Cimérios: diferenças entre revisões

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Acadêmicos dos séculos XIX e XX também se basearam nos relatos de Heródoto, porém as descobertas de ''[[Sir]]'' [[Austen Henry Layard|Henry Layard]] nos arquivos reais de [[Nínive]] e [[Calá]] permitiram o estudo de ainda mais material anterior (em muitos séculos) à obra do historiador grego.<ref>Deller, K. "Ausgewählte neuassyrische Briefe betreffend Urarṭu zur Zeit Sargons II.," in P.E. Pecorella e M. Salvini (ed.), ''Tra lo Zagros e l'Urmia. Ricerche storiche ed archeologiche nell'Azerbaigian Iraniano'', ''Incunabula Graeca'' 78 (Roma, 1984) 97–122.</ref> O registro arqueológico [[Assíria|assírio]] aponta que os cimérios, e a terra de [[Gamir]], localizavam-se a pouca distância de [[Urartu]] (um reino da [[Idade do Ferro]] cujo epicentro era ao redor do [[lago Van]], no [[Planalto Armênio]]), ao sul do Cáucaso.<ref name="Cozzoli 1968">{{citar livro | autor = Cozzoli, Umberto| título = I Cimmeri|ano = 1968|editora = Arti Grafiche Citta di Castello (Roma)|local = [[Roma]] | url=http://openlibrary.org/b/OL19361902M/Cimmeri.}}</ref><ref name="Salvini 1984">{{citar livro | autor = Salvini, Mirjo| título = Tra lo Zagros e l'Urmia: richerche storiche ed archeologiche nell'Azerbaigian iraniano| ano = 1984|editora = Ed. Dell'Ateneo (Roma)|local = [[Roma]] | url=http://openlibrary.org/b/OL13958629M/Tra-lo-Zagros-e-l%27Urmia}}</ref> Relatórios de inteligência militar de [[Sargão II]] do século VIII a.C. descrevem como os cimérios ocupavam territórios ao sul do [[Mar Negro]].<ref>{{citar livro | autor = Kristensen, Anne Katrine Gade| título = Who were the Cimmerians, and where did they come from?: Sargon II, and the Cimmerians, and Rusa I|ano = 1988|editora = [[Academia Real Dinamarquesa de Ciência e Letras]] | local = [[Copenhagen]]}}</ref>
Acadêmicos dos séculos XIX e XX também se basearam nos relatos de Heródoto, porém as descobertas de ''[[Sir]]'' [[Austen Henry Layard|Henry Layard]] nos arquivos reais de [[Nínive]] e [[Calá]] permitiram o estudo de ainda mais material anterior (em muitos séculos) à obra do historiador grego.<ref>Deller, K. "Ausgewählte neuassyrische Briefe betreffend Urarṭu zur Zeit Sargons II.," in P.E. Pecorella e M. Salvini (ed.), ''Tra lo Zagros e l'Urmia. Ricerche storiche ed archeologiche nell'Azerbaigian Iraniano'', ''Incunabula Graeca'' 78 (Roma, 1984) 97–122.</ref> O registro arqueológico [[Assíria|assírio]] aponta que os cimérios, e a terra de [[Gamir]], localizavam-se a pouca distância de [[Urartu]] (um reino da [[Idade do Ferro]] cujo epicentro era ao redor do [[lago Van]], no [[Planalto Armênio]]), ao sul do Cáucaso.<ref name="Cozzoli 1968">{{citar livro | autor = Cozzoli, Umberto| título = I Cimmeri|ano = 1968|editora = Arti Grafiche Citta di Castello (Roma)|local = [[Roma]] | url=http://openlibrary.org/b/OL19361902M/Cimmeri.}}</ref><ref name="Salvini 1984">{{citar livro | autor = Salvini, Mirjo| título = Tra lo Zagros e l'Urmia: richerche storiche ed archeologiche nell'Azerbaigian iraniano| ano = 1984|editora = Ed. Dell'Ateneo (Roma)|local = [[Roma]] | url=http://openlibrary.org/b/OL13958629M/Tra-lo-Zagros-e-l%27Urmia}}</ref> Relatórios de inteligência militar de [[Sargão II]] do século VIII a.C. descrevem como os cimérios ocupavam territórios ao sul do [[Mar Negro]].<ref>{{citar livro | autor = Kristensen, Anne Katrine Gade| título = Who were the Cimmerians, and where did they come from?: Sargon II, and the Cimmerians, and Rusa I|ano = 1988|editora = [[Academia Real Dinamarquesa de Ciência e Letras]] | local = [[Copenhagen]]}}</ref>


===Primeira aparição histórica===
== Registos históricos ==
[[Imagem:Urartu 715 713-en.svg|thumb|right|Invasões cimérias da [[Cólquida]], [[Urartu]] e [[Assíria]] (715–713 a.C.).]]
O primeiro registo histórico dos cimérios aparece nos anais da [[Assíria]] no ano 714 a.C. Eles descrevem como um povo chamado ''Gimirri'' ajudou as forças de [[Sargão II]] a derrotar o reino de [[Urartu]]. Sua terra original, chamada ''Gamir'' ou ''Uishdish'', parece ter sido localizada no Estado-tampão de [[Mannai]]. O geógrafo posterior [[Ptolomeu]] colocou a cidade de ''Gomara'' nessa região.
O primeiro registro histórico dos cimérios se dá nos anais [[Assíria|assírios]], no ano de 714 a.C.; eles descrevem como um povo demominado ''Gimirri'' ajudou as tropas de [[Sargão II da Assíria|Sargão II]] a derrotar o reino de [[Urartu]]. Sua terra de origem, chamada no texto de ''Gamir'' ou ''Uishdish'',{{carece de fontes|data=janeiro de 2012}} parece ter se localizado dentro do "[[estado tampão]]" de [[Manas]] (''Mannai'' ou ''Mannae''). O [[geógrafo]] grego [[Ptolemeu]], escrevendo nos séculos I-II d.C., situou a cidade ciméria de ''Gomara'' nesta região. Após as conquistas da [[Cólquida]] e da [[Ibéria caucasiana|Ibéria]], ocorridas no primeiro milênio a.C., os cimérios também passaram a ser conhecidos como ''Gimirri'' no [[língua georgiana|idioma georgiano]]. De acordo com historiadores da [[Geórgia]],<ref>Berdzenishvili, N., Dondua V., Dumbadze, M., Melikishvili G., Meskhia, Sh., Ratiani, P., ''History of Georgia (Vol. 1)'', [[Tbilisi]], 1958, p. 34–36</ref> os cimérios tiveram um papel de grande influência no desenvolvimento da cultura cólquica e ibérica. O palavra georgiana para "[[herói]]", [[wikt:გმირი|გმირი]], ''gmiri'', vem do termo ''Gimirri'', que se referia aos cimérios que habitaram a região após as primeiras conquistas.


Alguns autores modernos{{carece de fontes}} afirmam que os cimérios incluíam [[mercenários]], chamados pelos assírios de ''Khumri'', restabelecidos na região por Sargão. Contudo, gregos de épocas posteriores sustentam que os cimérios, antes disso, haviam vivido nas [[estepe]]s entre os rios Tyras ([[Dniester]]) e Tanais ([[Rio Don, Rússia|Don]]). [[Homero]] os descreve em seu livro 11 da ''[[Odisseia]]'' como habitantes de terras enevoadas e de trevas nos limites do mundo, às margens de [[Oceano (mitologia)|Oceano]]. Vários reis cimérios são mencionados em fontes gregas e [[Mesopotâmia|mesopotâmicas]], incluindo o [[Tugdamme]] (''Lygdamis'' em [[Língua grega|grego]]) e o [[Sandakhshatra]] (final do século VII a.C.).
Alguns autores modernos afirmam que entre os cimérios estavam [[mercenários]], chamados pelos assírios de ''Khumri'', que haviam sido despachados para aquela região por Sargão. Relatos gregos posteriores descrevem os cimérios tendo habitado anteriormente as [[estepe]]s situadas entre os rios Tiras (''Tyras'', atual [[Dniester]]) e Tánais (atual [[rio Don|Don]]). Fontes gregas e [[Mesopotâmia|mesopotâmicas]] mencionam diversos reis cimérios, entre eles [[Tugdamme]] (''Lygdamis'', em [[Língua grega|grego]]; meados do século VII a.C.) e [[Sandakhshatra]] (final do século VII a.C.).

Um povo "mítico" também chamado de cimério é descrito nos livros XI e XIV da ''[[Odisseia]]'', de [[Homero]]; eles habitariam além do [[Oceano (mitologia)|Oceano]], numa terra envolta em névoa e escuridão, na beira do mundo dos vivos, próximo à entrada do [[Hades]]. Provavelmente não tinham qualquer relação com os cimérios do Mar Negro.<ref>Liddell, Henry e Scott, Robert. [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3D%2357414 "Cimmerians" (Κιμμέριοι)], [[Project Perseus]], [[Universidade Tufts]].</ref>

De acordo com as ''[[Histórias (Heródoto)|Histórias]]'', de [[Heródoto]] (c. 440 a.C.), os cimérios teriam sido expulsos das estepes pelos citas. Para se asseguraram de que seriam sepultados em sua terra ancestral, os homens da família real ciméria se dividiam em grupos e combatiam até à morte. Já os cimérios das classes populares eram enterrados ao longo do rio Tiras, enquanto fugiam do avanço cita, cruzando o [[Cáucaso]] e chegando à [[Anatólia]].<ref>[[Heródoto]], ''[[Histórias (Heródoto)|Histórias]]'', livro IV, seções 11–12.</ref>

Os assírios registraram as migrações dos cimérios, já que seu antigo rei, Sargão II, havia sido morto em combate contra eles em 705 a.C. Registros posteriores indicam que os cimérios teriam conquistado a [[Frígia]] entre 696 e 695 a.C., o que fez com que o rei frígio [[Midas]] preferisse o suicídio, ingerindo veneno, do que ser capturado por eles. Em 679 a.C., durante o reinado de [[Assaradão]] da Assíria, eles atacaram a [[Cilícia]] e [[Tabal]], então comandados por seu novo rei, [[Teushpa]]. Assaradão teria derrotado-os nos arredores de [[Hubushna]].{{carece de fontes|data=fevereiro de 2011}}

Em 654 ou 652 a.C. – a data exata não é conhecida com exatidão – os cimérios teriam atacado o reino da [[Lídia]], assassinando o rei lídio [[Giges da Lídia|Giges]], e destruindo a capital lídia de [[Sárdis]]. Dez anos mais tarde eles realizaram uma nova incursão na mesma cidade, durante o reinado do filho de Giges, [[Árdis II]]; desta vez conseguiram conquistar a cidade, com a exceção de sua [[cidadela]]. A queda de Sárdis representou um grande choque para as potências regionais da época; os [[poeta]]s gregos [[Calino]] e [[Arquíloco]] registraram o temor que os cimérios inspiravam, à época, nas [[colônias gregas]] da [[Jônia]], muitas das quais já haviam sido atacadas por saqueadores cimérios e [[treros]].{{carece de fontes|data=fevereiro de 2011}}

A ocupação cimérica da Lídia, no entanto, teve curta duração, provavelmente devido a alguma [[epidemia]]. Entre 637 e 626 a.C. foram derrotados por [[Aliates II]] da Lídia; esta derrota marcou, na prática, o fim do poder cimério. O termo ''Gimirri'' foi usado um século depois, na [[Inscrição de Behistun]] (c. 515 a.C.) como um equivalente [[Babilônia|babilônio]] dos [[sacas]] (citas) mencionados pelos [[persas]]. Com a exceção desta menção, os cimérios desaparecem por completo dos relatos históricos, e seu destino se torna desconhecido; especula-se que tenham se fixado na [[Capadócia]], conhecida em [[Língua armênia|armênio]] como [[wikt:Գամիրք|Գամիրք]], ''Gamir-kʿ'' (mesmo nome dado à terra natal dos cimérios em Manas).{{carece de fontes|data=fevereiro de 2011}}


De acordo com as ''Histórias'' de [[Heródoto]] (c. 440 a.C.), os cimérios haviam, em determinado ponto do passado, sido expulsos das estepes pelos [[citas]]. Para garantir seu enterro na pátria de seus ancestrais, os membros da família real ciméria dividiram-se em grupos e lutaram entre si até a morte. Os camponeses cimérios enterraram os corpos ao largo do rio Tyras e, através do Cáucaso, fugiram do avanço.
<!--Editar: texto cheio de preciosismo, erros ortográfico e factuais
== Guerra contra a Cítia==
De acordo com Heródoto a Cítia entrou em guerra com a Ciméria se expandindo para o Oeste e sob tal pretexto seguiu os cimérios pelo cáucaso ocidental enquanto os cimérios pelo litoral euxino até o Pontvs no noroeste anatólico ou sudeste do Euxino. Acabaram chegando na Média onde suas hordas enfrentaram resistência mas acabaram se impondo sobre os medos e reinando por décadas sob o império Medo gerando um império cita que avançou até a Síria e Egipto, onde o soberano egipto se ajoelhou e clamou diante dos citas para que não invadissem o Nilo Setentrional, Sinai, et cetera. De acordo com o mesmo a decisão de Dário em preferir atacar a Cítia ao invés dos gregos adveio deste episódio, pois os persas assumindo o papél de sucessores da Média acabaram herdando a sua história e portanto a humilhante derrota diante dos citas. Com isso os persas foram derrotados pelos citas e acabaram se voltando contra os gregos sob Xerxes (de acordo com fontes persas tudo começa quando os fenícios arrumam confusão com os gregos em Argos).
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== Língua ==
== Língua ==
Da língua dos cimérios, apenas alguns poucos nomes pessoais sobreviveram, encontrados em inscrições assírias:
Da língua dos cimérios, apenas alguns poucos nomes pessoais sobreviveram, encontrados em inscrições assírias:

Revisão das 20h02min de 17 de março de 2014

 Nota: Para outros significados, veja Ciméria.

Os cimérios (em grego: Κιμμέριοι, Kimmerioi) foram um antigo povo indo-europeu que viveu ao norte do Cáucaso e do mar de Azov por volta de 1300 a.C.,[1] até que foram expulsos para o sul, pelos citas, chegando à Anatólia por volta do século VIII a.C. Linguisticamente costumam ser classificados como iranianos, ou, possivelmente, trácios governados por uma classe dominante iraniana.

Após seu êxodo das estepes pônticas, os cimérios provavelmente saquearam Urartu, por volta de 714 a.C., porém em 705 a.C., após serem repelidos por Sargão II da Assíria, rumaram para a Anatólia, onde, entre 696 e 695, conquistaram a Frígia. Em 652 a.C., após conquistar Sárdis, capital da Lídia, onde atingiram o ápice de seu poder. Seguiu-se então um período de rápido declínio, até sua derrota final, entre 637 e 626, quando foram derrotados pelo rei lídio Aliates. Deixam então de ser mencionados pelas fontes históricas, porém provavelmente a esta altura já teriam se fixado na Capadócia.[2]

História

Origem

A origem dos cimérios é incerta. Supostamente teriam algum tipo de parentesco com povos que falavam línguas iranianas ou trácias, ou que ao menos teriam sido governados por uma elite iraniana.[3][4]

De acordo com o historiador grego Heródoto, do século V a.C., os cimérios habitavam originalmente a região ao norte do Cáucaso e do Mar Negro, durante os séculos VIII e VII a.C., na atual Ucrânia e Rússia. A arqueóloga alemã Renate Rolle argumentou, no entanto, que ninguém ainda demonstrou com evidências arqueológicas a presença dos cimériocs nas partes meridionais da Rússia.[5]

Embora o artigo de 2006 da Encyclopædia Britannica corrobore Heródoto - ainda que afirmando que "[os cimérios] provavelmente habitavam a região ao norte do Mar Negro, porém as tentativas de se definir sua terra de origem de maneira mais precisa, através de métodos arqueológicos, ou de até mesmo se fixar com precisão a data de sua expulsão daquela região pelos citas, ainda não foram totalmente bem-sucedidas"[3] - estudos acadêmicos recentes utilizaram-se de documentos que datam de séculos antes de Heródoto, tais como relatórios feitos a Sargão, para apontar que estas obras situavam os cimérios a sul, e não a norte do Mar Negro.[6][7]

Acadêmicos dos séculos XIX e XX também se basearam nos relatos de Heródoto, porém as descobertas de Sir Henry Layard nos arquivos reais de Nínive e Calá permitiram o estudo de ainda mais material anterior (em muitos séculos) à obra do historiador grego.[8] O registro arqueológico assírio aponta que os cimérios, e a terra de Gamir, localizavam-se a pouca distância de Urartu (um reino da Idade do Ferro cujo epicentro era ao redor do lago Van, no Planalto Armênio), ao sul do Cáucaso.[6][7] Relatórios de inteligência militar de Sargão II do século VIII a.C. descrevem como os cimérios ocupavam territórios ao sul do Mar Negro.[9]

Primeira aparição histórica

Invasões cimérias da Cólquida, Urartu e Assíria (715–713 a.C.).

O primeiro registro histórico dos cimérios se dá nos anais assírios, no ano de 714 a.C.; eles descrevem como um povo demominado Gimirri ajudou as tropas de Sargão II a derrotar o reino de Urartu. Sua terra de origem, chamada no texto de Gamir ou Uishdish,[carece de fontes?] parece ter se localizado dentro do "estado tampão" de Manas (Mannai ou Mannae). O geógrafo grego Ptolemeu, escrevendo nos séculos I-II d.C., situou a cidade ciméria de Gomara nesta região. Após as conquistas da Cólquida e da Ibéria, ocorridas no primeiro milênio a.C., os cimérios também passaram a ser conhecidos como Gimirri no idioma georgiano. De acordo com historiadores da Geórgia,[10] os cimérios tiveram um papel de grande influência no desenvolvimento da cultura cólquica e ibérica. O palavra georgiana para "herói", გმირი, gmiri, vem do termo Gimirri, que se referia aos cimérios que habitaram a região após as primeiras conquistas.

Alguns autores modernos afirmam que entre os cimérios estavam mercenários, chamados pelos assírios de Khumri, que haviam sido despachados para aquela região por Sargão. Relatos gregos posteriores descrevem os cimérios tendo habitado anteriormente as estepes situadas entre os rios Tiras (Tyras, atual Dniester) e Tánais (atual Don). Fontes gregas e mesopotâmicas mencionam diversos reis cimérios, entre eles Tugdamme (Lygdamis, em grego; meados do século VII a.C.) e Sandakhshatra (final do século VII a.C.).

Um povo "mítico" também chamado de cimério é descrito nos livros XI e XIV da Odisseia, de Homero; eles habitariam além do Oceano, numa terra envolta em névoa e escuridão, na beira do mundo dos vivos, próximo à entrada do Hades. Provavelmente não tinham qualquer relação com os cimérios do Mar Negro.[11]

De acordo com as Histórias, de Heródoto (c. 440 a.C.), os cimérios teriam sido expulsos das estepes pelos citas. Para se asseguraram de que seriam sepultados em sua terra ancestral, os homens da família real ciméria se dividiam em grupos e combatiam até à morte. Já os cimérios das classes populares eram enterrados ao longo do rio Tiras, enquanto fugiam do avanço cita, cruzando o Cáucaso e chegando à Anatólia.[12]

Os assírios registraram as migrações dos cimérios, já que seu antigo rei, Sargão II, havia sido morto em combate contra eles em 705 a.C. Registros posteriores indicam que os cimérios teriam conquistado a Frígia entre 696 e 695 a.C., o que fez com que o rei frígio Midas preferisse o suicídio, ingerindo veneno, do que ser capturado por eles. Em 679 a.C., durante o reinado de Assaradão da Assíria, eles atacaram a Cilícia e Tabal, então comandados por seu novo rei, Teushpa. Assaradão teria derrotado-os nos arredores de Hubushna.[carece de fontes?]

Em 654 ou 652 a.C. – a data exata não é conhecida com exatidão – os cimérios teriam atacado o reino da Lídia, assassinando o rei lídio Giges, e destruindo a capital lídia de Sárdis. Dez anos mais tarde eles realizaram uma nova incursão na mesma cidade, durante o reinado do filho de Giges, Árdis II; desta vez conseguiram conquistar a cidade, com a exceção de sua cidadela. A queda de Sárdis representou um grande choque para as potências regionais da época; os poetas gregos Calino e Arquíloco registraram o temor que os cimérios inspiravam, à época, nas colônias gregas da Jônia, muitas das quais já haviam sido atacadas por saqueadores cimérios e treros.[carece de fontes?]

A ocupação cimérica da Lídia, no entanto, teve curta duração, provavelmente devido a alguma epidemia. Entre 637 e 626 a.C. foram derrotados por Aliates II da Lídia; esta derrota marcou, na prática, o fim do poder cimério. O termo Gimirri foi usado um século depois, na Inscrição de Behistun (c. 515 a.C.) como um equivalente babilônio dos sacas (citas) mencionados pelos persas. Com a exceção desta menção, os cimérios desaparecem por completo dos relatos históricos, e seu destino se torna desconhecido; especula-se que tenham se fixado na Capadócia, conhecida em armênio como Գամիրք, Gamir-kʿ (mesmo nome dado à terra natal dos cimérios em Manas).[carece de fontes?]

Língua

Da língua dos cimérios, apenas alguns poucos nomes pessoais sobreviveram, encontrados em inscrições assírias:

  • Te-ush-pa, mencionado nos anais de Assarhaddon, foi comparado à entidade hurrita de guerra Teshub; outros o consideram iraniano, comparando-o com o nome aquemênida Teispes (Heródoto 7.11.2)
  • Dug-dam-me (Dugdammê), rei dos Ummân-Manda (nômades), aparece numa oração proferida por Assurbanípal a Marduque, encontrada num fragmento hoje guardado no Museu Britânico. Seu nome também pode ser grafado como Dugdammi e Tugdammê. Yamauchi (1982) considera o nome como sendo iraniano, citando o termo osseto "tux-domaeg", que significa "governando com força". O nome aparenta ser uma corruptela no Lygdamis de Estrabão (I.3.21).
  • Sandaksatru, filho de Dugdamme. Essa é uma interpretação iraniana do nome, e Mayrhofer (1981) indica que o nome também pode ser lido como Sandakurru. Mayrhofer rejeita a interpretação do nome como "com pura regência", uma mistura de iraniano e indo-ariano. Ivancik sugere uma associação com a divindade Sanda da Anatólia.

Alguns investigadores tentaram traçar vários topônimos a origens cimérias. Sugeriu-se que a Crimeia recebeu seu nome em prol dos cimérios. Contudo, essa parece ser uma falsa premissa. O nome Crimeia relaciona-se ao turco qyrym, que significa "fortaleza", e a península, na Antiguidade, era na verdade conhecida como Quersoneso Táurico ("península dos Tauri") - cf. Estrabão 7.4.1; Heródoto 4.99.3, Amm. Marc. 22.8.32).

Os cimérios são atualmente classificados como um povo iraniano, mas com base em fontes históricas gregas da Antiguidade, uma associação trácia (e, mais raramente, celta) pode ser levada em consideração. De acordo com C. F. Lehmann-Haupt, a língua dos cimérios poderia ter sido o "elo perdido" entre os idiomas trácio e iraniano.

Possíveis ramificações

Acredita-se que há certo número de ramificações com origem nos cimérios. Os Trácios foram identificados como um possível ramo ocidental daquele povo. Se Heródoto estiver correto, ambos os povos originalmente habitaram a costa norte do Mar Negro, e ambos foram forçados a deixar a área ao mesmo tempo devido a invasores vindos do leste. Enquanto os cimérios haveriam abandonado sua pátria ancestral rumo ao leste e ao sul, através do Cáucaso, os trácios haveriam migrado ao oeste e ao sul através dos Bálcãs, onde estabeleceram uma cultura que floresceu, obtendo vida longa. Os Tauri, habitantes da Crimeia que antecederam os cimérios, são às vezes identificados como um povo relacionado aos trácios.

Apesar de os cimérios de que se têm conhecimento via registos históricos terem seu lugar na história por um curto período de tempo (século VII a.C.), diversos povos celtas e germânicos mantêm a tradição de serem descendentes dos cimérios ou dos citas, e alguns de seus nomes étnicos parecem corroborar a crença (p.ex. Cymru, Cwmry ou Cumbria, Cimbre). É pouco provável que o proto-celta ou o proto-germânico hajam alcançado a Europa tão tardiamente como o século VII a.C., uma vez que sua formação é comumente associada, respectivamente, à cultura dos Campos de Urnas da Idade do Bronze e à Idade do Bronze Nórdica. Todavia, é concebível que uma migração "traco-ciméria" de pequena escala (em termos populacionais) do século VIII a.C. possa ter resultado em mudanças culturais que contribuíram na transformação da cultura de Campos de Urna na cultura de Hallstatt, sendo introduzida durante a Idade do Ferro europeia.[carece de fontes?]

A etimologia de Cymru (termo galês para o País de Gales) e de Cwmry (Cumbria), que, de acordo com a tradição galesa[carece de fontes?], deriva diretamente de "cimérios", é considerada, por uma outra corrente, como provinda do celta kom-broges, que significa "compatriotas"[carece de fontes?]. No que diz respeito à tribo Cimbre, não se sabe ao certo se eram celtas, germânicos ou se algum outro povo, provindo dum grupo Indo-Europeu Ocidental anterior conectado aos Lígures. Além disso, os reis Merovíngios dos francos tradicionalmente traçavam sua linhagem, passando por uma tribo pré-franca chamada Sicambre, chegando, fundamentalmente, a um grupo de "cimérios" que viviam na boca do rio Danúbio.[carece de fontes?]

Se os citas realmente mantêm parentesco com os cimérios, como foi-se frequentemente exposto, muitos outros povos que reivindicam descendência cítica poderiam ser adicionados à lista.

A associação dos cimérios a uma das Tribos Perdidas de Israel também desempenhou certo papel no Israelismo Britânico.[carece de fontes?]

Ver também

Referências

  1. Gordon, Bruce. «Regnal Chronologies». Consultado em 8 de maio de 2013 
  2. «Cimmerian (people)». Encyclopedia Britannica. Consultado em 8 de setembro de 2012 
  3. a b "The origin of the Cimmerians is obscure. Linguistically they are usually regarded as Thracian or as Iranian, or at least to have had an Iranian ruling class." "Cimmerian", in Encyclopædia Britannica, 2006. Página visitada em 30-8-2006.
  4. J. Harmatta: "Scythians" UNESCO Collection of History of Humanity: Volume III: From the Seventh Century BC to the Seventh Century AD, Routledge/UNESCO. 1996, p. 182
  5. Rolle, Renate. "Urartu und die Reiternomaden", in: Saeculum 28, 1977, S. 291–339
  6. a b Cozzoli, Umberto (1968). I Cimmeri. Roma: Arti Grafiche Citta di Castello (Roma) 
  7. a b Salvini, Mirjo (1984). Tra lo Zagros e l'Urmia: richerche storiche ed archeologiche nell'Azerbaigian iraniano. Roma: Ed. Dell'Ateneo (Roma) 
  8. Deller, K. "Ausgewählte neuassyrische Briefe betreffend Urarṭu zur Zeit Sargons II.," in P.E. Pecorella e M. Salvini (ed.), Tra lo Zagros e l'Urmia. Ricerche storiche ed archeologiche nell'Azerbaigian Iraniano, Incunabula Graeca 78 (Roma, 1984) 97–122.
  9. Kristensen, Anne Katrine Gade (1988). Who were the Cimmerians, and where did they come from?: Sargon II, and the Cimmerians, and Rusa I. Copenhagen: Academia Real Dinamarquesa de Ciência e Letras 
  10. Berdzenishvili, N., Dondua V., Dumbadze, M., Melikishvili G., Meskhia, Sh., Ratiani, P., History of Georgia (Vol. 1), Tbilisi, 1958, p. 34–36
  11. Liddell, Henry e Scott, Robert. "Cimmerians" (Κιμμέριοι), Project Perseus, Universidade Tufts.
  12. Heródoto, Histórias, livro IV, seções 11–12.