1977 Pacesetter Press, pg. 155
  3. Introduction to Italian Poetry, Rebay, Luciano, Courier Dover Publications, pg. 97
  4. Dictionary of Italian Literature, Bondanella, Julia Conaway, Peter E. Bondanella, Greenwood Press, pg. 215, ISBN 0-313-20421-7
  5. The Australian Library Journal, 1951 Library Association of Australia, University of Michigan, pg. 179
  6. Coletivo Mineiro Popular Anarquista (23 de setembro de 2013). «Livraria Anarquista Avelino Fóscolo». Coletivo Mineiro Popular Anarquista. Consultado em 21 de novembro de 2014 
  7. Livraria Anarquista Avelino Fóscolo (23 de setembro de 2013). «Livraria Anarquista Avelino Fóscolo: 24 de setembro, 11h no 3º andar da FAFICH». Livraria Anarquista Avelino Fóscolo. Consultado em 21 de novembro de 2014 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global.
  • DUARTE, Regina Horta. A imagem rebelde: a trajetória libertária de Avelino Fóscolo. Campinas, Pontes/Ed. da UNICAMP, 1991.