Domenico Vandelli

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Domenico Vandelli
Domenico Vandelli
Possível efígie de Vandelli, em cerâmica da sua própria fábrica de Coimbra (Museu Nacional Machado de Castro)
Nascimento 8 de julho de 1735
Pádua
Morte 27 de junho de 1816 (80 anos)
Lisboa
Residência Portugal
Alma mater Universidade de Pádua
Instituições Universidade de Coimbra
Campo(s) Biologia, Medicina
Tese Dissertationes tres: de Aponi thermis, de nonnullis insectis terrestribus et zoophytis marinis, et de vermium terrae reproductione atque taenia canis

Domenico Agostino Vandelli (Pádua, 8 de julho de 1735Lisboa, 27 de junho de 1816) foi um naturalista italiano, com trabalhos fundamentais para o desenvolvimento da história natural e da química em Portugal nos finais do século XVIII e princípios do século XIX. Ele foi um dos fundadores e primeiro diretor do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.[1] Foi membro da Maçonaria, comendador da Ordem de Cristo e deputado da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Formação[editar | editar código-fonte]

Domenico Vandelli nasceu em 8 de julho de 1735, em Pádua, no norte da Itália. Realizou seus estudos iniciais no Colégio Veneto  Artista, onde laureou-se em Filosofia Natural e Medicina, em 1756. Realizou, a partir de 1758, pesquisas na área da química[3].

Seguiu a carreira de seu pai, Girolamo Vandelli, que era professor de cirurgia da Universidade de Pádua[4], mesmo instituição que Domenico adquriu o seu doutoramento em medicina, com a tese Dissertationes tres: de Aponi thermis, de nonnullis insectis terrestribus et zoophytis marinis, et de vermium terrae reproductione atque taenia canis[5].

Na Itália inseriu-se em uma rede de contato e sociabilidade cientifica. Em 1761, por exemplo, iniciou uma prolongada correspondência com Carl von Linné (1707-1778), com uma carta sobre as holotúrias. Este dedicou-lhe em 1767 o género Vandellia da família das Scrophulariaceae[6].

Vinda para Portugal[editar | editar código-fonte]

Em 1764, foi inicialmente contratado para ensinar ciências químico-naturais em Lisboa, no Colégio dos Nobres, mas este ensino nunca chegou a ser implementado, pelo que regressou durante algum tempo à Itália. Em 1768 foi-lhe atribuída a incumbência de criar o Jardim Botânico da Ajuda, e em 11 de Setembro de 1772 foi nomeado lente de História Natural e Química na Universidade de Coimbra, onde fundou o jardim botânico e um laboratório de quimica[6]. Continuou sendo diretor do labotório até 1791[4].

Vandelli dirigiu as expedições filosóficas portuguesas de finais do século XVIII, levadas a cabo por Alexandre Rodrigues Ferreira, Joaquim José Codina e José Joaquim Freire, bem como outros naturalistas que tinham sido alunos seus na Universidade de Coimbra[4]. Segundo outros autores, porém, no que diz respeito a Rodrigues Ferreira, Vandelli seria apenas "supostamente o autor das instruções compostas para a ´Viagem Filosófica´" - é o que se lê, por exemplo, na página 58 da obra "Brasiliana da Biblioteca Nacional", Rio de Janeiro, 2001[6].

Publicou, em 1788, o Dicionário dos termos técnicos de história natural extraídos das obras de Lineu (Coimbra) assim como uma Florae lusitanicae et brasiliensis specimen (Coimbra). Baseando-se sempre na autoridade de Lineu, publicou no ano seguinte o Viridarium Grisley lusitanicum, Linnaeanis (Lisboa). Além destes, é autor de um grande número de memórias sobre temas científicos e económicos[6].

É certo que foi «um dos mais destacados colaboradores da Academia e, certamente, o autor que melhor interpretou o sentido reformador e ilustrado das medidas preconizadas na globalidade dos textos publicados por esta instituição», segundo a Introdução, pg 25, da obra Portugal como problema, volume dedicado a «A Economia como solução 1625-1820 - Do Mercantilismo à Ilustração», Público/Fundação Luso-Americana[6].

Ascensão e queda[editar | editar código-fonte]

Tornou-se, em 1787, deputado da Real Junta de Comércio, e recebeu a comenda da Ordem de Cristo, principal título nobiliastico dos grandes potentados, fidalgos, comerciantes e políticos portugueses. Esse prestígio, todavia, não resistiu a Era Napoleônica. Durantes as invasões francesas a Portugal, entre 1807 e 1811, Vandelli foi acusado de ser "afrancesado" demais, e acusado de colaborar com as forças francesas[5].

Chegou a ser preso em 1810, mandado para um exilio forçado nas ilhas de Açoures. Por seus contados conseguiu fugir para a Inglaterra, e lá viveu até 1815, quando retornou para Portugal. Morreu pouco depois, en 1816[4]. Sabe-se que deixou um filho, o Alexandre Antonio Vandelli, importante cientista oitocentista[7].

Principais publicações[editar | editar código-fonte]

Diccionario dos termos technicos de historia natural, 1788
  • Vandelli, Domenico (1756). Epistola de sensibilitate pericranii, periosti, medullae, durae meningis, corneae et tendinum. Publicado em Pádua[8].
  • Vandelli, Domenico (1758). Epistola secunda et tertia de sensitivitate Halleriana. Publicado em Pádua[8].
  • Vandelli, Domenico (1758). Dissertationes tres: I. De Aponi Thermis. II, De nonnullis insectis terrestribus zoophytis murinis. III. De vermium terrae reproductione, atque taenia canis. Publicado em Pádua[8].
  • Vandelli, Domenico (1768). Dissertatio de arbore Draconis, seu Dracoena, Accessit dissertatio de studio Historiae Naturalis necessario in Medicina, Oeconomia, Agricultura, Artibus et Commercio. Publicado em Lisboa[8].
  • Vandelli, Domenico (1771). Fasciculus plantarurn cum novis generibus ei speciebus. Publicado em Lisboa[8].

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Domenico Vandelli: o primeiro diretor do Jardim» (pdf). Diário de Coimbra. 6 de setembro de 2013. Consultado em 6 agosto de 2016 
  2. «Domenico Vandelli » Biblioteca do Departamento de Botânica » Universidade de Coimbra». www.uc.pt. Consultado em 16 de maio de 2018 
  3. Julião; Neves; Segantini, Letícia; Marta Eloísa Melgaço; Verona Campos (2018). «Domingos Vandelli: mediador de dois mundos». Museu Nacional. Anais do Museu Histórico Nacional. 50: 52-68. Consultado em 12 de julho de 2023 
  4. a b c d «Domingos Vandelli». BN Digital. 2023. Consultado em 12 de julho de 2023 
  5. a b Braga, Lucas Onorato (2023). Domingos Vandelli (1735-1816): História Natural e utilitarismo ilustrado em fins do Antigo Regime português. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo. p. 172 
  6. a b c d e Braga, Lucas Onorato (2020). «Domingos Vandelli: História Natural a serviço do reino». Diálogos sobre a Modernidade (3): 44–60. ISSN 2674-7952. Consultado em 11 de julho de 2023 
  7. Marques; Filgueiras, Adílio Jorge; Carlos A. L. (2009). «O QUÍMICO E NATURALISTA LUSO-BRASILEIRO ALEXANDRE ANTONIO VANDELLI» (PDF). Quimica Nova. 32 (9): 2492-2500. Consultado em 12 de julho de 2023 
  8. a b c d e Coimbra, Universidade de. «História da Ciência na UC». História da Ciência na UC. Consultado em 12 de julho de 2023 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Battelli, Guido. Domenico Vandelli e il Giardino Botanico di Coimbra. Coimbra, 1929 (Sep. Biblos, 5).
  • Cardoso, J. L. "From Natural History to Political Economy: The Enlightened Mission of Domenico Vandelli in Late Eighteenth-Century Portugal". Studies in the History and Philosophy of Science. 34,4(2003)781-803.
  • Cardoso, J. L. "Introdução", in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa, para o adiantamento da agricultura, das artes, e da indústria em Portugal, e suas conquistas (1789-1815). Lisboa: Banco de Portugal, 1990. vol. I, pp. XVII-XXXIII.
  • Cardoso, J. L. "Os escritos económicos e financeiros de Domingos Vandelli", Ler História. 13(1988) 31-51.
  • Carvalho, Rómulo. A história natural em Portugal no Século XVIII. Lisboa: ICLP, 1987.
  • Costa, A. M. Amorim. "Domingos Vandelli (1730-1816) e a cerâmica portuguesa". in História e desenvolvimento da ciência em Portugal. Lisboa: Academia das Ciências, 1986. vol. 1, p. 353-371 (Publicações do II centenário da Academia das Ciências de Lisboa).
  • Costa, A. M. Amorim. Primórdios da Ciência Química em Portugal. Lisboa, ICLP, 1984.
  • Cruz, Lígia. Domingos Vandelli: alguns aspectos da sua actividade em Coimbra. Coimbra, 1976 (Sep. Bol. Arq. Univ. Coimbra).
  • Marques, Adílio Jorge. "O professor do jovem Imperador. Um naturalista luso-brasileiro. Alexandre António Vandelli (1784-1862)". Rio de Janeiro, Editora Vieira & Lent, 2010.
  • Marques, Adílio Jorge. "O iluminismo no mundo luso-brasileiro". Rio de Janeiro, Editora Sapere, 2012.
  • Mendes, A. R. "O naturalista Domingos Vandelli: novos elementos para a sua biografia". Clio. 5(1986)99-105.
  • Palhinha, Rui T. Domingos Vandelli. Coimbra, 1945.
  • Serrão, J. V. "Introdução" in Domingos Vandelli. Aritmética Política, Economia e Finanças (1770-1804). Lisboa: Banco de Portugal, 1994 (Colecção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português).
  • Vandelli, D. Memórias de histórias natural. Introd. e coord. ed. José Luís Cardoso. Porto: Porto Editora, 2003. (Ciência e iluminismo).
  • Vandelli, D.; Brigola, João Carlos; Camargo-Moro, Fernanda; Kury, L., Pádua, J.A. " O gabinete de curiosidades de Domenico Vandelli". Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2009.
  • Vandelli, D.; Linné, Carl von. " De Vandelli para Linneu. De Linneu para Vandelli : correspondência entre naturalistas. Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2009.
  • Vandelli, D. "Dicionário de termos técnicos de História Natural e Memória sobre a utilidade dos jardins botânicos". Edição fac-similar do original de 1788. In caixa "coleção gabinete de curiosidades". Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2009.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]