Centro de Informações do Exterior

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O Centro de Informações do Exterior (CIEX ou Ciex) foi um serviço de informações introduzido na estrutura do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) e ligado ao Serviço Nacional de Informações (SNI).

O CIEX foi criado em 1966, por iniciativa do diplomata brasileiro Manoel Pio Corrêa,[1] que idealizou órgão enquanto servia no Uruguai. Posteriormente nomeado Secretário-Geral do Itamaraty (quando o chanceler era Juracy Magalhães), Correa redigiu a portaria secreta que criou o CIEx, em 1966, durante o governo Castelo Branco.[2] De fato, o CIEX era tão secreto que nem constava da estrutura formal do Itamaraty. A sua existência do só seria confirmada em 2007, na gestão do chanceler Celso Amorim, no segundo governo Lula. A constrangedora revelação coube à monumental série de reportagens produzida pelo repórter Cláudio Dantas Sequeira, do Correio Braziliense, que revelou a ação repressiva da primeira agência criada sob o amparo do SNI e do seu criador, o general Golbery do Couto e Silva.[3]

Inicialmente, o secreto CIEx foi camuflado como Assessoria de Documentação de Política Exterior, ou simplesmente ADOC, com verba secreta e subordinado à Secretaria-Geral das Relações Exteriores. Dos primeiros anos da ditadura até 1975, funcionou dissimulado, como seu criador, na sala 410 do quarto andar do chamado “Bolo de Noiva”, o Anexo I do Palácio Itamaraty, em Brasília. Desmontado com a ditadura em 1985, o lugar hoje abriga a inofensiva Divisão de Promoção do Audiovisual. Vasculhando 20 mil páginas de documentos, com oito mil informes escondidos nos arquivos do CIEX, o repórter do Correio Braziliense apurou que, dos 380 brasileiros mortos ou desaparecidos durante o regime, os nomes de 64 das vítimas estavam lá, nas pastas secretas de Pio Corrêa. Atuando em linha com os adidos militares das embaixadas, a tropa civil dos adidos do CIEx foi decisiva na atuação do Brasil na Operação Condor.[4]

Enquanto ao SNI cabia a coordenação e articulação de um denso sistema de informações e de contrainformação no âmbito nacional, de acordo com os princípios de segurança nacional e de combate ao inimigo interno, o CIEX atuava como uma linha auxiliar, monitorando a movimentação e as atividades de brasileiros no exterior - notadamente de militantes e políticos de oposição, considerados suspeitos de conspirar contra o regime. O CIEX trabalhou também com análises e monitoramento da política interna dos países vizinhos ao Brasil, principalmente Argentina, Chile e Uruguai, onde muitos brasileiros se encontravam exilados. Quando, nos anos 1970, uma onda de autoritarismo varreu a democracia do Cone Sul e muitos dos brasileiros exilados se transferiram para a Europa Ocidental, também as atividades de vigilância do CIEX se estenderam a vários países do continente europeu.[5][6][7]

Ao longo das décadas de 1960 e 1970, o CIEX manteve, além de sua ligação original ao SNI, uma estreita colaboração com os serviços de inteligência do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, a saber: o CIE, o Cenimar e o CISA.[8]

Referências

  1. O pai do serviço secreto do Itamaraty. Correio Braziliense, 23 de setembro, 2007 ]
  2. Schwarcz, Lilia Moritz; Starling, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. Companhia das Letras, 2015.
  3. «Agente da Borrasca». Observatório da Imprensa. Agosto de 2014. Consultado em 15 de Setembro de 2015 
  4. «Agente da Borrasca». Observatório da Imprensa. Agosto de 2014. Consultado em 15 de setembro de 2015 
  5. Ditadura militar criou rede para espionar vizinhos. O Estado de S. Paulo, 10 de agosto de 2013.
  6. Cateb, Caio Bruno Pires Mendes. O Centro de Informações do Exterior (CIEX): o posicionamento brasileiro diante do Golpe Militar no Chile. Brasília: Universidade de Brasília, dezembro de 2013.
  7. Brasileiros na França: o exílio segundo a visão do Centro de Informações do Exterior (CIEX) entre 1966 e 1968. Por Paulo César Gomes. Revista Contemporânea – Dossiê 1964-2014: 50 anos depois, a cultura autoritária em questão. Ano 4, n° 5 , 2014, vol. 1 ISSN 2236-4846
  8. O Itamaraty nos anos de chumbo: o Centro de Informações do Exterior (CIEX) e a repressão no Cone Sul (1966-1979). Por Pio Penna Filho. Revista Brasileira de Política Internacional, vol. 52 nº 2. Brasília, julho-dezembro de 2009 ISSN 1983-3121

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