Legião do Caribe

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Legião do Caribe (em castelhano: Legión del Caribe) é um grupo de líderes progressistas, exilados e revolucionários latino-americanos com o objetivo de derrubar ditaduras em toda a América Central e substituí-las com governos democráticos.

Os membros da Legião vinham da maior parte dos países da América Latina, embora fossem em maior número da República Dominicana. [1] Os objetivos declarados da Legião eram as ditaduras apoiadas pelos Estados Unidos de Rafael Trujillo, na República Dominicana, e o governo de Teodoro Picado na Costa Rica.

A Legião foi responsável por duas invasões fracassadas a República Dominicana, em 1947 e 1949, bem como pela derrubada exitosa do governo da Costa Rica na Guerra Civil na Costa Rica em 1948.

História[editar | editar código-fonte]

As atividades do grupo disperso, que mais tarde seria chamado de Legião do Caribe, começaram em 1946 após o fim da Segunda Guerra Mundial. A emergência da democracia em Cuba, Venezuela e Guatemala durante os anos anteriores resultaria em ativistas pró-democracia em outros países a se tornarem mais ambiciosos.[2] As ditaduras de Rafael Trujillo na República Dominicana e de Anastasio Somoza García na Nicarágua eram vistas como sendo particularmente tirânicas, e assim se tornaram alvos da Legião.[2] Em novembro de 1945, Eduardo Rodríguez Larreta, o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, propôs uma resolução defendendo uma "ação colectiva multilateral" em prol da democracia e dos direitos humanos. A resolução não foi apoiada pela maioria dos estados americanos, que encorajavam os rebeldes políticos.[3]

Affair Cayo Confites[editar | editar código-fonte]

No verão de 1947, um grupo de aproximadamente 1200 homens armados foi reunido em Cuba com o apoio encoberto do presidente cubano Ramón Grau San Martin. Os líderes do grupo acreditavam que, com sua própria força e a assistência clandestina dominicana, seriam capazes de derrubar o ditador apoiado pelos estadunidenses[4], Rafael Trujillo.[2] Os preparativos da força não foram mantidos em grande segredo e suas intenções eram muito públicas. Em setembro de 1947, o governo dos Estados Unidos pressionou Ramón Grau para prender toda a força e a invasão nunca aconteceu. As armas do grupo também seriam confiscadas. Os exilados seriam libertados dentro de alguns dias. [2] O incidente recebeu o nome de "affair Cayo Confites", devido a área em Cuba de onde a invasão deveria ser lançada.[1]

Pacto del Caribe[editar | editar código-fonte]

Após o colapso da tentativa de invasão dominicana, o governo guatemalteco de Juan José Arévalo tornou-se o maior apoiador da Legião. Arévalo havia anteriormente adquirido as armas para os exilados alegando que as suas compras eram para os militares da Guatemala. [5] Ele convenceu Ramón Grau a liberar as armas dos exilados ao governo da Guatemala. Os exilados começariam a se reunir na Guatemala. Em dezembro de 1947 Arévalo convenceu-os a assinar o Pacto del Caribe (Pacto do Caribe), um documento que definiu uma agenda unificada para os exilados. O documento exortava explicitamente para a derrubada dos governos da Costa Rica, da Nicarágua e da República Dominicana. Além disso, declarava que

Todos os grupos que representam os povos oprimidos do Caribe são convidados a aderir a este pacto, para que também — com a nossa ajuda — possam libertar seus próprios países.[6]

O objetivo final do grupo foi descrito do seguinte modo:

Nós, abaixo assinado, declaramos que o imediato restabelecimento da República da América Central é necessário para este continente; este princípio será afirmado nas novas constituições dos países libertados, e cada novo governo irá trabalhar imediatamente para implementá-lo com todos os recursos à sua disposição.

Os países libertados comprometem-se a estabelecer uma Aliança Democrática do Caribe, que será aberta a todas as democracias do Caribe, assim como ao El Salvador e Equador...

A Aliança Democrática do Caribe constituirá um bloco indivisível em todas as crises internacionais. Seus objetivos fundamentais são os seguintes: fortalecer a democracia na região; exigir o respeito da comunidade internacional para cada um dos seus membros; libertar as colônias europeias que ainda existem no Caribe; promover a criação da República das Pequenas Antilhas; atuar como unidade em defesa dos nossos interesses econômicos, militares e políticos comuns.[7]

De 1948 a 1949 os Estados Unidos solicitaram repetidamente a Arévalo para que retirasse o seu apoio à Legião do Caribe, temendo que a Legião estivesse apoiando os interesses comunistas. No entanto, embora a Legião fosse estridentemente antiditatorial e se opusesse aos regimes anticomunistas, também se opunha ao comunismo. O historiador Piero Gleijeses escreve que a Legião provavelmente teria apoiado os Estados Unidos contra a União Soviética, e o Pacto del Caribe declarou explicitamente que a Legião iria aliar-se com os Estados Unidos "para a defesa comum."[5]

Revolução Costarriquenha[editar | editar código-fonte]

José Figueres Ferrer, um empresário costarriquenho, havia sido exilado da Costa Rica em 1942 devido as suas críticas ao governo. Ele entrou em contato com a Legião do Caribe em 1947 na sequência do caso Cayo Confites. [7] Figueres ofereceu a Costa Rica como uma base para a Legião contra o governo de Somoza, caso a Legião ajudasse-o a derrubar Teodoro Picado. Embora o governo de Picado estivesse envolvido em reformas sociais limitadas dentro do país, não pretendia se envolver com os esforços antiditatoriais na América Central, e assim muitos dos exilados se opunham a ele. A Costa Rica também era atraente como base, porque delimitava com a Nicarágua, ao contrário da Guatemala.

Arévalo concordou com a oferta de Figueres e forneceu aos exilados as armas confiscadas que tinha recebido de Cuba. Em 1 de janeiro de 1948, o governo da Costa Rica anulou uma eleição presidencial que tinha sido vencida pelo candidato da oposição. Isso proporcionou a Legião um pretexto para uma invasão, e os 300 do forte exército costarriquenho foram rapidamente derrotados pela força invasora, composta principalmente de exilados nicaraguenses, e Figueres foi feito presidente. [7]

Invasão de Luperón[editar | editar código-fonte]

Em 1949, Arévalo apoiou outra invasão a República Dominicana, desta vez por via aérea. 60 exilados dominicanos tomariam parte. A força de invasão foi treinada nas instalações militares guatemaltecas e Arévalo persuadiu o governo mexicano a permitir que os aviões invasores reabastecessem ali. No entanto, devido à má coordenação e o mau tempo, apenas quinze homens da força invasora desembarcaram na República Dominicana, na cidade de Luperón, onde foram rapidamente capturados ou mortos. O julgamento daqueles que foram capturados foi utilizado pelo governo Trujillo para expressar o seu apoio ao não-intervencionismo e para condenar o governo guatemalteco como um fantoche da União Soviética. Os Estados Unidos também criticaram fortemente a Legião depois da captura dos combatentes. O fracasso da invasão conduziu ao colapso da Legião, e esta nunca combateria em outra batalha. [8]

Membros e organização[editar | editar código-fonte]

A Legião do Caribe nunca teve uma estrutura formal. O nome foi cunhado por jornalistas nos Estados Unidos em 1947.[9] Embora tivesse membros de todos os países da América Latina Hispânica, o maior número vinha da República Dominicana. Muitos dos exilados eram veteranos de guerra; muitos dos cubanos e dominicanos foram voluntários no exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto outros tinham combatido no Exército Republicano Espanhol. Houve também alguns pilotos que tinham sido membros da Força Aérea dos Estados Unidos.[1]

O financiamento e as armas da Legião do Caribe vieram de muitas fontes diferentes. Um certo número de traficantes de armas tinham estoques que sobraram da Segunda Guerra Mundial, o qual estavam dispostos a vender para a Legião. A Legião também recebeu apoio em vários momentos dos governos de Cuba e da Guatemala, bem como do governo de José Figueres Ferrer da Costa Rica depois que ele chegou ao poder em 1948.[1] A maior fonte de financiamento para a Legião foi Juan Rodriguez Garcia, um rico fazendeiro dominicano que fugiu da República Dominicana em janeiro de 1946. [1]

Um proeminente membro da Legião do Caribe foi Fidel Castro, que participou do caso Cayo Confites com 21 anos de idade. [10] Ele foi capturado com o restante da força invasora, mas escapou ao pular da embarcação da marinha cubana na qual estava retido e nadar em segurança. [10]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e Ameringer 2004, pp. 8–10.
  2. a b c d Gleijeses 1992, pp. 107–108.
  3. Ameringer 2004, pp. 8-10.
  4. Leonard 2006, p. 1572.
  5. a b Gleijeses 1992, pp. 108–109.
  6. Gleijeses 1992, pp. 108-109.
  7. a b c Gleijeses 1989.
  8. Gleijeses 1992, pp. 113–116.
  9. Gleijeses 1992, pp. 107–109.
  10. a b Clinton 2001.

Fontes

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Caribbean Legion».