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Predefinição:Isac Germano Karniol

Isac Germano Karniol (Curitiba, 13 de janeiro de 1943) é médico psiquiatra, psicanalista e neurobiólogo brasileiro. Foi professor do departamento de psicologia médica e psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

É defensor da humanização na psiquiatria e atualmente dedica seu trabalho à construção de novas linguagens na relação médico-paciente, e ao estudo das emoções e sentimentos.

Carreira[editar | editar código-fonte]

Iniciou sua carreira no Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina sob orientação de Elisaldo Carlini, onde produziu um grande número de pesquisas sobre os efeitos da maconha. Sua tese de doutorado Efeito de amostras de Cannabis sativa (-) 9- e (-) 8-transtetrahidrocannabinol no homem e em animais de laboratório[1] foi publicada em 1972 na Revista de Psicologia Normal e Patológica, e é amplamente citada em novas pesquisas até hoje.

Na sua produção científica constatou que o canabidiol não somente influencia as ações do Delta-9-THC, principal canabinoide da maconha, como tinha per se atividade não somente em animais de laboratório mas também no homem[2][3]. Aprofundou o estudo sobre outros canabinoides, como o canabinol e Delta-8-THC[4].

O seu trabalho Pharmacological Interaction between Cannabidiol and delta-9 Tetrahydrocannabinol[5] foi um dos 23 estudos selecionados, dentre 16.000 divulgados por respeitadas publicações de autores pertencentes a 93 países, citado por Eugene Garfied na Revista Science and Public Policy[6], como uma das mais importantes produções científicas do denominado Terceiro Mundo.

Em 1979 publicou um estudo[7] sobre efeitos colaterais irreversíveis decorrentes do uso crônico de antipsicóticos, principalmente a discinesia tardia, efeito colateral ligado ao uso crônico de antipsicóticos.

Foi um dos responsáveis pela introdução do carbonato de lítio no tratamento das doenças afetivas no Brasil, o que originou o desenvolvimento de diversos projetos originais[8].

Em 1985 publicou estudo sobre antidistônicos vendidos livremente em farmácias e que continham benzodiazepínicos. A partir deste trabalho estas medicações foram proibidas[9].

Durante a realização dos seus pós-doutorados na Dinamarca (1975) e na Inglaterra (1976), entrou em contato com pesquisas em bioquímica, neurologia, psicofisiologia e psicofarmacologia. No retorno ao Brasil incorporou gradativamente estes conhecimentos em suas pesquisas, como por exemplo, utilizando técnicas psicofisiológicas, quando verificou que pacientes esquizofrênicos crônicos quase paralisados, tanto motor e afetivamente, tinham seu sistema nervoso central surpreendentemente muito mais estimulados do que nos pacientes controle[10]. Outros dois trabalhos sobre discinesia tardia e mecanismos de ação do lítio e outros eletrólitos na psicose maníaco-depressiva receberam os principais prêmios científicos na psiquiatria brasileira.

Nos anos 2000, após perceber que voluntários em farmacologia clínica se submetiam a experimentos apenas pela remuneração, sem compreender totalmente a natureza destes experimentos, introduziu a recomendação para que voluntários e pacientes em pesquisas deveriam autorizar o uso de tratamentos novos[11].

Desenvolveu um folheto educativo para uso por pacientes de medicamentos psiquiátricos com base em publicação da Organização Mundial da Saúde[12].

Legalidade do Uso da Ayahuasca[editar | editar código-fonte]

Em meados dos anos 1980, Isac juntamente com o Sérgio Dario Seibel, então membros do Conselho Federal de Entorpecentes, representantes, respectivamente da Associação Médica Brasileira e do Ministério da Previdência e Assistência Social, elaboraram relatório sobre as plantas conhecidas popularmente por Mariri e Chacrona, o qual abriu caminhos para o processo de legalização do uso religioso da Ayahuasca que ocorreu anos mais tarde[13].

Ao perceber a importância social dos rituais religiosos praticados pelas comunidades visitadas, Isac foi além do método de observação para elaborar seu parecer, participando ativamente dos ritos e fazendo uso por dezenas de vezes da ayahuasca como objeto de estudo. Em seu relatório ele alerta sobre a importância de levar em consideração a cultura e a ancestralidade dos rituais, e adverte sobre a possibilidade de uma catástrofe social em caso de proibição de uso da substância.

Isac continuou fazendo parte de novos grupos de estudos que foram criados para tratar o tema, até parecer final que liberou o uso religioso da Ayahuasca, também conhecido como Santo Daime em 26 de janeiro de 2010[14][15][16].

Desenvolvimento de novas linguagens na comunicação médico-paciente[editar | editar código-fonte]

As dificuldades pessoais que teve ao longo da vida em se comunicar com o mundo externo e as experiências com pacientes em consultório, em particular um paciente que chegou até ele diagnosticado esquizofrênico, delinearam uma nova fase de pesquisas a partir do ano 2000. Este paciente lhe trouxe em uma sessão um desenho, em que ao analisar cada detalhe, Isac percebe que o mundo interno do paciente estava ali refletido e que aquele gesto do paciente foi uma tentativa de comunicação. Acompanhando o progresso científico e a influência da Psicanálise, Isac passa a direcionar suas pesquisas para o seu mundo interno e o daqueles com quem tinha um contato intersubjetivo maior, e se convence que pela Arte Bruta é possível uma compreensão mais profunda do funcionamento mental. Emoções e sentimentos são particularmente valorizados, também o inconsciente com o que a essência do viver pode ser percebida quando existe uma comunicação intersubjetiva.

Na busca dessas novas linguagens na comunicação médico-paciente, Isac passa a utilizar conceitos psicanalíticos na interação com os doentes mentais e também diversas linguagens artísticas, tais como desenhos, pinturas, música, poesia, entre outras. Esta abordagem é comparada com a de Nise da Silveira, que foi pioneira no uso de arteterapia com pacientes internados em manicômios, mas difere desta ao atuar com paciente clínicos, e por não se restringir à linha de psicologia Junguiana.

Suas pesquisas translacionais e experiências pessoais desde sua infância, quando precisou ser criativo para sobreviver num mundo que não levava em consideração sua maneira de ser, corroboram com recentes revisões da ciência[17][18] em que parece existir a possibilidade em situações extremas de desorganização mental para que criatividade se constitua, evitando diagnósticos psiquiátricos, imobilizações e sofrimentos maiores. Cunhou pela primeira vez a expressão “Palimpsesto Mágico”, em seu livro homônimo, para traduzir o que ocorria na produção dos esboços produzidos em sessões de análise com o artista plástico Egas Francisco, quando sucessivas imagens surgiam em constante movimento, acrescidas de diferentes camadas, por meio de emoções, sentimentos, memórias, escolha de pincéis, movimento dos mesmos, tintas e cores, além de espectro da consciência. Egas se manifestava por esboços que produzia durante as sessões, sobre os quais Isac não fazia interpretações, apenas compartilhava a vida que passava se manifestar, a ter uma linguagem.

A partir deste trabalho foi criada a Galeria da Mente, espaço que reúne diversos desenhos, pinturas e poesias produzidas por pacientes que autorizaram sua publicação (alguns com os nomes verdadeiros e outros com nomes fictícios). Pode ser considerados como documentos psicanalíticos.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Isac nasceu em Curitiba, Paraná, filho de judeus imigrantes da Polônia. Com um pai de personalidade muito rígida, que não tolerava “fragilidades”, Isac teve desde cedo enormes dificuldades afetivas, cognitivas e motoras. Futuramente seria diagnosticado autista. Não tinha amigos, não conseguia brincar, nem praticar esportes. Se isolava no seu vazio, aparentemente tentando evitar o bullying com o qual frequentemente se defrontava. Dificuldades de aprendizagem e concentração logo ficaram evidentes.

Contrastando com sua desorganização mental, desde muito cedo, principalmente na sua vida de estudante e acadêmica, reagia a essas dificuldades com criatividade. Todos esses fatos e experiências influenciaram suas pesquisas e teorias mais tarde.

Se formou em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 1968, concluiu o doutorado em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo em 1972, pós-doutorado pela Universidade de Copenhague em 1975, e pela Universidade de Londres em 1976.

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Isac é casado com Patrícia Siqueira Lopes Karniol, psicóloga, com quem trabalha e colabora em pesquisas, e com quem tem um filho. Isac tem mais 4 filhos de casamentos anteriores.

Prêmios[editar | editar código-fonte]

  • Prêmio Ulysses Pernambucano, Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental (1977)
  • Prêmio A.B.P., Associação Brasileira de Psiquiatria (1980)

Publicações Selecionadas[editar | editar código-fonte]

  • I. Karniol, I. Shirakawa, N. Kasinski, A. Pfeferman, E. Carlini. Cannabidiol interferes with the effects of Δ9-tetrahydrocannabinol in man. European journal of pharmacology 28 (1), 172-177. 1974.
  • I. Karniol, E. Carlini. Pharmacological interaction between cannabidiol and δ9-tetrahydrocannabinol. Psychopharmacologia. 33, 53-70. 1973.
  • F. Graeff, A. Zuardi, J. Giglio, E. Lima Filho, I. Karniol. Effect of metergoline on human anxiety. Psychopharmacology. 86, 334-338. 1985.
  • I. Karniol, J. Dalton, M. Lader. Acute and chronic effects of lithium chloride on physiological and psychological measures in normals. Psychopharmacology. 57, 289-294. 1978.
  • A. Zuardi, E. Finkelfarb, O. Bueno, R. Musty, I. Karniol. Characteristics of the stimulus produced by the mixture of cannabidiol with delta 9-tetrahydrocannabinol. Archives internationales de pharmacodynamie et de therapie. 249 (1), 137-146. 1981.
  • I. Karniol, E. Carlini. The content of (-) Δ9-trans-tetrahydrocannabinol (Δ9-THC) does not explain all biological activity of some Brazilian marihuana samples. Journal of Pharmacy and Pharmacology. 24 (10), 833-5. 1972.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Edições originais em língua portuguesa:

  • O Primordial no Homem Moderno: Ed. Zagodoni; 2022. (978-65-86711-57-8)
  • Bullying: quem são os alvos: Ed. CRV; 2021. (978-65-251-0725-7)
  • Palimpsesto Mágico: Ed. Zagodoni; 2019. (978-85-5524-091-1)
  • Autismo: Muito Além do Diagnóstico; 2015. (978-85-5524-031-7)
  • Faces da Mente: Ed. Zagodoni; 2013.  (978-85-64250-66-6)
  • Subjetividade na Esquizofrenia: Ed. Zagodoni; 2011. (978-85-5524-022-5)
  • Como enfrentar a insônia. Campinas: Ed. da UNICAMP; Ícone, 1986. (978-85-2740-016-9)

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Karniol, I.G. Efeitos de amostras de Cannabil Sativa, Delta – 8 e Delta – 9 Trans Tetrahidrocanabinol no homem e em animais de laboratório. Estudo comparativo. Rev de Psicologia Normal e Patologica, ano 18, nª 1-2, 1- 85, 1972.
  2. Karniol, I. G.; Carlini, E. A. (1973). «Pharmacological interaction between cannabidiol and ?9-tetrahydrocannabinol». Psychopharmacologia (1): 53–70. ISSN 0033-3158. doi:10.1007/bf00428793. Consultado em 29 de setembro de 2023 
  3. Karniol, Isac G.; Shirakawa, Itiro; Kasinski, Nelson; Pfeferman, Abraham; Carlini, Elisaldo A. (setembro de 1974). «Cannabidiol interferes with the effects of Δ9-tetrahydrocannabinol in man». European Journal of Pharmacology (1): 172–177. ISSN 0014-2999. doi:10.1016/0014-2999(74)90129-0. Consultado em 29 de setembro de 2023 
  4. Karniol, Isac G.; Shirakawa, Itiro; Takahashi, Reinaldo N.; Knobel, Elias; Musty, Richard E. (1975). «Effects of &Delta;<sup>9</sup>-Tetrahydrocannabinol and Cannabinol in Man». Pharmacology (6): 502–512. ISSN 1423-0313. doi:10.1159/000136944. Consultado em 29 de setembro de 2023 
  5. Karniol, I. G.; Carlini, E. A. (1973). «Pharmacological interaction between cannabidiol and ?9-tetrahydrocannabinol». Psychopharmacologia (1): 53–70. ISSN 0033-3158. doi:10.1007/bf00428793. Consultado em 25 de outubro de 2023 
  6. Garfield, Eugene (junho de 1983). «Mapping science in the Third World». Science and Public Policy (3): 112–127. ISSN 1471-5430. doi:10.1093/spp/10.3.112. Consultado em 29 de setembro de 2023 
  7. «Moura, D.S.P e Karniol, I.G. Incidencia de Discinesia Tardia e suas características num hospital psiquiátrico no nosso meio. Ver.Assoc.Médico Brasil. 26, 197 – 200, 1980». Editora Omnis Scientia. 1980 
  8. «Possíveis alterações bioquímicas causadas pela administração crônica de sais lítio J. Brasil.». Murari, W.F. e Karniol, I.G. Psiq. (33, 421-424, 1984.) 1984 
  9. «Padrões de indicação do uso de antidistônicos em farmácias e gravidade sintomatológica». Gomes de Matos e Karniol, I.G. Rev. Assoc. Med. (Brasil 31, 116-120, 1985.) 
  10. Bastos, Isabella Teixeira. «Narrativas profissionais em saúde mental presentes em casos de adolescentes cumprindo medidas socioeducativas (MSE)». Consultado em 29 de setembro de 2023 
  11. Fortoul van der Goes, Teresa I. (10 de setembro de 2019). «Mentiras que matan clínica y la seguridad del paciente». Revista de la Facultad de Medicina (5): 3–5. ISSN 2448-4865. doi:10.22201/fm.24484865e.2019.62.5.01. Consultado em 29 de setembro de 2023 
  12. Pinto, Lívia Kondrat. «Um estudo com o Psicodiagnóstico de Rorschach sobre o funcionamento psíquico de pacientes que realizaram tratamento para a obesidade». Consultado em 29 de setembro de 2023 
  13. Lobo e Silva Filho, Roberto Leal (12 de agosto de 2021). «Resolução nº 3699 (18-06-1990) Portaria nº 1145 (21-06-1990)». Literatura e Sociedade (33): 399–400. ISSN 2237-1184. doi:10.11606/issn.2237-1184.v0i33p399-400. Consultado em 29 de setembro de 2023 
  14. Diário Oficial da União (26 de Janeiro de 2010). «Diários - DOU». Jusbrasil 
  15. O Estado de S.Paulo (27 de janeiro de 2010). «Santo-daime é oficializado para uso religioso». Estadão 
  16. Bia Labate, Bia. «Brasil Legalizaçao Ayahuasca». Bia Labate 
  17. Brouwer, Ari; Carhart-Harris, Robin Lester (11 de novembro de 2020). «Pivotal mental states». Journal of Psychopharmacology (4): 319–352. ISSN 0269-8811. doi:10.1177/0269881120959637. Consultado em 29 de setembro de 2023 
  18. Carhart-Harris, Robin L.; Leech, Robert; Hellyer, Peter J.; Shanahan, Murray; Feilding, Amanda; Tagliazucchi, Enzo; Chialvo, Dante R.; Nutt, David (2014). «The entropic brain: a theory of conscious states informed by neuroimaging research with psychedelic drugs». Frontiers in Human Neuroscience. ISSN 1662-5161. doi:10.3389/fnhum.2014.00020. Consultado em 29 de setembro de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]