Nhá Chica
Beata Nhá Chica | |
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Escultura de Nhá Chica na Igreja Nossa Senhora de Fátima, em São Lourenço, Minas Gerais. | |
Confessora | |
Nascimento | 1808 São João del-Rei, Minas Gerais Estado do Brasil ![]() |
Morte | 14 de junho de 1895 (87 anos) Baependi, Minas Gerais ![]() |
Veneração por | Igreja Católica |
Beatificação | 4 de maio de 2013 Baependi por Angelo Amato |
Festa litúrgica | 14 de junho |
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Francisca de Paula de Jesus, conhecida popularmente como Nhá Chica (São João del-Rei, 1808[1] — Baependi, 14 de junho de 1895), foi uma leiga brasileira considerada beata pela Igreja Católica.
Biografia[editar | editar código-fonte]
Primeiros anos[editar | editar código-fonte]
Filha e neta de escravos, Francisca de Paula de Jesus nasceu em 1808,[1] no povoado de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, um dos atuais cinco distritos de São João del-Rei, município do estado brasileiro de Minas Gerais, onde também foi batizada no dia 26 de abril de 1810.
Mudança[editar | editar código-fonte]
Pouco tempo depois sua família mudou-se para a cidade de Baependi, no sul deste estado.
Morte[editar | editar código-fonte]
Em Baependi viveu até 14 de junho de 1895,[2] data de sua morte. Francisca foi sepultada dia 18 de junho no interior da capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição, mandada construir por ela.
Investigação[editar | editar código-fonte]
Acreditou-se por muito tempo que Francisca teria ficado órfã aos dez anos de idade, devido às informações presentes na única entrevista conhecida realizada com Chica.[3] [4] No entanto, em 2014 o pesquisador Antonio Clarét Maciel Santos localizou o atestado de óbito da mãe de Francisca,[5] alterando o entendimento da perda de sua genitora aos 35 anos de idade.[6]
Apostolado[editar | editar código-fonte]
Mulher humilde, era fervorosa devota de Nossa Senhora da Conceição, e, a pedido da mãe, passou a vida inteira a dedicar-se à prática de caridade. Leiga, foi chamada ainda em vida de "a mãe dos pobres", sendo respeitada por todos os que a procuravam, desde os mais humildes aos homens do Império. Durante 30 anos, reuniu doações para construir a capela de Nossa Senhora da Conceição, onde hoje funciona o Santuário da Conceição, na cidade mineira de Baependi. Francisca de Paula de Jesus era conhecida por Nhá Chica, sendo que "nhá" é corruptela de "sinhá", por sua vez corruptela de senhora, forma respeitosa de se tratar aos mais velhos.
Beatificação[editar | editar código-fonte]
Nhá Chica, já em vida, passou a ser aclamada pelo povo como a Santa de Baependi, por sua fé. O Processo Informativo Diocesano começou em 16 de julho de 1993, tendo sido encerrado em 1995, quando foi para Roma. O Relator deste processo foi o padre José Luís Gutiérrez. A causa ficou parada até 1998, quando assumiram como Postulador o Frei Paolo Lombardo, OFM e como vice-postuladora a irmã Célia Cadorin, Ciic (mesma religiosa que atuou nas causas de Madre Paulina e Frei Galvão). Desde 1991 que Nhá Chica é reconhecida como Serva de Deus, título que recebeu oficialmente da Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano.
Em 18 de junho de 1998 foi feito o reconhecimento de seus restos mortais, na presença de autoridades eclesiásticas, membros do Tribunal Eclesiástico pela Causa de Beatificação de Nhá Chica, da Comissão Histórica e de médicos legistas. Ainda em 1998, o Tribunal Eclesiástico Pela Causa de Beatificação de Nhá Chica apresentou à Diocese de Campanha um provável milagre para ser enviado e analisado pelo Vaticano.
A causa de Beatificação de Nhá Chica aguardava desde 2007 o anúncio de sua beatificação, quando uma graça foi atribuída a Nhá Chica. Ana Lúcia Meirelles Leite, uma professora moradora de Caxambu, em Minas Gerais, teria sido curada de um problema congênito no coração, caso considerado muito grave pelos médicos. A cura teria se dado sem a necessidade de intervenção cirúrgica, tendo então sido atribuída às orações pela intercessão de Nhá Chica. O fato se deu em 1995. A graça foi aceita pelo Vaticano, que analisa o pedido de beatificação. No entanto, o início da campanha pela canonização teve seu início ainda no ano de 1952. A instalação da Comissão em prol da Beatificação se iniciou em 1989, e foi depois instalada em definitivo no dia 14 de janeiro de 1992.
A publicação da Positio, documento que reúne todos os dados e testemunhos recolhidos durante a fase diocesana, corresponde à primeira etapa do processo de beatificação e aconteceu no dia 30 de outubro de 2001. O documento seguiu para o Vaticano para ser apreciado pela Congregação para as Causas dos Santos.
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3e/Foto_da_Beata_Nh%C3%A1_Chica.jpg/220px-Foto_da_Beata_Nh%C3%A1_Chica.jpg)
Em 30 de abril de 2004, os bispos brasileiros reunidos em sua 42ª Assembleia Geral da CNBB assinaram um documento pedindo a beatificação de Nhá Chica. O documento, que reuniu 204 assinaturas de Bispos de 25 estados brasileiros, foi encaminhado pela Diocese da Campanha ao então Papa João Paulo II.
No dia 8 de junho de 2010, a Congregação para as Causas dos Santos deu parecer favorável às virtudes da Serva de Deus Nhá Chica.[7] Já em 14 de janeiro de 2011, o Papa Bento XVI aprovou o decreto da Congregação para as Causas dos Santos, que atestava as virtudes heróicas da Serva de Deus.[8] Nhá Chica pode receber o título de Venerável, estando assim mais próxima da beatificação.[9]
Aguardou-se, desde então, o reconhecimento por parte da Santa Sé, do milagre da cura, atribuído à intercessão de Nhá Chica, da professora Ana Lúcia Meirelles Leite, até que no dia 13 de outubro de 2011, a Comissão Médica da Congregação para as Causas dos Santos, depois de analisar o possível milagre da cura de Ana Lúcia, declarou que a cura não teria explicação científica.[10] Em 28 de junho de 2012, o Papa Bento XVI autorizou a Congregação para a Causa dos Santos a promulgar o decreto do milagre atribuído à intercessão de Nhá Chica.[8]
Cerimônia de beatificação[editar | editar código-fonte]
A beatificação aconteceu no dia 4 de maio de 2013, em Baependi, em cerimônia presidida pelo prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, o cardeal Angelo Amato, representante da Santa Sé, que anunciou a data de 14 de junho como a festa litúrgica em memória de Nhá Chica. Desta forma, Nhá Chica se tornou a primeira leiga e negra brasileira a ser declarada beata pela Igreja Católica.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Monat, Henrique (1894). «Nha Chica». Caxambu. Rio de Janeiro: Luiz Macedo. OCLC 912761648. Consultado em 8 de agosto de 2021
- Passarelli, Gaetano (2020). Nhá Chica, perfume de rosa: vida de Francisca de Paula de Jesus. 1. ed., 9. reimp. ed. São Paulo: Paulinas. ISBN 978-85-356-3497-6. OCLC 1147940307
- Sêda, Rita Elisa (2020). Nhá Chica: a mãe dos pobres. 1. ed. ed. Aparecida (São Paulo): Editora Santuário. ISBN 978-65-00-01275-0
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ a b Passarelli 2020, p. 59-61.
- ↑ «Registro religioso de óbito - Francisca de Paula de Jesus». FamilySearch. Consultado em 6 de maio de 2013. (pede registo (ajuda))
- ↑ Monat 1894, p. 93.
- ↑ Passarelli 2020, p. 62.
- ↑ Penna, Deborah (8 de outubro de 2015). «Descoberta altera biografia conhecida de Nhá Chica». Correio do Papagaio. Consultado em 8 de agosto de 2021. Cópia arquivada em 8 de agosto de 2021
- ↑ Sêda 2020, p. 29-30.
- ↑ «A Beatificação». Instituto Nhá Chica. Consultado em 8 de agosto de 2021. Cópia arquivada em 8 de agosto de 2021
- ↑ a b «Promulgazione di decreti della Congregazione delle Cause dei Santi». Sala Stampa della Santa Sede (em italiano). Imprensa do Vaticano. 14 de janeiro de 2011. Consultado em 8 de agosto de 2021. Cópia arquivada em 12 de dezembro de 2019
- ↑ «Nhá Chica proclamada venerável». Rádio Vaticano. 14 de janeiro de 2011. Consultado em 8 de agosto de 2021. Cópia arquivada em 8 de agosto de 2021
- ↑ Gustavo Werneck (15 de outubro de 2011). «Vaticano reconhece milagre de Nhá Chica». Estado de Minas Gerais. Consultado em 8 de agosto de 2021. Cópia arquivada em 8 de agosto de 2021