Veredas

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Veredas
Portugal Portugal
1977 •  cor •  121 min 
Direção João César Monteiro
Produção Instituto Português de Cinema
Distribuição V.O. Filmes
Lançamento 19 de maio de 1978

Veredas (1977) é um filme português de João César Monteiro que se caracteriza por ser a primeira obra de ficção a explorar em Portugal o tema dos contos tradicionais populares, experiência cinematográfica sui generis na prática da antropologia visual, bem mais presente no documentário.

O filme estreou em Lisboa, no cinema Quarteto, a 19 de Maio de 1978.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

«História da Branca-Flor - a partir de lendas e figuras da mitologia popular. Raízes dum itinerário pelas origens naturais e paisagísticas, até ao coração de Portugal. Os valores (água, nascimento, roda-da-vida), as figurações (o diabo, os lobos) e as referências (o senhor, a servidão), com um estigma de justiça inadiável» (Cit.: José de Matos-Cruz em Cais do Olhar, ed. Cinemateca Portuguesa, 1999).

«Um filme com um enredo muito pouco convencional. Uma espécie de viagem poética por alguns mitos e lendas portugueses. De acordo com a crítica é "uma cartografia cinematográfica de Portugal". Um homem e uma mulher vêm de Trás-os-Montes para o litoral e durante a viagem deparam-se com lendas e rochedos, províncias e obstáculos diferentes» (Cit.: ficha do produtor).

Enquadramento histórico[editar | editar código-fonte]

Veredas é a primeira de duas obras de João César Monteiro baseadas em textos inspirados na tradição oral portuguesa, sendo Silvestre (1982) a segunda. Adaptações livres de textos literários que exploram essa tradição, integrando neste caso elementos próprios do imaginário do autor, são expressão de uma tendência típica do cinema português dominante no documentário, a partir do início dos anos sessenta (António Campos), tendência que se desenvolve nos anos setenta : a devoção antropológica de cineastas como Manuel Costa e Silva, António Reis e Margarida Cordeiro, Ricardo Costa ou Noémia Delgado por realidades culturais e sociais arcaicas, mal conhecidas, típicas de regiões mais isoladas e com tradições bem preservadas. Monteiro e Noémia Delgado são os cineastas que, na ficção, exploram essas tradições (Ver: Novo Cinema).

Veredas será também o primeiro filme em que João César Monteiro, metendo-se na pele de uma das personagens, pela primeira vez protagoniza, não sem disso tirar algum prazer, o seu alter-ego : é frade e chefe de salteadores. Caracteriza-se esse seu gosto pelo protagonismo por extrapolar três ângulos de um triângulo : no topo, um pólo mágico, histórias fantásticas da Idade Média e da tradição oral portuguesa. Noutra ponta, intencional ou não, o desalinho narrativo, em estilo de brincadeira, e, com ela na base do triângulo, frade e malfeitor, protagonizando o Bem e o Mal, o personagem representado pelo João. Torna-se a questão quadrada quando no triângulo outro ângulo se encaixa, para dar mais pé à coisa : um estilo teatral, escala aberta, planos fixos, palavrosos, que muito boa crítica, em relação a este e aos futuros filmes, não despeitará.

Apreciando os comentários, em breve reincidirá o artista, não apenas como personagem notório mas como protagonista. O João - personagem dos filmes de João César Monteiro - surgirá de novo em versões diferentes de um ego que se exibirá em contextos bem mais realistas : Recordações da Casa Amarela, A Comédia de Deus (1995), Le Bassin de John Wayne (1997), As Bodas de Deus (1999) e, por fim, como num sarcástico adeus, Vai e Vem (2003)

Ficha artística[editar | editar código-fonte]

  • Branca Flor – Cármen Duarte
  • Contador de Histórias – Francisco Domingues
  • Padre – Luís de Sousa Costa
  • Diabo – Virgílio Branco
  • Jovem mulher e esposa do diabo – Margarida Gil
  • Frade e chefe dos salteadores – João César Monteiro
  • Viajante e pastor – António Mendes
  • Salteadores – José Pequeno e Fernando Araújo
  • Jovem criatura dos olmos e das águas - Leonor Seixas
  • Filhas do diabo – Sílvia Ferreira
  • Atena – Manuela de Freitas
  • Senhor das Terras – João Guedes
  • Mulher do Senhor – Madalena Barbosa
  • Mulher que grada a terra – Adília Martins
  • Mulher que embala a criança – Ifigénia de Carvalho
  • Corifeu – Minervina Chapanito
  • Miúdo que se banha – Pedro Ferreira
  • Homem da nora – Manuel Rocha
  • Filha mais velha – Alexandra Barbosa
  • Cocheiro – João Ravasqueira
  • Filho mais velho – António Matos
  • Pastora – Delfina Ferreirinho
  • Pastores – Sérgio da Feilz e António Dias
  • Comandante da GNR – José Bizarro

Ficha técnica[editar | editar código-fonte]

  • Realizador – João César Monteiro
  • Assistente de realização – Margarida Gil
  • Director de produção – Henrique Espírito Santo
  • Assistente de produção – Carlos Mena
  • Fotografia – Acácio de Almeida
  • Assistente de imagem – Octávio Espírito Santo
  • Efeitos especiais – Luís de Castro
  • Iluminação – Emílio Castro (chefe), Carlos Alberto e Carlos Fernandes
  • Maquinistas – Vasco Sequeira e Francisco Branco
  • Adereços – Teresa Caldas
  • Figurinos – João Vieira e João César Monteiro
  • Guarda-roupa – Anahory
  • Director de som – João Diogo
  • Operador de som – José de Carvalho
  • Assistentes de som – Filipe Gonçalves e Mário Luís
  • Locução – Margarida Gil, Helena Domingos e João César Monteiro
  • Músicas – Música instrumental da Idade Média, 7ª Sinfonia de Anton Bruckner, música popular de Trás-os-Montes e Alto Douro
  • Montagem – João César Monteiro
  • Formato – 35 mm cor 35mm
  • Duração – 121’
  • Laboratório de imagem : Tóbis Portuguesa
  • Laboratórios de som : Valentim de Carvalho e Exa Film (Madrid)
  • Ante-estreia – Cinema Quarteto, Lisboa, a 2 de Maio de 1978
  • Estreia – Cinema Quarteto, Lisboa, a 19 de Maio de 1978

Festivais e projecções especiais[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]