Lógica vetorial
Lógica Vetorial[1][2] é um modelo algébrico da lógica elementar baseado em matrizes algébricas. A lógica vetorial assume que os valores verdade mapeiam em vetores, e que as operações monádicas e diádicas são executadas por operadores matriciais.
Resumo
[editar | editar código-fonte]A lógica binária é representada por um pequeno conjunto de funções matemáticas dependendo de uma (monádico) ou duas (diádico) variáveis. No conjunto binário, o valor 1 corresponde a verdadeiro e o valor 0 a falso. Uma lógica vetorial bivalorada requer uma correspondência entre os valores-verdade verdadeiro (v) e falso (f), e dois vetores coluna normalizados de dimensão q compostos por números reais s e n, sendo assim:
- e
(onde é um numero natural qualquer, e “normalizado” quer dizer que o tamanho do vetor é 1; normalmente s e n são vetores ortogonais). Essa correspondência gera um espaço de vetores valores-verdade: V2 = {s,n}. As operações lógicas básicas definidas usando esse conjunto de vetores levam à operadores matriciais.
As operações da lógica vetorial são baseadas no produto escalar entre vetores coluna de dimensão q: : a ortogonalidade entre vetores s e n implica que se , e se .
Operadores monádicos
[editar | editar código-fonte]Os operadores monádicos resultam da aplicação , e as matrizes associadas tem q linhas e q colunas. Os dois operadores monádicos básicos para essa lógica vetorial bivalorada são identidade e a negação:
- Identidade: Uma identidade lógica ID(p) é representada pela matriz . Essa matriz opera da seguinte forma: Ip = p, p ∈ V2; como an ortogonalidade de s respeita a n, temos que , e inversamente .
- Negação: Uma negação lógica ¬p é representada pela matriz . Consequentemente, Ns = n e Nn = s. O comportamento involuntário da negação lógica, ou seja, ¬(¬p) é igual à p, corresponde com o fato de que N2 = I. É importante notar que essa matriz identidade da lógica vetorial nem sempre é uma matriz identidade no sentido da álgebra matricial.
Operadores diádicos
[editar | editar código-fonte]Os 16 operadores diádicos 2-valorados correspondem à funções do tipo ; as matrizes diádicas tem q linhas e q2 colunas. As matrizes que executam essas operações diádicas são baseadas nas propriedades do produto de Kronecker.
Duas propriedades desse produto são essenciais para o formalismo da lógica vetorial:
- Propriedade do produto misto: Se A, B, C e D são matrizes de tamanho tal onde uma pode formar os produtos de matrizes AC e BD, então :
- Transposta distributiva A operação de transposição é distributiva sobre o produto de Kronecker: :
Usando essas propriedades, expressões para funções lógicas diádicas podem ser obtidas:
- Conjunção. A conjunção (p^q) é executada por uma matriz que atua em dois vetores valor-verdade: . Essa matriz reproduz as funcionalidades da conjunção clássica de tabela-verdade na sua formulação:
- e verifica
- e
- Disjunção. A disjunção (p∨q) é executada pela matriz :: resultando em
- e
- Implicação. A implicação corresponde na lógica clássica para a expressão p → q ≡ ¬p ∨ q. A versão na lógica vetorial dessa equivalência leva à uma matriz que representa essa implicação na lógica vetorial: . A expressão explícita para essa implicação é:
- e as propriedades da implicação clássica são satisfeitas
- e
- Equivalência e Disjunção exclusiva. Na lógica vetorial an equivalência p≡q é representada pela seguinte matriz:
- com
- e
- O ou exclusivo é a negação da equivalência, ¬(p≡q); isso corresponde à matriz dada por
- com e
As matrizes S e P correspondem às operações Sheffer (NAND) e Peirce (NOR), respectivamente:
Lei de De Morgan
[editar | editar código-fonte]Na lógica de dois valores, a conjunção e a disjunção satisfazem a Lei de De Morgan: p∧q≡¬(¬p∨¬q), e o seu par: p∨q≡¬(¬p∧¬q)). Para a lógica vetorial de dois valores essa lei também é verificada:
- , onde u E v são dois vetores lógicos.
O produto de Kronecker implica a seguinte fatorização:
Então pode ser provado que na lógica vetorial de duas dimensões a Lei de De Morgan é uma lei envolvendo operadores, e não somente uma lei em relação a operações:[3]
Lei da contraposição
[editar | editar código-fonte]No clássico cálculo de proposições, a contraposição p → q ≡ ¬q → ¬p é provada porque an equivalência vale para todas as possíveis combinações de valores-verdade de p e q.[4] Em vez disso, na lógica vetorial, a lei da contraposição emerge de uma cadeia de igualdades dentro das regras da álgebra matricial e produtos de Kronecker, como mostrado a seguir:
Esse resultado é baseado no fato de que D, a matriz de disjunção, representa uma operação comutativa.
Lógica bidimensional multivalorada
[editar | editar código-fonte]Lógica Multivalorada foi desenvolvida por muitos pesquisadores, particularmente por Jan Łukasiewicz e permite estender operações lógicas para valores-verdade que incluem incertezas.[5] No caso da lógica vetorial bivalorada, incertezas em valores verdade podem ser introduzidas usando vetores com s e n ponderadas por probabilidades.
Deixando , com ser esse tipo de vetores “probabilísticos”. Aqui, o caráter multivalorado da lógica é introduzido a posteriori via incertezas introduzidas nas entradas.[1]
Projeções escalares dos vetores resultantes
[editar | editar código-fonte]As saídas dessa lógica multivalorada podem ser projetadas em funções escalares e gerar uma classe particular de lógica probabilística com similaridades com a multivalorada lógica de Reichenbach.[6][7][8] Dados dois vetores and e uma matriz lógica diádica , uma lógica probabilística escalar é fornecida pela projeção sobre vector s:
Aqui estão os principais resultados dessas projeções:
As negações associadas são:
Se os valores escalares pertencem ao conjunto {0, ½, 1}, esse escalar da lógica multivalorada é para muitas dos operadores quase idênticos aos da lógica 3-valorada de Łukasiewicz. Também, foi provado que quando os operadores monádicos ou diádicos atuam sobre vetores probabilísticos pertencentes a esse conjunto, o resultado é também um elemento desse conjunto.[3]
História
[editar | editar código-fonte]A abordagem foi inspirada em modelos de redes neurais baseados no uso de matrizes e vetores com muitas dimensões.[9][10] A lógica vetorial é uma tradução direta e um formalismo de matriz-vetor dos clássicos polinomiais booleanos.[11] Esse tipo de formalismo foi applicado para desenvolver a lógica difusa em termos de número complexo.[12] Outras abordagens de matrizes e vetores foram desenvolvidas na armação da física quântica, ciência da computação e ótica.[13][14][15] As primeiras tentativas de usar álgebra linear para representar operações lógicas podem ser referidas à Peirce e Copilowish.[16] O biofísico indiano G.N. Ramachandran desenvolveu um formalismo usando matrizes algébricas e vetores para representar muitas operações da lógica indiana clássica.[17]
Polinômios booleanos
[editar | editar código-fonte]George Boole estabeleceu o desenvolvimento de operações lógicas como polinômios.[11] Para o caso de operações monádicas (tal como a função identidade ou negação lógica), os polinômios booleanos tem um formato como o seguinte:
As quatro diferentes operações monádicas resultam dos diferentes valores binários dos coeficientes. A função identidade requer f(1) = 1 e f(0) = 0, e a negação ocorre se f(1) = 0 e f(0) = 1. Para os 16 operadores diádicos, os polinômios booleanos são da seguinte forma:
As operações diádicas podem ser traduzidas para esse formato polinomial quando os coeficientes f tomarem os valores indicados na respectiva tabela verdade s. Por instância: a operação NAND requer o seguinte:
- and . Esses polinomios booleanos podem ser imediatamente estendidos para qualquer número de variáveis, produzindo um grande potencial variedade de operadores lógicos. Na lógica vetorial, a estrutura matriz-vetor dos operadores é uma exata tradução para o formato da álgebra linear desses polinômios booleanos, onde o x e 1-x correspondem aos vetores s e n respectivamente (o mesmo para y e 1-y). No exemplo de NAND, f(1,1)=n e f(1,0)=f(0,1)=f(0,0)=s e a versão matricial se tornam:
Extensões
[editar | editar código-fonte]- A Lógica vetorial pode ser estendida para incluir muitos valores-verdade desde que vetores de dimensões altas permitam criar muitos valores-verdade ortogonais e as correspondentes matrizes lógicas.[2]
- Modalidades lógicas podem ser totalmente representadas nesse contexto, com um processo recursivo inspirado em modelos neurais.[2][18]
- Alguns problemas cognitivos sobre computações lógicas podem ser analisados usando este formalismo, em particular decisões recursivas. Qualquer expressão lógica da lógica proposicional pode ser naturalmente representada por uma árvore.[4] Esse fato é retido pela lógica vetorial, e tem sido usada parcialmente em modelos neurais focados em investigação de estruturas ramificadas da linguagem natural.[19][20][21][22][23][24]
- As operações reversíveis via computação como a Fredkin gate podem ser implementadas na lógica vetorial. Essas implementações proveem expressões explícitas para operadores matriciais que produzem o formato da entrada e o filtro da saída necessário para obter computações[2][3]
- A Automação celular elementar pode ser analisada usando an estrutura de operador da lógica vetorial; essa análise leva an uma decomposição espectral das leis governando essas dinâmicas.[25][26]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Mizraji, E. (1992). Vector logics: the matrix-vector representation of logical calculus. Fuzzy Sets and Systems, 50, 179–185, 1992
- ↑ a b c d Mizraji, E. (2008) Vector logic: a natural algebraic representation of the fundamental logical gates. Journal of Logic and Computation, 18, 97–121, 2008
- ↑ a b c Mizraji, E. (1996) The operators of vector logic. Mathematical Logic Quarterly, 42, 27–39
- ↑ a b Suppes, P. (1957) Introduction to Logic, Van Nostrand Reinhold, New York.
- ↑ Łukasiewicz, J. (1980) Selected Works. L. Borkowski, ed., pp. 153–178. North-Holland, Amsterdam, 1980
- ↑ Rescher, N. (1969) Many-Valued Logic. McGraw–Hill, New York
- ↑ Blanché, R. (1968) Introduction à la Logique Contemporaine, Armand Colin, Paris
- ↑ Klir, G.J., Yuan, G. (1995) Fuzzy Sets and Fuzzy Logic. Prentice–Hall, New Jersey
- ↑ Kohonen, T. (1977) Associative Memory: A System-Theoretical Approach. Springer-Verlag, New York
- ↑ Mizraji, E. (1989) Context-dependent associations in linear distributed memories. Bulletin of Mathematical Biology, 50, 195–205
- ↑ a b Boole, G. (1854) An Investigation of the Laws of Thought, on which are Founded the Theories of Logic and Probabilities. Macmillan, London, 1854; Dover, New York Reedition, 1958
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