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Porfírio Pardal Monteiro: diferenças entre revisões

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Revisão das 19h25min de 23 de maio de 2016

Porfírio Pardal Monteiro
Porfírio Pardal Monteiro
Nascimento 1897
Pero Pinheiro, Sintra
Morte 1957 (60 anos)
Lisboa
Nacionalidade Portugal Português
Ocupação Arquitecto
Prêmios Prémios Valmor 1923, 1928, 1929, 1938 e 1940; Menção Honrosa, Prémio Valmor 1930; Prémio Municipal de Arquitectura, Lisboa, 1947.

Porfírio Pardal Monteiro ComSE (Pero Pinheiro, Sintra, 1897 - Lisboa, 1957) foi um arquitecto e professor universitário português[1] É um dos mais importantes arquitectos da primeira metade do Século XX em Portugal.

Juntamente com um grupo notável, a que pertenceram Cottinelli Telmo, Carlos Ramos, Luís Cristino da Silva, Cassiano Branco e Jorge Segurado, irá protagonizar a viragem modernista da arquitectura portuguesa. Pardal Monteiro destaca-se como "o que mais construiu e que se celebrizou como primeiro moderno. Sem concessões, foi capaz de pegar no fio da tradição para inovar". A sua obra marcou a cidade de Lisboa, tendo sido responsável por muitas das mais importantes realizações arquitectónicas entre as décadas de 1920 e 1950 [2].

Biografia / Obra

Filho de Pedro Manuel Monteiro e de sua mulher Mariana Gertrudes, nasce em Pero Pinheiro no seio duma família de pedreiros, depois tornados empresários da construção civil. Foi o mais novo de seis irmãos e irmãs do primeiro casamento. Com o intuito de frequentar a escola e concluir a instrução primária, em 1904 vai viver para Lisboa na companhia de um irmão.

Estuda na Escola de Belas Artes de Lisboa (1910-1919), onde é aluno de José Luís Monteiro e aprende arquitectura dentro dos padrões do «espírito clássico». Ainda durante a frequência da ESBAL trabalha no ateliê de Miguel Ventura Terra, um dos mais destacados arquitetos do início do século em Portugal e figura venerada no círculo familiar de Pardal Monteiro. Ventura Terra torna-se numa figura de referência para o jovem pupilo, transmitindo-lhe um modo mais actualizado de pensar a arquitetura e influenciando as suas convicções republicanas (em 1919 Pardal Monteiro alista-se como voluntário no Batalhão Académico, formado para combater os rebeldes monárquicos que tinham conquistado o forte de Monsanto) [3].

Estação ferroviária do Cais do Sodré, Lisboa

Em 1919 e depois de terminar o curso de arquitectura, é admitido na Repartição das Construções Escolares do Ministério da Instrução; nesse mesmo ano casa-se com Maria Luísa Vasques Kopke Correia Pinto e concebe o seu primeiro projecto, um solar à antiga portuguesa [4].

Em 1920 ingressa no serviço de arquitectura da Caixa Geral de Depósitos (até 1929), que vai chefiar; torna-se primeiro-assistente da recém criada cadeira de Arquitectura do curso de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Desenvolve as sucursais de Alcântara, Setúbal e Porto da CGD. Dispondo de um orçamento de vulto, correspondente à expectável monumentalidade da obra, a agência do Porto representa um dos seus primeiros grandes desafios; nesse projecto, referenciado ainda a padrões neoclássicos, Pardal Monteiro integra elementos que revelam a influência renovadora da art déco, aprendida em 1925 por ocasião de uma viagem a Paris onde visita a Exposition des Arts Décoratifs et Industrieles Modernes. O seu trabalho irá então evoluir, num processo de depuração que o aproxima progressivamente da linguagem radical da arquitetura do movimento moderno [5].

A Estação do Cais do Sodré (1925-1928) "constitui de algum modo a confirmação do seu talento e a coroação de um empenho continuado", revelando um novo entendimento entre decoração e arquitectura, ainda dentro da impossibilidade do abandono radical do uso de elementos decorativos mas onde já é patente o afastamento da ornamentação eclética anterior. Na sua articulação entre estrutura e forma, esta obra é já uma clara afirmação de modernidade [6].

Instituto Superior Técnico, Lisboa

Em 1927 inicia o projecto das novas instalações do Instituto Superior Técnico, ao Arco Cego, Lisboa, onde adopta, tal como no Cais do Sodré mas desta vez em muito maior escala, o novo sistema construtivo baseado no betão armado. Esta obra irá tornar-se na grande oportunidade para a "afirmação da arquitectura do movimento moderno em Portugal à escala pública", marcando igualmente a união na acção entre Pardal Monteiro e Duarte Pacheco, então director do IST (futuro ministro das Obras Públicas e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa). Obra emblemática da primeira vaga de arquitetura modernista em Portugal, ela traduz a consciência, adquirida em viagens ao estrangeiro e através de revistas como L’Architecture d’Aujourd’hui, dos novos rumos da arquitectura internacional [7].

A dimensão do empreendimento que foi o IST determina mudanças significativas no seu atelier, que se expande e profissionaliza a um nível nunca visto em Portugal. Irão seguir-se os projectos do Instituto Nacional de Estatística e muitos dos mais importantes equipamentos da cidade de Lisboa da década de 1930. Em paralelo, Pardal Monteiro empenha-se no estabelecimento de contactos internacionais, que lhe permitem uma actualização constante e servem de estímulo à manutenção do impulso criativo. Em 1930 torna-se correspondente da recém-criada Architecture d’Aujoud’hui, que dará visibilidade internacional à sua obra entre 1934 e 1938 (durante a 2ª Guerra Mundial a revista fica secretamente sediada no seu ateliê). Em 1932 é membro fundador do grupo RIA (Reuniões Internacionais de Arquitetos), antecessora da UIA (União Internacional de Arquitectos); nesse mesmo ano realiza uma viagem de estudo à União Soviética, integrado num grupo de arquitectos europeus [8].

Em 1933 projecta a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Lisboa, com a qual recebe o Prémio Valmor 1938 (apesar do apoio da igreja, a modernidade do edifício seria contestada pelos meios mais conservadores da sociedade portuguesa). Para este projecto solicita a colaboração de um grupo de nove artistas plásticos, entre os quais Francisco Franco e Almada Negreiros. Em 1934 dá início aos projectos das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, concluídas em 1943 e 1948 e onde contou, de novo, com a colaboração de Almada Negreiros. Ainda em 1934 realiza uma missão de estudo em Espanha, Itália, França, Bélgica e Holanda; no ano seguinte, participa no XIII Congresso Internacional dos Arquitectos em Roma. Em 1936 toma posse como Presidente do Sindicato Nacional dos Arquitectos (até 1944); em 1937 viaja pela Argélia e Itália com Duarte Pacheco e desloca-se a Paris, onde visita a Exposição Mundial e participa na RIA [9].

Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Lisboa

A partir de 1938 a encomenda pública portuguesa começa a ser condicionada por uma onda de revivalismo nacionalista, com predomínio de um vocabulário historicista e regionalista; a mudança culmina na Exposição do Mundo Português (em que P. M. participa), para se prolongar pelas décadas imediatas. Ao contrário de muitos companheiros de geração, Pardal Monteiro irá resistir à inflexão estilística, mantendo uma postura de rigor, sem se desviar das suas "convicções racionalistas utilitárias em prol de uma arquitectura de dignidade monumental". "Tendo sido durante algum tempo o arquitecto de confiança de Duarte Pacheco, Pardal Monteiro protagonizou a primeira etapa das obras públicas do regime, definida no limbo entre a modernidade e a monumentalidade, numa elegante e austera simbiose balançada entre a manipulação de volumes claros e puros e o frequente recurso a uma composição simétrica, com entradas marcadas por grandes pilastras, escadarias monumentais, pés-direitos múltiplos, revestimentos a mármore e enquadramentos de painéis pictóricos" [10].

No final da década de 1930 dá-se a ruptura entre Pardal Monteiro e Duarte Pacheco. As causas do desentendimento nunca foram totalmente esclarecidas, mas o corte determina o seu afastamento prolongado de toda a encomenda pública, levando-o a aceitar a realização de projectos para vários prédios de rendimento em Lisboa. Em 1942 é nomeado professor catedrático da cadeira de Arquitectura do IST. Em 1944 é eleito presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sindicato Nacional dos Arquitectos (reeleito em 1948 e 1951) [11].

Com o termo da guerra, Pardal Monteiro retoma as viagens e contactos internacionais; em 1946 participa, no Royal Institute of British Architects, na fundação da União Internacional dos Arquitetos (UIA); dois anos mais tarde participa no segundo congresso da UIA, em Lausanne, e em 1953 coordena a realização do terceiro, em Portugal. Tem uma papel ativo na realização do I Congresso Nacional de Arquitectura em 1948, evento histórico que marca a consolidação da classe profissional e a emergência de uma nova geração que irá pôr em causa o papel de liderança, até aí praticamente incontestada, da sua geração [12].

Hotel Ritz / Four Seasons, Lisboa

A partir do final da década de 1940 Pardal Monteiro recebe novas encomendas de vulto, públicas e privadas, projetando o Laboratório Nacional de Engenharia Civil e os hotéis Mundial, Tivoli e Ritz , em Lisboa. Este último, que não verá construído, assinala o seu permanente desejo de atualização; é o momento em que Pardal Monteiro mais se aproxima do «Estilo Internacional» e dos princípios da Carta de Atenas. Em meados dos anos de 1950 inicia ainda os projetos para os primeiros edifícios da Cidade Universitária de Lisboa e para a Biblioteca Nacional, que serão terminados após a sua morte sob coordenação de António Pardal Monteiro (Faculdade de Direito em 1957, Faculdade de Letras em 1959, Reitoria da Universidade de Lisboa e Biblioteca Nacional em 1961)[13].

Em 1956 sofre o primeiro de pelo menos dois acidentes vasculares cerebrais. Impossibilitado de trabalhar, põe termo à vida em 16 de Dezembro de 1957 [14].

A 5 de Janeiro de 1962 foi feito Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a título póstumo.[15] Nesse mesmo dia, o seu sobrinho, o arquitecto António Pardal Monteiro (1928-2012), foi também condecorado como Cavaleiro da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[16]

António Pardal Monteiro deu continuidade a alguns trabalhos de Porfírio Pardal Monteiro com a colaboração de Anselmo Fernandez (1918-2000), colaborador de Porfírio Pardal Monteiro desde os anos 40. Mais tarde, em 1986, foi fundada, por António Pardal Monteiro e três de seus filhos arquitectos a sociedade Pardal Monteiro Arquitetos[17], prolongando a actividade de um atelier onde colaboraram muitos arquitectos relevantes de diversas gerações, entre os quais: Veloso Reis Camelo (1901-1985), Miguel Jacobetty Rosa (1901-1970), Luís Benavente (1902-1992), Raul Rodrigues Lima (1909-1979), Sérgio Andrade Gomes e Jorge Ferreira Chaves (1920-1981)[18] e ainda, enquanto estudantes de arquitectura, Manuel Tainha, Frederico Sant'ana, Eduardo Goulartt Medeiros e o próprio sobrinho, António Pardal Monteiro.

Em sua homenagem, no Bairro dos Loios, Marvila (Lisboa), existe uma rua denominada Rua Pardal Monteiro[19].

Obras Principais / Prémios [20]

Caixa Geral de Depósitos, Porto

Estação ferroviária do Cais do Sodré

Instituto Superior Técnico

Instituto Nacional de Estatística

Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima

Gare Marítima de Alcântara

Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos

Diário de Notícias

Laboratório Nacional de Engenharia Civil

Universidade de Lisboa

Biblioteca Nacional de Portugal

Hotel Tivoli

Hotel Ritz / Four Seasons

Bibliografia

  • PACHECO, Ana Ruela Ramos de Assis - Porfírio Pardal Monteiro - 1897-1957, a obra do arquitecto. 1998. (Dissertação de Mestrado em História da Arte,FCSH, UNL, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa)
  • SIMÕES, Daniela Vieira de Freitas - Instituto Superior Técnico e Cidade Universitária de Lisboa. Génese. Cidade. Arquitectura. 2010. (dissertação mestrado integrado em Arquitectura, UTL-IST)
  • TOSTÕES, Ana – Fotobiografias Século XX: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009. ISBN 978-972-42-4517-1

Referências

  1. a b Enciclopédia Larousse (vol. 13) ISBN 978-972-759-933-2
  2. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 9, 29. ISBN 978-972-42-4517-1
  3. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 24, 25, 29, 31
  4. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 35, 194
  5. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 38, 39, 194
  6. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 40, 43, 54
  7. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 53, 54, 58
  8. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 71, 73, 74, 75, 194
  9. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 78, 194
  10. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 93, 99
  11. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 131, 135, 138, 195
  12. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 135, 195
  13. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 164, 195
  14. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 195
  15. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Porfírio Pardal Monteiro". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de abril de 2016 
  16. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "António Pardal Monteiro". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de abril de 2016 
  17. Pardal Monteiro Arquitetos. Página visitada em 19-12-2012
  18. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, p. 143
  19. Portugalio – Rua Pardal Monteiro. Página visitada em 19-12-2012
  20. Tostões, Ana – Fotobiografias Século XX, Direção de Joaquim Vieira: Pardal Monteiro. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009
  21. Câmara Municipal de Lisboa, Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura, 1930-1939
  22. André Cruz. «O Estádio Nacional e os novos paradigmas do culto». Academia.edu. Consultado em 14 de Novembro de 2011 
  23. Câmara Municipal de Lisboa, Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura, 1940-1949

Ver também

Ligações externas