Pierre Monbeig

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Pierre Monbeig
Pierre Monbeig
Conhecido(a) por precursor da geografia científica brasileira
Nascimento 15 de setembro de 1908
Marissel, Oise, França
Morte 22 de setembro de 1987 (79 anos)
Cavalaire-sur-Mer, Provença-Alpes-Costa Azul, França
Nacionalidade francês
Alma mater Université de Paris (1927)
Instituições
Campo(s) Geografia
Tese Planteurs et pionniers dans l' Etat de Saint Paulo (1950)

Pierre Monbeig (Marissel, Oise, 15 de setembro de 1908Cavalaire-sur-Mer, Var, 22 de setembro 1987) foi um geógrafo francês, que trabalhou e estudou o Brasil entre 1935 e 1946, data em que ocupou cadeira de professor na Universidade de São Paulo, assim como cátedra de geografia humana nesse mesmo período. É precursor da observação de campo, da análise regional e das análises de situação.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Pierre Monbeig nasceu em 1908[2], em Marissel, uma antiga comuna francesa no departamento de Oise, na região de Hauts-de-France, que hoje faz parte do município de Beauvais desde 1943.[3] Concluiu os estudos superiores na década de 20, tendo sido aluno de Emmanuel de Martonne (1873-1955) e Albert Demangeon (1872-1940), bastante influenciado também por Jean Brunhes (1869-1930).[2][3][4]

Em 1931, Emmanuel de Martonne conhece o engenheiro-geógrafo Alberto José de Sampaio e a convite da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, visita o Brasil e discursa para os membros da sociedade.[3] Neste discurso ele ressalta o potencial da geografia nos estudos e resoluções de conflitos no território e eleva a ciência geográfica, o que viabiliza a contratação de professores franceses a fim de instalar e desenvolver cursos de geografia científica nas recém criadas universidades brasileira, a Universidade de São Paulo e a então Universidade do Distrito Federal, que viria a ser incorporada na futura Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pierre foi um dos três franceses que chegaram a ao Brasil nessa época, junto de Francis Ruellan e Pierre Deffontaines.[2][3]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Em 1935, foi convidado para assumir a cadeira de Geografia Física e Humana, então ocupada pelo professor Pierre Deffontaines, na recém-criada Universidade de São Paulo. Em 1938, deixou a cadeira de Geografia Física para se dedicar exclusivamente à Geografia Humana. Ainda em 1937, assumiu a presidência da Associação de Geógrafos Brasileiros, cargo que ocupou até 1946.[1]

Foi mestre de diversos geógrafos brasileiros importantes, como Pasquale Petrone e Aziz Ab'Saber, divulgando uma geografia francesa modificada na Universidade de São Paulo, consequentemente em território nacional.[3] Em 1963, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de São Paulo[5].

Entre suas características, típicas da geografia francesa da década de 1930 está a herança intelectual de Vidal de La Blache e sua defesa do gênero de vida e região. Porém Monbeig introduz o conceito de "modo de pensar", assim como a psicologia dos povos, algo original e não muito aceito em sua época.[3]

Esse "modo de pensar" seria aquilo que faz os habitantes de uma região agirem de certo modo, ou seja, terem o seu genêro de vida. Hoje, algo aceito, na época foi visto com desconfiança, pois a geografia tentava se isolar para se afirmar uma geografia pura, e também não acreditava nas correntes de psicologia nascentes nos Estados Unidos.[2][3] Monbeig, assim como seus mestres Albert Demangeon e indiretamente de la Blache, acreditava no ser humano como elemento fundamental da paisagem, e não só uma característica determinada pelo meio.[2][3]

Instigou seus alunos e orientandos a redigirem os primeiros trabalhos sobre as regiões ou localidades de origem de suas famílias. Essa orientação resultou em alguns dos primeiros e fundamentais trabalhos acadêmicos sobre esses lugares, peças de um mosaico que ajudaram a consolidar a base da geografia humana no país. Por exemplo, "A ilha de São Sebastião", tese de doutoramento de Ary França, um de seus orientados.[2][3]

A paisagem de Monbeig também incluía elementos como odor e som, além de cultura e religião, dando início a "região cultural", algo fora de época também. Essa visão do homem na geografia pedia a presença de outras ciências humanas, como a história. Monbeig foi um defensor da Geografia ser conectada com a História, sendo contra então a separação da Geografia e História em cursos universitários distintos, como o é hoje.[2][3]

Publicações de Monbeig[editar | editar código-fonte]

  • 1940: Ensaios de geografia humana brasileira, São Paulo: Livraria Martins.
  • 1957: Novos estudos de geografia humana brasileira, São Paulo: Difusão Europeia do Livro.
  • 1969: Brasil, São Paulo: Difusão Europeia Do Livro.
  • 1984: Pioneiros e fazendeiros de São Paulo, São Paulo: Hucitec, Polis.
Literatura sobre Monbeig

Referências

  1. a b Clarice Cassab (ed.). «A Geografia de Pierre Monbeig». Revista de Geografia. Consultado em 19 de agosto de 2019 
  2. a b c d e f g Aziz Nacib Ab' Sáber (ed.). «Pierre Monbeig: a herança intelectual de um geógrafo». Revista de Estudos Avançados da USP. Consultado em 19 de agosto de 2019 
  3. a b c d e f g h i j Antonio Carlos Vitte (ed.). «Breves considerações sobre o papel de Pierre Monbeig na formação do pensamento geomorfológico uspiano». Confins. Consultado em 19 de agosto de 2019 
  4. Universidade de São Paulo (ed.). «Pós-graduação em Geografia». FFLCH. Consultado em 19 de agosto de 2019 
  5. «Doutores Honoris Causa da USP entre as décadas de 50 e 60 do séc. XX» (PDF). Universidade de São Paulo