Ussangue

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Mapa mostrando as províncias tibetanas de Ussangue (com Ngari), Kham e Amdo
Ussangue
Nome chinês
Chinês tradicional: 烏思藏
Chinês simplificado: 乌思藏
Em tibetano
Tibetano: དབུས་གཙང་

Ussangue,[1] Uçangue[2] ou Utsangue[3] (em tibetano: དབུས་གཙང་།; Wylie; dbus gtsang, também escrito modernamente Ü-Tsang) é uma das três regiões tibetanas, sendo as outras Amdo no nordeste e Kham no leste. Ngari (incluindo o antigo reino Guge) no noroeste foi incorporado ao Ussangue. Geograficamente, Ussangue cobria o centro-sul da área cultural tibetana, incluindo a bacia hidrográfica do rio Bramaputra. Os distritos ocidentais que circundam e se estendem além do Monte Kailash estão incluídos em Ngari e em grande parte do vasto planalto de Changtang ao norte. O Himalaia definiu a fronteira sul de Ussangue. A atual Região Autônoma do Tibete corresponde aproximadamente ao que era o antigo Ussangue e Kham ocidental.[carece de fontes?]

Ussangue foi formado pela fusão de dois centros de poder anteriores: Ü (em tibetano: Wylie: dbus) no Tibete central, controlado pela linhagem guelupa do budismo tibetano sob os primeiros Dalai Lamas, e Tsang (em tibetano: Wylie: gtsang) que se estendia de Gyantse até pontos a oeste, controlados pela linhagem rival Sakya. As vitórias militares do poderoso khoshut mongol Güshi Khan, que apoiou o 5º Dalai Lama e fundou o governo Ganden Phodrang em 1642, consolidaram o poder sobre a região combinada, seguidas pelo governo da Dinastia Qing iniciado em 1720 pelo Imperador Qianlong que continuou até a expedição britânica para o Tibete (1903–1904).[4][5]

O reino foi mencionado pelo jesuíta António de Andrade, o primeiro europeu a visitar o Tibete. Por volta de 1627 e 1628, outro jesuíta, João Cabral, bem como Estêvão de Cacela, realizaram missões religiosas em Ussangue e fizeram descrições em cartas. Lá, Cabral foi recebido na sede da corte do reino, Shigatsé, e chega a afirmar que seu rei havia reconhecido em um documento a Lei do cristianismo como "melhor de todas, e é bom que todos aprendam para a salvação de suas almas".[1]

Ussangue é o coração cultural do povo tibetano, originalmente governado pela dinastia Rinpungpa. A dinastia Tsangpa governou a parte Tsang entre 1565 e 1642. A disputa entre os reis de Tsang, Karma Tenkyong Wangpo, seguidores do carmapa, e os cãs khoshut, Güshi Khan, seguidor do guelupa e do Dalai Lama, terminou com o domínio do Tibete dos palácios Potala e Norbulingka em Lhasa por este último. Jokhang, um templo budista tibetano, está localizado lá. O dialeto lhasa é usado como língua franca em Ussangue e a língua koiné do exílio tibetano também se baseia amplamente nele.[carece de fontes?]

Frente e fundo do Tibete[editar | editar código-fonte]

Tsang, cujas maiores cidades são Gyantse e Shigatse, perto de onde o Panchen Lama tem a sua sede tradicional no Mosteiro de Tashilhunpo, foi designada nos mapas da dinastia Qing como "Tibete posterior", enquanto Ü, onde o Dalai Lama tem a sua sede em Lhasa, foi designada "Tibete frontal". Esta divisão foi uma construção artificial dos chineses e não era corrente no Tibete, onde o Dalai Lama exercia um governo efetivo sobre Tsang e Ü. Uma tentativa foi feita no século XVIII, durante o reinado do imperador Yongzheng, de dividir o Tibete, oferecendo ao Panchen Lama o domínio sobre Tsang, mas a oferta expansiva foi recusada, o Panchen Lama aceitando apenas uma pequena porção do território oferecido.[6] Tentativas posteriores, durante o período de 1906-1913 e em 1950, do Panchen Lama de ressuscitar um Tibete posterior separado sobre o qual ele teria domínio foram rejeitadas pelo Kashag.[7]

Referências

  1. a b Cruz, Bruna Dutra de Oliveira Soalheiro (2009). A Missão Tibetana na Correspondência Jesuíta. São Paulo: Universidade de São Paulo.
  2. Cabral, João (1628). Relação da Missão do Reino de Uçangue, cabeça dos do Potente, escrita pelo Padre João Cabral da Companhia de Jesus. In: Didier, Hughes (2000). Os portugueses no Tibet. Os primeiros relatos dos jesuítas (1624-1635). Lisboa: Comissão Nacional para Comemoração dos Descobrimentos Portugueses.
  3. Didier, Hughes (2000). Os portugueses no Tibet. Os primeiros relatos dos jesuítas (1624-1635). Lisboa: Comissão Nacional para Comemoração dos Descobrimentos Portugueses.
  4. Goldstein, Melvyn (1997). The Snow Lion and the Dragon: China, Tibet, and the Dalai Lama. [S.l.]: Berkeley: U of California. ISBN 9780520212541 
  5. Annand, Dibyesh (fevereiro de 2009). «Strategic Hypocrisy: The British Imperial Scripting of Tibet's Geopolitical Identity» (PDF). The Journal of Asian Studies. 68: 227–252. doi:10.1017/s0021911809000011 – via WestminsterResearch 
  6. Goldstein, Melvyn C. (2007). A history of modern Tibet, Volume 2: The Calm before the Storm: 1951–1955. [S.l.]: University of California Press. ISBN 978-0-520-24941-7 
  7. Goldstein, Melvyn C. (2007). A history of modern Tibet, Volume 2: The Calm before the Storm: 1951–1955. [S.l.]: University of California Press. pp. 266–267; 277–286. ISBN 978-0-520-24941-7