Campos de Lis

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Paisagem pantanosa com maciços de Iris pseudacorus e caniços na Reserva Natural de Astrakhan, semelhante à dos fictícios Campos de Lis da Terra Média.

Campos de Lis[1] (Gladden Fields no original em inglês, Loeg Ningloron no idioma fictício sindarin) é um local da fictícia Terra Média de J. R. R. Tolkien, especialmente notável por ser aquele onde o rei Isildur perdeu o Anel de Sauron durante o Desastre dos Campos de Lis, ao atravessar o Grande Rio Anduin. O Anel viria a ser recuperado no mesmo local vinte e cinco séculos mais tarde, por casualidade, pelo hobbit cascalvas Déagol, sendo logo apossado por seu primo Sméagol, que mais tarde se transformaria na criatura Gollum.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O termo gladden é uma modificação do inglês coloquial gladdon, derivada pelo inglês médio gladen do inglês arcaico glaedene,[2] documentado no século IX, mas provavelmente de origem mais remota.[3] O termo terá sido provavelmente adquirido do latim gladiolus, significando pequena espada, em referência às folhas dos lírios, em forma de espada.[2] Gladden é actualmente um termo raramente encontrado fora dos dialectos regionais.[3] A palavra pode ser um trocadilho, jogando com o facto da região não só estar repleta de campos de lírios com as suas folhas em forma de espada, mas também por ter sido o local de duas batalhas importantes.[4]

Niglor é o termo em sindarin para lírio, ou lis, e Loeg Ningloron significa literalmente campos de lis.[2]

Geografia e características naturais[editar | editar código-fonte]

A região dos Campos de Lis caracteriza-se como uma planície,[5] localizada numa profunda depressão[6] a oeste de Mirkwood, onde o Grande Rio Anduin se junta com o Lis,[7] a oeste das Montanhas Nebulosas, estas últimas logo ao norte de Moria e Lothlórien.[8] A região situa-se na bacia de um antigo lago, transformada em pântano, através do qual o rio Lis, tributário do Anduin, serpenteia por uma infinidade de meandros e ilhotas, com extensos maciços de juncos e caniços, e batalhões de lírios amarelos que crescem até alturas maiores que a de um homem.[2]

A espécie vegetal mais abundante é a Iris pseudacorus, o lírio amarelo, que dá o nome a toda a região, assim como ao rio que por ali passa, o Lis.[2] O rio que percorre a região é habitado por salmões-rei.[9]

História[editar | editar código-fonte]

O local é bem conhecido por ser aquele em que o rei Isildur perdeu o Anel de Sauron.[2] No ano 2 da Terceira Idade da Terra Média, Isildur e os seus três filhos mais velhos, Ciryon, Aratan e Elendur, foram emboscados por orcs ao marchar nas cercanias daquela região, sendo quase todos mortos.[10] Isildur tentou escapar, saltando para o Grande Rio Anduin, e usando o poder da invisibilidade do Anel, mas enquanto nadava o anel escorregou do dedo de Isildur, caindo para o fundo do rio.[11] Sem o poder do Anel, Isildur surgiu visível na outra margem do rio, onde foi detectado e morto por orcs que procuravam sobreviventes da emboscada.[1][12] Ohtar, escudeiro de Isildur, conseguiu salvar os fragmentos do Narsil da horda inimiga; os filhos de Isildur foram mortos durante a batalha. Este incidente ficou conhecido como o Desastre dos Campos de Lis.[13]

Vinte e cinco séculos após a emboscada a região era habitada por uma estirpe de hobbits matriarcal e nómada, os cascalvas, considerada bastante inferior às estirpes de pés peludos que habitavam o Shire e Bree.[14] No ano 2463[8] o hobbit cascalvas Déagol e o seu primo, o tímido Sméagol, por ocasião do aniversário deste.[15] Enquanto pescavam a bordo de um pequeno barco no Anduin, foi arrastado para o fundo do rio por um grande salmão-rei, encontrando o Anel de Sauron.[9] Ao ver o Anel, Sméagol, deseja-o com tal intensidade para seu "presente de aniversário", que para o obter estrangula e mata Déagol. Mais tarde, expulso da sua tribo pela avó, Smeagol abandona os Campos de Lis,[15] acabando por tornar-se na criatura Gollum.[16][17]

Uma conhecida trilha foi um dos locais usados nas filmagens dos Campos de Lis, em Arrowtown, na Nova Zelândia.[18]

Cinema[editar | editar código-fonte]

Na versão cinematográfica da trilogia d'O Senhor dos Anéis, as cenas passadas nos Campos de Lis foram filmadas em Arrowtown, perto de Queenstown, na Nova Zelândia.[18][19] O local é uma atracção turística, podendo ser visitado em circuitos de todo o terreno.[20][21]

Legado[editar | editar código-fonte]

Gladden Fields é o nome de uma das ruas de Chelmsford, em Inglaterra, num conjunto de ruas com designações com a temática de Tolkien.[22]

Referências

  1. a b López, Rosa Sílvia (2004). O Senhor Dos Anéis & Tolkein - O Poder Mágico Da Palavra. [S.l.]: Arte & Ciência. p. 201 
  2. a b c d e f S.,, Judd, Walter (2017). Flora of Middle-Earth : plants of J.R.R. Tolkien's legendarium. New York: Oxford University Press. p. 155. ISBN 9780190276324. OCLC 993878430 
  3. a b Peter., Gilliver,; C., Weiner, E. S. (2009). The ring of words : Tolkien and the Oxford English dictionary. Oxford: Oxford University Press. p. 135. ISBN 9780199568369. OCLC 461587167 
  4. S., Noel, Ruth. The mythology of Middle-earth. Boston: [s.n.] p. 184. ISBN 9780395250068. OCLC 2542757 
  5. Fictional Plains: Gladden Fields, Leng, Pelennor Fields, Shaar, the Hordelands. [S.l.]: General Books LLC. 2010. ISBN 9781158381999 
  6. 1892-1973., Tolkien, J. R. R. (John Ronald Reuel), (1988). Unfinished tales of Númenor and Middle-earth 1st Ballantine Books ed. New York: Ballantine Books. p. 295. ISBN 9780345357113. OCLC 24603007 
  7. Angie,, Errigo,; Helen,, Rodiss,; Michaela,, Bunshell,; Richard,, Pendleton,; (Firm),, Rough Guides (2003). The rough guide to The lord of the rings. London: Rough Guides. p. 197. ISBN 9781843532750. OCLC 53819730 
  8. a b David., Day, (2014). Tolkien : a dictionary. London: Bounty. p. Gladden Fields. ISBN 9780753728550. OCLC 897433193 
  9. a b Willink, Philip (2008). «Fishes of Middle-Earth» (PDF). Tolkien Library 
  10. Tolkien, J.R.R. (2013). O Senhor dos Anéis: O retorno do rei. [S.l.]: Martins Editora. p. 386. ISBN 9788580631036 
  11. 1892-1973., Tolkien, J. R. R. (John Ronald Reuel), (2005). The lord of the rings 50th anniversary ed. London: HarperCollins. p. 49. ISBN 9780547951942. OCLC 649096958 
  12. Tolkien, J. R. R. (1980), Christopher Tolkien, ed., Unfinished Tales, Boston: Houghton Mifflin, "Disaster of the Gladden Fields", ISBN 0-395-29917-9
  13. Whittingham, Elizabeth A. «Unfinished Talesand the History of Middle-earth: A Lifetime of Imagination». Wiley-Blackwell (em inglês): 146–160. doi:10.1002/9781118517468.ch10 
  14. 1945-, Chance, Jane, (2001). The lord of the rings : the mythology of power Rev. ed. Lexington: University Press of Kentucky. ISBN 9780813190174. OCLC 46936088 
  15. a b Randall, Courtney C. (2013). Sméagol Versus Gollum: The Bridge Between Fantasy and Reality: Applying Jungian Psychology to Tolkien’s The Lord of the Rings. [S.l.]: Salve Regina University. p. 7 
  16. Carpenter, Humphrey, ed. (1981), The Letters of J. R. R. Tolkien, Boston: Houghton Mifflin, #214, ISBN 0-395-31555-7
  17. 1947-, Day, David, (1993). Tolkien : the illustrated encyclopaedia. New York: Simon & Shuster. p. 82. ISBN 9780684839790. OCLC 48786420 
  18. a b Buchmann, Anne K. (2007). In the footsteps of the fellowship : understanding the expectations and experiences of Lord of the rings tourists on guided tours in New Zealand. [S.l.]: Lincoln University. 114 páginas 
  19. Goh, Robbie B.H. (2013). «The Lord of the Rings and New Zealand: fantasy pilgrimages, imaginative transnationalism and the semiotics of the (Ir)Real, Social Semiotics». Social Semiotics. 24 (3): 263-282. doi:10.1080/10350330.2013.866781 
  20. «INTO THE HOBBIT HOLE». The Telegraph (em inglês) 
  21. Bennett, Sarah; Reade, Bryn (5 de fevereiro de 2016). «New Zealand attractions». The Telegraph (em inglês). ISSN 0307-1235 
  22. Jacobs, Frank. «J.R.R. Tolkien's Middle-Earth Inspires Suburb's Design». Big Think 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]