Usuário:JMagalhães/Asma

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Asma é uma doença inflamatória crónica das vias aéreas. Quando as vias aéreas inflamadas são expostas a vários estímulos ou fatores desencadeantes tornam-se hiperreativas e obstruídas, limitando o fluxo de ar através de broncoconstrição, produção de muco e aumento da inflamação. Entre os sintomas mais comuns estão a pieira recorrente, tosse com agravamento noturno, sensação de aperto no peito e dificuldade respiratória recorrente. Pensa-se que a asma tenha origem numa conjugação de fatores genéticos e ambientais. Entre os fatores desencadeantes mais comuns estão os alergénios, como ácaros domésticos, baratas, pólen, pêlo de animais e fungos, e diversos fatores ambientais, como o fumo de tabaco ativo e passivo, a poluição do ar, irritantes químicos, exercício físico e determinados fármacos como a aspirina.

A asma pode ser difícil de diagnosticar. Alguns dos sintomas de asma, como a dispneia aguda, o aperto torácico e a pieira, podem ser provocados por outras doenças. O diagnóstico é geralmente realizado com base no padrão dos sintomas, na comprovação da reversibilidade dos sintomas com broncodilatadores e nos resultados de exames de espirometria. A classificação clínica é feita de acordo com a frequência dos sintomas, do volume expiratório máximo no primeiro segundo e do débito expiratório máximo. A asma pode ser classificada como ligeira, moderada ou grave. As exacerbações ou crises agudas têm carácter episódico, embora a inflamação das vias aéreas seja crónica. As crises podem colocar a vida em risco, embora seja possível preveni-las. A gravidade da doença varia entre as pessoas e pode variar ao longo do tempo na mesma pessoa.

Embora não exista cura para a asma, é possível controlar a frequência e intensidade dos sintomas. A primeira medida é evitar a exposição aos factores desencadeantes. Se não for suficiente, geralmente recomenda-se o uso de medicação, preferencialmente por via inalatória. Existem dois tipos de medicação para o controlo de asma: os medicamentos para alívio rápido dos sintomas e das crises de asma, como os broncodilatadores de curta duração, e os medicamentos de ação preventiva a longo prazo que previnem o aparecimento de sintomas ou de crises, particularmente os anti-inflamatórios. Encontram-se disponíveis vários dispositivos de inalação, como inaladores pressurizados, inaladores de pó seco e nebulizadores. As câmaras expansoras reduzem os efeitos secundários locais dos corticosteroides inalados e facilitam o uso dos inaladores pressurizados, sobretudo por parte de crianças. Em casos graves podem ser necessários corticosteroides intravenosos, sulfato de magnésio ou hospitalização. A doença requer tratamento a longo prazo e para muitas pessoas implica a utilização de medicamentos preventivos para o resto da vida. A ocorrência de asma tem aumentado significativamente desde a década de 1970. Em 2011, foram diagnisticadas com asma entre 235 e 300 milhões de pessoas e a doença foi responsável pela morte de 250 000 pessoas.


Sociedade e cultura[editar | editar código-fonte]

A asma representa um peso substancial nos recursos dos cuidados de saúde em vários países. É provável que o custo económico aumente à medida que a prevalência e gravidade da doença também aumente. Este custo económico da asma deve-se em grande parte à falta de controlo da doença, o que motiva despesas diretas com hospitalizações de emergência e internamentos, e custos económicos indiretos devido ao absentismo do local de trabalho ou da escola. A má gestão da doença faz com que a asma se possa tornar de tal forma grave que leve à reforma antecipada da pessoa. A falta de controlo da asma tem também um impacto socio-económico significativo, não só no paciente como em toda a família, agravando o custo com despesas de saúde e maior mortalidade. A falta de controlo deve-se em grande parte à subtilização da medicação prescrita.[1] É importante que o doente esteja consciente de que a asma não é motivo de vergonha ou embaraço social. Existem atletas olímpicos, dirigentes políticos e celebridades que têm asma e vivem vidas perfeitamente normais.[2]


História[editar | editar código-fonte]

Publicidade a cigarros indianos em 1907, salientando a sua alegada eficácia para o alívio de asma e outros problemas respiratórios.


A asma era já reconhecida enquanto doença no Antigo Egito, onde era tratada com a administração de uma bebida à base de incenso denominada kyfi.[3] O Papiro Ebers prescrevia para o tratamento o aquecimento em fornos de tijolo de mistura de plantas, cujo fumo era inalado.[4] O primeiro registo literário da expressão grega ἅσθμα (ástema ou "ofegante") que está na base do nome atual é atribuído à Ilíada de Homero. Mas seria apenas no Corpus Hippocraticum de Hipócrates que o termo seria pela primeira usado no contexto médico, sendo ainda incerto se o autor considerava a asma a uma entidade clínica distinta ou apenas um sintoma. Hipócrates referiu também que a probabilidade de se observar os espasmos associados à asma era maior entre pescadores, alfaiates e metalúrgicos.[4][5]

Areteu foi um dos primeiros médicos a escrever uma descrição clínica da asma. Galeno descreveu a asma enquanto obstrução dos brônquios, prescrevendo um tratamento com sangue de coruja e vinho.[4]O rabino e filósofo Maimónides, que era também médico na corte do sultão Saladino, escreveu um Tratado da Asma para um dos seus pacientes, o príncipe Al-Afdal. Mainmónides descrevia que os sintomas geralmente tinham início durante o tempo húmido e de forma semelhante à constipação, até que eventualmente o paciente sentia falta de ar e tossia ao ponto de expelir fleuma. Notou também que os meses secos no Egito eram benéficos para os asmáticos.[4]

Na Idade Moderna, o médico, químico e fisiologista belga Jan Baptista van Helmont afirmou que a asma tem origem nos canais dos pulmões. Bernardino Ramazzini, considerado o pai da medicina do desporto, salientou a existência de uma associação entre a asma e o pó orgânico e descreveu a asma induzida pelo exercício.[4] Em 1873, um dos primeiros artigos sobre o tópico na perspetiva da medicina moderna procurou explicar a fisiopatologia da doença. Outro, em 1872, cincluiu que a asma poderia ser curada ao esfregar o peito com linimento de clorofórmio.[6][7] Em 1880, os tratamentos médicos para a asma prescreviam a administração intravenosa de doses de um fármaco denominado pilocarpina.[8][9] Em 1886, foi proposta a relação entre a asma e a febre dos fenos.[10] Em 1905 propôs-se pela primeira vez o uso de epinefrina para o tratamento de asma.[11]

Entre as décadas de 1930 e 1950, a asma era considerada uma das principais sete doenças psicossomáticas, uma abordagem que provavelmente impediu avanços científicos na época. Considerava-se que a sua causa fosse psicológica, e o tratamento baseava-se muitas vezes na psicanálise ou outras terapias conversacionais.[12] Uma vez que estes psicoanalistas interpretavam os sibilos de asma como o choro reprimido de uma criança pela sua mãe, consideravam que o tratamento de depressão seria de especial importância para indivíduos com asma.[4][12]

A asma, enquanto doença inflamatória, só foi plenamente reconhecida por volta do início da década de 1960.[4] Na década de 1950 começaram a ser usados no tratamento corticosteroides orais. Na década seguinte, generelizou-se o uso de corticosteroides inalatórios e agonistas beta seletivos de rápida ação,[13][14] e em 1966 foi introduzido para uso clínico o primeiro inalador pressurizado doseável.[15]


Referências

  1. Barnes PJ1, Jonsson B, Klim JB (abril de 1996). «The costs os asthma». European Respiratory Journal. 4 (9): 636-42 
  2. MBPA 2007, p. 12
  3. Manniche L (1999). Sacred luxuries: fragrance, aromatherapy, and cosmetics in ancient Egypt. [S.l.]: Cornell University Press. pp. 49. ISBN 978-0-8014-3720-5 
  4. a b c d e f g Peter Crosta (Setembro de 2007). «Asthma History - Through The Ages». Consultado em 21 de maio de 2014 
  5. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome M38
  6. Thorowgood JC (Novembro de 1873). «On bronchial asthma». British Medical Journal. 2 (673). 600 páginas. PMC 2294647Acessível livremente. PMID 20747287. doi:10.1136/bmj.2.673.600 
  7. Gaskoin G (Março de 1872). «On the treatment of asthma». British Medical Journal. 1 (587). 339 páginas. PMC 2297349Acessível livremente. PMID 20746575. doi:10.1136/bmj.1.587.339 
  8. Berkart JB (Junho de 1880). «The treatment of asthma». British Medical Journal. 1 (1016): 917–8. PMC 2240555Acessível livremente. PMID 20749537. doi:10.1136/bmj.1.1016.917 
  9. Berkart JB (Junho de 1880). «The treatment of asthma». British Medical Journal. 1 (1017): 960–2. PMC 2240530Acessível livremente. PMID 20749546. doi:10.1136/bmj.1.1017.960 
  10. Bosworth FH (1886). «Hay fever, asthma, and allied affections». Transactions of the Annual Meeting of the American Climatological Association. 2: 151–70. PMC 2526599Acessível livremente. PMID 21407325 
  11. Doig RL (Fevereiro de 1905). «Epinephrin; especially in asthma». California State Journal of Medicine. 3 (2): 54–5. PMC 1650334Acessível livremente. PMID 18733372 
  12. a b Opolski M, Wilson I (Setembro de 2005). «Asthma and depression: a pragmatic review of the literature and recommendations for future research». Clin Pract Epidemol Ment Health. 1: 18. PMC 1253523Acessível livremente. PMID 16185365. doi:10.1186/1745-0179-1-18 
  13. von Mutius, E; Drazen, JM (1 de março de 2012). «A patient with asthma seeks medical advice in 1828, 1928, and 2012». New England Journal of Medicine. 366 (9): 827–34. PMID 22375974. doi:10.1056/NEJMra1102783 
  14. Crompton G (Dezembro de 2006). «A brief history of inhaled asthma therapy over the last fifty years». Primary care respiratory journal : journal of the General Practice Airways Group. 15 (6): 326–31. PMID 17092772. doi:10.1016/j.pcrj.2006.09.002 
  15. Crompton G. (2006). «A brief history of inhaled asthma therapy over the last fifty years.». Prim Care Respir J. 6 (15): 326-331. doi:j.pcrj.2006.09.002 Verifique |doi= (ajuda)