Protestos na Tailândia em 2020

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Protestos na Tailândia em 2020
Período fevereiro de 2020 (2020-02) - em curso
Local Tailândia
Causas * Dissolução do FFP (partido pró-democracia)
  • Corrupção
  • Abuso de poder político
  • Desconfiança após o resultado na eleição de 2019
  • Discriminação aos direitos LGBT
  • Desigualdade de gênero e machismo
  • Efeitos da pandemia de COVID-19
  • Ações do governo ao enfrentamento da pandemia
  • Violação dos direitos humanos
  • Aumento das leis de prerrogativa real e sobre o crime de lèse majesté
  • Censura da internet no país
Objetivos * Dissolução da Assembleia Nacional e realização de novas eleições
  • Criação de uma nova Constituição
  • Abolição do Senado designado pelos militares
  • Mudanças nas leis de prerrogativa real e dos crimes de lèse majesté

Os Protestos na Tailândia em 2020 tiveram início em meados de 2020 exigindo reformas na monarquia e no governo do país.[1][2]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

O comportamento do rei durante a pandemia de Covid[editar | editar código-fonte]

O polêmico Rei Maha Vajiralongkorn, também chamado Rama X, que entre outras coisas já apareceu de top num aeroporto enquanto ainda era príncipe, repudiou filhos e esposas e é considerado um gastador de dinheiro compulsivo, não tem, de longe, a mesma aceitação e reputação de seu pai, o falecido Rei Bhumibol Adulyadej. Porém, sua imagem ficou ainda mais desgastada quando, em março de 2020, em plena pandemia de Covid-19, a imprensa descobriu que ele estava vivendo na Alemanha, num hotel exclusivo, com seu harém.[3][4][5][6]

Na Tailândia, a monarquia é um tabu, pois além das realezas serem consideradas divinas, quem ofender a alguém da Casa Real pode ser condenado a prisão por até 15 anos.[5][7]

"O rei da Tailândia, Rama X, embora limitado pela constituição de participar da política, é o chefe de Estado mais rico do mundo e goza de proteções extensivas às críticas através das severas leis de lèse majesté, que impedem qualquer tipo de expressão contra o monarca", escreveu o Brasil de Fato em 17 de agosto.[8]

A ditadura militar[editar | editar código-fonte]

Em maio de 2014, a Tailândia viu seu 12º Golpe Militar desde a reforma política da monarquia em 1932, quando as Forças Armadas Reais da Tailândia, lideradas pelo general Prayuth Chan-ocha, comandante do Exército Real Tailandês, derrubaram o primeiro-ministro Niwatthamrong Boonsongpaisan. Um Conselho Nacional para a Manutenção da Paz e da Ordem (NCPO) foi criado que, além de revogar parcialmente a constituição, declarou lei marcial e toque de recolher em todo o país, proibiu reuniões políticas, prendeu políticos e ativistas anti-golpe, impôs a censura na Internet e assumiu o controle dos meios de comunicação. [9]

Semanas depois, Prayuth anunciou eleições para outubro de 2015, no entanto, as eleições e o restabelecimento da Democracia foram sendo prorrogados ano após ano. Em março de 2019, o país votou pela primeira após o Golpe Militar de 2014. O correspondente da BBC News em Bangkok, Nick Beake, disse na época que "essa eleição se resume basicamente a uma escolha simples: você quer que os militares continuem no poder?".[10]

Com a vitória do partido pró-Exército Palang Pracharat, os militares ficaram.[11]

Os protestos[editar | editar código-fonte]

Os protestos têm sido liderados em sua maioria por estudantes, que gritam palavras de ordem como “abaixo a ditadura” e “o país pertence ao povo”. No dia 16 de agosto, num domingo, cerca de 10 mil pessoas protestaram em Banguecoque, na maior manifestação desde os Protestos na Tailândia em 2013-2014. "Queremos uma nova eleição e um novo parlamento ao povo. Nosso sonho é ter uma monarquia que realmente esteja sujeita à constituição”, disse o ativista estudantil Patsalawalee Tanakitwiboonpon durante o discurso para a multidão. [1]

No dia 14 de outubro, durante as cerimônias pela morte do Rei Bhumibol, os manifestantes enfrentaram diretamente um cortejo no qual seguiam o rei, a rainha e o príncipe herdeiro. Nas ruas, enquanto a família real passava, pessoas gritaram palavras de ordem antimonárquicas, além de, segundo a Voice of America, acenar "com três dedos, um símbolo de desafio retirado dos livros e da trilogia dos filmes Jogos Vorazes". O confronto foi considerado "sem precedentes" pela revista espanhola Vanitatis, que tem uma seção dedicada apenas às Casas Reais, na história recente do país, uma vez que enfrentava também diretamente a lei de lèse majesté. Os protestantes depois marcharam rumo ao endereço do gabinete do chefe do Governo Militar, onde acabaram sendo dispersados pelas forças policiais.[12][13]

Reações oficiais[editar | editar código-fonte]

A pedido do governo, no dia 25 de agosto, o Facebook bloqueou um grupo que criticava a monarquia e tinha mais de 1 milhão de membros. Já no dia 26, o primeiro-ministro do país, o militar Prayuth Chan-och, disse que se a manifestações não parassem, o país ia entrar em colapso. "Todos estarão em terra ardente, envoltos em chamas", definiu.[2][14]

A Anistia Internacional, após saber do bloqueio do Facebook, repudiou publicamente a censura e se manifestou através de Rasha Abdul-Rahim, codiretor do programa da Amnesty Tech: "mais uma vez o Facebook está cedendo aos caprichos de governos repressivos (...), estabelecendo outro precedente perigoso para a liberdade de expressão online".

O jornal Thaiger noticiou no dia 26 de agosto que cinco (05) estudantes tinham ordens de prisão e que dois deles, Tattep Ruangprapaikitseree e Panumas Singprom, já haviam sido presos por ajudar a organizar os comícios antigovernamentais de 18 de julho.[15]

Estado de emergência[editar | editar código-fonte]

No dia 14 de outubro, quando os protestantes enfrentaram diretamente o rei e a lei de lèse majesté e depois marcharam, à noite, rumo ao gabinete do chefe do Governo Militar, as forças militares intervieram, dispersando os manifestantes. Cerca de 20 pessoas foram presas, incluindo os líderes do protesto Arnon Nampha e Parit “Penguin” Chiwarak, e o primeiro-ministro, o general Chan-och, declarou estado de emergência.[12][13]

O estado de emergência foi suspenso no dia 22 de outubro, quando Chan-och anunciou que os protestos haviam diminuído. No entanto, a BBC escreveu que após o decreto os manifestos haviam aumentado e que o estado havia sido suspenso após os protestantes terem dado três dias, no dia 21, para Chan renunciar ou enfrentar manifestos ainda maiores. O general então suspendeu o estado de emergência e pediu que em retribuição os manifestantes parassem com seu "discurso de ódio e de divisão".[16]

Bloqueios na internet[editar | editar código-fonte]

No dia 16 de outubro, o governo mandou bloquear o site Change.org, depois da publicação de uma petição contra o rei Maha Vajiralongkorn, que àquela altura já tinha a adesão de cerca de 130 mil pessoas. O abaixo-assinado seria usado para exigir que o rei fosse considerado persona non grata na Alemanha e para que seus poderes fossem restringidos no seu país-natal.[17]

Dias depois, o alvo do bloqueio foi o aplicativo Telegram, usado para organizar os protestos pró-democracia.[carece de fontes?]

Referências

  1. a b «Maior protesto na Tailândia em anos pressiona o governo». noticias.uol.com.br. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  2. a b «Thai PM warns nation could be 'engulfed in flames' if division persists». Reuters (em inglês). 26 de agosto de 2020 
  3. «Rei da Tailândia passa por quarentena com 20 namoradas em hotel na Alemanha». ISTOÉ Independente. 30 de março de 2020. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  4. «Caras | Rei da Tailândia regressa à Alemanha e envolve-se em nova polémica». Caras. 13 de abril de 2020. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  5. a b «Rolling Stone · Rei da Tailândia é comparado a vilão de Harry Potter em protestos; entenda». Rolling Stone. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  6. «Por que a 'amante oficial' do rei da Tailândia caiu em desgraça». BBC News Brasil. 22 de outubro de 2019 
  7. «Em ato inédito, estudantes protestam contra monarquia na Tailândia e comparam rei a Voldemort». Folha de S.Paulo. 4 de agosto de 2020. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  8. «Milhares vão às ruas de Bangkok em protestos contra o governo». Brasil de Fato. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  9. «Entenda o golpe militar na Tailândia». BBC News Brasil. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  10. «Tailândia vai às urnas pela 1ª vez após golpe militar». BBC News Brasil. 24 de março de 2019 
  11. «Partido pró-Exército vence eleição da Tailândia, diz comissão eleitoral». Exame. 28 de março de 2019. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  12. a b «Los reyes de Tailandia y el príncipe heredero: su incómoda imagen en medio de la rebelión». www.vanitatis.elconfidencial.com (em espanhol). 14 de outubro de 2020. Consultado em 15 de outubro de 2020 
  13. a b «Thailand Under State of Emergency After Massive Anti-Government Protests | Voice of America - English». www.voanews.com (em inglês). Consultado em 15 de outubro de 2020 
  14. «Facebook blocks group critical of Thai monarchy | Reuters Video». Reuters (em inglês). Consultado em 26 de agosto de 2020 
  15. Burton, Jack (26 de agosto de 2020). «2 more student protest leaders arrested». The Thaiger (em inglês). Consultado em 26 de agosto de 2020 
  16. «Thailand protests: State of emergency lifted after days of rallies». BBC News (em inglês). 22 de outubro de 2020. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  17. Coelho, Penélope. «Aventuras na História · Tailândia bloqueia site de petições contra o rei Maha Vajiralongkorn». Aventuras na História. Consultado em 23 de outubro de 2020