O Pasquim

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de O Pasquim 21)
O Pasquim
O Pasquim
Periodicidade semanal
Formato tabloide
Sede Rio de Janeiro, RJ
Fundação 26 de junho de 1969
Fundador(es) Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Ziraldo
Término de publicação 11 de novembro de 1991

O Pasquim foi um semanário alternativo brasileiro, de característica paradoxal, editado entre 26 de junho de 1969 e 11 de novembro de 1991, reconhecido pelo diálogo entre o cenário da contracultura da década de 1960 e por seu papel de oposição ao regime militar.

De uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, que a princípio parecia exagerada, o semanário (que sempre se definia como um hebdomadário) atingiu a marca de mais de 200 mil em seu auge, em meados dos anos 1970, se tornando um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro.

A princípio uma publicação comportamental (falava sobre sexo, drogas, feminismo e divórcio, entre outros) O Pasquim foi se tornando mais politizado à medida que aumentava a repressão da ditadura, principalmente após a promulgação do repressivo ato AI-5. O Pasquim passou então a ser porta-voz da indignação social brasileira.[1]

História[editar | editar código-fonte]

O projeto nasceu no fim de 1968, após uma reunião entre o cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral; o trio buscava uma opção para substituir o tabloide humorístico A carapuça, editado pelo recém-falecido escritor Sérgio Porto.[2] O nome, que significa "jornal difamador, folheto injurioso", foi sugestão de Jaguar. "Terão de inventar outros nomes para nos xingar", disse ele, já prevendo as críticas de que seriam alvo.[3]

Com o tempo figuras de destaque na imprensa brasileira, como Ziraldo, Millôr, Manoel "Ciribelli" Braga, Miguel Paiva, Prósperi, Claudius e Fortuna, se juntaram ao time. A primeira edição finalmente saiu em 22 de junho de 1969, com uma tiragem de 28 mil exemplares, em seis meses chegou a 250 mil.[4]

Além de um grupo fixo de jornalistas, que incluía Luiz Carlos Maciel, a publicação contava com a colaboração de nomes como Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa, Carlos Leonam e Sérgio Augusto, e também dos colaboradores eventuais Ruy Castro e Fausto Wolff. Como símbolo do jornal foi criado o ratinho Sig (de Sigmund Freud), desenhado por Jaguar, baseado na anedota da época que dizia que "se Deus havia criado o sexo, Freud criou a sacanagem".

Em 1969, em função de uma entrevista[5] polêmica feita pelo cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral com a já notoriamente controversa atriz Leila Diniz, foi instaurada a censura prévia aos meios de comunicação no país, a Lei de Imprensa, que ficou popularmente conhecida pelo nome da atriz. Em novembro de 1970, a maior parte da redação de O Pasquim foi presa depois que o jornal publicou uma sátira do célebre quadro de Dom Pedro às margens do Ipiranga, (de autoria de Pedro Américo). Os militares esperavam que o semanário saísse de circulação e seus leitores perdessem o interesse, mas durante todo o período em que a equipe esteve encarcerada — até fevereiro de 1971 — O Pasquim foi mantido sob a editoria de Millôr Fernandes (que escapara à prisão), com colaborações de Chico Buarque, Antônio Callado, Rubem Fonseca, Odete Lara, Gláuber Rocha e diversos intelectuais cariocas.[6][7] Vendia cerca de 100 mil exemplares por semana, quase todos em bancas, mais do que as revistas Veja e Manchete somadas.[4]

As prisões continuariam nos anos seguintes, foi também alvo de dois atentados a bomba, uma em março de 1970, a outra em maio.[4] Na década de 1980 bancas que vendiam jornais alternativos como O Pasquim passaram a ser alvo de atentados a bomba. Aproximadamente metade dos pontos de venda decidiu não mais repassar a publicação, temendo ameaças. Era o início do fim para o Pasquim.

O jornal ainda sobreviveria à abertura política de 1985, mesmo com o surgimento de inúmeros jornais de oposição e de novos conceitos de humor (Hubert, Reinaldo e Cláudio Paiva, egressos de O Pasquim, fundaram O Planeta Diário[8]). Graças aos esforços de Jaguar, o único da equipe original a permanecer em O Pasquim, o semanário continuaria ativo até a década de 1990. No carnaval carioca de 1990 toda a equipe de O Pasquim foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz com o enredo "Os Heróis da Resistência".[9]

A última edição, de número 1 072, foi publicada em 11 de novembro de 1991.

O Pasquim no século XXI[editar | editar código-fonte]

Revista Bundas[editar | editar código-fonte]

Um primeiro ensaio para a volta da publicação deu-se através de um periódico intitulado Bundas, lançado em 1999, que durou pouco tempo. O nome Bundas era uma paródia à revista Caras, e seu lema era "Quem mostra a bunda em Caras não mostra a cara em Bundas" e "Bundas, a revista que não tem vergonha de mostrar a cara".

OPasquim21[editar | editar código-fonte]

Em 2002 Ziraldo e seu irmão Zélio Alves Pinto lançaram uma nova edição de O Pasquim, renomeado OPasquim21.[10] Esta versão também teve vida curta, apesar de contar com alguns de seus antigos colaboradores, e deixou de ser publicada em meados de 2004. Passaram pela publicação nomes como Fausto Wolff, Miguel Arcanjo Prado, Emir Sader, Marcia Frazão.[11]

Resgate da memória[editar | editar código-fonte]

Livros[editar | editar código-fonte]

  • Millôr no Pasquim, 1977, Millôr Fernandes[12]
  • Nos bastidores d'O Pasquim, 1999, João Baptista de Medeiros Vargens[13]
  • O Pasquim: antologia, Vol. 1, 1969-1971 (números 1 ao 150); Vol. 2, 1972-1973 (números 150 ao 200);[14] Vol. 3, 1973-1974[15]

Em abril de 2006 a editora Desiderata lançou O Pasquim - Antologia - 1969-1971, uma compilação feita por Jaguar e Sérgio Augusto de matérias e entrevistas das 150 primeiras edições do semanário.[16] O livro foi um sucesso, entrando para a lista de mais vendidos daquele ano[17] e motivando os lançamentos de segundo volume em 2007 e terceiro em 2009.

Documentários[editar | editar código-fonte]

  • Tá Rindo de quê?, 2019, direção: Cláudio Manoel, Alê Braga e Álvaro Campos[18]
  • O Pasquim: a subversão do humor, 2004, direção: Roberto Stefanelli[19][20]
  • O Pasquim, a revolução pelo cartum e Humor com Gosto de Pasquim, 1999, em duas partes, direção: Louis Chilson[21][22]
  • Henfil, 2018, direção: Angela Zoé[23]
  • A Vida Extraordinária de Tarso de Castro, 2018, direção: Leo Garcia e Zeca Brito[24][25]

Digitalização[editar | editar código-fonte]

Todas as 1 072 edições semanais foram digitalizadas pela Biblioteca Nacional (BN) e estarão disponíveis ao público em sua hemeroteca. A digitalização gerou 35 mil páginas. A BN tinha em seu acervo 602 edições, sendo o restante cedido por Ziraldo e pela Associação Brasileira de Imprensa. Será possível ler por edição e pesquisar por autor, acessando tudo o que ele publicou no jornal.[26]

Referências

  1. Jornal "Esquinas de S.P.", edição número 19 (novembro de 1999)
  2. "O começo do Pasquim" - Caderno B, Jornal do Brasil, 26 de março de 2006[ligação inativa]
  3. O Pasquim Antologia Volume 1 - 1969-1971, pág. 7
  4. a b c Gaspari, Elio (2014). A Ditadura Escancarada 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca. p. 223. 526 páginas. ISBN 978-85-8057-408-1 
  5. reprodução da entrevista, O Martelo, arquivado em Wayback Machine, acessado em 30/8/2019
  6. Capa de O Pasquim após a prisão de quase toda a equipe do jornal[ligação inativa]
  7. Capa da primeira edição após a libertação da equipe[ligação inativa]
  8. "O humor seminal do Casseta e Planeta" - Jornal do Brasil, 15 de novembro de 2007[ligação inativa]
  9. «Carnaval 1990». GRES Acadêmicos de Santa Cruz. Consultado em 31 de maio de 2020 
  10. ‘Pasquim’ volta sem Jaguar e sem o Sig - Observatório da Imprensa, arquivado em Wayback Machine
  11. O triste fim do Pasquim 21 Arquivado em 15 de setembro de 2007, no Wayback Machine. - Agência Carta Maior
  12. Millôr no Pasquim, WorldCat, acessado em 30/8/2019
  13. Nos bastidores d'O Pasquim, WorldCat, acessado em 30/8/2019
  14. O Pasquim : antologia, WorldCat, acessado em 30/8/2019
  15. ISBN 9788599070543 de O Pasquim: antologia, Vol. 3
  16. Livro reúne os melhores textos do Pasquim[ligação inativa] - Comunique-se
  17. "O Pasquim" entra no ranking dos livros mais vendidos, arquivado em Wayback Machine - Folha Online
  18. Tá Rindo de quê?- Humor e ditadura, Globo Filmes, acessado em 30/8/2019
  19. O Pasquim: a subversão do humor (Documentários), UNESP, acessado em 30/8/2019
  20. O Pasquim - A Subversão do Humor, UFSC, acessado em 30/8/2019
  21. O Pasquim, a revolução pelo cartum, Observatório da Imprensa, 17 de abril de 2012, acessado em 30/8/2019
  22. O Pasquim: a Revolução pelo Cartum, TV UOL, 28 de março de 2012, acessado em 30/8/2019
  23. 'Henfil', documentário sobre o cartunista e irmão de Betinho, ganha novo trailer; assista, G1, 23 de novembro de 2018, acessado em 30/8/2019
  24. Documentário ‘A Vida Extraordinária de Tarso de Castro’ é exibido no Cine Recreio em Rio Branco, G1, 24 de maio de 2018, acessado em 30/8/2019
  25. “A Vida Extraordinária de Tarso de Castro”, de Leo Garcia e Zeca Brito, É Tudo Verdade, 12 de julho de 2018, acessado em 30/8/2019
  26. 'Pasquim' poderá ser lido na internet a partir de agosto, O Globo, 26 de junho de 2019, acessado em 30/8/2019

Ligações externas[editar | editar código-fonte]