Saltar para o conteúdo

Jogo do bicho: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Adequei a página ao manual de estilo.
Linha 8: Linha 8:


== Contravenção ==
== Contravenção ==
Simples no começo, o sistema de jogo do bicho multiplicou-se pelo território brasileiro e passou a fazer parte da cultura brasileira. [[Câmara Cascudo]], no seu ''Dicionário do folclore brasileiro'', distinguia o jogo como sendo ''invencível'' e que a sua repressão apenas ampliava sua reprodução por todo o país. ''Vício irresistível'', escreveu o folclorista: (…)''contra ele a repressão policial apenas multiplica a clandestinidade. O jogo do bicho é invencível. Está, como dizem os viciados, na massa do sangue''.
Simples no começo, o sistema de jogo do bicho multiplicou-se pelo território brasileiro e passou a fazer parte da pernuda brasileira. [[Câmara Cascudo]], no seu ''Dicionário do folclore brasileiro'', distinguia o jogo como sendo ''invencível'' e que a sua repressão apenas ampliava sua reprodução por todo o país. ''Vício irresistível'', escreveu o folclorista: (…)''contra ele a repressão policial apenas multiplica a clandestinidade. O jogo do bicho é invencível. Está, como dizem os viciados, na massa do sangue''.


Em ''Ordem e progresso'' (1959), [[Gilberto Freyre]] descreveu o jogo do bicho como uma das poucas atividades sem discriminação de classes no início da república. O historiador [[José Murilo de Carvalho]] demonstrou em ''Os bestializados: Rio de Janeiro e a república que não foi'' que a sociedade carioca difundia a crença na sorte como uma forma de ganhar a vida sem trabalhar.
Em ''Ordem e progresso'' (1959), [[Gilberto Freyre]] descreveu o jogo do bicho como uma das poucas atividades sem discriminação de classes no início da república. O historiador [[José Murilo de Carvalho]] demonstrou em ''Os bestializados: Rio de Janeiro e a república que não foi'' que a sociedade carioca difundia a crença na sorte como uma forma de ganhar a vida sem trabalhar.

Revisão das 17h40min de 13 de maio de 2011

O jogo do bicho é uma bolsa ilegal de apostas em números que representam animais e foi inventado em 1892 pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador e proprietário do jardim zoológico do Rio de Janeiro em Vila Isabel[1].

A fase de intensa especulação financeira e jogatina na bolsa de valores nos primeiros anos da república brasileira imprimiu grave crise ao comércio. Para estimular as vendas, os comerciantes instituíram sorteios de brindes. Assim é que, querendo aumentar a frequência popular ao zoológico, o barão decidiu estipular um prêmio em dinheiro ao portador do bilhete de entrada que tivesse a figura do animal do dia, o qual era escolhido entre os 25 animais do zoológico e passava o dia inteiro encoberto com um pano. O pano somente era retirado no final do dia, revelando o animal do dia. Posteriormente, os animais foram associados a séries numéricas da loteria e o jogo passou a ser praticado largamente fora do zoológico, a ponto de transformar a capital da república (de 1889 a 1960) na "capital do jogo do bicho".

Contravenção

Simples no começo, o sistema de jogo do bicho multiplicou-se pelo território brasileiro e passou a fazer parte da pernuda brasileira. Câmara Cascudo, no seu Dicionário do folclore brasileiro, distinguia o jogo como sendo invencível e que a sua repressão apenas ampliava sua reprodução por todo o país. Vício irresistível, escreveu o folclorista: (…)contra ele a repressão policial apenas multiplica a clandestinidade. O jogo do bicho é invencível. Está, como dizem os viciados, na massa do sangue.

Em Ordem e progresso (1959), Gilberto Freyre descreveu o jogo do bicho como uma das poucas atividades sem discriminação de classes no início da república. O historiador José Murilo de Carvalho demonstrou em Os bestializados: Rio de Janeiro e a república que não foi que a sociedade carioca difundia a crença na sorte como uma forma de ganhar a vida sem trabalhar.

O jogo do bicho é semelhante a uma loteria federal, mas com algumas diferenças: uma delas é que o jogador pode apostar qualquer valor, que muitas vezes é bem acima de suas possibilidades. Quanto maior o valor apostado em uma sequência numérica (milhar, centena, dezena, etc.), maior será o prêmio em caso de acerto. Com essa flexibilidade de apostas, o jogador é livre para escolher pelo menor valor possível o seu número da sorte nas 10 000 chances disponíveis em cada sorteio. Exemplo: um apostador joga um real em uma milhar no primeiro prêmio (conhecido como cabeça por ser a primeira milhar no topo da lista de resultados). Caso acerte ela inteira (os quatro números), ele ganha 3 000 reais (apostas no estado de São Paulo). Se tivesse jogado cinquenta centavos na mesma aposta e acertado, o apostador ganharia 1 500 reais. Toda banca (organização que faz a administração do jogo do bicho) tem uma tabela de valores que são apresentados aos apostadores, tabela essa que tem muito pouca diferença de banca para banca.

Apesar de sua imensa popularidade e de ser tolerado por muitas autoridades corruptas, o jogo do bicho é considerado uma contravenção no Brasil e as pessoas que o praticam ou o promovem são passíveis de punição pela justiça. Dois fatores, teoricamente, são responsáveis por seu caráter ilícito:

  • a ausência de pagamento de impostos por parte dos banqueiros de jogo do bicho[2]
  • e a sua condição de jogo de azar, que induziria ao vício e à miséria a população[3].

História

A origem do jogo do bicho remonta ao fim do Império e início do período republicano.

Jornais da época contam que, para melhorar as finanças do jardim zoológico localizado no bairro da Vila Isabel, que estava em dificuldades financeiras, o senhor de terras e escravos João Batista Viana Drummond criou uma loteria em que o apostador escolhia um entre os 25 bichos do zoológico.

Os bichos eram representados individualmente pela sequência numérica de quatro unidades, compreendidas de 00 e 99 nos dois dígitos finais, haveria 25 bichos que respeitada a sua ordem alfabética eram distribuídos em progressão aritmética múltiplas de quatro de 00 a 99. Ao final do dia, os organizadores do jogo revelavam o nome do bicho vencedor e afixavam o resultado num poste, o que até os dias de hoje continua sendo feito.

O jogo do bicho permitia apostas de "simples moedas a tostões furados" numa época em que a recessão tomava conta do Brasil. Essa modalidade de jogo, rapidamente, se alastrou pelo país e tornou-se para o pobre algo comparável à bolsa de valores para os mais abastados.

Desse modo, quase sempre "investindo" com poucas moedas, o apostador nunca deixava de "aplicar" na sua "bolsa de valores", o que deu origem à expressão: "só quem ganha é quem joga".

A organização do jogo de bicho preserva uma hierarquia como a de atores, teatro e plateia (banqueiros, gerentes e apostadores).

Nessa hierarquia, o "banqueiro" é quem banca a totalidade do jogo e quem paga a banca. O "gerente de banca" ou do ponto é quem repassa as apostas ao banqueiro e o prêmio ao vendedor. O vendedor é agregado ao gerente de banca e é quem escreve e intermedia o pagamento entre o apostador e o gerente. A banca e o ponto não necessitam de um lugar fixo para operar: seus funcionários são, frequentemente, encontrados nas ruas sentados em cadeiras ou caixas de frutas. Em outras regiões do Brasil, pode-se entrar em contato por telefone e um motoboy vem buscar o jogo em sua casa ou trabalho.

O jogo do bicho tem algumas regras que estipulam limites nas apostas: um exemplo é a "descarga" de alguns números muito apostados, como o número do túmulo de Getúlio Vargas ou número do cavalo no dia de São Jorge. Para alguns organizadores, os números muito jogados são cotados a fim de evitar a "quebra da banca" tanto por parte das bancas de apostas como durante a apuração no sorteio.

Pelo fato de ser uma atividade que envolve dinheiro não controlada pelo governo, o jogo tem atraído a atenção das autoridades corruptas e criou-se um complexo e eficiente sistema para a realização da venda de facilidades.

A Paraíba é o único estado da federação onde o jogo do bicho é considerado legal. As "corridas" (extrações dos números premiados) são feitos pela loteria do estado da Paraíba (Lotep) e o estado cobra taxas dos "banqueiros". Em razão disto, não é explorado pelo mundo do crime. Outros estados, como Pernambuco, usam as "corridas" da Paraíba como resultado oficial. Corre uma história de que durante a ditadura militar, o presidente Castelo Branco, numa reunião da SUDENE em Recife, teria cobrado do então governador João Agripino a extinção do jogo na Paraíba. Agripino teria respondido ao então presidente: acabo com o jogo do bicho na hora em que o senhor arranjar emprego para os milhares de paraibanos que ganham a vida como cambistas. O jogo continua livre no estado até hoje.

Relação com o Carnaval

A ligação do jogo do bicho com o carnaval começou por volta dos anos 1930, através de Natal da Portela.

Natal, desde cedo, esteve envolvido com o mundo do samba já que, no quintal de sua casa na esquina com a estrada do Portela no subúrbio de Oswaldo Cruz, realizavam-se rodas de samba. Nesse local, foi fundado o bloco carnavalesco Vai como pode, que se transformaria na escola de samba Portela.

Após perder um braço por causa de um acidente de trem, Natal perdeu o emprego e foi trabalhar como apontador de bicho na região de Turiaçu. Em pouco tempo, virou gerente de banca e, depois, conseguiu montar a sua própria, vindo a se tornar banqueiro de jogo do bicho, controlando toda a área de Madureira.

Com a morte de seu grande amigo Paulo da Portela, Natal, como forma de homenageá-lo, resolveu investir dinheiro na Portela para que ela pudesse se transformar em uma grande escola de samba, criando aí a figura do bicheiro patrono.

Somado a suas práticas clientelistas com a população de Madureira já que, devido a sua infância pobre, Natal sempre procurava ajudar aos pobres através de doação a igrejas, a instituições de caridade, pagamento de enterros etc., sua ligação com o carnaval começou a adquirir prestígio, sendo até mesmo convidado pelo então ministro Negrão de Lima a apresentar a Portela para a Duquesa de Kent no palácio Itamaraty em 1959.

Como forma de se legitimar perante a sociedade, os demais banqueiros de jogo do bicho passaram a seguir o exemplo de Natal, vinculando-se às escolas de samba de suas respectivas áreas de atuação, o que posteriormente também seria usado, segundo alguns, como forma de lavagem de dinheiro da contravenção.

Tabela dos bichos

(Números atuais do jogo do bicho)

Grupo 01 02 03 04 05
Animal Avestruz
Avestruz
01--02--03--04
Águia
Águia
05--06--07--08
Burro
Burro
09--10--11--12
Borboleta
Borboleta
13--14--15--16
Cachorro
Cachorro
17--18--19--20
Grupo 06 07 08 09 10
Animal Cabra
Cabra
21--22--23--24
Carneiro
Carneiro
25--26--27--28
Camelo
Camelo
29--30--31--32
Cobra
Cobra
33--34--35--36
Coelho
Coelho
37--38--39--40
Grupo 11 12 13 14 15
Animal Cavalo
Cavalo
41--42--43--44
Elefante
Elefante
45--46--47--48
Galo
Galo
49--50--51--52
Gato
Gato
53--54--55--56
Jacaré
Jacaré
57--58--59--60
Grupo 16 17 18 19 20
Animal Leão
Leão
61--62--63--64
Macaco
Macaco
65--66--67--68
Porco
Porco
69--70--71--72
Pavão
Pavão
73--74--75--76
Peru
Peru
77--78--79--80
Grupo 21 22 23 24 25
Animal Touro
Touro
81--82--83--84
Tigre
Tigre
85--86--87--88
Urso
Urso
89--90--91--92
Veado
Veado
93--94--95--96
Vaca
Vaca
97--98--99--00

Referências

  1. "É bicho na cabeça" pelo historiador Antônio Paulo Benatte para a revista História Viva, nº 54, pg. 66-70. Editora Duetto. Abril de 2008.
  2. http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20071128090911AAmKTHw
  3. http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT954023-1716,00.html

Ligações externas