Manuel Joaquim de Matos e Góis

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Manuel Joaquim
de Matos e Goes
Governador de Timor e Solor
Período 13 de Maio de 1821 a 14 de Abril de 1832
Monarca D. João VI
D. Miguel I
Antecessor(a) José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa
Sucessor(a) D. Miguel da Silveira e Lorena
Governador de Macau
Período nomeado a 30 de Abril de 1829, morre antes de assumir o cargo
Monarca D. Miguel I
Dados pessoais
Nascimento cerca de 1782
Goa, Índia Portuguesa
Morte 14 de Abril de 1832 (cerca de 50 anos)
Díli, Timor Português
Nacionalidade Reino de Portugal Português
Progenitores Mãe: Maria Rita Freire de Castro da Cunha d'Eça
Pai: Cipriano José de Matos e Goes
Cônjuge Genoveva Ludovina Mourão Garcez Palha
Filhos(as) Maria Antónia de Matos e Goes
Serviço militar
Lealdade Reino de Portugal Reino de Portugal
Anos de serviço ~1800—1832

Manuel Joaquim de Matos e Goes[nota 1] (Índia, Goa, c. 1782Timor, Díli, 14 de Abril de 1832) foi um militar e administrador colonial português, que se destacou enquanto Governador de Timor, entre 1821 e 1832.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido no seio de uma família fidalga radicada na Índia, é feito Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real, a 23 de Março de 1802, por mercê do então Príncipe Regente D. João.[1]

Assenta praça na Real Marinha da Índia, e é promovido a Guarda-Marinha, habilitado com a Aula de Marinha, a 11 de Abril de 1804. Nos anos seguintes é promovido a Capitão-Tenente e, depois, a Primeiro-Tenente. Por volta de 1820, é elevado ao posto de Capitão de Fragata.[2] Em 1824 é nomeado Tenente-Coronel de Infantaria pelo Rei D. João VI.[3][4]

Governador de Timor[editar | editar código-fonte]

A 1 de Julho de 1818, o então Primeiro-Tenente Matos e Goes, é nomeado Governador e Capitão-Geral de Timor e Solor pelo Rei D. João VI.[5] Parte de Goa com destino a Timor, fazendo escala por alguns meses em Macau. Aí aguarda a chegada das companhias vindas de Goa, compostas por oficiais e degredados, que iriam formar o batalhão Defensores de Timor, a primeira força militar regular do território.[6][7] Chegado finalmente a Díli, toma posse a 13 de Maio de 1821.[8]

Logo nas primeiras semanas de governo, Matos e Goes enfrenta uma rebelião promovida pelo oficial comandante do presídio[nota 2] de Batugadé, no distrito de Bobonaro. Ao saber-se exonerado, José António Tavares, o comandante do presídio, recusa-se a ceder o lugar, avisando que só o fará com o assentimento dos régulos timorenses da região. Os régulos, tomando o partido do comandante, dizem que deixarão de garantir a defesa do presídio caso Tavares seja substituído. Matos e Goes, não podendo consentir a insubordinação, envia o novo comandante, Bernardino Xavier, com uma companhia militar, ordenando-lhe que tome o presídio. Chegado a Batugadé é impedido de desembarcar pelos locais, vendo-se forçado a regressar a Díli. O governador, consciente de que a sua soberania na região está em causa, decide reprimir a desobediência a todo o custo. Envia, então, o batalhão Defensores de Timor comandado pelo major José Pereira de Azevedo. Chegado ao destino, marcha até ao presídio apoderando-se deste sem resistência. Ao avistar as tropas, Tavares foge, dando sinal aos contingentes dos reinos locais com um tiro de canhão. Estes, apavorados, não aparecem. Após este episódio, durante toda a administração de Matos e Goes, os reinos vassalos mantiveram-se serenos, não tornando a ser necessário recorrer à força para garantir a sua obediência.[8]

Apesar dos anos que se seguiram à Revolução de 1820 terem sido politicamente conturbados em Portugal e em algumas possessões portuguesas como Goa ou Macau, em Timor não há movimentações dignas de registo. As notícias da metrópole demoravam cerca de 2 anos a chegar a Timor, facto que favoreceu a estabilidade política na ilha. Matos e Goes consegue manter-se como governador, jurando, a 11 de Abril de 1823, a Constituição de 1822[11] e, a 4 de Maio de 1829, a Carta Constitucional.[12]

No governo de Matos e Goes inicia-se a exploração mineira em Timor, por sugestão do Governador da Índia, D. Manuel da Câmara. As primeiras experiências são efectuadas em 1823 e enviadas para Goa. Em 1825, a Universidade de Coimbra indica o bacharel Guilherme José António Dias Pegado[13], natural de Macau, como técnico especialista para iniciar a pesquisa de ouro, cobre, sal e petróleo. Previa-se que o cobre fosse muito abundante em Timor, mas as expectativas não se cumpriram. Por outro lado os estudos revelaram a possibilidade da extração de sal para exportação, no entanto o projecto foi igualmente abandonado.[7]

Matos e Goes é incentivado pelo Governo da Índia a desenvolver a agricultura na ilha, nomeadamente as culturas do açúcar e o algodão, apesar da desilusão quanto às remessas destes produtos no governo de Pinto Alcoforado, seu antecessor. Em 1825, tendo em vista o cultivo de tabaco, pede aos governos da Índia e de Macau a contratação de 20 famílias chinesas, que em 1830 ainda não haviam sido enviadas.[14] Nesse ano são-lhe também recomendadas as culturas do anil, da papoila do ópio e do cânhamo.[7]

Por volta de 1825, estando com a saúde debilitada devido ao clima insalubre de Díli, Matos e Goes chega a pedir ao Rei a nomeação para Governador de Damão, que acaba por não ocorrer, mantendo-se em Timor.[15]

De acordo com Humberto Luna de Oliveira, na sua obra «Timor na História de Portugal»[16], Matos e Goes fora um profundo conhecedor da história de Timor, tendo feito um bom governo ao manter a paz e a estabilidade financeira do território, assegurando a soberania portuguesa. Já Afonso de Castro (Governador de Timor 1858-1863), na sua obra «As possessões portuguezas na Oceania»[8], tece ferozes críticas a Matos e Goes, acusando-o de descurar os negócios públicos, preocupando-se única e exclusivamente em satisfazer os vícios da embriaguez, do jogo e da concupiscência (sic). Tais ataques de carácter provavelmente teriam motivações políticas, dada a simpatia de Matos e Goes pela causa de D. Miguel I.[17]

A 30 de Abril de 1829, é nomeado Governador de Macau pelo Rei D. Miguel I.[8][18][19] Não chega, contudo, a ocupar o cargo. Antes de partir para Macau vê-se obrigado a aguardar cerca de 3 anos pela chegada do seu sucessor no governo de Timor[20], vindo a falecer na véspera desse dia[8], a 14 de Abril de 1832.

Matos e Goes foi um dos governadores mais duradouros da história de Timor, exercendo o cargo por cerca de 11 anos, de 13 de Maio de 1821 até à sua morte a 14 de Abril de 1832. Fernando Augusto de Figueiredo, na obra «Timor: A Presença Portuguesa (1769-1945)»[7], destaca o elevado tacto político de Matos e Goes, dado que se manteve no cargo por um longo período numa época de grande agitação política, chegando mesmo a ser "promovido" com a nomeação para o governo de Macau.

Família[editar | editar código-fonte]

Era filho de Cipriano José de Matos e Goes (Lisboa, 22.08.1741 — Goa, 10.10.1805)[21], Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real, e de Maria Rita Freire de Castro da Cunha de Eça. Era sobrinho-materno de Vitorino Freire da Cunha Gusmão, Governador de Timor entre 1812 e 1815. Casou em 1806, em Ribandar, com Genoveva Ludovina Mourão Garcez Palha (Bardez, c. 1785 — Ribandar, 12.09.1856)[22], irmã do Governador da Índia, Joaquim Mourão Garcez Palha, e filha de Cândido José Mourão Garcez Palha e de Ângela Maria de Sousa Rancosa. Do seu casamento nasceu uma filha, Maria Antónia de Matos e Goes (Ribandar, 14.04.1807 — Pangim, 24.11.1887)[23], que veio a casar com Francisco da Costa Campos, General e Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real, irmão de José e de Luís da Costa Campos, tendo numerosa descendência.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Nos documentos da época o sobrenome surge na forma de Mattos e Goes, de Mattos Goes, de Matos e Goes, ou de Matos Goes. Nas referências mais recentes, surge na forma de Matos e Góis, ou de Matos Góis.
  2. Presídio[9], neste contexto, corresponde a uma praça de guerra[10], uma povoação fortificada e militarizada, e não a um estabelecimento prisional.

Referências

  1. «Registo Geral de mercês do reinado de D. João VI». Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 23 de março de 1802. Consultado em 16 de março de 2023 
  2. «Graduado em Capitão de Fragata, o Capitão Tenente Manuel Joaquim de Mattos e Goes, nomeado Governador das Ilhas de Solor e Timor» (PDF). Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro. 16 de outubro de 1820. Consultado em 21 de março de 2023 
  3. «DECRETO do rei, D. João VI para o Conselho Ultramarino a ordenar a promoção do capitão de fragata graduado da Marinha de Goa e governador geral das ilhas de Timor e Solor, Manuel Joaquim de Matos e Gois, ao posto de tenente-coronel de Infantaria.». Arquivo Histórico Ultramarino. 6 de abril de 1824. Consultado em 18 de março de 2023 
  4. «OFÍCIO do [governador e capitão-geral das ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos Gois para o secretário de estado da Marinha e Ultramar, conde de Subserra, [Manuel Inácio Pamplona Corte Real] a agradecer a promoção a tenente-coronel de Infantaria e a conservação no cargo de governador e capitão geral das ilhas de Timor e Solor.». Arquivo Histórico Ultramarino. 28 de maio de 1826. Consultado em 18 de março de 2023 
  5. «Decreto do Rei, D. João VI da nomeação do 1º tenente da Marinha de Goa, Manuel Joaquim de Matos Góis, para governador das ilhas de Timor e Solor por três anos». Arquivo Histórico Ultramarino. 1 de julho de 1818. Consultado em 16 de março de 2023 
  6. «Ofício do [capitão-tenente da Marinha de Goa e governador e capitão-geral nomeado para as ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos Gois para o secretário de estado da Marinha e Ultramar, conde dos Arcos, [D. Marcos de Noronha e Brito] sobre a chegada a Macau no navio "1º Rei" do Reino Unido. Chegada a Macau no navio das vias saído de Goa com 7 oficiais e 52 degredados para servirem no batalhão a formar em Timor.». Arquivo Histórico Ultramarino. 29 de julho de 1820. Consultado em 18 de março de 2023 
  7. a b c d Fernando Augusto de Figueiredo (2004). «Timor: A Presença Portuguesa (1769-1945)» (PDF). Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Consultado em 17 de março de 2023 
  8. a b c d e Afonso de Castro (1867). «As possessōes portuguezas na Oceania». Imprensa Nacional. Consultado em 16 de março de 2023 
  9. «presídio». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 20 de março de 2023 
  10. «praça de guerra». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 20 de março de 2023 
  11. «OFÍCIO do [governador e capitão-geral das ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos Gois para secretário de estado da Marinha e Ultramar, Manuel Inácio da Costa Quintal a enviar as cópias (letra A) da Ordem da Junta Provincial do Governo da Índia a mandar convocar as autoridades e população de Timor para o juramento à Constituição portuguesa, (letra B) do termo sobre o juramento prestado à constituição pelas autoridades e mais pessoas de Timor.». Arquivo Histórico Ultramarino. 16 de maio de 1823. Consultado em 18 de março de 2023 
  12. «CARTA do [governador e capitão-geral das ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos Gois ao rei [D. Miguel] a enviar o auto de juramento da Carta Constitucional.». Arquivo Histórico Ultramarino. 4 de maio de 1829. Consultado em 18 de março de 2023 
  13. «História da Ciência na UC: Guilherme José António Dias Teixeira Pegado (1803-1885)». Imprensa Nacional. Consultado em 19 de março de 2023 
  14. «CARTA do [governador e capitão-geral das ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos e Gois ao rei [D. Miguel] sobre a impossibilidade de estimular o cultivo do tabaco devido ao não envio dos chineses agrícolas pedidos ao governador e capitão-general do estado da Índia e ao governador e capitão-geral de Macau.» 🔗. Arquivo Histórico Ultramarino. 15 de maio de 1830. Consultado em 18 de março de 2023 
  15. «OFÍCIO do [governador e capitão-geral das ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos Gois para o secretário de estado da Marinha e Ultramar, marquês de Viana, [D. João Manuel de Meneses] a enviar requerimento em que pede nomeação para o governo de Damão.». Arquivo Histórico Ultramarino. 10 de junho de 1825. Consultado em 18 de março de 2023 
  16. Luna de Oliveira (1949). «Timor na história de Portugal». Agência Geral das Colónias. Consultado em 16 de março de 2023 
  17. «CARTA do [governador e capitão-geral das ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos e Gois ao rei [D. Miguel] a enviar congratulações pela chegada do rei a Lisboa.». Arquivo Histórico Ultramarino. 15 de maio de 1830. Consultado em 18 de março de 2023 
  18. «Registo Geral de mercês do reinado de D. Miguel I». Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 30 de abril de 1829. Consultado em 18 de março de 2023 
  19. «CARTA do [governador e capitão-geral das ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos e Gois ao rei [D. Miguel] a agradecer a mercê da comenda e da nomeação em governador de Macau.». Arquivo Histórico Ultramarino. 15 de maio de 1830. Consultado em 18 de março de 2023 
  20. «Carta do [governador e capitão-geral das ilhas de Timor e Solor], Manuel Joaquim de Matos e Góis ao Rei [D. Miguel] a justificar a demora na sua partida por não ter chegado o seu sucessor». Arquivo Histórico Ultramarino. 15 de maio de 1830. Consultado em 16 de março de 2023 
  21. «Perfil genealógico de Cipriano José de Matos e Góis». Portal GeneAll.net 
  22. «Perfil genealógico de Genoveva Ludovina Mourão Garcez Palha». Portal GeneAll.net 
  23. «Perfil genealógico de Maria Antónia de Matos e Goes ». Portal GeneAll.net 

Precedido por
José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa
Governador de Timor e Solor
18211832
Sucedido por
D. Miguel da Silveira e Lorena