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Quinquênio Liberal

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O Quinquênio Liberal foi o período entre 2 de fevereiro de 1844 e 29 de setembro de 1848 em que o Partido Liberal governou o Império do Brasil de forma ininterrupta. O período foi marcado pelo desenvolvimento dos partidos políticos do Império e do sistema eleitoral brasileiro, além do amadurecimento do Imperador D. Pedro II e da busca por uma política de conciliação partidária, apesar da instabilidade ministerial e das revoltas locais.

Contexto[editar | editar código-fonte]

As Revoltas Liberais de 1842 em Sorocaba - SP (Ettore Marangoni).

Após o Golpe da Maioridade, em 1840, o Partido Liberal buscou firmar-se no poder convocando novas eleições para alcançar a necessária maioria parlamentar. As chamadas "Eleições do Cacete" acabaram acarretando acusações de fraude contra os liberais e sua consequente queda do poder por intermédio do Imperador D. Pedro II, sendo substituídos por um gabinete liderado pelo Partido Conservador.[1]

Esse fato, então, acarretou as Revoltas Liberais de 1842, movimento contrário à posse dos conservadores. Embora derrotados, a maior parte dos liberais foi anistiada logo em seguida, retornando ao poder em 1844, em virtude de divergências entre o Imperador e os conservadores, além do apaziguamento dos próprios liberais.[2]

Quinquênio[editar | editar código-fonte]

Charge representando a alternância partidária no Império durante o Segundo Reinado, em que os principais partidos aparecem em um "carrossel" cujo eixo central é formado por D. Pedro II.

O período teve início com o estabelecimento do gabinete chefiado por José Carlos Pereira de Almeida Torres, 2º Visconde de Macaé, em 2 de fevereiro de 1844, sucedendo-lhe outros cinco ministérios, sendo o último chefiado por Francisco de Paula Sousa e Melo, em 29 de setembro de 1848.

O período foi marcado pela pouca consistência partidária, dando origem à famosa frase “nada mais parecido com um conservador do que um liberal no poder”. O programa de todos os gabinetes do período foi a conciliação partidária, buscando estabelecer a ordem interna do país frente às inúmeras revoltas e conflitos herdados do período regencial.[3]

O primeiro gabinete do Quinquênio Liberal, de 1844, foi formado por liberais pouco ortodoxos em suas práticas e, inclusive, um conservador entre eles. Em 1845, ao apresentar o programa de governo do gabinete, o senador Manuel Alves Branco, futuro Visconde de Caravelas (1854), pregou o apaziguamento entre os partidos e a união nacional em torno da Constituição de 1824.

O gabinete de 1846, por sua vez, ficou conhecido como “a pequena conciliação”, visto que reuniu em seus quadros mais conservadores do que os ministérios anteriores - também foi responsável pela reforma eleitoral conhecida como "Lei de 1846".

O gabinete seguinte, de 1847, inaugurou o cargo de Presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro), que deveria chefiar o Poder Executivo e compor o restante do ministério, ainda que a Constituição do Império garantisse essa prerrogativa ao Poder Moderador. Sua principal bandeira, como a de seus antecessores, era a conciliação política, mas também a reforma do sistema eleitoral brasileiro.

Em 1848, por fim, sucederam-se dois gabinetes de curta duração: o segundo gabinete chefiado por Macaé foi minado pelo desentendimento entre seus próprios membros e seus apoiadores na Câmara dos Deputados. Por sua vez, o último gabinete do Quinquênio, chefiado por Paula Sousa, foi acusado de "acefalia", visto que o presidente do Conselho encontrava-se afastado por motivos de saúde.[4]

Gabinetes[editar | editar código-fonte]

Gabinete de 2 de fevereiro de 1844[editar | editar código-fonte]

José Carlos Pereira de Almeida Torres, 2º Visconde de Macaé

O Gabinete de 2 de fevereiro de 1844 foi composto da seguinte forma:

Gabinete de 26 de maio de 1845[editar | editar código-fonte]

Manuel Alves Branco

O Gabinete de 26 de maio de 1845 foi composto da seguinte forma:

  • Ministro dos Negócios do Império: José Carlos Pereira de Almeida Torres, 2º Visconde de Macaé (interino); Manoel Alves Branco.
  • Ministro da Justiça: José Carlos Pereira de Almeida Torres (interino); Antônio Paulino Limpo de Abreu (interino); Joaquim Marcelino de Brito.
  • Ministro dos Estrangeiros: Antônio Paulino Limpo de Abreu.
  • Ministro da Fazenda: Manoel Alves Branco.
  • Ministro da Marinha: Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcante de Albuquerque.
  • Ministro da Guerra: Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcante de Albuquerque.

Gabinete de 2 de maio de 1846[editar | editar código-fonte]

Joaquim Marcelino de Brito

O Gabinete de 2 de maio de 1846 foi composto da seguinte forma:

Gabinete de 22 de maio de 1847[editar | editar código-fonte]

O Gabinete de 22 de maio de 1847, também conhecido como Gabinete Alves Branco, foi composto da seguinte forma:

Gabinete de 8 de março de 1848[editar | editar código-fonte]

O Gabinete de 8 de março de 1848, também conhecido como Gabinete Macaé, foi composto da seguinte forma:

  • Presidente do Conselho de Ministros: José Carlos Pereira de Almeida Torres, 2º Visconde de Macaé.
  • Ministro dos Negócios do Império: José Carlos Pereira de Almeida Torres.
  • Ministro da Justiça: José Antônio Pimenta Bueno.
  • Ministro dos Estrangeiros: Antônio Paulino Limpo de Abreu.
  • Ministro da Fazenda: Antônio Paulino Limpo de Abreu; José Pedro Dias de Carvalho.
  • Ministro da Marinha: Manuel Felizardo de Sousa e Melo (interino); Joaquim Antão Fernandes Leão.
  • Ministro da Guerra: Manoel Felizardo de Souza e Melo.

Gabinete de 31 de maio de 1848[editar | editar código-fonte]

Francisco de Paula Sousa e Melo

O Gabinete de 31 de maio de 1848, também conhecido como Gabinete Paula Sousa, foi composto da seguinte forma:

  • Presidente do Conselho de Ministros: Francisco de Paula Sousa e Melo.
  • Ministro dos Negócios do Império: José Pedro Dias de Carvalho.
  • Ministro da Justiça: Antônio Manuel de Campos Melo.
  • Ministro dos Estrangeiros: Bernardo de Sousa Franco.
  • Ministro da Fazenda: Francisco de Paula Sousa e Melo; José Pedro Dias de Carvalho.
  • Ministro da Marinha: Joaquim Antão Fernandes Leão.
  • Ministro da Guerra: João Paulo dos Santos Barreto.

Fim[editar | editar código-fonte]

Segundo Sérgio Buarque de Holanda[5]:

Os liberais não se entendiam [...], quando, além das dificuldades entre a Câmara e o Ministério, havia o fato de que Presidentes de Província não obedeciam ao Ministério. Faltavam decisão e unidade aos liberais. [...] Era evidente que o Imperador precisava apelar para os conservadores, uma vez que não podia mais compor-se com a situação dominante, pela diversidade de vistas e choques dentro dela.

A crescente dificuldade de entendimento entre os liberais e as frequentes mudanças ministeriais levaram D. Pedro II a solicitar o retorno dos conservadores, dessa vez sob a figura de Pedro de Araújo Lima, Visconde de Olinda, cujo partido ficaria no poder até 1862, com a ascensão da Liga Progressista.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • HOLANDA, Sérgio Buarque de (2004). História Geral da Civilização Brasileira - Volume 5 (8ª edição). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. pp. 18-20.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Ministério da Maioridade». www.multirio.rj.gov.br. Consultado em 21 de maio de 2024 
  2. «As Revoltas Liberais de São Paulo e Minas Gerais». www.multirio.rj.gov.br. Consultado em 21 de maio de 2024 
  3. Needell, Jeffrey D. (1 de novembro de 2009). «Formação dos partidos brasileiros: questões de ideologia, rótulos partidários, lideranças e prática política, 1831-1888». Almanack Braziliense (10): 54–63. ISSN 1808-8139. doi:10.11606/issn.1808-8139.v0i10p54-63. Consultado em 21 de maio de 2024 
  4. Deputados, Brasil Congresso Nacional Câmara dos (1889). «Organisações e programmas ministeriaes desde 1822 a 1889 : notas explicativas sobre moções de confiança, com alguns dos mais importantes Decretos e Leis, resumo historico sobre a discussão do Acto Addicional, Lei de Interpretação, Codigo Criminal, do Processo e Commercial, lei de terras, etc., etc., com varios esclarecimentos e quadros estatisticos»: 79-90. Consultado em 21 de maio de 2024 
  5. HOLANDA, Sérgio Buarque de (2004). História Geral da Civilização Brasileira - Volume 5 (8ª edição). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. p. 20