Valeriana officinalis

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Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Ordem: Dipsacales
Família: Caprifoleaceae
Género: Valeriana
Espécie: V. officinalis
Nome binomial
Valeriana officinalis
L.

Valeriana (Valeriana officinalis, Caprifoliaceae) é uma planta perene com flor, com racemos de flores brancas ou rosadas com odor doce que florescem nos meses de verão. O gênero Valeriana é o que possui mais variedades na família, encontra-se amplamente distribuído nas zonas temperadas do hemisfério norte, África e América do Sul [1]

A Valeriana officinalis é nativa da Europa e de partes da Ásia, a valeriana foi introduzida na América do Norte. É consumida como alimento por larvas de algumas espécies de lepidópteros (borboletas e traças) incluindo Eupithecia subfuscata.

Planta com ampla sinonímia popular, desde acréscimos descritivos tipo: valeriana-comum, valeriana-menor, valeriana-selvagem, valeriana-silvestre, a nomes atribuindo propriedades mítico folclóricas como: erva-de-amassar, erva de São Jorge, erva dos gatos (hierba de los gatos na Espanha e herbe aux chats na França) [2]

No século XVI era usada como perfume. A valeriana, em farmacoterapia e em medicina fitoterápica, é nome de um medicamento preparado a partir das raízes desta planta, as quais, após um processo de maceração, trituração, dessecação, são convenientemente acondicionadas, usualmente em cápsulas, e passam a ser utilizadas com supostos efeitos ansiolíticos, tranquilizantes e até anticonvulsivantes.[3] [4] [5]

O aminoácido valina foi assim denominado a partir do nome desta planta. [6]

História[editar | editar código-fonte]

A valeriana é usada como planta medicinal pelo menos desde o tempo dos antigos gregos e romanos. Hipócrates descreveu as suas propriedades, e mais tarde Galeno receitou-a como remédio para a insónia. Na Suécia medieval, era por vezes colocada nas roupas de casamento do noivo para afastar a inveja dos duendes.[7] A valeriana pode também ser consumida como chá. No Irã também é fumada e injetada como fins recreativos.

No século 16, o reformador anabatista Pilgram Marpeck prescreveu chá de valeriana para uma mulher doente. [4]

O livro "The Herball or Generall Historie of Plantes", de John Gerard (1545-1611), afirma que seus contemporâneos consideraram a Valeriana "excelente para aqueles sobrecarregados e que sofrem com convulsões e também para aqueles que estão machucados por quedas". Ele diz que a raiz seca foi avaliada como remédio pelos pobres no norte da Inglaterra e no sul da Escócia, de modo que "nenhum caldo ou caldo de carne ou carnes físicas vale alguma coisa se Setewale [Valeriana] não estiver lá".

O botânico do século XVII, Nicholas Culpeper, pensou que a planta estava "sob a influência de Mercúrio e, portanto, possui uma faculdade de aquecimento". Ele recomendou ervas e raízes, e disse que "a raiz fervida com alcaçuz, passas e anis é boa para aqueles que sofrem de tosse. Além disso, é de valor especial contra a praga, pois a decocção pode ser bebida e a raiz cheirada." A erva verde sendo machucada e aplicada à cabeça tira a dor e o formigamento."

Na medicina medicina tradicional chinesa, o rizoma da Valeriana officinalis 缬草 (jie cao) tem propriedades: picante, amarga e amornante com ação sobre os meridianos do fígado, coração e baço promovendo a circulação do Qi (Ch'i "氣") e acalmando a mente. [8] Segundo o verbete chinês desta planta, a valeriana 纈草, além do efeito sobre os órgãos citados, tem os efeitos de nutrir o coração, dispersar o (excesso) qi, promover a circulação sanguínea e aliviar a dor. O seu efeito calmante, também pode ser usado para tratar inquietação, palpitações e agitação em sonhos.

Extrato de valeriana[editar | editar código-fonte]

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Os componentes ativos do extrato de valeriana são:

Pelos seus benefícios bastante comprovados e por não induzir dependência química medicamentosa, tem sido freqüentemente indicado como medicamento de transição na descontinuação de fármacos da medicina alopática, como, por exemplo, bromazepam, clonazepam, diazepam, entre outros. [10]

Apesar de fitoterápico, altas doses de valeriana podem podem provocar agitação, cefaléia, dispepsias, alterações na audição e visão, excitação, delírio, reações cutâneas, alucinações, torpor, convulsões e em casos extremos morte por parada respiratória; o uso contínuo pode induzir ao chamado "valerianismo", uma instabilidade emocional característica.[11]

Aplicações farmacológicas[editar | editar código-fonte]

A Valeriana officinalis é uma planta herbácea e tem como principais características taxonômicas ser perene, ereta, com rizomas rastejantes que exalam mau cheiro, raízes pouco carnudas, caules ocos, folhas compostas e pequenas flores brancas ou rosadas dispostas em conjuntos terminais de topo achatado.

Essa planta tem propriedades terapêuticas, conhecidas desde o Renascimento, e é usada principalmente como sedativo moderado, como agente promotor do sono, no tratamento de distúrbios do sono associados à ansiedade e no tratamento de convulsões. Ela atua no Sistema Nervoso Central (SNC) exercendo um leve efeito calmante, auxiliando também a regularização dos distúrbios do sono. Os principais componentes da planta utilizados no uso terapêutico são o rizoma e a raiz.

Afirma-se que a valeriana é uma planta de sabor pouco amargo e apresenta propriedades sedativas, hipnóticas, antiespasmódicas, carminativas e hipotensoras e, por isso, também possui uso popular, do próprio fitoterápico. Ela é usada tradicionalmente como chá calmante em estados histéricos, excitabilidade, insônia, hipocondria, enxaqueca, cólica, cólica intestinal, dores reumáticas, dismenorreia e, especificamente, para condições que apresentam excitação nervosa.

Como fármaco é utilizada principalmente em comprimidos de 100mg absorvido por via oral, na dose de 2 a 3 comprimidos revestidos uma a três vezes ao dia. Como promotor de sono, a menos que haja orientação médica contrária, o medicamento é tomado de 30 minutos a 2 horas antes de dormir. Os principais medicamentos feitos e a partir da Valeriana officinalis são: Valerimed, Valyanne, Valeriana, encontrados em farmácias e drogarias.

Os medicamentos à base de Valeriana officinalis possuem alguns efeitos adversos. Os principais relatados foram raros e leves, mas incluiu tontura, indisposição gastrintestinal, alergias de contato, dor de cabeça e midríase (dilatação da pupila). Com o uso em longo prazo, os seguintes sintomas podem ocorrer: dor de cabeça, cansaço, insônia, midríase e desordens cardíacas.

A Valeriana officinalis tem como um de seus principais compostos ativos o ácido valérico. Esse composto é um ácido carboxílico de cadeia alifática saturada com fórmula molecular CH3(CH2)3COOH. Assim como outros ácidos carboxílicos de baixo peso molecular, esse composto possui um odor desagradável penetrante, concedendo-o à Valeriana officinalis. É usado principalmente na síntese de ésteres, como valeratos (sua base conjugada) ou pentanoatos e é extraído do rizoma e raiz da planta por fervura com água ou hidróxido de sódio em solução. Ao contrário do ácido livre, os ésteres voláteis do ácido valérico tendem a possuir um odor agradável e, por isso, tem aplicação em perfumes e em outros cosméticos. Além disso, possuem aplicação na indústria alimentar. O valerato de etilo e o valerato de pentanilo são usados como aditivos devido ao seu aroma frutado. O ácido valérico, ou ácido pentanóico, segundo a nomenclatura da IUPAC, é um líquido incolor com massa molar de 102,133 g mol-1, densidade de 0,93 e valor de pKa de 4,82. Tem ponto de fusão de -34,5 ºC e ponto de ebulição de 186-187 ºC. É solúvel em álcoois e solventes oxigenados e ligeiramente solúvel em água (4,97 g / 100 mL) e em tetracloreto de carbono (CCl4).

O ácido valérico utilizado como fármaco tem efeito hipnótico e sedativo, uma vez que o principal mecanismo de ação é o bloqueio das descargas dos neurônios, diminuindo a condutância dos canais de sódio. Em crises epiléticas, em que os neurônios se descarregam prolongada e repetidamente, o ácido valérico tem esse efeito bloqueador, também servindo como fármaco antiepilético. Desse modo, ele basicamente inibe o Sistema Nervoso Central, diminuindo a atividade elétrica e as chances de crises convulsivas. Em detalhes, o seu mecanismo de ação consiste no aumento da neurotransmissão GABAérgica, através da intensificação da síntese e liberação do GABA ao atuar nos receptores GABAA, por meio da ativação da enzima glutâmica descarboxilase e da inibição das enzimas que degradam o GABA (por exemplo, GABA-amino transferase e succinato semi-aldeído desidrogenase). Esse mecanismo é capaz de reduzir a neurotransmissão glutamatérgica por meio do bloqueio dos receptores NMDA, ao inibir a proteinoquinase C, correlacionando-se com a atividade anticonvulsivante do ácido valérico.

Na Valeriana officinalis, o ácido valérico, por ser um ácido carboxílico, aumenta a pressão osmótica da planta, aumentando o fluxo de água e o transporte de nutrientes, como os açúcares, aos órgãos vegetais que o precisem.

Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. KUTSCHKER, ADRIANA. Revisión del género Valeriana (Valerianaceae) en Sudamérica austral. Gayana Bot., Concepción , v. 68, n. 2, p. 244-296, 2011 . Disponible en <https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0717-66432011000200016&lng=es&nrm=iso>. accedido en 26 enero 2020. http://dx.doi.org/10.4067/S0717-66432011000200016.
  2. SIGRIST, Sergio. Valeriana. Portal de Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares PPMAC Aces. Jan. 2020
  3. Bent S, Padula A, Moore D, Patterson M, Mehling W. Valerian for sleep: a systematic review and meta-analysis. Am J Med. 2006;119(12):1005–1012. doi:10.1016/j.amjmed.2006.02.026
  4. HATTESOHL, M; FEISTEL, B; SIEVERS, H; LEHNFELD, R; HEGGER, M; WINTERHOFF, H. Extracts of Valeriana officinalis L. s.l. show anxiolytic and antidepressant effects but neither sedative nor myorelaxant properties. Phytomedicine. 2008 Jan;15(1-2):2-15. Abstract NCBI Aces.30.8.2019
  5. Rezvani ME; Roohbakhsh A; Allahtavakoli M, Shamsizadeh A.Anticonvulsant effect of aqueous extract of Valeriana officinalis in amygdala-kindled rats: Possible involvement of adenosine. Journal of Ethnopharmacology. Volume 127, Issue 2, 3 February 2010, Pages 313-318 Abstract Ace, Auhg. 2019
  6. “Valine.” The Merriam-Webster.com Dictionary, Merriam-Webster Inc., https://www.merriam-webster.com/dictionary/valine. Accessed 26 January 2020.
  7. Thorpe, Benjamin; Northern Mythology, Vol. 2, pp. 64-65
  8. BOTSARIS, Alexandros S. Fitoterapia Chinesa e Plantas Brasileiras.SP: E. Ícone, 1995 p.381
  9. Torssell K, Wahlberg K. Isolation, structure and synthesis of alkaloids from Valeriana officinalis L. Acta Chem Scand. 1967;21(1):53-62.
  10. Patocka, Jiri & Jakl, Jiří. (2010). Biomedically relevant chemical constituents of Valeriana officinalis. Journal of Applied Biomedicine. 8. 11-18. 10.2478/v10136-009-0002-z.
  11. Valeriana, Valeriana officialis.

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WYK, Ben-Erik van & WINK Michael “MEDICINAL PLANTS OF THE WORLD”, Timber Press, Portland, Oregon/U.S.A. 2004.

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