Giovanni Conversini

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Giovanni da Ravena
(1343-1408)
Giovanni Conversini
Nascimento 1343
Buda,  Hungria
Morte 27 de setembro de 1408
Muggia,  Itália
Alma mater Universidade de Pádua
Universidade de Bolonha
Ocupação Humanista, acadêmico, escolástico e jurista italiano.

Giovanni Conversini da Ravena, [1] também referido como Ioannes Conversini a Ravenna, Giovanni da Ravenna ou Johannes von Ravenna (Buda, 1343 - Muggia, 27 de Setembro de 1408), foi um humanista, filólogo, acadêmico, escolástico, chanceler e jurista italiano. Seu pai, Conversino, foi médico de Luis, O Grande, Rei da Hungria (1326-1382).

Conversini permanece uma das figuras mais enigmáticas do início do renascimento. Os seus escritos latinos refletem a influência de Petrarca e curiosas similaridades com o escolasticismo e as ciências medievais, certamente adquiridas por meio de suas leituras na biblioteca paterna.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Seu pai, Conversino da Frignano foi médico em Bolonha e em 1321 tornou-se titular da cátedra de Medicina da Universidade de Siena. Depois, em 1342, conheceu Luis, O Grande, Rei da Hungria que lhe ofereceu o posto de médico da corte, em Buda. Conversino aceitou o convite e um ano depois de sua chegada à capital da Hungria, nasceu o seu filho Giovanni. Depois da morte da mãe, em 1345, o pai, que permaneceu em Buda pelo resto da vida, enviou-o para a Itália, aos cuidados do tio, o cardeal Tommaso da Frignano,[2] junto com seu tutor Miguel de Zagreb (Michele da Zagàbria). Fez os seus estudos elementares primeiro em Ferrara, depois em Bolonha, com Alessandro del Casentino e Pietro da Forlì, e finalmente, no Orfanato das Irmãs de São Paulo, em Ravena; provavelmente, estudou na escola de gramática de Donato Albanzani (1328-1411), autor de um dos comentários sobre Petrarca. Ainda adolescente, em 1355, casou-se com Margherita Furlan, filha de um médico, com quem teve um filho (1357), que recebeu o nome do avô, Conversino.

Devido à tenra idade do casal, discussões familiares fizeram com que seu tio o mandasse estudar no colégio dos franciscanos, em Ferrara. Pouco depois, partiu para Bolonha a fim de continuar seus estudos do Trivium: gramática, lógica e retórica. De 1360 a 1362, fez os cursos de artes notariais e direito, em Bolonha, e em 1364 empreendeu a carreira de professor, tornando-se estudioso da obra Factorum dictorum memorabilium (Fatos e ditos memoráveis) de Valério Máximo. A sua popularidade deu um passo para a frente quando, graças a Albanzani, foi apresentado a Petrarca. Sucessivamente, tornou-se tutor da família de Niccolò d'Este, Senhor de Ferrara, e, em 1366, ocupou o cargo de professor de gramática latina, em Treviso. Um ano depois, retornou a Ravena, onde Guido III da Polenta, Senhor de Ravena, nomeou-o notário representante de Ravena na cúria dos poderosos de Florença. Na mesma época ministrou um curso sobre as Geórgicas de Virgílio e um outro, que era o seu cavalo de batalha, Ad Rhetorica ad Herennium, livro de retórica atribuído a Cícero, no Studio Fiorentino, uma universidade aberta, à qual o papa Clemente VI concedera os mesmos privilégios de que desfrutavam as outras universidades. Mas, no verão de 1369, abandonou o trabalho e retornou a Treviso, onde reencontrou a esposa e o filho, que haviam sido abandonados por ele, em Ravena, e estavam doentes. A esposa morreu duas semanas depois de chegar à cidade, e o filho, Conversino, já cego de um olho, recuperou lentamente a saúde.[3] Pouco depois da tragédia familiar, conseguiu um posto de professor em Conegliano, onde, em julho de 1372, recebeu a visita do cunhado, Luigi da Ravena, que tentou envenená-lo com arsênico, provavelmente para se vingar dos maus tratos que Conversini havia imposto à sua esposa. O atentado não foi fatal, mas Conversini ficou gravemente debilitado e foi obrigado a permanecer acamado por mais de seis meses.

O período de repouso forçado obrigou-o a repensar toda a sua vida e, assim que se recuperou, visitou o seu tio Tommaso, em Veneza. O tio, que se tinha tornado Patriarca de Grado, estava profundamente irritado com o comportamento irresponsável e imprudente do seu sobrinho, disse-lhe muito friamente que já não era bem-vindo na família, pelo menos até que mudasse de comportamento. Giovanni deixou Veneza e conseguiu encontrar um posto de ensino em Belluno, onde pôde recomeçar. Foi talvez um bom presságio ele ter visitado Petrarca, na sua casa em Arquà, no Natal de 1373.

Professor, tabelião e pai de família[editar | editar código-fonte]

Giovanni passou a residir em Belluno e a dar aulas na escola de gramática. Belluno assinalou uma virada na sua vida. Em 1375, casa-se com Benasuda, uma rica viúva de Belluno, com a qual teria um único filho, Israel. Começa a escrever breves tratados como De fato, sobre a questão do livre-arbítrio, De miseria humanae vitae e o fragmentário De Christi conceptu, sobre os aspectos estoicos do Cristianismo. Naqueles anos, fizeram-se mais distantes as suas relações com o tio, que, em 1378, enviou-lhe, como presente tardio de casamento, três caixas de livros deixados pelo pai de Conversini, como herança para o irmão. Esses preciosíssimos livros eram os mesmos que haviam pertencido à biblioteca real de Anjou e depois confiscados, em Nápolis, por Luís I da Hungria, o qual depois os presenteara a Conversino. Giovanni, para agradecer ao tio, dedicou a ele um diálogo intitulado Dialogus inter Johannem et Literam, sobre o estado dos religiosos. O tio, que havia se tornado cardeal e fixara residência na corte papal, ficou evidentemente satisfeito, e quando, em 1379, a comuna de Belluno não renovou o contrato do sobrinho, convidou-o a Roma para um período de férias.

Retornando de Roma, Conversini fixou-se em Pádua onde tornou-se hóspede do médico Marsílio da Santasofia e do gramático Carletto Galmarelli. Mas aquilo que deveria ser um breve encontro acabou se tornando uma longa permanência, posto que Francisco I de Carrara (1325-1393), Senhor de Pádua, convida-o para permanecer na corte, dada a sua condição de escritor e intelectual. Em Pádua, Giovanni veio a conhecer muitos representantes da elite acadêmica como o jurista Baldo degli Ubaldi, o jurista e diplomata Arsendino Arsendi e o literato e secretário de Petrarca, Lombardo della Seta. No final de 1382, entretanto, a morte surpreende sua esposa, e Giovanni é obrigado a retornar a Belluno, para depois partir novamente e estabelecer-se em Veneza, onde encontrou trabalho como professor, ali permanecendo por seis meses. A rainha Isabel, há pouco tempo viúva de Luís, o Grande, que era muito ligado à memória do seu pai, Conversino, ofereceu-lhe o posto de notarius mayor na República de Ragusa, que, na época, era um estado vassalo da Hungria. Giovanni aceitou o convite e para lá se transferiu com o filho, Israel. Como acontecera durante a sua experiência em Florença, o trabalho de tabelião envolvia uma quantidade considerável de trabalho. Não só tinha de redigir todo tipo de documento notarial, como também presidir, como juíz, as causas civis e interceder, depois de verificar decretos e estatutos. Dessa vez, porém, não abandonou o posto e até encontrou tempo para compor o De primo eius introitu ad aulam, que falava sobre a corrupção dos tribunais, e uma História de Ragusa (Historia Ragusii).

Deixou a cidade dálmata em 1388 e retornou a Veneza onde, sob o patrocínio do seu ex-aluno Marco Giustinian (futuro condottiero e herói de Veneza, mais tarde conhecido como "O Grande"), abriu uma escola de gramática no distrito de San Patrignano, protagonizando o ambiente intelectual da cidade. Mas, no ano seguinte, chegava a Veneza o seu filho Conversino, e ambos iniciaram uma série de discussões desagradáveis que acabaram no tribunal. Amargurado, ele decidiu fazer as malas e ir para outro lugar. De Pádua, ocupada pela família Visconti, veio-lhe uma proposta para lecionar na universidade, mas, fiel à memória de Francesco da Carrara, recusou-se a trabalhar para os novos senhores e assim, em outubro de 1389, transferiu-se para Údine, onde foi contratado como simples professor primário.

Os triunfos de Pádua[editar | editar código-fonte]

Com o fim da ocupação dos Visconti e o retorno dos Carrara, Giovanni começou a pensar mais seriamente naquela proposta, agora muito válida, de ensinar na Universidade de Pádua, decisão que foi tomada em 1392.

No ateneu de Pádua, foram-lhe atribuídos os cursos de gramática e de retórica, que eram frequentados por alunos promissores, tais como Pier Paolo Vergerio (1370-1445), Sicco Polenton e Guarino Veronese (1370-1460). Segundo Polenton, esse homem era, seja pela sua santidade moral, seja pelo seu conhecimento de todos os aspectos das artes humanísticas e retóricas, o príncipe dos catedráticos, dentre todos os acadêmicos que viveram na Itália em sua época.[4]

Sua fama chegou até a corte e, em 1393, Francesco Novello da Carrara, filho e sucessor de Francesco I da Carrara (Francisco, o Velho), convida-o para ser chanceler. Giovanni, no entanto, impõe uma condição: poder continuar a dar aulas particulares aos estudantes mais brilhantes de Pádua - condição que Francesco naturalmente aceita. Entre esses poucos estudantes afortunados destacou-se Vittorino da Feltre (1378-1446).

Em 1396, Conversini escreve De fortuna aulica, sobre a vida na corte; Dolosi astus narratio, sobre as intrigas na corte de Ferrara; Violate pudicicie narratio ou Historia Elysia, sobre a fidelidade conjugal; e, mais tarde, a Apologia, contra a inveja dos cortesãos, De lustro Alborum in Urbe Padua, sobre a grande procissão de 1399 pela Companhia dos Flagelantes ou dos Bianchi, e De dilectione regnantium, sobre a arte política - todos em 1399.

Em 1400, Conversini vê-se encarregado de realizar três missões diplomáticas importantes. Em janeiro vai a Florença para contratar o mercenário Alberico da Barbiano (1349-1409) para que entrasse a serviço de Pádua e informasse os senhores de Florença a respeito dos planos dos Visconti para tomar Perúgia. Depois foi a Bolonha, para reforçar a cidade aliada e arbitrar a disputa entre as facções de Nanni Gozzadini e o governador da cidade Giovanni Bentivoglio. Finalmente, no verão, foi enviado a Roma, para entregar algumas cartas do Senhor de Pádua ao mercenário Conde de Carrara - filho ilegítimo de Francisco, O Velho, e meio-irmão de Francesco Novello - e também ao papa Bonifácio IX.

Todas as três missões, apesar das muitas dificuldades (por exemplo, foi assaltado antes de entrar em Roma), foram concluídas com êxito mas, ao retornar a Pádua, teve uma surpresa trágica. Seus dois filhos ilegítimos, nascidos em Údine, haviam morrido de peste. Os dois pequenos eram o orgulho e esperança do pai. Ao contrário de Conversino, estavam-se mostrando, sob a direção de Giovanni, brilhantes, nas letras e nas artes. Portanto, a perda não foi apenas afetiva. Colhido por terrível pesar, Giovanni decide encerrar com este episódio a Rationarium vitae, que começara a compor vários anos antes, como a dizer que a parte mais importante da sua vida acabara ali. No entanto, os infortúnios continuaram. No mesmo ano morria de peste também Israel, que, agora com vinte e cinco anos, havia-se estabelecido em Pádua para estudar na universidade.

Não obstante o período extremamente difícil, Giovanni continuou seu trabalho como chanceler. Porém, as ambições expansionistas de Francesco Novello na Lombardia, após o assassinato de Gian Galeazzo Visconti, em setembro de 1402, encontraram amplas críticas da sua parte e, por diversas vezes, advertiu Francesco que ele estava indo de encontro ao infortúnio. Porém, o Senhor de Pádua não lhe deu ouvidos e ainda reduziu os salários de todos os empregados públicos para aumentar o orçamento militar. O último ato de Giovanni, como chanceler da Signoria foi o de interceder por um tratado de aliança com Guglielmo della Scala. Depois disso, licenciou-se e, pouco antes de 23 de Junho de 1404, quando os venezianos declararam guerra a Francesco Novello, Conversini deixou Pádua e tornou a Veneza.

Nos seis meses seguintes à sua partida, concluiu Familiae carrariensis natio e escreveu a sua nova obra-prima: Dragmalogia De Eligibili Vite Genere, uma crônica da história de Veneza.

A queda de Pádua, em novembro de 1405, e sua subsequente anexação a Veneza acabaram com as suas esperanças de voltar ao seu posto de chanceler, finda a guerra. O seu ex-aluno Pier Paolo Vergerio, de passagem por Roma, tentou então convencê-lo a entrar para o serviço da cúria romana, em vez de se tornar tutor de algum filho mimado veneziano, mas Giovanni recusou. Não era mais jovem, e o calor escaldante do verão veneziano em 1406 acaba por convencê-lo a aceitar a proposta de um diretor de escolas públicas de Muggia, de onde não mais saiu.

Obras[editar | editar código-fonte]

  • Violate pudicicie narracio (relato sobre a castidade conjugal e o heroísmo, na França medieval, 1397)
  • De primo eius introitu ad aulam (1385) (onde fala sobre o caráter dos cortesãos como partidários com sede de poder).
  • De fortuna aulica (1396)
  • Dolosi astus narratio (contos imaginários em forma de diálogos, 1397)
  • Apologia (obra datada de 14 de Maio de 1399, onde Conversini se defende das calúnias de outros cortesãos, que o haviam acusado de incompetência no cargo de chanceler)
  • De dilectione regnantium (publicada em dezembro de 1399, dedicada a Francesco Novello da Carrara, orientava como um senhor poderia conquistar o amor e a estima dos seus subordinados).
  • De lustro Alborum in urbe Padua (informações úteis sobre a topografia de Pádua).
  • Rationarium vite (autobiografia segundo o modelo das Confissões de Santo Agostinho.
  • Dragmalogia De Eligibili Vite Genere

Ver também[editar | editar código-fonte]

Anexo:Lista de humanistas do Renascimento

Referências

  1. Giovanni da Ravena não pode ser confundido com seu homônimo, nascido por volta de 1347 e secretário de Petrarca ou com outro Giovanni da Ravena que foi professor de retórica em Florença em 17 de Novembro de 1368 e, em 22 de Março de 1382, tornou-se professor de retórica em Pádua.
  2. Tommaso da Frignano.
  3. Minha esposa e meu filho tornaram a entrar na minha vida nas condições mais tristes em que os tivesse visto. Graças à mudança de região e à melhor qualidade do ar, o meu filho conseguiu sair do estado doentio em que se encontrava. Mas a minha esposa, pouco depois que adoeceu, morreu. Morreu porque eu havia descuidado dela. Morreu por minha culpa. Trecho de Dragmalogia De Eligibili Vite Genere (edição de Helen Lanneau Eaker). Bucknell University Press, 1980, pag. 16.
  4. Sicco Polentone, Scriptorum Illustrium Latinae Linguae Libri XVIII, ed. de B. L. Ullman, in Papers and Monographs of the American Academy in Rome. Roma, 1928, p. 166