Método das transformadas de Laplace para resolver equações diferencais

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Uma equação diferencial ordinária é uma equação que envolve uma função de uma variável e suas derivadas ... Equações diferenciais são geralmente complementadas com condições iniciais e são assim chamada problemas de valor inicial. A transformada de Laplace fornece uma metodologia para resolver e analisar problemas envolvendo equações diferenciais ordinárias. O método consiste em utilizar a transformada de Laplace para converter a equação diferencial em um problema de menor complexidade, através das propriedades da transformada de Laplace. Tipicamente, uma equação linear de coeficientes constantes é transformada em equação algébrica, na qual deve-se basicamente isolar a incógnita obtida e recuperar a solução da equação original via transformada inversa de Laplace.

Deve-se ter em mente que, para a aplicação da transformada de Laplace em equações diferenciais, é necessário que exista sensibilidade, ou conhecimento, sobre suas diversas propriedades.

Equações diferenciais ordinárias[editar | editar código-fonte]

A transformada de Laplace é é definida como:[1] Assim definida, a transformada de Laplace tem várias propriedades, em especial, a propriedade da derivada e da integral, essas propriedades podem ser descritas como:[2]

A transformada da equação diferencial será outra equação diferencial para a função de ordem igual ao maior grau dos coeficientes da equação original. Em alguns casos a equação diferencial obtida resulta ser mais fácil de resolver do que a equação original. A transformada de Laplace e as suas derivadas deverão ser funções assimptoticamente decrescentes; esta propriedade das transformadas de Laplace impõe condições fronteira para a equação diferencial obtida.

Equações diferenciais ordinárias com coeficientes constantes[editar | editar código-fonte]

  1. Consideremos a equação
  2. Transformando os dois lados da equação e usando a propriedade de linearidade, obtém-se
  3. Cada um dos termos pode ser calculado usando as propriedades da transformada de Laplace,
  4. A transformada da equação diferencial é
  5. Esta equação é uma equação algébrica que pode ser facilmente simplificada, conduzindo à função
  6. A solução da EDO é a transformada inversa da função
  7. Usando a expansão em frações parciais:
  8. Onde e são constantes que podem ser calculadas comparando as duas últimas equações,
  9. A transformada inversa de cada uma das frações parciais é facilmente identificada, usando as transformadas calculadas em seções anteriores.
  10. Assim, tem-se que

Equações diferenciais ordinárias com coeficientes variáveis[editar | editar código-fonte]

  1. Temos o seguinte problema do valor inicial:
  2. Primeiramente aplicamos a transformada de Laplace,
  3. Podemos aplicar as fórmulas obtidas a cima, ou ainda, utilizarmos a propriedade da derivada da transformada seguido da transformada da derivada. Assim, após substituirmos as condições de contorno, tem-se que
  4. Agora derivamos e separamos as variáveis,
  5. Isto é,
  6. Integramos ambos os lados e manipulamos a equação de forma a obtermos,
  7. Agora com o auxilio da tabela das transformadas inversas e utilizando o condição de contorno , obtemos a função

Sistema linear de equações diferenciais ordinárias[editar | editar código-fonte]

  1. Para exemplificar, vamos resolver o seguinte problema de valor inicial,
  2. Aplicamos a Transformada de Laplace em cada uma das equações,
  3. Onde usamos a propriedade da derivada e a notação e
  4. Substituímos as condições iniciais para obter o seguinte sistema de equações algébricas
  5. Multiplicamos a equação por e somamos com a equação para obter
  6. Portanto,
  7. Resolvemos usando a equação
  8. As transformadas inversas de e são

Algumas aplicações[editar | editar código-fonte]

Circuito de duas malhas[editar | editar código-fonte]

Considere o circuito da Figura 1 ao lado, constituído de duas malhas com correntes e respectivamente. Vamos modelar e considerando e

Usando a Lei de Kirchoff para obter

Com temos

Aplicamos a Transformada de Laplace e obtemos

ou seja,

ou, ainda,

A solução desse sistema é dada por

Portanto,

Aqui percebemos que e, assim, vamos calcular apenas

Logo,

Como

Oscilador harmônico[editar | editar código-fonte]

Em um sistema massa-mola, a mola elástica, que obedece a Lei de Hooke e tem constante , possui uma de suas extremidades fixa e a outra presa à um corpo de massa . Considerando que o corpo está sujeito a uma força de atrito proporcional a velocidade com constante de amortecimento que a segunda Lei de Newton descreve o movimento do corpo e o deslocamento em função do tempo, teremos que a aceleração é descrita por e as forças em função do seguinte somatório sendo uma força externa atuante sob o sistema.

Aplicando essas informações na segunda Lei de Newton teremos

Ou seja, a equação para o deslocamento em é dada por

Para o modelo ficar completo precisamos de condições iniciais e

Agora, portanto, iremos usar o método de transformada de Laplace para resolver a equação, aplicando a transformada temos:

Aplicando a propriedade da transformada de Laplace da derivada, teremos

Sabendo que e e impondo as condições inicias:

A solução do problema pode ser representado por

O sistema Oscilador Harmônico pode ser classificado em seis casos:[3]

  1. Oscilador Harmônico Forçado: caso em que ou seja,
  2. Oscilador Harmônico Livre: caso em que isso implica que
  3. Oscilador Harmônico Subamortecido: caso em que e Dessa forma, as soluções são todas do tipo senos ou cossenos multiplicados por exponenciais.
  4. Oscilador Harmônico Superamortecido: caso em que e Dessa forma, as soluções são todas do tipo senos ou cossenos hiperbólicos multiplicados por exponenciais, ou seja, são exponenciais puras.
  5. Oscilador Harmônico Criticamente Amortecido: caso em que e Dessa forma, as soluções são do tipo exponenciais multiplicadas por polinômios.
  6. Oscilador Harmônico Não Amortecido: caso em que e Dessa forma, as soluções são do tipo senos e cossenos puros.

Duplo Sistema Massa-Mola[editar | editar código-fonte]

Considere um sistema massa-mola duplo, onde as molas possuem constantes e e as massas envolvidas são e . Desconsiderando o amortecimento, temos o seguinte sistema:

.

Onde representam o deslocamento de cada uma das massas e e são as forças externas aplicadas. Usando a Transformada de Laplace, temos:

.

Isto é:

.

A representação matricial do sistema é:

,

e sua solução pode ser escrita como:

,

onde .

Vamos resolver um caso particular onde , , e .

Temos o seguinte sistema massa-mola duplo:

.

Usando a equação , temos:

.

Para completar o sistema, impomos as seguintes condições iniciais: , e.

.

Logo,

,

e

.

Usamos frações parciais para escrever:

,

ou seja, e

Logo, e , então e .

Deslocamento x(t) do sistema duplo massa mola.

Portanto,

e, calculando a transformada inversa, temos:

.

Metabolismo de um medicamento[editar | editar código-fonte]

A utilização da Transformada de Laplace, neste caso, facilita a solução do problema, pois torna o sistema de equações diferenciais em equações algébricas.

A evolução da concentração de um medicamento na corrente sanguínea é dada pelo seguinte modelo:

Onde é a concentração do medicamento, é a dosagem e é a taxa em que o organismo metaboliza o medicamento.

Como as dosagens normalmente são ingeridas com uma periodicidade (período ) e são liberadas instantaneamente ( ) na corrente sanguínea, pode-se escrever:

Fazendo a Transformada de Laplace inversa:

Com , e pode-se construir o gráfico da concentração do medicamento no organismo.

Reação química[editar | editar código-fonte]

Considerando o seguinte mecanismo simplificado de uma reação química:

onde as concentrações de R, S e T são dadas em por , e , e são regidas pelo seguinte sistema de equações diferenciais ordinárias:

e e são constantes positivas. As concentrações iniciais são dadas por:

Vamos obter a solução dada pelo sistema de funções acima através da Teoria das Transformadas de Laplace. Usando a propriedade da linearidade e a propriedade da derivada,, obtemos:

Da primeira equação temos:

Aplicando a Transformada Inversa de Laplace, obtemos:

Da segunda equação temos:

Aplicando a Transformada Inversa de Laplace, obtemos:

Da terceira equação temos:

Aplicando a Transformada Inversa de Laplace e usando a propriedade da convolução, obtemos:

A figura ao lado, apresenta o gráfico com as soluções para o sistema de equações ordinárias.

Referências

Ver também[editar | editar código-fonte]