Sapatão

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Assembléia Pré-Marcha Sapatona (2019), Nova York, EUA

Os termos sapatão, sapatona (português brasileiro) ou fufa (português europeu) são gírias ou calões usados como substantivo que significam lésbica ou sáfica[1][2] e como adjetivo que descreve coisas associadas à lesbiandade e a saficidade.[3][4] Originou-se como um palavrão lesbofóbico (homofóbico e misógino) para uma menina ou mulher masculinizada, butch ou andrógina. Enquanto o uso pejorativo da palavra ainda existe, o termo sapa foi reivindicado por lésbicas e sáficas fora do armário e que expressam orgulho sáfico e lésbico, implicando assertividade e resistência, ou simplesmente como sinônimo comum para lésbica/sáfica.[5][6][7]

Em inglês, dyke é a gíria mais semelhante ao uso de sapatão,[8] gouine em francês, sendo gouinage usado semelhante a frot,[9][10] no Brasil, para uma posição sexual em que a pessoa prefere sexo sem penetração, como termo alternativo a ativo, passivo e versátil.[11][12][13]

História[editar | editar código-fonte]

No Brasil, a marchinha de carnaval Maria Sapatão ajudou a difundir o termo na década de 1980, no entanto o termo terá origem na década de 1970, quando algumas lésbicas, descartando os delicados calçados femininos, optavam por sapatos masculinos, sendo eles proporcionalmente muito grandes, acabavam sendo chamadas de sapatões.[14][15][16][17][18]

Em Portugal, o termo pejorativo é intitulado "fufa", relacionado a mulheres homossexuais.[19]

A frase "Sapatonas! Eu sinto longe o cheiro de couro", dita pela vilã Nazaré Tedesco, interpretada por Renata Sorrah na telenovela Senhora do Destino (2004), viralizou no milênio III. Couro faz referência aos sapatos de couro.[20][21]

Em certos países colonizados por portugueses, algumas mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM) eram deportadas para Portugal quando tiradas do armário.[22]

Uso[editar | editar código-fonte]

Embora sapatão e fufa sejam usados majoritariamente implicando mulheridade, monossexualidade, alossexualidade e cisgeneridade, outros grupos também reivindicam a expressão para si como autoidentificação.[23]

O termo vem sido adotado por pessoas trans e não-binárias também. Sapatrans é usado como um termo para descrever lésbicas trans e sáficas trans,[24][25] geralmente transfemininas e travestis,[26] entretanto alguns indivíduos transmasculinos e neutrois estão incluídos.[27][28]

Algumas mulheres bissexuais e pansexuais reivindicam a identidade sapa, muitas já foram chamadas de sapatão ou fufa e percebem que o termo é usado biopoliticamente, independente de sua orientação sexual.[29] Em inglês é possível encontrar gírias específicas, como byke e bi-dyke.[30][31]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Torres, Bolivar (26 de junho de 2021). «Identidade sáfica: como uma poeta nascida há 2 mil anos virou referência nos estudos de gênero». O Globo. Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
  2. Queer, iG (30 de dezembro de 2020). «Casal lésbico ou sáfico? Polêmica fica em destaque no Twitter». Queer. Consultado em 19 de fevereiro de 2022 
  3. Oliveira, Luana Farias (18 de maio de 2017). «Quem tem medo de sapatão? Resistência lésbica à Ditadura Militar (1964-1985)». Revista Periódicus (7): 06–19. ISSN 2358-0844. doi:10.9771/peri.v1i7.21694. Consultado em 1 de setembro de 2022 
  4. Borba Nunes, Hariagi (2018). «Sapatão enquanto rizoma: desterritorialização da lésbica» (PDF). Universidade Federal do Rio Grande. VII Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade 
  5. «"Sapatão, sim": por que influencers estão resgatando termo antes rejeitado». www.uol.com.br. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  6. «Universa - Lésbica, machorra, sapatão: como ressignifiquei o que antes era ofensa». blogdamorango.blogosfera.uol.com.br. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  7. «'Sou sapatão e não um mesclado de estereótipos'». Geledés. 26 de abril de 2017. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  8. «Sapatão: como (não) dizer "sapatão" em inglês?». Consultado em 25 de novembro de 2020 
  9. de Oliveira, Fábio (9 de outubro de 2013). «Nem ativos nem passivos: conheça os 'gouines', gays que não curtem penetração». BOL. Consultado em 18 de maio de 2021 
  10. «Gouinage: conheça a técnica que dá prazer sem penetração!». Mulheres Bem Resolvidas. 7 de agosto de 2020. Consultado em 19 de maio de 2021 
  11. Bertho, Helena (19 de fevereiro de 2018). «Gouinage: sexo sem penetração usa todos os sentidos; entenda melhor». UOL. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  12. Aboim, Luis (2020). «Gouines, os platônicos afeminados: à margem dos heteroflexíveis e dos gays». Gouines, os platônicos afeminados: à margem dos heteroflexíveis e dos gays: 1–388–416. doi:10.22533/at.ed.8932017073. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  13. Lacombe, Milly (29 de agosto de 2019). «O que é ser sapatão hoje?». Revista Marie Claire. Mulheres do Mundo. Consultado em 25 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 31 de agosto de 2019 
  14. Você sabe como surgiu o termo "sapatão"? | Estação Plural | TV Brasil | Notícias, 25 de julho de 2017, consultado em 25 de novembro de 2020 
  15. «Conheça a origem das marchinhas de Carnaval». Opinião e Notícia. 11 de fevereiro de 2018. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  16. Testoni, Marcelo (24 de abril de 2019). «Sapatão, bicha, viado: os possíveis motivos para chamarem LGBTs assim». www.uol.com.br. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  17. «Qual a origem dos termos "sapatão" e "viado"?». Fatos Desconhecidos. 28 de agosto de 2015. Consultado em 25 de novembro de 2020 
  18. «Por que as lésbicas são chamadas de sapatões e os gays, de veados?». Consultado em 25 de novembro de 2020 
  19. «40 gírias e palavras diferentes em Portugal». Dicas Portugal. Consultado em 8 de janeiro de 2022 
  20. «[Cheiro de Couro]: Nem toda lésbica é uma caminhoneira ou uma novinha descolada | Me Salte». Correio24horas. 21 de dezembro de 2017. Consultado em 16 de abril de 2021 
  21. Gomide, Silvia del Valle (2006). «Representações das identidades lésbicas na telenovela Senhora do Destino». Repositório Institucional da UnB. Consultado em 16 de abril de 2021 
  22. «Lisboa poderá ter um Memorial de homenagem às vítimas LGBT durante o fascismo». dezanove.pt. 3 de junho de 2016. Consultado em 27 de maio de 2021 
  23. «Why It's Totally Valid to Identify as a Dyke and Bisexual». Greatist (em inglês). 23 de setembro de 2020. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  24. Mathey, Marina (2 de março de 2022). «Sapatravas, Sapatrans...». UOL. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  25. Fruchi, Heloise Christine Specie (5 de novembro de 2021). «Gênero ao (contra)ataque: práticas da autodefesa cuir em São Paulo». Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  26. Pérez Navarro, Pablo (2021). Margens da pandemia: Queerentenas viadas, boycetas, sapatrans, faveladas. Coimbra: Devires. ISBN 978-65-86481-27-3 
  27. Bertho, Helena (26 de agosto de 2021). «Sapatão não-bináries: não é só sobre amar mulheres». AzMina. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  28. Costa, Katarine (31 de agosto de 2020). «Sapatão pretes não-binárie: identidades clandestinas». Fundação Rosa Luxemburgo. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  29. Marshall, Kravitz (9 de outubro de 2022). «Bisexual Women & Dykehood». An Injustice! (em inglês). Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  30. Ault, Amber (1 de junho de 1996). «Ambiguous Identity in an Unambiguous Sex/Gender Structure: The Case of Bisexual Women». The Sociological Quarterly (3): 449–463. ISSN 0038-0253. doi:10.1111/j.1533-8525.1996.tb00748.x. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  31. Atkins, Dawn (12 de outubro de 2012). Looking Queer: Body Image and Identity in Lesbian, Bisexual, Gay, and Transgender Communities (em inglês). [S.l.]: Routledge