Transtornos do espectro autista
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês, cujo título é «Autism spectrum», especificamente desta versão.
Espectro autista | |
---|---|
Empilhar ou alinhar objetos repetitivamente é associado com autismo. | |
Sinônimos | Transtorno do espectro autista (TEA), condição do espectro autista (CEA)[1] |
Especialidade | Psiquiatria |
Sintomas | Problemas com comunicação, interação social, interesses restritos, comportamento repetitivo[2] |
Início habitual | Aproximadamente aos 3 anos[3] |
Fatores de risco | Idade dos pais avançada, exposição a valproato durante gravidez, baixo peso de nascimento[1] |
Método de diagnóstico | Baseado nos sintomas[4] |
Condições semelhantes | Deficiência intelectual, Síndrome de Rett, TDAH, mutismo seletivo, esquizofrenia infantil[2] |
Tratamento | Terapia comportamental,[5] medicação psicoterápica[6] |
Frequência | 1% da população[2] (62,2 milhões em 2015)[7] |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | F84 |
MeSH | D000067877 |
![]() |
Os transtornos do espectro autista (TEA), também conhecido como desordens do espectro autista (DEA) ou condições do espectro autista (CEA), é uma variedade de transtornos mentais do tipo neurodesenvolvimento. Caracterizado por anormalidades generalizadas de interação social e comunicação, bem como por gama de interesses muito restrita e comportamento altamente repetitivo.[8] Os problemas de longo prazo podem incluir dificuldades na execução de tarefas diárias, criação e manutenção de relacionamentos e manutenção de um emprego.[9]
A causa do autismo é incerta. Fatores de risco incluem ter pais mais velhos, familiares com autismo, e certas condições genéticas.[10] É estimado que entre 64% e 91% dos riscos se deve ao histórico familiar.[11] O diagnostico se baseia nos sintomas.[10] Entre as várias manifestações do TEA, o transtorno invasivo de desenvolvimento não-especificado (PDD-NOS, em inglês) foi larga maioria; o autismo ficou com 1,3 por 1000 e a Síndrome de Asperger em cerca de 0,3 por 1000; as formas atípicas como o transtorno desintegrativo da infância e a Síndrome de Rett foram muito mais raras.[12]
Classificação[editar | editar código-fonte]
As três formas principais de DEA são o autismo clássico, a síndrome de Asperger e o transtorno invasivo de desenvolvimento não especificado. O autismo é o centro das desordens do espectro autista. A Síndrome de Asperger é o mais próximo do autismo pelos sintomas e causas prováveis;[13] diferentemente do autista "clássico", o Asperger não tem qualquer atraso significativo no desenvolvimento da linguagem.[14] Atualmente, considera-se que esses 3 tipos de autismo não existem mais e foram fundidas em uma só condição denominada de transtorno do espectro do autismo.
O diagnóstico de transtorno invasivo do desenvolvimento não-especificado (PDD-NOS) ocorre quando não se encontram critérios para outro transtorno mais específico. Algumas fontes também incluem a síndrome de Rett e o transtorno desintegrativo da infância, que compartilham vários traços com o autismo, mas podem ter causas não-relacionadas; outras fontes combinam as DEA com estas duas condições na definição de transtornos invasivos do desenvolvimento.[13][15]
A terminologia do autismo pode causar confusão. Autismo, Asperger e PDD-NOS às vezes são chamados de desordens autísticas (ou transtornos autísticos), em vez de DEA,[16] enquanto o autismo propriamente dito muitas vezes é chamado de desordem autista, ou autismo infantil. Apesar de os termos transtorno invasivo do desenvolvimento, mais antigo, e desordem do espectro autista, mais recente, se sobreporem totalmente ou quase,[15] o primeiro foi cunhado com a intenção de descrever um conjunto específico de classificações diagnósticas, enquanto o segundo supõe uma desordem espectral que envolve diversas condições.[17] DEA, por sua vez, é uma parte do fenótipo autista mais-amplo (FAMA, ou BAP, em inglês), que podem não ter DEA mas possuem traços semelhantes aos do autismo, tal como evitar o contato visual.[18]
Sinais e sintomas[editar | editar código-fonte]
As características definidoras das desordens do espectro autista são debilidades de comunicação e interação social, junto a interesses e atividades restritos e repetitivos.[19] Sintomas individuais ocorrem na população em geral, e não parecem ter muita relação entre si, não existindo uma linha bem definida que separe uma situação patológica de traços comuns.[20] Outros aspectos dos DEA, como alimentação atípica, também são comuns, mas não essenciais para o diagnóstico; eles podem afetar o indivíduo ou a família.[21]
Estima-se que entre 0,5% e 10% dos indivíduos com DEA possuam habilidades incomuns, que vão desde habilidades pitorescas, como a memorização de curiosidades, até os talentos extremamente raros dos autistas-prodígio.[22]
Ao contrário da crença comum, as crianças autistas não preferem estar sós. Fazer e manter amizades costuma ser difícil para aqueles com autismo. Para eles, a qualidade das amizades, não o número de amigos, determina o quão sós se sentem.[23]
Estar no espectro autista não impede a criança de entender os estereótipos de raça e gênero da sociedade; assim como a criança neurotípica, ela aprende os estereótipos observando as atitudes de seus pais, tais como trancar o carro em certas localidades.[24]
Características comportamentais[editar | editar código-fonte]
Os distúrbios do espectro do autista incluem uma grande variedade de características. Algumas delas incluem o desenvolvimento lento de habilidades sociais e de aprendizado, como também dificuldades para criar conexões com outras pessoas. As dificuldades de criar conexões podem ser desenvolvidas devido à ansiedade ou depressão, que pessoas com autismo têm maior probabilidade de obter e, como resultado, se isolam.[25] Outras características comportamentais incluem respostas anormais às sensações, o que inclui a visão, som, tato e olfato, além de problemas para manter um ritmo consistente da fala.
Habilidades sociais[editar | editar código-fonte]
As habilidades sociais apresentam as maiores dificuldades para indivíduos com DEA. Isso leva a problemas com amizades, relacionamentos românticos, vida diária e sucesso vocacional.[26] Casamentos são incomuns para pessoas com DEA. Muitos desses desafios estão ligados aos seus padrões atípicos de comportamento e comunicação. É comum que crianças e adultos com autismo tenham dificuldades com interações sociais porque são incapazes de se relacionar.[27] Todos esses problemas decorrem de deficiências cognitivas.
Habilidades de comunicação[editar | editar código-fonte]
Os déficits de comunicação são geralmente caracterizados por deficiências em relação à atenção compartilhada e reciprocidade, dificuldades com sugestões de linguagem verbal e habilidades de comunicação não-verbal ruins,[28] como a falta de contato visual, gestos significativos e expressões faciais.[29] Os comportamentos linguísticos normalmente vistos em crianças com autismo podem incluir linguagem repetitiva ou rígida, interesses específicos em conversas e desenvolvimento atípico da linguagem.[29] Muitas crianças com DEA desenvolvem habilidades de linguagem em um ritmo desigual, onde adquirem facilmente alguns aspectos da comunicação, e nunca desenvolvendo outros aspectos. Em alguns casos, os indivíduos permanecem completamente não-verbais durante toda a vida, embora os níveis de alfabetização e de comunicação não verbal que os acompanham variem.
Eles podem não entender a linguagem corporal ou os sinais sociais, como contato visual e expressões faciais, se fornecerem mais informações do que a pessoa pode processar naquele momento. Da mesma forma, eles têm dificuldade em reconhecer expressões sutis de emoção e identificar o que várias emoções significam para a conversa.
Tratamento[editar | editar código-fonte]
Os objetivos principais do tratamento são a redução dos déficits associados e tensão familiar, e aumento da qualidade de vida e da independência funcional. Não há um tratamento padrão que seja melhor do que os outros, e geralmente o tratamento é ajustado às necessidades de cada paciente. Programas de educação especial intensiva e prolongada e terapia comportamental na primeira infância ajudam a criança a adquirir habilidades sociais, de trabalho e cuidados próprios. As abordagens disponíveis incluem análise aplicada de comportamento, modelos desenvolvimentais, ensino estruturado (TEACCH, sigla em inglês), terapia de fala e linguagem, terapia de habilidades sociais e terapia ocupacional.[30]
Epidemiologia[editar | editar código-fonte]
Os balanços mais recentes apontam a prevalência de 1 a 2 por 1000 de autismo e perto de 6 por 1.000 de DEA;[31] mas por causa de dados inadequados, estes números podem subestimar a real prevalência de DEAs.[32] PDD-NOS constitui vasta maioria dos DEAs, Asperger em torno de 0,3 por 1000 e as outras formas de DEA são muito mais raros.[12]
O número de casos relatados de autismo aumentou muito nos anos 1990 e início dos 2000. Este aumento é atribuído principalmente às mudanças nos critérios e práticas de diagnóstico, padrões de orientação, disponibilidade de serviços, idade do diagnóstico e conscientização pública,[33] mas fatores de risco ambientais ainda não identificados não podem ser descartados.[34]
- Nota: como este artigo é uma tradução, atente-se que as estatísticas aqui apresentadas são as obtidas do original em inglês.
Referências
- ↑ a b «Prevalence of autism-spectrum conditions: UK school-based population study». The British Journal of Psychiatry (em inglês). 194 (6): 500-9. Junho de 2009. PMID 19478287. doi:10.1192/bjp.bp.bp108.059345.
Somos a favor de usar o termo 'condição do espectro autista' ao invés de 'transtorno do espoctro autista' por ser menos estigmatizante, e que reflete que esses indivíduos não possuem apenas deficiências as quais requerem diagnósticos médicos, mas também áreas de força cognitiva
- ↑ a b c Associação Psiquiátrica Americana (2013). «Autism Spectrum Disorder. 299.00 (F84.0)». Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-5) (em inglês). Arlington, VA: Editora Psiquiátrica Americana. pp. 50–59. ISBN 978-0-89042-559-6. doi:10.1176/appi.books.9780890425596
- ↑ «F84.0 Childhood autism» (PDF). The ICD-10 Classification of Mental and Behavioural Disorders - Clinical descriptions and diagnostic guidelines (em inglês). Genebra: Organização Mundial da Saúde. 198 páginas
- ↑ «Autism Spectrum Disorder». NIMH (em inglês). Outubro de 2016. Consultado em 2 de junho de 2019
- ↑ «Evidence-based review of interventions for autism used in or of relevance to occupational therapy». The American Journal of Occupational Therapy (em inglês). 62 (4): 416-29. 2008. PMID 18712004. doi:10.5014/ajot.62.4.416
- ↑ «Psychopharmacological interventions in autism spectrum disorder». Expert Opinion on Pharmacotherapy (em inglês). 17 (7): 937-52. 206. PMID 26891879. doi:10.1517/14656566.2016.1154536
- ↑ «Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 310 diseases and injuries, 1990-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015». Lancet (em inglês). 388 (10053): 1545-1602. Outubro de 2016. PMC 5055577
. PMID 27733282. doi:10.1016/S0140-6736(16)31678-6
- ↑ World Health Organization (2006). «F84. Pervasive developmental disorders». International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems 10th ed. (ICD-10) ed. [S.l.: s.n.] Consultado em 25 de junho de 2007
- ↑ Comer, Ronald J. (cop. 1996). Fundamentals of abnormal psychology. [S.l.]: Freeman. pp. p.457. ISBN 071672717X. OCLC 782250368 Verifique data em:
|data=
(ajuda) - ↑ a b «NIMH » Autism Spectrum Disorder». www.nimh.nih.gov. Consultado em 19 de setembro de 2019
- ↑ Tick, Beata; Bolton, Patrick; Happé, Francesca; Rutter, Michael; Rijsdijk, Frühling (maio de 2016). «Heritability of autism spectrum disorders: a meta‐analysis of twin studies». Journal of Child Psychology and Psychiatry, and Allied Disciplines. 57 (5): 585–595. ISSN 0021-9630. PMC 4996332
. PMID 26709141. doi:10.1111/jcpp.12499
- ↑ a b Fombonne E (2005). «Epidemiology of autistic disorder and other pervasive developmental disorders». J Clin Psychiatry. 66 (Suppl 10): 3–8. PMID 16401144
- ↑ a b Lord C, Cook EH, Leventhal BL, Amaral DG (2000). «Autism spectrum disorders». Neuron. 28 (2): 355–63. PMID 11144346. doi:10.1016/S0896-6273(00)00115-X
- ↑ American Psychiatric Association (2000). «Diagnostic criteria for 299.80 Asperger's Disorder (AD)». Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders 4th ed., text revision (DSM-IV-TR) ed. [S.l.: s.n.] ISBN 0890420254
- ↑ a b Strock M (2008). «Autism spectrum disorders (pervasive developmental disorders)». National Institute of Mental Health. Consultado em 25 de agosto de 2008
- ↑ Freitag CM (2007). «The genetics of autistic disorders and its clinical relevance: a review of the literature». Mol Psychiatry. 12 (1): 2–22. PMID 17033636. doi:10.1038/sj.mp.4001896
- ↑ Klin A (2006). «Autism and Asperger syndrome: an overview». Rev Bras Psiquiatr. 28 (suppl 1): S3–S11. PMID 16791390. doi:10.1590/S1516-44462006000500002
- ↑ Piven J, Palmer P, Jacobi D, Childress D, Arndt S (1997). «Broader autism phenotype: evidence from a family history study of multiple-incidence autism families» (PDF). Am J Psychiatry. 154 (2): 185–90. PMID 9016266
- ↑ Frith U, Happé F (2005). «Autism spectrum disorder». Curr Biol. 15 (19): R786–90. PMID 16213805. doi:10.1016/j.cub.2005.09.033
- ↑ London E (2007). «The role of the neurobiologist in redefining the diagnosis of autism». Brain Pathol. 17 (4): 408–11. PMID 17919126. doi:10.1111/j.1750-3639.2007.00103.x
- ↑ Filipek PA, Accardo PJ, Baranek GT; et al. (1999). «The screening and diagnosis of autistic spectrum disorders». J Autism Dev Disord. 29 (6): 439–84. doi:10.1023/A:1021943802493 «Erratum». J Autism Dev Disord. 30 (1). 81 páginas. 2000. PMID 10638459. doi:10.1023/A:1017256313409
- ↑ Treffert DA (2006). «Savant syndrome: an extraordinary condition—a synopsis: past, present, future». Wisconsin Medical Society. Consultado em 24 de março de 2008. Arquivado do original em 8 de fevereiro de 2012
- ↑ Burgess AF, Gutstein SE (2007). «Quality of life for people with autism: raising the standard for evaluating successful outcomes». Child Adolesc Ment Health. 12 (2): 80–6. doi:10.1111/j.1475-3588.2006.00432.x
- ↑ Hirschfeld L, Bartmess E, White S, Frith U (2007). «Can autistic children predict behavior by social stereotypes?». Curr Biol. 17 (12): R451–2. PMID 17580071. doi:10.1016/j.cub.2007.04.051. Resumo divulgativo – ScienceDaily (19 de junho de 2007)
- ↑ Bartak, Lawrence; Williams, Katrina (2015). «Australia and Autism». New York, NY: Springer New York: 1–7. ISBN 9781461464358
- ↑ Barnhill, Gena P. (maio de 2007). «Outcomes in Adults With Asperger Syndrome». Focus on Autism and Other Developmental Disabilities. 22 (2): 116–126. ISSN 1088-3576. doi:10.1177/10883576070220020301
- ↑ Davis, Matthew A. Cody; Spriggs, Amy; Rodgers, Alexis; Campbell, Jonathan (22 de dezembro de 2017). «The Effects of a Peer-Delivered Social Skills Intervention for Adults with Comorbid Down Syndrome and Autism Spectrum Disorder». Journal of Autism and Developmental Disorders. 48 (6): 1869–1885. ISSN 0162-3257. doi:10.1007/s10803-017-3437-1
- ↑ «American Speech-Language-Hearing Association (ASHA)». Berlin/Heidelberg: Springer-Verlag. SpringerReference
- ↑ a b «Autism Spectrum Disorder: Communication Problems in Children». NIDCD (em inglês). 18 de agosto de 2015. Consultado em 19 de setembro de 2019
- ↑ Myers SM, Johnson CP, Council on Children with Disabilities (2007). «Management of children with autism spectrum disorders». Pediatrics. 120 (5): 1162–82. PMID 17967921. doi:10.1542/peds.2007-2362. Resumo divulgativo – AAP (29 de outubro de 2007)
- ↑ Newschaffer CJ, Croen LA, Daniels J; et al. (2007). «The epidemiology of autism spectrum disorders». Annu Rev Public Health. 28: 235–58. PMID 17367287. doi:10.1146/annurev.publhealth.28.021406.144007
- ↑ Caronna EB, Milunsky JM, Tager-Flusberg H (2008). «Autism spectrum disorders: clinical and research frontiers». Arch Dis Child. 93 (6): 518–23. PMID 18305076. doi:10.1136/adc.2006.115337
- ↑ Changes in diagnostic practices:
- Fombonne E (2003). «The prevalence of autism». JAMA. 289 (1): 87–9. PMID 12503982. doi:10.1001/jama.289.1.87
- Wing L, Potter D (2002). «The epidemiology of autistic spectrum disorders: is the prevalence rising?». Ment Retard Dev Disabil Res Rev. 8 (3): 151–61. PMID 12216059. doi:10.1002/mrdd.10029
- ↑ Rutter M (2005). «Incidence of autism spectrum disorders: changes over time and their meaning». Acta Paediatr. 94 (1): 2–15. PMID 15858952. doi:10.1080/08035250410023124