Almançor

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Estátua de Almançor em Algeciras

Abu Amir Muhammad ibn Abdullah ibn Abi Amir, al-Hajib al-Mansur (em árabe: أبو عامر محمد بن عبد الله بن أبي عامر الحاجب المنصور mais conhecido como Almançor (c.938, numa família árabe da área de Algeciras — 8 de agosto de 1002) foi o governador do al-Andalus (designação em árabe da península Ibérica) no final do século X e início do século XI. A tradução aproximada do seu nome é "Fiel Amir Muhammad, o Escravo de Deus e familiares". O seu governo marcou o auge do império omíada na península Ibérica.

Almançor, caudilho do al-Andalus

A sua política demagógica e populacional[necessário esclarecer] permitiu-lhe dispor de novos apoios e protagonizar um autêntico golpe de Estado. Em 978 expulsou al-Mushafi e converteu-se no hájibe. No ano seguinte salvou o príncipe de uma conspiração e, desde esse instante começou a surgir como salvador da dinastia e protetor do califa. Com este título trasladou o governo da Medina Azahara para a Medina Alzahira, sua residência pessoal, cuja construção teve início em 979 e durou dois anos. Em 994, o jovem califa delegou-lhe os seus poderes. Esta política recebeu forte oposição do seu sogro Galib, se bem que este terá sido derrotado e morto na batalha de Torre Vicente, perto de Atienza. Não obstante o seu parentesco, Almançor não hesitou em acabar com o prestigioso militar, que constituía um entrave na sua escalada para o poder, e enviar a cabeça do sogro à sua esposa, Asma.

Muhammad ibn Abū ʿĀmir adoptou então o título honorífico (laqb) de al-Manṣūr e deu início ao seu reinado como verdadeiro dono e senhor do al-Andalus. A não adopção do epíteto bi-l-llāh, que inclui a palavra Alá, terá sido por prudência, para evitar atribuir-se um nome honorífico próprio dos califas.

Depois de afastar do poder Subh, a favorita do califa Al-Hakam II, Almançor mandou executar vários dignitários que se lhe opunham, como Dja'far ibn Hamdun (983), al-Mughira (984), o seu próprio primo Askaladja ou inclusivamente Ibn al-Rumahis, o almirante da frota do califado. Outra característica da sua política interna foi o aumento da presença de contingentes estrangeiros no exército, política esta que teria sido iniciada por Abderramão III após a derrota de Simancas (939). Dessa forma, instalou contingentes de berberes Sanhaja próximo a Medina Elvira (Granada), Magrava (na região montanhosa de Córdova) e os Banu Birzal e Banu Ifram na região de Xaém. Esta política tinha como objetivo afastar os opositores árabes do exército e permitir a Almançor rodear-se de guerreiros fiéis apenas a si, e odiados pela população local, o que os impedia de atraiçoá-lo.

As campanhas no Magrebe

Almançor deu continuidade no Magrebe à política omíada, com a intenção de controlar as saídas das rotas comerciais no deserto, por onde chegavam os escravos e o ouro. Nunca interveio pessoalmente e preferiu apoiar-se nas tribos berberes Zanatas, em particular nos Banu Magrava, Banu Ifram e Banu Micnasa. Esta medida permitiu-lhe contrabalançar a influência dos fatímidas que, depois de se trasladarem para o Egipto, tinham deixado estas regiões sob domínio dos Ziridas. A estratégia começou com a fortificação das cidades costeiras, como Ceuta, e com a construção de uma grande cidadela em Belyounesh. Em 980 as tribos Zanata apoderaram-se da cidade de Sijilmassa, onde se fundou um principado pró-andaluz governado por Khazrun ibn Falful. Os Ziridas não tardaram em reagir e, depois de atacar Ceuta em 980, em 991 infligiram uma grande derrota nas tropas cordovesas.

Em 994 fundaram em seu proveito um pequeno principado sediado em Oujda, que rapidamente se aliou com Almançor para desagregar-se da tutela fatímida. Quando se sublevaram contra Córdova, em 997, Almançor enviou um exército comandado pelo seu filho Abd al-Malik al-Muzaffar, que controlou os rebeldes em menos de um ano.

Razias contra os cristãos

Campanhas militares de Almançor. A verde escuro, os territórios fustigados pelo militar árabe. O mapa mostra as diferentes investidas de Almançor e as datas em que foram levadas a cabo.

O controlo sobre o ouro africano permitiu a Almançor contar com fundos quase ilimitados e cunhar dinares que reafirmavam o seu prestígio. Paralelamente às campanhas no Magrebe, Almançor empenhou-se na guerra contra os reinos cristãos ibéricos. Entre 978 e 1001 foram realizadas por Almançor pelo menos 52 razias:

No Verão de 997, assolou Santiago de Compostela, depois da evacuação da cidade pelo bispo Pedro de Mezonzo.[1] Mandou queimar o templo pré-românico dedicado a Santiago Maior, respeitando o seu sepulcro, o que permitiu a continuidade dos Caminhos de Santiago. Existe uma lenda que narra que os prisioneiros cristãos carregaram com os sinos do templo de Santiago até Córdova e que, segundo parece, o caminho inverso foi feito dois séculos e meio mais tarde por prisioneiros muçulmanos, quando Fernando III, o Santo as recuperou para a cristandade.

Perdeu a vida devido às feridas sofridas na batalha de Calatañazor (julho de 1002), morrendo aos 73 anos. Desconhece-se o lugar exacto do óbito, já que os seus dados biográficos se diluem entre o histórico e o lendário. As hipóteses apontam para MedinaceliMadinat al-Salim. A Crónica Silense sentencia:

Antes de morrer nomeou o seu filho Abd al-Malik al-Muzaffar como sucessor, o que gerou uma guerra interna entre os sucessores de Hisham II e os de Almançor.

O seu corpo foi coberto com o lençol que as filhas teceram com as suas próprias mãos, e cuja matéria prima procedia da quinta herdada dos seus antepassados em Torrox. Sobre os seus restos colocaram ladrilho fabricado com o pó que, depois de cada batalha contra os cristãos, os seus servos lhe retiravam das roupas. O cadáver, assim disposto, recebeu primeira sepultura na fronteira, antes de ser trasladado para Córdova. Segundo o historiador árabe Ibn Idari, foram esculpidos em mármore os seguintes versos, em forma de epitáfio:

Descendência

  • Abd al-Malik al-Muzaffar (975–1008), sucessor do pai como chefe político do al-Andalus entre 1002 e 1008, durante o califado de Hisham II.

Almançor casou com Urraca Sanchez de Pamplona (960–?), Abda, filha de Sancho Garcês II 6º rei de Pamplona e de Urraca Fernandes de Castela, de quem teve um filho, Abderramão Sanchuelo (983–1009).

Referências

  1. Vaqueiro, Vítor (1998), Guía da Galiza máxica, mítica e lendaria, ISBN 9788482882055 (em galego), Galaxia, consultado em 27 de novembro de 2013 


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