Julieta de França
Julieta de França | |
---|---|
Nascimento | 1870 Belém, Pará, Brasil |
Morte | 1951 (81 anos) Rio de Janeiro, Brasil |
Nacionalidade | Brasil |
Prémios | Medalha de Prata em 1903 e 1906 no Salão Nacional de Belas Artes |
Área | Pintura |
Formação | Escola Nacional de Belas Artes Academia Julian |
Movimento(s) | Modernismo |
Julieta de França (Belém, 1870 - Rio de Janeiro, 1951) foi uma escultora e professora brasileira, considerada uma das pioneiras da arte no Brasil.[1] Durante o período em que estudou na Escola Nacional de Belas Artes, soube-se que foi uma das alunas de Rodolfo Bernardelli, entretanto, tornou-se reconhecida pelos seus esforços; destacando-se por ser a primeira mulher a se matricular no curso de modelo vivo, além de ser bonificada pelo prêmio Viagem ao Exterior, concedido pelo Salão Nacional de Belas Artes em 1899, a premiação concedeu-lhe ingresso para estudar na Academia Julian em Paris.[2][3]
Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Nascida em Belém, no Pará em 1870, mas em data incerta, Julieta era filha do maestro Joaquim Pinto de França e de Idalina Pinto de França.[2] Iniciou seus estudos em arte com o pintor e decorador italiano Domenico de Angelis, mudando-se em 1897, para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA).[1][2] Com a Proclamação da República, as mulheres adquiriram permissão para ingressar em cursos superiores de formação, ainda que isso não fosse bem visto pela sociedade.[1]
Na ENBA, Julieta se destacou pelo seu talento e empenho, além de ter sido a primeira mulher artista a cursar às aulas de modelo vivo, que para a moral da época, era tido como ato escandaloso para o sexo feminino.[1][4] Em 1900, lhe foi concedido o prêmio mais prestigiado da instituição, uma bolsa-viagem para o exterior ao aluno de melhor desempenho em escultura, importante marco de reconhecimento no âmbito acadêmico.[2] Ainda assim, a escultura era vista como uma área predominantemente masculina, por exigir força física e contato direto com os materiais, o que não condizia para os padrões, até então tidos para o feminino.[5]
Em Paris, Julieta se matriculou na renomada Academia Julian, tendo tido aulas com Antoine Bourdelle, um dos discípulos de Auguste Rodin, com quem ela também teve aulas.[1] Nesta época, Julieta ganhou projeção em Paris por suas esculturas expostas em salões de artes, principalmente com o Busto de Mademoiselle Fortin, sendo bastante recomendada por seus mestres.[2][4] Através de suas cartas foi descoberto que a artista passava por dificuldades financeiras para se manter na cidade, devido aos exíguos valores de bolsas no exterior para jovens artistas.[2]
Um monumento a República do Brasil
[editar | editar código-fonte]A obra da artista que ganhou mais destaque, foi durante a sua inscrição no concurso que escolheria um monumento comemorativo a República, dedicado exclusivamente ao presidente Marechal Floriano. Sua participação gerou bastante comoção, fazendo com que o Jornal do Pará rendesse-lhe a capa, publicando uma matéria sobre sua carreira artística, detalhes do concurso e o simbolismo da escultura, que esculpiu. Através do concurso, Julieta realizaria um sonho antigo: finalizar uma obra de grandes dimensões, um monumento público que representa a síntese da vida do herói e do estadista durante a trajetória do ser objetivo para o ser subjetivo.[2]
Concurso e declínio
[editar | editar código-fonte]Após, morar e estudar por cinco anos em Paris, Julieta retornou ao Rio de Janeiro em 1907, tendo recebido críticas positivas de diversos especialistas em arte da época, como Gonzaga Duque.[4] Logo, ela se inscreveria no concurso que escolheria um monumento comemorativo a República. Para isso, uma comissão julgadora foi formada por Rodolfo Bernardelli, João Zeferino da Costa, Eugène Girardet e Araújo Vianna. O parecer da comissão foi desfavorável à escultura de Julieta, o que revoltou a artista.[1][2][3][4]
Julieta partiu novamente para a França, onde submeteu sua obra aos antigos mestres com quem tivera aulas, que emitiram pareceres positivos sobre a técnica e qualidade do trabalho, incluindo entre eles, Rodin.[2] De posse dos pareceres, ela retornou ao Rio de Janeiro, buscando mais uma vez a comissão do concurso, pedindo que eles reconsiderassem a decisão.[4] Sua atitude foi considerada um escândalo, pois tratava-se de um questionamento público dos critérios e decisões da Academia de Belas-Artes, da qual Rodolfo Bernardelli era o diretor. Sua postura de confronto era tida como afronta ao esperado "recato feminino".[1] A decisão não foi revista e a carreira de Julieta ficou prejudicada, além de mal vista por ser mãe solteira, sendo obrigada a sustentar a filha sozinha.[1][2]
Sem o apoio dos colegas e da academia, que não celebrava mais suas obras, o nome de Julieta de França caiu no esquecimento.[1] Nos meios artísticos, seu nome ainda era citado, em sua biografia Julieta guardou encomendas de bustos e esculturas feitas para clientes particulares.[2] Julieta deixou o livro “Souvenir de ma carrière artistique” [6] com recortes de jornais, cartas pessoais e fotos de seu trabalho, numa tentativa de documentar uma carreira que carecia de reconhecimento do meio artístico nacional.[2][7]
Morte
[editar | editar código-fonte]Julieta de França tornou-se professora de artes[8] e faleceu em 1951, em data incerta, no Rio de Janeiro.[1][4][7]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j Mariana Tessitore (ed.). «As artistas esquecidas pela história». Brasileiros. Consultado em 16 de maio de 2017
- ↑ a b c d e f g h i j k l Ana Paula Cavalcanti Simioni (ed.). «Souvenir de ma carrière artistique. Uma autobiografia de Julieta de França, escultora acadêmica brasileira». Scielo. Consultado em 16 de maio de 2017
- ↑ a b Renata Saraiva (ed.). «Cor de rosa-choque». Revista FAPESP. Consultado em 16 de maio de 2017
- ↑ a b c d e f Amanda Prado (ed.). «Ana Paula Cavalcanti Simioni, professora: 'As mulheres foram classificadas como amadoras'». O Globo. Consultado em 16 de maio de 2017
- ↑ Luiz Sugimoto (ed.). «Mulheres Invisíveis». Jornal da UNICAMP. Consultado em 16 de maio de 2017
- ↑ Luiz Lima Vailati (ed.). «Os álbuns fúnebres de Basílio Jafet: vocação pública e razão identitária de um monumento doméstico» (PDF). Revista M UNIRIO. Consultado em 16 de maio de 2017
- ↑ a b Pontual, Roberto (1969). Dicionário brasileiro de artes plásticas. Brasília: Civilização Brasileira. p. 340. ISBN 978-85-316-0189-7
- ↑ Paulo Leonel Gomes Vergolino (ed.). «Algumas considerações sobre a vida cultural em Belém do Pará». Revista Museu. Consultado em 17 de maio de 2017