Fernando Vallejo
Fernando Vallejo | |
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Fernando Vallejo (2008) | |
Nascimento | 24 de outubro de 1942 (82 anos) Medellín, Colômbia |
Prémios | Prémio Rómulo Gallegos (2003) |
Género literário | Romance, cinema |
Movimento literário | Pós-modernismo |
Fernando Vallejo Rendón (Medellín, 24 de outubro de 1942) é escritor e cineasta nascido na Colômbia e naturalizado mexicano desde 2007.
Recebeu numerosos reconhecimentos por sua obra, incluindo o Prémio Rómulo Gallegos em 2003 pelo livro O Despenhadeiro (em espanhol, El desbarrancadero). É também conhecido por suas fortes críticas, especialmente em relação à Igreja Católica, à dupla moralidade, e à política colombiana.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Filho do político e jurista colombiano Aníbal Vallejo Alvarez.
Nasceu e cresceu na cidade de Medellín. Aficionado por música, chegou a ser um excelente pianista, tendo preferência pelas obras de Mozart, Chopin, Gluck e Richard Strauss. Depois de um ano de estudo na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidad Nacional de Colombia em Bogotá, licenciou-se em Biologia na Universidad Javeriana. Viajou a Europa para estudar cinema na Itália, na Escola Experimental de Cinecittà.
Em 25 de fevereiro de 1971, Vallejo mudou-se para a Cidade do México, onde produziu a totalidade de sua obra. Desde então, não voltou a viver na Colômbia.
Vallejo destacou-se mundialmente como escritor. Além de nove romances (cinco dos quais formam um ciclo autobiográfico), publicou três livros de ensaios, uma gramática da linguagem literária, e duas biografias de poetas colombianos (José Asunción Silva e Porfirio Barba Jacob). Sua atividade como diretor e cineasta, anterior a toda sua obra literária, produziu três filmes, dois de temáticas colombianas, porém produzidos no México.
Nacionalidade
[editar | editar código-fonte]Em abril de 2007, obteve a nacionalidade mexicana, e, em 8 de maio do mesmo ano, renunciou a colombiana.
Conforme explicou Vallejo posteriormente, na raiz de sua renúncia à nacionalidade colombiana estava a denúncia oferecida por um grupo de pessoas contra ele e o diretor da revista colombiana SoHo pela publicação de um artigo que os denunciantes consideraram como um insulto à religião católica. Em uma primeira instância, um juiz decidiu que tanto Vallejo, quanto o diretor da revista, Daniel Samper Ospina, deveriam ser presos. Devido a isso, Vallejo decidiu iniciar os tramites para obter a nacionalidade mexicana, pois considerou tal condenação absurda, por violar seus direitos de liberdade religiosa e de liberdade de expressão. Houve uma apelação de tal decisão, e ela foi reformada, com a consequente absolvição tanto de Vallejo quanto de Daniel Samper Ospina. Porém, o tramite para a nacionalização mexicana de Vallejo seguia em curso, e uma das condições para ela ser concedida era firmar um papel renunciando a nacionalidade colombiana.[1][2]
Em outubro de 2007, afirmou que começaria os tramites legais para retomar a nacionalidade colombiana.[3]
Obra
[editar | editar código-fonte]Fernando Vallejo é autor de uma autobiografia, El río del tiempo, composta por cinco livros. O primero, Los días azules (1985), reflete vários episódios da infância do autor, tendo como cenários o sítio de seus avós (Santa Anita) e o tradicional bairro Boston de Medellín. Em El fuego secreto (1987), explora como adolescente os caminhos da droga e da homossexualidade em Medellín e Bogotá. As obras seguintes, Los caminos a Roma (1988) e Años de indulgencia (1989), narram as suas experiências na Europa, especialmente em Roma e em Nova York. O quinto volume de El río del tiempo, Entre fantasmas, apareceu em 1993 e abrange os anos em que residiu na Cidade do México, onde vive desde 1971. Vallejo é autor da biografia do poeta do departamento colombiano de Antioquia, Miguel Angel Osorio, mais conhecido como Porfirio Barba Jacob. Intitulada El Mensajero (1987), é o produto de mais de dez anos de constante e rigorosa investigação pela Colômbia, América Central e México. Em 1994, publicou um romance fora de seu ciclo biográfico, A Virgem dos Sicarios, sobre a violência do narcotráfico em Medellín, que foi levado ao cinema por Barbet Schroeder. Ganhou o Prémio Rómulo Gallegos, um dos mais prestigiados da língua espanhola, em 2003, por O Despenhadeiro. Por meio de alusões autobiográficas e com uma força original de uma linguagem franca e aberta, Vallejo descreve nessa obra a doença e a morte de seu irmão Darío, apresentando reflexões sobre os temas da doença (dito especificamente, a SIDA), a crise da família, a violência cotidiana e a igreja católica como mal social. Em La rambla paralela (2002), um cadáver ambulante circula alucinadamente por uma Barcelona asfixiada pelo calor e que pela voz do narrador se confunde com Medellín e o México, através de uma prosa cheia de fúria e nostalgia, onde se fundem em uma coisa só passado, presente e futuro. Em Mi hermano el alcalde (2004), inspirando-se na figura de seu irmão Carlos, prefeito do município de Támesis, em Antioquia, descreve irônica porém festivamente os rituais eleitorais sul-americanos: promessas irrealizáveis, votos comprados, eleitores "fantasmas", e apadrinhamentos. Depois de não dar o braço a torcer a tais rituais devido a sua honradez congênita, o protagonista é eleito prefeito e sua administração, saturada de problemas econômicos e judiciais, resulta em um grande progresso para a cidade.
Como cineasta, escreveu e dirigiu no México dois filmes sobre a violência na Colômbia: Crónica Roja (1977) e En la tormenta (1980). Um terceiro filme, "La derrota" (1984), co-escrito com Kado Kostzer significou seu último trabalho como diretor.
Em 1985 a Procultura publicou a sua edição da Poesía completa de Porfirio Barba Jacob. No ano de 1995 publica o resultado de sua extensa pesquisa sobre a lembrança de quem foi um dos grandes poetas colombianos, José Asunción Silva; essa biografia, chamada Almas en pena, chapolas negras, descreve o desfalque financeiro do poeta e reflete, com grande êxito, o ambiente de Bogotá em finais do século XIX.
A maior parte de seus romances têm por cenário a Colômbia e seus temas recorrentes são a violência, a homossexualidade, a adolescência, as drogas e a morte.
Vallejo também cultivou o ensaio: em 1983, o Fondo de Cultura Económica publicou no México Logoi. Una gramática del lenguaje literario, um ambicioso projeto investigativo sobre a escrita literária, ressaltando pontos de vista originais e críticos sobre a linguagem, seu uso e seus limites; em La tautología darwinista (1998) tenta refutar a teoria darwiniana da seleção e adaptação como causas da evolução, teoria que ele aceita, porém tendo como causa exclusiva as modificações que aleatoriamente podem produzir-se no ADN a nível molecular, sem intervenção nem influência do meio ambiente nem de alguma causa exterior.
Como narrador oferece uma visão atrevida, iconoclasta, negra, e profundamente pessimista do mundo. Seu estilo é áspero e vigoroso e em conjunto representa um dos melhores da atual narrativa em língua espanhola. Um outro ensaio, o Manualito de imposturología física (2005), oferece uma discussão, na forma de sátira, das construções teóricas da física; na voz de um narrador erudito, Vallejo acusa de impostores os maiores representantes da física com a ajuda da 'imposturología', uma ciência da impostura inventada por ele.
Sua publicação mais recente, La Puta de Babilonia (2007), é um ensaio histórico extenso e prolixo, no qual Vallejo expõe uma mui bem documentada crítica ao cristianismo e a Igreja Católica. Uma ilustrativa menção do conteúdo de tal livro foi feita por Saramago em um entrevista. Saramago, respondendo sobre as polêmicas nas quais estava envolvido quando do lançamento do livro Caim em 2009, e se o lançamento de tal livro iria causar polêmicas na Espanha, disse o seguinte: “Não, em Espanha, não. Publicou-se lá recentemente um livro do Fernando Vallejo, La puta de Babilonia, que se fosse eu a escrever aquilo cá em Portugal tinham-me dependurado num desses candeeiros da avenida. É de uma violência de denúncia e de crítica que é um autêntico bota-abaixo”.[4]
Fernando Vallejo segue a tradição contestadora da intelectualidade de Antioquia, na esteira de nomes como o próprio Barba Jacob, Fernando González Ochoa, e dos nomes do Nadaismo, com Gonzalo Arango como principal referência.
Em Setembro de 2009 Fernando Vallejo foi premiado com o título de doutor honoris causa pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidad Nacional de Colombia, depois de muita contestação, devido à polêmica em torno de sua obra.
Polêmicas
[editar | editar código-fonte]Dono de uma personalidade forte, Vallejo é autor de muitas declarações polêmicas como a afirmação em que ele diz que os pobres são "uma horda de paridores".[5]
Bibliografia do autor
[editar | editar código-fonte]Romances
[editar | editar código-fonte]- La virgen de los sicarios (1994), traduzido para o português sob o título de A Virgem dos Sicarios.
- El río del tiempo (1999). Obra composta por:
- Los días azules (1985)
- El fuego secreto (1987)
- Los caminos a Roma (1988)
- Años de indulgencia (1989)
- Entre fantasmas (1993)
- El desbarrancadero (2001), traduzido para o português sob o título de O Despenhadeiro (tradução criticada pelo próprio Vallejo).[6] Premiado com o Prémio Rómulo Gallegos em sua XIIIª edição (2003).
- La rambla paralela (2002)
- Mi hermano el alcalde (2004)
- El don de la vida (2010)
- Casablanca la bella (2013)
- ¡Llegaron! (2015)
Biografias
[editar | editar código-fonte]- El mensajero (1991), biografía de Porfirio Barba Jacob.
- Almas en pena, chapolas negras (1995), biografia de José Asunción Silva.
Literatura/filologia/linguística
[editar | editar código-fonte]Ensaios
[editar | editar código-fonte]- La tautología darwinista (1998)
- Manualito de imposturología física (2005)
- La puta de Babilonia (2007)
Filmografia
[editar | editar código-fonte]Como diretor
[editar | editar código-fonte]Curta-metragens
- Un hombre y un pueblo (1968)
- Una vía hacia el desarrollo (1969)
Longa-metragens
- Crónica roja (Título do roteiro: Vía cerrada) (1977). Premiado em 1979 com o Prémio Ariel da Academia Mexicana de Artes e Ciências Cinematográficas nas categorias "Mejor ópera prima" e "Mejor ambientación".
- En la tormenta (1980). Prémio Ariel (1981) na categoria "Mejor ambientación".
- Barrio de campeones (1981)
Como roteirista
[editar | editar código-fonte]- La virgen de los sicarios (2000)
Como ator
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Verbo21 (Darío Gómez Sánchez) (agosto de 2008). «Caminhando com Fernando Vallejo». Consultado em 7 de janeiro de 2010
- ↑ Laura Camila Mejía Morales. «Fernando Vallejo» (em espanhol). Consultado em 25 de Outubro de 2009
- ↑ Terra (19 de Outubro de 2007). «Fernando Vallejo: 'Voy a recuperar mi nacionalidad colombiana'» (em espanhol). Consultado em 25 de Outubro de 2009
- ↑ Diário de Notícias (25 de Outubro de 2009). «"O Papa Bento XVI parece-me um hipócrita"». Consultado em 25 de Outubro de 2009. Arquivado do original em 4 de janeiro de 2010
- ↑ Un escritor americano considera que los pobres son "una horda paridora e irresponsable"
- ↑ Máquina de Escrever (G1). «O furioso cordial». Consultado em 1 de dezembro de 2009
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Perfil do escritor em português
- Entrevista na Ciberletras, por Francisco Villena
- Discurso na entrega do Prémio Internacional de Romance Rómulo Gallegos
- O que aconteceria se Fernando Vallejo ganhasse o Prémio Nobel
- Cibercharla com Héctor Abad
- Vallejo é melhor do que Gabo
- "«Mi obra es fruto del remordimiento»: Fernando Vallejo" El País 28-06-2003
- O abismo de Vallejo
- Crítica ao Manualito de imposturología física
- Entrevista no Clubdelibros
- 'Voy a reiniciar mis trámites para volverme otra vez colombiano', disse o escritor Fernando Vallejo
- Amparo Grisales declara que em algumas ocasiões hospedou-se na casa de Fernando Vallejo, no México
- Vallejo revela que se nacionalizou mexicano para não ir preso
- "A la humanidad le espera un infierno" Entrevista ao jornal LA NACION 13-01-08
- Antología de bódrios: La física según Vallejo
Entrevistas em áudio
[editar | editar código-fonte]- Fernando Vallejo em entrevista com o Decano da Faculdade de Ciências Humanas da Universidad Nacional de Colombia
- Fernando Vallejo convidado para Aula Aberta na Universidad de Antioquia. Conferência e respostas a perguntas. 22/05/2008. 68 min.
- Na Caracol Radio com Gustavo Gómez e Rocío Arias. 19-02-2005
- Na W Radio com Julio Sánchez Cristo
- De passagem pela Colômbia, Fernando Vallejo dialoga com ouvintes da Caracol Radio (27/oct/2006).
- Entrevista na Caracol Radio a propósito da publicação de La puta de Babilonia 18-04-2007
- O terceiro dentre os irmãos Vallejo, Aníbal Vallejo, fala sobre o escritor
- Tertúlia de Antonio Caballero com o maestro Fernando Vallejo, um dos mais importantes e controversos escritores colombianos. Caracol Radio: 28-01-2008
Artigos escritos por Fernando Vallejo
[editar | editar código-fonte]Na SoHo
[editar | editar código-fonte]- El gran diálogo del Quijote
- La Pasión de Alejandra Azcárate (Título original: "Leyendo los evangelios")
- Los rapaces
- Wojtyla vive
- El politiquero y el primate
- Por el desafuero
- Mi otro prójimo
- El liliputiense bellaco
- Nuestro gran presidente
- A las madrecitas de Colombia
- Obituario de Karol Wojtyla
- 'Bienvenida' al Rey de España