José Jobim

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José Jobim
José Jobim
Nascimento José Pinheiro Jobim
2 de agosto de 1909
São Paulo
Morte 24 de março de 1979 (69 anos)
Rio de Janeiro
Cidadania Brasil
Progenitores
  • Francisco Antenor Jobim
  • Joaquina Pinheiro Jobim
Alma mater
Ocupação diplomata, economista

José Pinheiro Jobim (Ibitinga, 02 de agosto de 1909Rio de Janeiro, 24 de março de 1979)[1] foi um economista e diplomata brasileiro, morto político da ditadura militar brasileira.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Vida Pessoal[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Ibitinga, filho de Francisco Antenor Jobim e de Joaquina Pinheiro Jobim. José e seu irmão ficaram órfãos ainda crianças e ambos foram criados por Belmiro Valverde, militante integralista.[2] Seu irmão mais velho, Danton Jobim, foi presidente do jornal oposicionista “Última Hora” quando seu criador, Samuel Wainer, foi exilado pela ditadura. E em 1970, Danton foi eleito senador pelo MDB, partido de oposição ao regime, no então estado da Guanabara.[3] Danton faleceu em 1978.[4] Seu avô materno foi José Gomes Pinheiro Machado, senador pelo Rio Grande do Sul entre 1891 a 1915, figura exponencial na política brasileira.[5]

Completou o curso secundário no antigo Serviço de Assistência ao Menor (SAM) no Rio de Janeiro, então Distrito Federal.[1] Diplomou-se pela Escola Superior de Guerra.[1]

José Jobim foi casado com Lígia Collor Jobim, filha de Lindolfo Collor,[1] primeiro Ministro do Trabalho brasileiro e irmã de Leda Collor, mãe de Fernando Collor.[2] Juntos eles tiveram dois filhos.[1]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Trabalhou primeiramente como jornalista, tendo sido revisor e redator de "A Manhã", do Rio de Janeiro, e redator do "Diário de Notícias" de Porto Alegre. Contratado pela Agência Meridional dos Diários Associados, foi redator de "O Jornal" e seu enviado especial à Europa. Entre 1930 e 1936 viajou também à URSS, Ásia e África.[1]

Iniciou sua carreira diplomática em 1938, atuando como cônsul de terceira classe, no mesmo ano foi designado vice-cônsul em Yokohama, no Japão. Entre 1938 e 1941, de volta ao Brasil, serviu na Secretaria do Comércio Exterior. Em 1941 foi transferido para Nova Iorque, ainda no posto de vice-cônsul. Promovido a cônsul de segunda classe em 1942, permaneceria em Nova Iorque até 1943 como cônsul adjunto.[1]

Em 1943 seguiu para a Argélia, encarregado de instalar o consulado brasileiro na então colônia francesa, e em 1944 tornou-se membro do Conselho Federal de Comércio Exterior. Promovido a primeiro-secretário em 1951, exerceu o cargo nas representações brasileiras na Argentina, em 1952, e no Uruguai, de 1952 a 1953.[1]

Ascendeu a ministro de segunda classe em 1954 e nesse ano foi nomeado consultor da Comissão Mista Brasil-Argentina. De 1955 a 1956 atuou como ministro plenipotenciário na Finlândia, e entre 1958 e 1959 foi ministro conselheiro e encarregado de negócios em Assunção e chefe da seção brasileira da Comissão Mista Brasil-Paraguai.[1]

No Governo João Goulart, participou de negociações com a URSS, para que financiassem a futura Usina Hidrelétrica de Itaipu.[2] Em 1964 foi ao Paraguai como representante do Itamaraty e preparou um relatório para ser apresentado a Jango. Com a queda do regime, o relatório foi entregue ao general Ernesto Geisel, que era Secretário Executivo do Conselho de Segurança Nacional.[2] Em 1966, Jobim estava presente quando os chanceleres do Brasil e do Paraguai assinaram a “Ata de Iguaçu”, que daria origem à usina binacional de Itaipu.[6]

Desde sua promoção a ministro de primeira classe, em 1959, ocupou o posto de embaixador do Brasil no Equador, de 1959 a 1962, na Colômbia e na Jamaica cumulativamente, de 1965 a 1966, na Argélia, de 1966 a 1968, e no Vaticano[7] e Malta[7], de 1968 a 1973. Ao se aposentar do Itamarati, em 1975, estava à frente da representação brasileira no Marrocos[8], onde chegara em 1973.[1]

Fundou com seus filhos a Editora Brasília Rio.[6]

Morte[editar | editar código-fonte]

Em 15 de março de 1979, o embaixador, já aposentado, foi à Brasília, onde tomou posse o ditador João Batista Figueiredo e, com ele, o chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro, amigo de José Jobim. Durante a cerimônia, Jobim comentou com alguns amigos que estava escrevendo um livro de suas memórias, inclusive detalhes sobre o superfaturamento do governo na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que custou dez vezes o valor orçado, totalizando cerca de US$ 30 bilhões.[4] [6] [9]

Uma semana depois, no dia 22 de março, Jobim já estava de volta ao Rio de Janeiro e, logo depois do almoço, saiu de sua casa para encontrar um amigo. Seu corpo foi encontrado por um gari dois dias depois do sequestro, a menos de 1 quilômetro da Ponte da Joatinga. Ele estava pendurado pelo pescoço em uma corda de náilon em um galho de uma árvore pequena. Assim como as do jornalista Vladimir Herzog, seus pés, com as pernas curvadas, tocavam o chão, levantando suspeitas sobre a hipótese de suicídio. [2] [4] Seis anos depois, a promotora Telma Musse reconheceu que houve homicídio, mas considerou o caso insolúvel e pediu o arquivamento.[4]

Em 11 de dezembro de 2017, foi publicada pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) a Resolução n° 2, que estabelece os procedimentos para retificação dos atestados de óbito das pessoas reconhecidas como mortas ou desaparecidas políticas, que criou a Comissão Nacional da Verdade (CNV).[9] No mesmo ano, sua filha Lygia Maria Collor Jobim, entrou com um pedido junto à CEMDP solicitando a retificação da certidão de óbito de seu pai, cuja causa da morte constava como indefinida.[9]

No ano seguinte, em 2018, o Estado brasileiro reconheceu, por meio da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que José Jobim foi sequestrado, torturado e morto pela ditadura militar aos 69 anos. Sua certidão de óbito foi então corrigida, constando sua verdadeira causa de morte: [9] [10]

"O falecimento ocorreu no dia 24 de março de 1979, na Cidade do Rio de Janeiro - RJ, em razão de morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985."

 Certidão de Óbito Retificada

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Em 2021, três anos após o reconhecimento de seu assassinato pela ditadura militar brasileira, os formandos do Instituto Rio Branco escolheram José Jobim como patrono de sua turma.[10][11][12]

Livros[editar | editar código-fonte]

  • JOBIM, José (1943). Brazil in The Making (em inglês). Nova Iorque: The MacMillan Company 
  • JOBIM, José (1941). História das indústrias no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio 
  • JOBIM, José (1941). The mineral wealth of Brazil (em inglês). Rio de Janeiro: José Olympio 
  • JOBIM, José (1939). O Brasil na economia mundial. Rio de Janeiro: Centro de Estudos Econômicos 
  • JOBIM, José; BOPP, Raul (1938). Sol & banana. Yokohama: Museu Comercial do Brasil 
  • JOBIM, José; BOPP, Raul (1938). Geografia mineral. Yokohama: Museu Comercial do Brasil 
  • JOBIM, José (1934). A verdade sobre Salazar. Rio de Janeiro: Calvino Filho 
  • JOBIM, José (1934). Hitler e seus comediantes. Rio de Janeiro: Cruzeiro do Sul 

Referências

  1. a b c d e f g h i j «Verbete - JOBIM, José». FGV CPDOC. Consultado em 2 de setembro de 2021 
  2. a b c d e f Nassif, Luis (22 de setembro de 2018). «Exclusivo: as denúncias do diplomata Jobim, morto pela ditadura militar». Jornal GGN. Consultado em 2 de setembro de 2021 
  3. «O Estado reconhece mais uma vítima: o embaixador José Jobim foi torturado e assassinado pelos militares». Nocaute. 22 de setembro de 2018. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  4. a b c d Guimarães, Hellen (21 de setembro de 2018). «Diplomata foi morto pela ditadura antes de denunciar corrupção no regime, confirma nova certidão». Época. Consultado em 2 de setembro de 2021 
  5. Furtado Avanza, Marcia (2003). «O pensamento jornalístico de Danton Jobim». Revista PJ:Br Jornalismo Brasileiro. ECA USP. ISSN 1806-2776. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  6. a b c Pacheco, Gustavo (1 de abril de 2019). «O país despedaçado de José Jobim». Época. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  7. a b «Anais do Senado. Ano de 1968. Livro 16» (PDF). Senado Federal. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  8. Ministério das Relações Exteriores (1973). «Relatório 1973 MRE» (PDF). FUNAG. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  9. a b c d «Atestado de óbito de José Jobim, morto na ditadura, é retificado». Instituto Vladimir Herzog. 21 de setembro de 2018. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  10. a b Oliveira, Eliane (1 de setembro de 2021). «Novos diplomatas homenageiam embaixador morto pela ditadura em cerimônia restrita no Itamaraty». O Globo. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  11. Charleaux, João Paulo (2 de setembro de 2021). «O diplomata morto ao apontar ilegalidades numa obra da ditadura». Jornal Nexo. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  12. Della Coletta, Ricardo (1 de setembro de 2021). «Itamaraty faz cerimônia escondida após alunos homenagearem diplomata morto pela ditadura». Folha de S. Paulo. Consultado em 3 de setembro de 2021