Lord Kames

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Lord Kames
Lord Kames
Nascimento 1696
Berwickshire
Morte 27 de dezembro de 1782 (85–86 anos)
Cidadania Reino da Grã-Bretanha
Progenitores
  • George Home, of Kames House
Alma mater
Ocupação antropólogo, juiz, historiador, filósofo, sociólogo, advogado, crítico literário, escritor

Henry Home, mais conhecido como Lord Kames (16961782) foi um influente filósofo escocês do século XVIII e uma figura marcante do iluminismo escocês.

Nascido em Kames, Berwickshire, no leste das Lowlands da Escócia, ele tornou-se um advogado (advocate, como eles são designados na Escócia, ao contrário de barrister, o nome por que eles são conhecidos na Inglaterra). Em 1752, foi-lhe atribuído o título de Lord Kames.

A relação com David Hume[editar | editar código-fonte]

Lord Kames foi um grande amigo de David Hume. Eram familiares distantes e vizinhos. A casa de Kames era apenas a 10 milhas de Ninewells, onde David Hume cresceu. O pai de David Hume faleceu quando David era ainda uma criança. Henry Homes tornou-se a partir daí uma figura protectora para o jovem David. Ele reconfortou a mãe de Hume quando o brilhante aluno David decidiu abandonar os estudos de Direito para estudar Filosofia. Hume chamou-lhe "o melhor amigo que jamais tive" mas também "o homem mais arrogante do mundo" e "uma mente de ferro num corpo de ferro". Hume e Kames discutiam constantemente, particularmente em matéria de Religião. Hume era ateu, Lord Kames era anglicano, algo raro em Edimburgo onde a maioria era Calvinista (presbiteriana, ver Kirk), mas comum entre a aristocracia possuidora de terras. Kames detestava o ateísmo.

A teoria dos quatro estágios da sociedade[editar | editar código-fonte]

Uma das ideias mais interessantes de Lord Kames diz respeito à sua observação da evolução das sociedades na história. Lord Kames pode ser considerado um dos precursores da Antropologia Social. Na base da diferença entre os estágios da evolução social estão a forma de propriedade e a actividade produtiva. As 4 fases são:

1- A sociedade recolectora[editar | editar código-fonte]

No início, os homens eram caçadores e pescadores. No tempo de Kames esta forma de organização social ainda existia entre os Esquimós, por exemplo. Nesta fase é evitado o contacto com muitas pessoas que não a família. Os outros grupos são vistos como um concorrente na caça e na colecta de recursos escassos.

2-A sociedade nomádica[editar | editar código-fonte]

Os homens aprenderam a domesticar os animais e passaram a poder sustentar mais pessoas que antes. Formam-se maiores clãs e tribos. No entanto as sociedades permanecem retalhadas nestas pequenas estructuras económicas

3-Sociedade agrícola[editar | editar código-fonte]

Com a agricultura, torna-se necessária uma maior coordenação entre um crescente número de pessoas. O cultivo dos campos implica a necessidade de regular a interacção entre de muitas pessoas. Este relacionamento precisa de ser regulamentado, algo que era supérfluo anteriormente, quando não havia a necessidade deste tipo de relações. Surgem novas profissões: carpinteiro, ferreiro, pedreiro... E surgem novos tipos de relacionamento: entre os artifíces e os lavradores, entre os donos da terra e os arrendatários, entre senhor e escravo. Surgem novas formas de cooperação mas também de competição de interesses. Kames afirma que nas primeiras fases das sociedades humanas não há a necessidade para a lei e o governo que não sejam o controle exercido pelos chefes de família e dos clãs. Foi com a introdução da agricultura que o direito se tornou necessário, porque com a agricultura passou a haver uma rede de complexas interacções de direitos e obrigações que anteriormente não existiam. Politicamente esta fase está associada ao Feudalismo e ao despotismo.

4- Sociedade Comercial ou capitalista[editar | editar código-fonte]

Nesta nova fase, as cidades comerciais e portuárias passam a ser o centro de coordenação de uma abrangente cadeia de relações económicas. Os benefícios são acrescidos mas com eles surgem também uma complexidade ainda maior de relações socais. Surge a necessidade de novas leis, direito marítimo, leis que regulam a venda e distribuição das mercadorias. O progresso material trazido pela nova organização social possibilita um abrandamento do despotismo anterior. Surge a possibilidade do regime democrático e dos direitos individuais. A consciência individual passa a poder regular aquilo que anteriormente é imposto por coerção externa. A comunidade de seres humanos livres e em cooperação tais como os escoceses Francis Hutcheson e Adam Smith o descreveram, tornara-se possível.

Exemplos na prática[editar | editar código-fonte]

Para Kames, aquilo que somos como sociedade depende do facto de sermos caçadores e recolectores, ou pastores e nómadas, ou lavradores e artesãos, ou empresários e comerciantes. 100 anos antes de Marx, Lord Kames identificava uma causa da mudança histórica: as mudanças nos "meios de produção".

Para Kames, a Inglaterra e a França do seu tempo estavam claramente no último estágio desta evolução. O mesmo se pode dizer da sociedade grega antiga e a Itália (a Toscânia) do Renascimento.

A Inglaterra medieval ou a Rússia eram exemplos de sociedades no estágio agrícola.

Exemplos de sociedades nomádicas são os Hebreus da Antiguidade, muitas tribos nómadas do Magrebe e da Arábia ou os índios americanos.

Influência para outros autores[editar | editar código-fonte]

A teoria das 4 fases de Lord Kames serviria de modelo de partida para o trabalho do historiador William Robertson e outros. É mesmo uma teoria inspiradora de um novo género de literatura historica: "A história da civilização", que tem hoje seguimento em historiadores como Arnold Toynbee e William McNeill.

Kames foi também um inspirador de Edward Gibbon e o seu monumental A história do declínio e queda do Império Romano.

Principais obras[editar | editar código-fonte]

  • Remarkable Decisions of the Court of Session (1728)
  • Essays upon Several Subjects in Law (1732)
  • Essay Upon Several Subjects Concerning British Antiquities (c. 1745)
  • Essays on the Principles of Morality and Natural Religion (1751) Ele defende a doutrina da necessidade filosófica.
  • Historical Law-Tracts (1758)
  • Principles of Equity (1760)
  • Introduction to the Art of Thinking (1761)
  • Elements of Criticism (1762) Publicado por dois livreiros escoceses, Andrew Millar e Alexander Kincaid.[1]
  • Sketches of the History of Man (1774)
  • Gentleman Farmer (1776)
  • Loose Thoughts on Education (1781)

Referências

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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