Vício em pornografia

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Vício em pornografia tem sido descrito como um vício comportamental, caracterizado por compulsão, uso repetido de material pornográfico até causar consequências negativas físicas, mentais, sociais, e/ou para o bem-estar financeiro do usuário.[1][2] Porém, a existência do vício em pornografia tem sido acaloradamente contestada por cientistas e profissionais da saúde.[3] Atualmente, não há diagnóstico de vício em pornografia no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).[4] O vício em pornografia na internet também é uma forma de vício em sexo virtual. [5]

A visualização de pornografia problemática na Internet é associada a casos de pessoas que, devido a razões pessoais ou sociais, passam um tempo excessivo vendo pornografia na internet ao invés de estar interagindo com outras pessoas. Indivíduos podem relatar depressão, isolação social, perda de emprego, queda de produtividade, ou más consequências financeiras como um resultado da diminuição de sua vida social causada pela pornografia na internet.[6]

Prevalência[editar | editar código-fonte]

A maioria dos estudos de prevalência de vício em pornografia na internet usam amostras convenientes de pessoas. As estimativas com amostras de representação nacional colocam 5% da população com tendo esse problema.[3] Um dos estudos com amostras de pessoas sugerem que 17% das pessoas que veem pornografia na internet têm traços de compulsão sexual.[7] Numa pesquisa, de 20-60% de uma amostra de estudantes universitários tem achado que a pornografia pode causar consequências negativas para um usuário[8] Estudos mostram que de 1.5 à 8.2% dos americanos e europeus têm algum distúrbio com o uso da internet.[9] Usuários de pornografia na internet são incluídos em usuários de internet, e a pornografia na internet tem sido citada como a atividade da internet que gera mais compulsão e distúrbios mentais.[10]

Classificação como um vício[editar | editar código-fonte]

A classificação de estímulos sexuais visuais como um vício é fortemente contestada.[3] O atual dicionário de saúde mental (DSM-5) inclui uma nova seção para vícios comportamentais, mas coloca apenas um distúrbio: vício em jogos de azar. Outros vícios comportamentais foram incluídos em "condições para mais estudos".[11] Vício em pornografia não é diagnosticado atualmente e foi especificamente rejeitado pela mais recente revisão do DSM.[12] Psiquiatras citam a falta de pesquisas de suporte como razão para, nos dias atuais, refutarem a ideia.[12]

Em 2011, a Sociedade Americana de Medicina de Vícios (American Society of Addiction Medicine - ASAM) publicou uma definição de vício que, pela primeira vez, o estabeleceu como busca patológica por qualquer tipo de recompensa externa, e não apenas como dependência de substâncias.[13] Esta definição é muito controversa, visto que abrange grande quantidade de tipos de vício. Vício em pornografia não é explicitamente incluído. Em vez disso, a ASAM usa a frase "vício sexual comportamental".

A categorização de vício em pornografia como um distúrbio viciante, mais do que uma simples compulsão, ainda é bastante contestada, principalmente por neurocientistas.[14]

Contudo, Dr. Richard Krueger, membro do grupo de trabalho do DSM-5 (Distúrbios Sexuais e de Identidade de Gênero) um professor clínico e associado de psiquiatria na Universidade de Colúmbia de Médicos e Cirurgiões, alegou estar com dúvida se o vício em pornografia era mesmo real e se merecia atenção o suficiente para ser reconhecido como uma doença mental pelo DSM.[15] Krueger relatou também que "A maioria das pessoas devem fazer isso e provavelmente não se torna um problema" e reconheceu que ainda não há evidências acadêmicas para considerá-lo um distúrbio mental.[15]

Sintomas e diagnósticos[editar | editar código-fonte]

Critérios de diagnósticos aceitos para o vício em pornografia ou para a visualização problemátical ainda não existem.[6] O único critério de diagnóstico no atual Manual Diagnóstico e Estatístico para Transtornos Mentais é para jogadores compulsivos e os diagnósticos são muito similares com aqueles para abuso e dependência de substâncias, tal como preocupações com o uso/comportamento, pouca capacidade para controlar o uso/comportamento, desenvolvimento de tolerância, crises de abstinência, e consequências sociais negativas. Este critério de diagnóstico também tem sido proposto para outros vícios comportamentais, e esses são usualmente baseados nos diagnósticos estabelecidos para usuários e dependentes de substâncias.[16]

Um diagnóstico proposto para distúrbios sexuais incluem como um subtipo, a pornografia. Ele inclui critérios como o tempo gasto com atividades sexuais que faz evitar as obrigações, repetição constante da atividade sexual quando se tem estresse, repetitivas tentativas de reduzir ou parar com esse comportamento, e aflição ou prejuízos na vida do indivíduo.[17] Um estudo sobre a visualização problemática de pornografia na internet usou como critério de diagnóstico ver pornografia mais de três vezes por semana durante algumas semanas, e a visualização causando dificuldades na vida.[6] Algumas pessoas têm apontado que o uso de pornografia pode levar à disfunção erétil, mas isso ainda não foi demonstrado por pesquisas.[3]

Efeito na Religião[editar | editar código-fonte]

Um estudo de 2014 identificou uma conexão entre assuntos de crenças religiosas e as suas percepções sobre o vício em pornografia.[18][19][20] O chefe e autor do estudo é doutor em psicologia e estudante Joshua Grubbs, da Case Western Reserve University; o estudo é intitulado: Transgression as Addiction: Religiosity and Moral Disapproval as Predictors of Perceived Addiction to Pornography (Transgressão como vício: Desaprovação Religiosa e Moral como Preditores do Reconhecido Vício em Pornografia) e foi publicado no jornal Arquives of Sexual Behavior (Arquivos do Comportamento Sexual).[19] Um dos achados do estudo é que os resultados fortemente indicam uma predileção nas pessoas religiosas para acreditarem que eles estão viciados em pornografia, independentemente do quanto eles assistem ou se isto impacta negativamente suas vidas.[20][21]

Efeitos da pornografia[editar | editar código-fonte]

Homens que passam muito tempo vendo pornografia na internet parecem ter menos matéria cinzenta em certas partes do cérebro e sofrem redução de sua atividade cerebral, revelou um estudo alemão publicado nos Estados Unidos.[22] Estes efeitos poderiam incluir mudanças na plasticidade neuronal resultante de intensa estimulação no centro do prazer. Para realizar a pesquisa, os autores recrutaram 64 homens saudáveis com idades de 21 a 45 anos, aos quais pediram para responder a um questionário sobre o tempo que dedicavam a assistir a vídeos pornográficos. O resultado foi, em média, de quatro horas semanais. Os voluntários também foram submetidos a tomografias computadorizadas (MRI) do cérebro para medir seu volume e observar como ele reagia às imagens pornográficas. Na maioria dos casos, quanto mais pornografia os indivíduos viam, mais diminuía o corpo estriado do cérebro, uma pequena estrutura nervosa bem abaixo do córtex cerebral. Os cientistas também observaram que, quanto maior o consumo de imagens pornográficas, mais se deterioravam as conexões entre o corpo estriado e o córtex pré-frontal, que é a camada externa do cérebro encarregada do comportamento e da tomada de decisões. Os autores do estudo, no entanto, não puderam provar que estes fenômenos sejam causados diretamente pelo consumo de pornografia e, por isso, afirmam que é necessário continuar com as pesquisas.[23]

Tratamento[editar | editar código-fonte]

Terapia cognitivo-comportamental tem sido sugerida como um tratamento possivelmente efetivo, baseado no seu sucesso com os viciados em internet, embora nenhum ensaio em clínica tem sido realizado para o acesso eficaz de viciados em pornografia até 2012.[24] Terapia de aceitação e compromisso tem sido apontada como um possível tratamento efetivo para a visualização problemática de pornografia na internet.[6]

Pornografia online[editar | editar código-fonte]

Algumas clínicas e organizações de suporte recomendam o uso voluntário de filtros de conteúdo, monitoração da internet, ou tanto, a regulação do uso de pornografia online na internet.[25][26][27]

O pesquisador sexual Alvin Cooper sugere que há muitas razões para a utilização de filtros como uma medida terapêutica, restringindo o acesso fácil para comportamentos indesejados, encorajando clientes para melhorar o sucesso do tratamento e as estratégias de prevenção de recaídas.[25] A terapeuta cognitiva Mary Anne Layden sugere que filtros podem ser vantajosos para manter o controle com o computador.[27] O pesquisador em dependência de internet David Delmonico disse que, apesar de suas limitações, os filtros de conteúdo servem como uma "linha de frente para a proteção".[26]

O DSM-5 explicitamente rejeitou a qualificação de consumo de pornografia online como um vício.[12]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Stein, Dan J.; Hollander, Eric; Rothbaum, Barbara Olasov (31 de agosto de 2009). Textbook of Anxiety Disorders. [S.l.]: American Psychiatric Pub. pp. 359–. ISBN 978-1-58562-254-2. Consultado em 24 de abril de 2010 
  2. Parashar A, Varma A (abril de 2007). «Behavior and substance addictions: is the world ready for a new category in the DSM-V?». CNS Spectr. 12 (4): 257; author reply 258–9. PMID 17503551 
  3. a b c d Ley, D., Prause, N., & Finn, P. (abril de 2014). «The Emperor Has No Clothes: A Review of the 'Pornography Addiction' Model». Current Sexual Health Reports. 1 (1). doi:10.1007/s11930-014-0016-8 
  4. Downs, Martin F.; Chang, Louise (30 de agosto de 2005). «Is Pornography Addictive? Psychologists debate whether people can have an addiction to pornography.». WebMD. Consultado em 22 de março de 2007 
  5. Laier, C.; Pawlikowski, M.; Pekal, J.; Schulte, F. P.; Brand, M. (2013). «Cybersex addiction: Experienced sexual arousal when watching pornography and not real-life sexual contacts makes the difference» (PDF). Journal of Behavioral Addictions. 2 (2): 100–107. doi:10.1556/JBA.2.2013.002 [ligação inativa] [ligação inativa]
  6. a b c d Twohig, M. P.; Crosby, J. M. (2010). «Acceptance and Commitment Therapy as a Treatment for Problematic Internet Pornography Viewing». Behavior Therapy. 41 (3): 285–295. PMID 20569778. doi:10.1016/j.beth.2009.06.002 
  7. Cooper, A., Delmonico, D. L., & Burg, R. (2000). Cybersex user, abusers, and compulsives. Sexual Addiction and Compulsivity, 7, 5–29.
  8. Twohig, M. P.; Crosby, J. M.; Cox, J. M. (2009). «Viewing Internet Pornography: For Whom is it Problematic, How, and Why?». Sexual Addiction & Compulsivity. 16 (4): 253–266. doi:10.1080/10720160903300788 
  9. Weinstein, A.; Lejoyeux, M. (2010). «Internet Addiction or Excessive Internet Use». The American Journal of Drug and Alcohol Abuse. 36 (5): 277–283. PMID 20545603. doi:10.3109/00952990.2010.491880 
  10. Meerkerk, G. J.; Eijnden, R. J. J. M. V. D.; Garretsen, H. F. L. (2006). «Predicting Compulsive Internet Use: It's All about Sex!». CyberPsychology & Behavior. 9 (1): 95–103. PMID 16497122. doi:10.1089/cpb.2006.9.95 
  11. Hilton Jr., Donald L. (2013). «Pornography addiction - a supranormal stimulus considered in the context of neuroplasticity». Socioaffective Neuroscience & Psychology. 3. doi:10.3402/snp.v3i0.20767 
  12. a b c American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders Fifth ed. Arlington, VA: American Psychiatric Publishing. pp. 481, 797–798. ISBN 978-0-89042-555-8. Thus, groups of repetitive behaviors, which some term behavioral addictions, with such subcategories as "sex addiction," "exercise addiction," or "shopping addiction," are not included because at this time there is insufficient peer-reviewed evidence to establish the diagnostic criteria and course descriptions needed to identify these behaviors as mental disorders. 
  13. American Society of Addiction Medicine. (2011). DEFINITION OF ADDICTION: FREQUENTLY ASKED QUESTIONS. http://www.asam.org/pdf/Advocacy/20110816_DefofAddiction-FAQs.pdf
  14. Steele, V., Prause, N., Staley, C., & Fong, G. W. (2013). «Sexual Desire, not Hypersexuality, is Related to Neurophysiological Responses Elicited by Sexual Images». Socioaffective Neuroscience of Psychology. 3. doi:10.3402/snp.v3i0.20770 
  15. a b Tamsin McMahon Will quitting porn improve your life? A growing ‘NoFap’ movement of young men are saying no to porn and masturbation Maclean's, January 20, 2014.
  16. Grant, J. E.; Potenza, M. N.; Weinstein, A.; Gorelick, D. A. (2010). «Introduction to Behavioral Addictions». The American Journal of Drug and Alcohol Abuse. 36 (5): 233–241. PMC 3164585Acessível livremente. PMID 20560821. doi:10.3109/00952990.2010.491884 
  17. Kafka, M. P. (2009). «Hypersexual Disorder: A Proposed Diagnosis for DSM-V» (PDF). Archives of Sexual Behavior. 39 (2): 377–400. PMID 19937105. doi:10.1007/s10508-009-9574-7 
  18. Grubbs, Joshua (12 de fevereiro de 2014). «Transgression as Addiction: Religiosity and Moral Disapproval as Predictors of Perceived Addiction to Pornography». Archives of Sexual Behavior. Consultado em 1 de maio de 2014 
  19. a b Staff. «Christians fear porn addiction A psychology study found that people who regard themselves as very religious may regard themselves as addicts – even if they watch internet porn only once.». Health24.com. Consultado em 4 de abril de 2014 
  20. Abel, Jennifer. «Researchers: pornography addiction isn't real Though self-identified porn addicts are probably sincere». Consumer Affairs. Consultado em 1 de maio de 2014 
  21. Pornografia demais pode ser prejudicial ao cérebro masculino Notícias Terra. Visualizado em 9 de abril de 2016
  22. Estudo mostra que pornografia pode ser prejudicial ao cérebro. Autor do estudo: Instituto Max Planck, Berlim. Site: noticias.r7.com.
  23. Laier, Christian. Cybersex addiction: Craving and cognitive processes. Diss. Universität Duisburg-Essen, Fakultät für Ingenieurwissenschaften» Ingenieurwissenschaften-Campus Duisburg» Abteilung Informatik und Angewandte Kognitionswissenschaft, 2012.
  24. a b Cooper, Alvin; Putnam, Dana E.; Planchon, Lynn A.; Boies, Sylvain C. (1999). «Online sexual compulsivity: Getting tangled in the net». Sexual Addiction & Compulsivity. 6 (2). 79 páginas. doi:10.1080/10720169908400182 
  25. a b Delmonico, David L. (1997). «Cybersex: High tech sex addiction». Sexual Addiction & Compulsivity. 4 (2). 159 páginas. doi:10.1080/10720169708400139 
  26. a b Layden, Mary Anne, Ph.D. (setembro de 2005). «Cyber Sex Addiction» (PDF). Advances in Cognitive Therapy: 1–2, 4–5 [ligação inativa]

Leia mais[editar | editar código-fonte]

  • Stafford, Duncan E (2010). Turned On: Intimacy in a Pornized Society (ISBN 978-0-9564987-1-7). Witting Press, Cambridge
  • Cooper, Al (2002). Sex and the Internet: A Guidebook for Clinicians (ISBN 1-58391-355-6) Routledge
  • Patrick Carnes (1991). Don't Call It Love: Recovery from Sexual Addiction (ISBN 978-0-553-35138-5) Bantam
  • P. Williamson, S. Kisser (1989). Answers In the Heart: Daily Meditations for Men and Women Recovering from Sex Addiction (ISBN 978-0-89486-568-8) Hazelden
  • Patrick Carnes (2007). In the Shadows of the Net: Breaking Free of Compulsive Online Sexual Behavior (ISBN 978-1-59285-478-3) Hazelden
  • Patrick Carnes (2001). Out of the Shadows: Understanding Sexual Addiction (ISBN 978-1-56838-621-8) Hazelden
  • Sex Addicts Anonymous (ISBN 0-9768313-1-7)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]