Usuário(a):Livfreitas/teste - Escravidão africana

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Introdução[editar | editar código-fonte]

O estudo do processo de escravização dos povos africanos é essencial para que se compreenda a situação atual do planeta. Revela uma longa história de exploração e subjugação de populações fragilizadas por outras, mais equipadas. Mas não só isso, também demonstra as escolhas tomadas por essas próprias populações. Além disso, demonstra que a desestruturação econômica tem efeitos desastrosos de longa duração.

Do ponto de vista econômico, a escravidão foi uma forma eficiente de acumulação primitiva. No que diz respeito às pessoas foi uma violência irreparável, que pressupõe, dentre outros fatores, a existência de povos muito pobres, mão-de-obra excedente que possa ser explorada em benefício de outros poucos.


Escravidão na África: uma antiga forma de exploração[editar | editar código-fonte]

O tráfico negreiro foi um comércio grande tanto na sua amplitude, quanto no que diz respeito a sua duração. Milhões de homens e mulheres foram deportados para Ásia, Europa e América através das rotas oriental, transaariana e transatlântica.

As rotas oriental e transaariana eram estabelecidas e desenvolvidas por povos árabes do Oriente Médio entre os anos 650 e 1600, aproximadamente. Estima-se que estas rotas envolveram o comércio de cerca de cinco milhões de africanos[1]. Já o comércio transatlântico, executado pelos europeus, escravizou cerca de 40 milhões de pessoas.

A escravização do africano pelo africano[editar | editar código-fonte]

A História da escravidão no continente africano pode ser datada da Antiguidade. Povos como os egípcios e os romanos já se utilizavam deste tipo de mão de obra.

Muito posteriormente, a partir aproximadamente do século VII, a expansão territorial islâmica vinda da Península Arábica se extende até regiões do Norte da África. Esta expansão implicou também em trocas culturais e no processo de islamização e arabização de algumas áreas. Sendo assim, as sociedades islâmicas oriundas do Oriente Médio trouxeram escravos e, mais tarde, foram desenvolvendo um comércio transaariano envolvendo a troca de cativos.

Até o momento, os africanos, tanto os islamizados do norte, quanto os oriundos de grupos autóctones, conheciam e formavam sociedades que possuíam e se utilizavam do trabalho escravo. Porém, estas sociedades não eram escravistas, pois o uso dos cativos convivia com outros tipos de mão de obra, não sendo ele, portanto, essencial ou indispensável para o funcionamento das atividades econômicas destas populações.

Já no século XVI, europeus vindos principalmente de Portugal chegam a alguns arquipélagos do continente, como o de São Tomé, e passam a participar das negociações comerciais envolvendo a venda de escravos. Em um primeiro momento, eles vendiam os escravos para a Europa. Porteriormente, com o andar da colonização da América, estruturou-se o comércio transatlântico de escravos, que teve seu auge no final do século XVIII e inicío do XIX.

A presença europeia na costa atlântica e o comércio de escravos[editar | editar código-fonte]

Pela Bula Dum Diversas, de 18 de Junho de 1452, o papa Nicolau V considera o rei de Portugal D. Afonso V, e seu sucessores, a faculdade de conquistar e subjugar as terras dos "infiéis" e de reduzir a pessoa deles escravatura[2].

Já em meados da década de 1470 os “portugueses tinham começado a comerciar nos golfos do Benim e frequentar o delta do rio Níger e os rios que lhe ficavam logo a oeste”, negociando escravos.

Mesmo assim, as primeiras excursões portuguesas à África subsariana foram pacíficas (o marco da chegada foi a construção da fortaleza de São Jorge da Mina, em Gana, em 1482).

Portugueses muitas vezes se casavam com mulheres nativas e eram aceitos pelas lideranças locais.

Os investimentos na navegação da costa oeste da África foram inicialmente estimulados pela crença de que a principal fonte de lucro seria a exploração de minas de ouro, expectativa que não se realizou. Assim, consta que o comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou a venda de cerca de 11.313.000 indivíduos.

Em torno do comércio de escravos estabeleceu-se o comércio de outros produtos, tais como marfim, tecido, tabaco, armas de fogo e peles . Os comerciantes usavam como moeda pequenos objetos de cobre, manilhas e contas de vidro trazidos de Veneza. Mas a principal fonte de riqueza obtida pelos europeus na África pode ter sido mesmo a mão-de-obra demandada nas colônias americanas e que pareceu-lhes uma boa justificativa para os investimentos em explorações marítimas que, especialmente os portugueses, vinham fazendo desde o séc. XIV. Dessa forma, embora no séc. XV os escravos fossem vendidos em Portugal e na Europa de maneira geral, foi com a exploração das colônias americanas que o tráfico atingiu grandes proporções.

O investimento europeu em guerras geradoras de escravos modificou profundamente a África e também as Américas. Cidades atacavam outras cidades, escravizando a população. Paul Lovejoy faz uma descrição pormenorizada de diversos casos de escravidão. Igualmente ele chama a atenção para o caráter de relação de dependência inerente à escravidão, o indivíduo na situação de escravo ficava numa situação em que não tinha autonomia alguma e que dependia do seu senhor para suas necessidades mais fundamentais, como no caso de mulheres que se tornavam concubinas.

Desde muito antes da chegada dos portugueses a Gana, a escravidão articulada com a expansão do Islã sempre esteve calcada em interesses sexuais. Os árabes vendiam os homens e ficavam com as mulheres, que eram absorvidas pelas comunidades e, conforme incorporavam valores das sociedades de seus senhores, ganhavam maior liberdade. Os filhos eram assimilados pela sociedade muçulmana. Além disso, as mulheres faziam quase todo o trabalho agrícola.

A preferência dos traficantes africanos por cativos do sexo feminino foi um fator decisivo para que, no início de seus negócios nessa área, os europeus comprassem muito mais homens do que mulheres. Outro fator importante foi a constatação de que os homens eram mais resistentes às péssimas condições de salubridade a que eram submetidos nas longas viagens de travessia do oceano Atlântico em navios negreiros. Também por isso, as populações de escravos, tanto na África como nas Américas, não tinham como se sustentar por meio da reprodução biológica, o que gerava uma constante substituição dos escravos por novas levas e girava a máquina dos negócios dos traficantes. Dessa forma, “o trabalho escravo estava diretamente relacionado à consolidação da infra-estrutura comercial que era necessária para a exportação de escravos”.

Angola[editar | editar código-fonte]

Na colônia de Angola a exportação de mão-de-obra escrava, pelo porto de Luanda), terá sido alvo de competição no séc. XVII entre portugueses e holandeses. É depois da disputa entre os colonizadores, cujo reino de Portugal foi vencedor, que na altura pode ter dado origem à captura direta de escravos, nas chamadas guerras angolanas, no seio de certas tribos que tinham lutado contra os portugueses. Foi dessa forma que Angola se tornou um centro importante de fornecimento de mão-de-obra escrava para o Brasil, onde crescia não apenas a produção de cana-de-açúcar no Nordeste, mas também a exploração de ouro na região central.

Navios com mercadorias de Goa faziam escala em Luanda lá deixando panos, as chamadas “fazendas de negros”. Dali seguiam para Salvador, na Bahia, carregados de escravos e de outras mercadorias provenientes da Índia (como louças e tecidos). Foi assim que Salvador se tornou um centro difusor de mercadorias da Índia pela América do Sul.

Os negócios foram se estruturando aos poucos. Num primeiro momento, os governadores da colônia detinham o poder de determinar o preço dos escravos. O pagamento era feito em ouro proveniente de Minas Gerais, no Brasil. Mais tarde, em 1715 a coroa portuguesa proibiu que os governadores se envolvessem com o tráfico . Negociantes provenientes do Brasil (principalmente do Rio de Janeiro, da Bahia e também de Pernambuco) assumiram as rédeas do comércio, que se aqueceu. A principal feira fornecedora de escravos para o porto de Luanda era a feira de Kassanje.

No XVIII, a cachaça brasileira (geribita) passou a ter papel de destaque nas trocas, sendo valorizado tanto em Angola quanto no Brasil. Figurava, ao lado da seda chinesa e as armas européias, como uma das principais moedas de troca. Era, na verdade, a moeda mais corrente, já que o comércio de armas era controlado e a seda chinesa a só chegava à África depois de passar por Lisboa, o que elevava seu preço e reduzia sua liquidez. Outro produto brasileiro valorizado na África era o fumo de corda de Salvador.

A crise de Portugal[editar | editar código-fonte]

Em 1755, Portugal foi abalado por um terremoto e começou a perder o controle do tráfico. Na tentativa de reverter a situação, em 1761 foram editadas leis que obrigavam os navios a fazer escala em Lisboa ou em uma alfândega em Luanda. Mas até 1769 apenas quatro navios haviam seguido as novas leis. O que levou à construção de presídios, para abrigar os desobedientes.

No continente africano a submissão das populações também já não era tão simples como no passado. Povos do interior começaram a organizar ataques com armas obtidas no comércio realizado no litoral do Atlântico. Tentou-se inclusive, embora sem sucesso, constituir uma cavalaria em Angola.

Pouco a pouco a escravatura foi sendo abolida. No entanto, foi também no século XVIII que Portugal tomou a dianteira na abolição da escravatura. Foi no Reinado de D. José I, a 12 de Fevereiro de 1761, pelo Marquês de Pombal, que se aboliu a escravatura no Reino/Metrópole e na Índia.


Os reflexos nas sociedades[editar | editar código-fonte]

As medidas protecionistas adotadas por Portugal afastaram os negociantes brasileiros para outros portos menos controlados, e a exclusão do intermédio português no tráfico então foi conquistada. Em 1840 cessa o tráfico através de Luanda, e brasileiros tocam as últimas décadas de comércio escravo.

A escravização de populações africanas começou a perder fôlego quando, no início do XIX, ingleses e franceses abandonam o tráfico e começam a pressão para sua extinção.

Até quando os ingleses passaram a afundar os navios negreiros que cruzavam o Atlântico, as fazendas que produziam café no sudeste do Brasil ainda usavam mão-de-obra escrava proveniente da África ou descendente de escravos africanos.

O sobado de Kabuko Kambilu[editar | editar código-fonte]

Ao sul de Luanda deságua o Rio Kwanza, que vem do interior do continente. Esse rio foi de fundamental importância na penetração portuguesa, além de servir de corredor para a comercialização de mercadorias de regiões interioranas como Lunda, Kassanje, Malanje, Lubolo, Matamba, Ambaca, Cazembo e outras. Às margens desse rio, tradicionalmente, se organizavam os sobados, agrupamentos de famílias que respeitavam o chefe de linhagem, que por sua vez prestava obediência ao soba, líder escolhido por conselheiros.

De maneira geral, os sobas serviram como instrumentos de dominação e controle das sociedades africanas pelos europeus. Durante o período colonial, o soba se transformou num vassalo do colonizador, sob a ameaça de receber em seu povoado uma “expedição punitiva”, ou seja, saque e escravização.

Em troca da obediência tinha maior acesso a mercadorias, o que teoricamente aumentava seu poder local.

Na outra face da moeda, nota-se que no séc. XIX, os portugueses dependiam totalmente da lealdade de sobas influentes.

Kabuku Kambilu era um dos maiores sobados da região de Angola, já forte antes da chegada dos portugueses no XVI . O chefe (conhecido como Kabuku Kambilu) era reconhecido pelos demais sobados como a “primeira autoridade”, detentor de poderes mágico-religiosos. A ordem foi desequilibrada quando o grupamento se aliou aos portugueses e, entre 1875 e 1880, adotou uma política de agressão armada aos sobados vizinhos, passando a controlar grande parte do comércio e do tráfico. Com o passar do tempo, entretanto, as desavenças internas e o crescente descontentamento dos portugueses tiraram do Kabuko suas principais fontes de renda: o monopólio da travessia do Rio Lukala e as feiras de Mukoso, Kangongue e Lukala. Mais tarde, fazendeiros brancos de Cazengo expandiam suas propriedades até os limites da área ocupada pelo do povo do Kabuku.

A África Oriental (costa do Índico e Madagascar)[editar | editar código-fonte]

Não foi apenas em Angola que os portugueses agiram. Concomitantemente à exploração do Atlântico, eles alcançaram o continente africano pela costa do oceano Índico encontrando nas cidades costeiras o povo Suaili. O centro do poder português na exploração da África oriental era Goa (costa oeste da Índia). Indianos mantinham relações de comércio com a África Oriental desde o séc. XV.

A presença portuguesa se consolidou na Zambézia no séc. XVI. Foram feitas alianças com alguns chefes locais que receberam armas de fogo em troca de terras em que exploravam aldeias. Mesmo os aliados, no entanto, eram obrigados ao pagamento de impostos (a chamada curva), sob a ameaça de uma repreensão militar (“empata”).

Nessa área o título do líder era monomotapa, que dominava muitos reinos. A ação dos portugueses provocou um desequilíbrio nas forças internas, levando o reino dos Mocarangas a expulsar os Tongas do interior para o litoral, onde eram presas fáceis para os europeus.

Em 1572, desembarcou na Zambézia a expedição de Francisco Barreto com o intuito de dominar as minas de ouro e prata que se julgava estar sob o controle do monomotapa. A expedição penetrou na região e perdeu muitos integrantes. Provocou grande destruição, queimando inclusive as capitais de Teve e Manica.

Como o ouro era pouco para ambição portuguesa, ali se estabeleceu um sistema diferente. Os portugueses construíram pequenos feudos, chamados “prazos”. Sobre eles, sabemos que a herança era passada para a filha do dono, o “prazeiro”, e não para seu filho homem. E que a herdeira era obrigada a casar com um português, de maneira a assegurar a presença de homens portugueses no comando das terras.

No fim do séc. XVII, a população de Chamgamira, em Butua, começou a opor resistência ao domínio português. Mais tarde, no séc. XVIII, a intensificação do comércio e a presença dos “prazeiros” provocaram a insurgência de chefias locais contra a liderança do monomonapa, e em seguida o enfraquecimento do poder africano em geral. Assim, se estabeleceu uma situação de desordem. Tanto os antigos líderes locais como os portugueses perderam poder de influência.

Foi nessa situação que chegaram à região dois novos exploradores: os holandeses (boers), agricultores que estabeleceram grandes fazendas e absorveram parte da cultura local, passando inclusive a falar um misto do idioma holandês com linguagens locais, chamado afrikaner; e os ingleses, financiados pelo empresário Cecil Rhodes, que assumiram o tráfico de escravos. Os aliados locais dos britânicos eram os Ngunis, que dominaram os povos das regiões de Tongas e Carangas depois de muita guerra, negociavam-nos com os negreiros. Outro fenômeno é digno de nota na região nesse período: o aumento da influência árabe, com a difusão do islamismo na região.

A transformação da escravidão na África[editar | editar código-fonte]

Como se viu, no início do séc. XIX havia forte pressão para que o tráfico de escravos africanos promovido por europeus fosse extinto. Esse movimento, ao contrário do que se poderia esperar, não extinguiu a escravidão no continente africano, mas fez nascer o modo de produção escravista dentro da própria África. Diferente, como não poderia deixar de ser, daquele praticado nas colônias americanas, o modo de produção escravista na África foi incorporado de muitas maneiras. Foram introduzidas plantations (principalmente na savana setentrional), além do trabalho em minas na chamada Costa do Ouro (que contava com um estado centralizado capaz de continuar coagindo indivíduos à escravidão).

Ocorre que não havia na África como controlar todo aquele contingente de indivíduos escravizados sem a ajuda dos europeus. Muitos fugiam ou se revoltavam encorajados pela retórica abolicionista de missionários e reformadores – figuras que se tornavam cada vez mais comuns. “A imposição do colonialismo extinguiu a escravidão como um modo de produção e marcou a completa integração da África na órbita do capitalismo”.

Não se deve incorrer no erro, no entanto, de acreditar que um sistema tão arraigado ao longo de séculos na cultura africana pudesse ser simplesmente abandonado e esquecido de um momento para o outro. O que se deu, a princípio, foi a transição do tráfico de escravos para o comércio "legítimo" – um processo repleto de problemas e de implicações. A persistência da prática no Daomé (antigo reino africano localizado na região em que hoje está o Benim) é um exemplo ilustrativo. Apoiado pelo rico e influente traficante de escravos brasileiro Francisco Félix de Souza(Chacha), ocorreu ali um golpe de estado. Em 1818 chegou ao fim o curto e polêmico reinado de Adandozan. Quem assumiu o comando, Guezô, permaneceu no poder por quarenta anos, nos quais incentivou o novo comércio, superando a “crise de adaptação” com sucesso.

Assim como no golfo de Biafra, em Daomé o comércio de escravos e o de azeite de dendê (principal mercadoria do comércio legítimo) se expandiu até a década de 1860. Mas a partir de 1840 o declínio do tráfico já se mostrava iminente.

O legado da escravidão[editar | editar código-fonte]

A venda de indivíduos na condição de escravos organizada por europeus uniu a África e as Américas, da mesma maneira que a escravidão havia atraído povos africanos para a órbita islâmica .

Em termos demográficos, o Brasil foi redesenhado nos três séculos de tráfico de escravos. É claro que a escravidão deixou um legado de inúmeros problemas. O preconceito racial, o desdém pelo estudo da história africana, e até mesmo o desprezo pelo trabalho por aqueles que estão no topo da pirâmide econômica.

Estimulada por novos “preceitos da ciência”, como o darwinismo social, a discriminação racial se acentuou no XIX e mais de um século após a abolição da escravatura, a maior parte das escolas particulares do país ainda têm mais brancos do que negros. São os brancos que alcançam os melhores postos de trabalho e os salários mais elevados. E para agravar a situação, a população negra do Brasil experimentou um processo de assimilação. A miscigenação, que se verificou desde o tempo colonial (e não ocorreu nas regiões americanas colonizadas por ingleses, franceses e espanhóis) se tornou uma forma de ascensão social e inibiu movimentos de afirmação de um povo que sempre foi majoritário no país – e nunca alcançou o poder.

Atualmente, numa iniciativa que visa à redução das distorções históricas, estão sendo estabelecidas cotas para garantir o acesso de todos à educação, à saúde e ao trabalho. São de se ressaltar também a lei 9394, segundo a qual “O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia”, e a lei 10.639, sancionada em 2003 e ainda não implementada, que inclui no currículo oficial dos estabelecimentos de ensino básico das redes pública e privada o estudo obrigatório de História e Cultura Afro-brasileira. Mas não é nossa intenção, nesse momento, aprofundar essas questões.

Na África, o resultado do sistema escravagista foi devastador. Comunidades que antes conviviam pacificamente se militarizaram e travaram guerras infindáveis. Enquanto durou a escravidão, os escravos, assim “produzidos”, eram vendidos em feiras e exportados. Depois, os antagonismos étnicos entre os capturados e os captores se acentuaram, de forma que mesmo após a retirada dos últimos colonizadores, já no final do séc. XX, as guerras continuaram ocorrendo.

Houve mais interferências externas. O empresário inglês Cecil Rhodes, por exemplo, investiu largamente em mineração, e fundou o estado da Rhodésia, depois dividido em Rhodésia do sul e Rhodésia do norte, hoje Zâmbia e Zimbábue. Queria formar um império inglês… Mais tarde, o problema foi agravado, e generalizado, pelo fato de a África ter sido dividida em países artificiais, forjados pela régua dos burocratas da Organização das Nações Unidas (ONU) após a Segunda Guerra Mundial. Sem levar em conta a cultura local, a ONU subjugou ao tacão de líderes não reconhecidos como tal, povos com hábitos, idiomas e economias diversas.

Outras circunstâncias contribuíram para que a África chegasse ao século XXI como o continente mais pobre, injusto e desigual do planeta. Uma delas foi a introdução de mercadorias estrangeiras, ainda no tempo colonial, que provocou a ruína do sistema de produção local. Em Angola o sistema do sobado entrou em decadência com a implantação de plantations. Outros centros comerciais próximos ao Rio Kwanza, como o Dongo, passaram a comercializar borracha, cera, café, amendoim e outros produtos demandados pelos europeus – em detrimento da produção de bens de subsistência essenciais para a população.

O resultado dessa história milenar de exploração e injustiça são as guerras civis e a extrema pobreza em que o continente chafurda até os dias atuais.


Abolição[editar | editar código-fonte]

Os esforços para abolir a escravidão começaram no final do século 18, a França foi um dos primeiros países da Europa a abolir a escravidão, em 1794, mas ela foi reinstituída por Napoleão em 1802, e proibida de vez em 1848. Dinamarca-Noruega foi o primeiro país europeu a proibir o comércio de escravos. Isso aconteceu com um decreto emitido pelo rei, em 1792, que se tornaria plenamente eficaz em 1803. A escravidão em si não foi banida até 1848.[3] Em 1807, o Parlamento britânico aprovou a abolição da Lei de Tráfico de Escravos, em que capitães de navios negreiros poderiam ser rigidamente multados por cada escravo transportado. Esta lei foi mais tarde substituída pelo Ato de Abolição da Escravidão de 1833, que libertou todos os escravos no Império Britânico. A Abolição foi estendida para o resto da Europa. A Lei de 1820 dos EUA sobre tráfico de escravos configurou pirataria o comércio de escravos, punível com a morte. [4] Em 1827, a Grã-Bretanha também declarou o tráfico de escravos como pirataria, punível com a morte. O poder da Marinha Real foi posteriormente utilizada para suprimir o comércio de escravos, e enquanto algum comércio ilegal, principalmente com o Brasil, continuou, o comércio de escravos no Atlântico foi erradicado no ano de 1850 pelo senador Eusébio de Queiroz, Ministro da Justiça do Império do Brasil,com a lei que era chamada de Lei Eusébio de Queiroz. [5] Depois de lutas que duraram décadas no Império do Brasil, a escravidão foi abolida completamente em 1888 pela Princesa Isabel do Brasil e Ministro Rodrigo Silva (Genro do senador Eusébio de Queiroz). O Esquadrão da África Ocidental foi creditado com a captura de 1.600 navios de escravos entre 1808 e 1860, e libertação de 150 mil africanos que estavam a bordo desses navios. [6] Ação também foi tomada contra os líderes africanos que se recusavam a aceitar tratados britânicos para proibir o comércio, por exemplo, contra "O Rei usurpador de Lagos", deposto em 1851. Tratados anti-escravidão foram assinados com mais de 50 governantes africanos.

A continuidade do movimento anti escravocrata se tornou uma desculpa para a consquista Européia e a colonização de grande parte do continente africano. No final do século XIX, a disputa pela África rapidamente dividiu o continente entre as potencias européias, e um foco secundário - ainda que cedo - dos regimes colonialistas foi a repressão da escravidão e do comércio de escravos. Em resposta a essa pressão, a Etiópia aboliu oficialmente a escravidão em 1932. No final do período colonial, aproximadamente, as potências foram na maior parte das vezes bem sucedidas neste ponto, apesar da escravidão ter perdurado por bastante tempo coexistindo com o regime de mão de obra assalariada. Isto, entretanto, não significa que os africanos não tivessem voz neste processo de fim da escravidão, o poder de decisão deles dentro das negociações foi muito importante para que o processo se desenvolvesse.

Nações independentes em processo de ocidentalização às vezes cultivaram a imagem da repressão da escravidão, mesmo que elas, como no caso do Egito, contratassem soldados Europeus como a expedição de Samuel White Baker no Nilo. A erradicação da escravidão na África é uma luta que se extende até muito recentemente, luta que continua a aparecer dentro de alguns Estados como na Etiópia, Mali, Níger e Sudão. Enfim, lugares onde a legislação vem a sofrer algum tipo de deslegitimação por motivo de guerras civis.

Ainda que este tipo de regime de mão de obra seja proibido em quase todos os países atualmente, a escravidão é praticada sigilosamente em algumas partes do mundo. Estima-se que haja 27 milhões de vítimas do regime no mundo. Somente na Mauritânia, em torno de 600.000 homens, mulheres e crianças, ou 20% da população são escravizadas, sendo muitas dessas pessoas usadas para trabalho forçado. A escravidão neste país foi criminalizada em 2007. No caso do Sudão, por volta de 200.000 crianças e mulheres foram escravizadas durante a segunda guerra civil do país. No Níger, onde a prática da escravidão foi proscrita em 2003, um estudo descobriu que quase 8% da população ainda é escrava.

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Slavery in Africa».

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ABREU, Martha, DANTAS, Carolina Vianna, MATTOS, Hebe. “O negro no Brasil: trajetórias e lutas em dez aulas de história”. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
  • LOVEJOY, Paul. "A escravidão na África: uma história de suas transformações." Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
  • M'BOKOLO, Elikia. "África negra: História e civilizações." Lisboa: Vulgata, 2003.
  • MUNANGA, Kabengele. "O negro no Brasil de Hoje" São Paulo: Global, 2006.
  • OLIVER, Roland. "A experiência africana: da pré-história aos dias atuais." Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
  • SALLES, Ricardo Henrique, SOARES, Mariza de Carvalho. “Episódios de história afro-brasileira”. Rio de Janeiro: DP&A/Fase, 2005.

Referências

  1. MUNANGA, Kabengele. "O negro no Brasil de Hoje" São Paulo: Global, 2006.
  2. João de Saldanha Oliveira e Sousa (Marquês de Rio Maior), O Marquês de Pombal e a Repressão Escravatura, Comunicado do Congresso do Mundo Português (1940), Comp. e Imp. na Tipografia Inglêsa, Lisboa, 1943.
  3. "The Historical encyclopedia of world slavery, Volume 1 By Junius P. Rodriguez". Books.google.co.uk. Retrieved 4 December 2011.
  4. Carrell, Toni L. "The U.S. Navy and the Anti-Piracy Patrol in the Caribbean". NOAA. Retrieved 11 January 2010.
  5. A concise history of Brazil. Cambridge University Press. Retrieved 4 June 2011.
  6. Loosemore, Jo (8 July 2008). "Sailing Against Slavery". BBC. Retrieved 12 January 2010.

Ver também[editar | editar código-fonte]