Batalha dos Campos Antigos

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Batalha dos Campos Antigos
Localização da batalha
Segunda Guerra Púnica
Data 212 a.C.
Local "Campos Antigos", Lucânia[a]
Desfecho Vitória cartaginesa
Beligerantes
República Romana República Romana Cartago Cartago
Comandantes
República Romana Tibério Semprônio Graco  Cartago Magão, o Samnita
Forças
Destacamentos da cavalaria e da infantaria ligeira

A Batalha dos Campos Antigos foi uma batalha travada em 212 a.C. entre o exército cartaginês, conduzido por Magão, o Samnita, e o exército romano, conduzido pelo procônsul Tibério Semprônio Graco, que perdeu a vida quando os romanos foram completamente derrotados.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Depois de anos de luta no sul da Itália, em 212 a.C., enquanto Aníbal estava cercando Taranto, os dois cônsules, Quinto Fúlvio Flaco e Ápio Cláudio Pulcro[2] estavam acampados nas imediações de Boviano[3]. O cônsul Fúlvio Flaco foi encarregado de invadir a Campânia, pois sabia-se que Hanão, o Velho, vinha marchando para Cápua com uma parte do exército recolhendo suprimentos para a cidade e que 2 000 carroças estavam estacionadas perto de Benevento. Esta caravana era um bando desordenado de camponeses e escravos e havia criado uma enorme confusão no interior do acampamento cartaginês[4]. A batalha que se seguiu, logo depois do ataque romano, resultou pesada derrota cartaginesa[5]. Destruído o acampamento inimigo, o exército romano foi a Benevento e vendeu o butim amealhado, dividindo os ganho entre os soldados de ambos os exércitos consulares. Hanão, por outro lado, retornou para Brúcio de forma "mais parecida com a de alguém que foge do que com a de alguém que marcha"[6].

Os campânios, sabendo da notícia da derrota cartaginesa, enviaram embaixadores a Aníbal para informá-lo que os dois cônsules estavam em Benevento, a apenas um dia de marcha de Cápua[7]. Aníbal decidiu enviar imediatamente 2 000 cavaleiros para impedir que os romanos saqueassem o território capuano[8]. Em paralelo, os dois cônsules seguiram com seus exércitos para cercar Cápua. Para evitar que a cidade de Benevento ficasse indefesa, ordenaram que Tibério Semprônio Graco ficasse na cidade com um destacamento da cavalaria e um outro de infantaria ligeira, entregando a um outro comandante suas legiões, que foram enviadas para ocupar a Lucânia[9].

Conta-se que um certo Flavo Lucano, à frente da facção favorável aos romanos, mudou de lado para cair nas graças de Aníbal e traiu o Semprônio Graco. Obteve, desta forma, uma promessa por parte dos cartagineses que, se ele lhes entregasse o procônsul romano, os lucanos receberiam amigavelmente seus próprios rebanhos. Flávio então indicou para Aníbal o lugar ideal para realizar uma emboscada, cujo comando foi entregue a Magão, o Samnita, que, uma vez escondida uma grande quantidade de cavaleiros e soldados, deu início ao plano[10].

Flavo foi até Semprônio Graco e o informou que precisava realizar uma missão tão importante que era necessária a presença do próprio procônsul. Ele teria convencido todos os pretores que haviam passado para o lado de Aníbal a voltarem para o lado romano, prometendo que Roma seria clemente e os perdoaria. Era necessário, porém, que o próprio Graco estivesse presente na ocasião como representante máximo de Roma[11]. Como Graco não suspeitava de nada, deixou o acampamento romano em companhia de seus lictores, de uma turma de cavalaria e seu guia[12].

Batalha[editar | editar código-fonte]

Semprônio Graco caiu na emboscada. Os inimigos se revelaram subitamente e Flavo passou para o lado deles. De todos os lados vieram dardos contra Semprônio Graco e os cavaleiros romanos. O procônsul desceu do cavalo e ordenou que seus homens fizessem o mesmo. Depois, ele enrolou sua capa em volta de seu braço esquerda, pois não traziam seus escudos, e avançou contra os cartagineses[13]. Se iniciou assim uma batalha feroz, mesmo os romanos sendo poucos e sendo assassinados por todos os lados, considerando que não havia como eles se defenderem e que os cartagineses estavam numa posição mais elevada. E, embora Aníbal tenha ordenado que o procônsul fosse capturado vivo, não foi possível por que Graco, assim que viu o traidor lucano, avançou com tanta violência contra um grupo de adversários que o protegiam que não foi possível poupá-lo[14].

Conclusão[editar | editar código-fonte]

Magão anunciou a Aníbal que Graco estava morto e ordenou que seu corpo fosse colocado perante a tribuna do comandante juntamente com os fasces dos lictores. Eles provavelmente morreram na Lucânia perto dos "Campos Antigos"[15]. Há alguns historiadores antigos que acreditam que eles tenham morrido perto do rio Calore Irpino, não muito longe de Benevento. Esta versão foi narrada da seguinte forma por Lívio:

[Graco aparentemente] se afastou do acampamento com seus lictores e três escravos para se banhar. Os inimigos, escondidos entre os salgueiros haviam ali às margens do rio, o mataram ainda nu e sem com o que lutar, com exceção das pedras da corrente
 
Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 17.1-2[16].

Uma outra versão de sua morte, sempre segundo Lívio, conta que:

[...] estando a 500 passos (750 metros) do acampamento [...] foi cercado por duas turmas de númidas, que estavam por acaso na região.
 
Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 17.3[17].

Há também várias versões sobre seu funeral. A versão mais divergente é a que conta que Aníbal mandou construir uma pira na entrada do acampamento cartaginês e ordenou que todo o exército cartaginês desfilasse em armas em frente enquanto ele próprio celebrava as exéquias com todas as honras[18]. Uma outra versão, também contada por Lívio, afirma que os cartagineses cortaram a cabeça de Graco e a levaram a Aníbal, que a enviou ao questor Cneu Cornélio Lêntulo, que, diante do exército romano, realizou as exéquias[19].

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Ou, possivelmente, nas proximidades de Benevento às margens do rio Calore Irpino[1].

Referências

  1. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 17.6.
  2. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 2.4.
  3. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 13.8.
  4. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 13.9-10.
  5. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 13.11-14.12.
  6. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 14.12-14.
  7. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 15.1.
  8. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 15.3.
  9. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 15.18-20.
  10. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 16.5-9.
  11. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 16.9-13.
  12. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 16.14-15.
  13. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 16.16-21.
  14. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 16.22-23.
  15. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 16.24-25.
  16. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 17.1-2
  17. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 17.3
  18. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 17.4-5.
  19. Lívio, Ab Urbe Condita XXV, 17.6-7.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Fontes primárias[editar | editar código-fonte]

Fontes secundárias[editar | editar código-fonte]

  • Brizzi, Giovanni (1997). Storia di Roma. 1. Dalle origini ad Azio (em italiano). Bolonha: Patron. ISBN 978-88-555-2419-3 
  • Piganiol, André (1989). Le conquiste dei romani (em italiano). Milão: Il Saggiatore 
  • Scullard, Howard H. (1992). Storia del mondo romano. Dalla fondazione di Roma alla distruzione di Cartagine (em italiano). I. Milão: BUR. ISBN 88-17-11574-6