Conquista de Alcácer-Ceguer

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Conquista de Alcácer-Ceguer
Guerras Luso-Marroquinas

Alcácer-Ceguer vista do mar.
Data 16-18 Outubro de 1458.[1]
Local Alcácer-Ceguer, Marrocos
Desfecho Vitória portuguesa
Beligerantes
Portugal Marrocos
Comandantes
D. Afonso V Desconhecido
Forças
25,000 homens[1]
220 ou 289 navios.[1][2]
500 cavaleiros[1] Número não registado de infantaria.[1]
Baixas
Desconhecidas Desconhecidas

A conquista de Alcácer-Ceguer pelos portugueses, em Marrocos à dinastia dos Merínidas, deu-se entre 23 e 24 de Outubro de 1458 por forças portuguesas sob o comando do rei Afonso V, cognominado o africano.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Portugal capturou a cidade de Ceuta aos merínidas de Marrocos em 1415.

Quando os turcos otomanos tomaram Constantinopla em 1453, o Papa Calisto III emitiu aos reis da Europa um apelo a uma Cruzada, entregue ao rei D. Afonso V através do Bispo de Silves. O rei prometeu armar um exército contra os muçulmanos.[1] Ao enviar emissários a Nápoles e outras Cortes europeias, no entanto, D. Afonso descobriu que só ele havia correspondido ao apelo do Papa, de entre todos os monarcas europeus.[1] Depois de Calixto ter morrido a 6 de Agosto de 1458, D. Afonso decidiu atacar Tânger em Marrocos, mas o governador de Ceuta, o conde D. Sancho de Noronha, persuadiu-o a conquistar Alcácer-Ceguer.[1] Por então, Alcácer-Ceguer servia como valhacouto de piratas muçulmanos ao sultão merínida, com quem Portugal estava em guerra.[2]

A partir de 1420 os merínidas caíram sob a tutela dos oatácidas, que exerceram a regência quando Abdalaque II se tornou sultão, um ano após seu nascimento. Os oatácidas, entretanto, recusaram-se a prescindir da regência quando Abdalaque atingiu a maioridade.[3]

A reunião de homens e navios deu-se em Lagos, no Algarve. A frota portuguesa contava com 200 ou 220 navios e 25.000 ou 26.000 guerreiros, fora marinheiros e pessoal de apoio. Participaram também na expedição o príncipe D. Fernando, Duque de Viseu, o Infante D. Henrique ao comando da armada do Algarve, o Marquês de Valença D. Afonso de Bragança ao comando da armada do Porto e o Marquês de Vila Viçosa. Zarparam para Alcácer-Ceguer a 12 de Outubro de 1458.[1]

Ventos contrários empurraram a nau almiranta e parte da armada para as águas em redor de Tânger, cuja conquista o soberano cogitou, mas o Infante D. Henrique, que participara no fracassado ataque à cidade em 1437 dissuadiu-o e manteve-se o objectivo de atacar Alcácer-Ceguer.

A batalha[editar | editar código-fonte]

Os portugueses enfrentaram alguma resistência nas praias de Alcácer-Ceguer, onde a guarnição ergueu barricadas guarnecidas por besteiros e 500 cavaleiros, para impedir o desembarque dos portugueses.[1] Os marroquinos foram, no entanto, atacados com ânimo por um esquadrão comandado pelo infante D. Henrique e os muçulmanos viram-se forçados a fugir para a cidade.[1] Não conseguiram os portugueses abrir as portas da cidade mas, mais tarde, naquela noite, os portugueses usaram uma bombarda para demolir parte das muralhas.[1]

Na manhã de 18 de Outubro, os habitantes da cidade renderam-se e D. Afonso V autorizou-os a deixar a cidade, com as suas famílias e pertences.[1] Vários prisioneiros cristãos foram libertados. [1]

Rescaldo[editar | editar código-fonte]

Esboço da muralha da couraça desenhada por Diogo Boitaca em 1502.

A conquista deveu-se à superior artilharia portuguesa e à decisão do rei merínida, em Fez, Abdalaque manter o seu exército em Tânger ao ser informado da presença da frota portuguesa em Alcácer-Ceguer, pois o rei preparava um ataque a Tremecém. Ao saber que os portugueses sitiavam Alcácer-Ceguer, ele saiu a socorrê-la, porém não chegou a tempo de evitar a queda da cidade e partiu para organizar um cerco posteriormente.[1]

De Alcácer-Ceguer, Afonso V viajou até Ceuta e ali organizou uma embaixada para entregar ao sultão de Fez uma "polida carta" desafiando-o para uma batalha campal, porém os seus navios foram alvejados ao darem entrada no porto de Tânger.[1]

O sultão sitiou Alcácer-Ceguer de 13 de Novembro de 1458 a 2 de janeiro de 1459 mas não conseguiu recuperar a cidade aos portugueses.[4]

Os portugueses iniciaram de imediato obras de restauro e reforço das defesas da cidade. A mesquita foi transformada em igreja sob a invocação de Santa Maria da Misericórdia, concedida à Ordem de Cristo por iniciativa do Infante D. Henrique.

Em 1459, Abdalaque II massacrou a família oatácida, quebrando-lhes assim o seu poder. O seu reinado, no entanto, terminou brutalmente quando ele foi assassinado aquando de uma revolta em 1465.[5] Este evento marcou o fim da dinastia merínida pois Maomé ibne Ali Anrani-Jutei, líder dos xarifes, foi proclamado sultão em Fez . Este por sua vez foi deposto em 1471 por Abu Abedalá Xeique Maomé ibne Iáia, um dos dois oatácidas sobreviventes do massacre de 1459, que iniciou o reinado da dinastia oatácida .

Alcácer-Ceguer permaneceria nas mãos dos portugueses por boa parte do século seguinte. Em 1502 os portugueses começaram a construir um novo conjunto de fortificações que estendiam as muralhas da cidade até o mar, garantindo assim um local de desembarque seguro para reforços e forças expedicionárias portuguesas. A população residente da vila sob os portugueses atingiu cerca de 800 pessoas.

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p Ignacio da Costa Quintella: Annaes da Marinha Portugueza, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1839, p.158-162.
  2. a b Fernando Pessanha in Irene Vaquinhas: Revista de História da Sociedade e da Cultura n.º 19, Imprensa da Universidade de Coimbra / Coimbra University Press, p.109.
  3. Julien, Charles-André, Histoire de l'Afrique du Nord, des origines à 1830, Payot 1931, p.196
  4. Quintella, 1839, p.163.
  5. C.E. Bosworth, The New Islamic dynasties, p.42 Edinburgh University Press 1996. ISBN 978-0-231-10714-3.