Sanções contra o Afeganistão

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As sanções contra o Afeganistão foram aplicadas pelas Nações Unidas contra o governo afegão controlado pelos talibãs em novembro de 1999.[1] As sanções eram destinadas a terroristas, especialmente Osama Bin Laden e membros da Al-Qaeda. [2]

Bandeira do Talibã, 1997-2001.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Em 7 de agosto de 1998, as embaixadas dos Estados Unidos em Nairóbi e Dar es Salaam foram alvos de ataques bombistas e a al-Qaeda, assim, desencadeou a conscientização do público internacional sobre a organização. [3] O Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou os atentados em termos gerais, mas não abordou especificamente a al-Qaeda. No mesmo ano, a Resolução 1214 foi adotada na qual o Conselho exigia "que o Talibã parasse de fornecer refúgio e treinamento para terroristas internacionais e suas organizações". [4][3] Em 5 de novembro de 1998, Osama bin Laden e seu chefe militar Mohammed Atef foram acusados no Tribunal Distrital de Nova York por um ataque planeado a estabelecimentos de defesa dos Estados Unidos. Após esse evento, a delegação dos Estados Unidos requereu legalmente ao Conselho de Segurança que exigisse que o Talibã entregasse Osama bin Laden. [3] O líder talibã, Mullah Omar, recusou-se a entregar Osama bin Laden. Em consequência, o Conselho de Segurança implementou suas primeiras medidas sob o regime de sanções de 1267. Na Resolução 1267, o Conselho de Segurança justificou o regime de sanções referindo-se à violação do direito humanitário no Afeganistão, à discriminação contra as mulheres e à presença de produção ilícita de opiáceos.[3]

Sanções da ONU[editar | editar código-fonte]

As sanções da ONU foram elaboradas para impedir que o Talibã apoie e conduza atos de terrorismo internacional. A Resolução 1267 do Conselho de Segurança das Nações Unidas impôs uma série de sanções financeiras e de viagens a membros do governo do Afeganistão controlado pelos talibãs após os ataques bombistas a duas embaixadas estadunidenses pela al-Qaeda na África Oriental [5] e pela recusa do Talibã em entregar Osama bin Laden para ir a julgamento nos Estados Unidos pelos atentados às embaixadas. [5] Além disso, o Conselho de Segurança "condenou veementemente o [...] treinamento e planejamento"[6] de terroristas e atos terroristas e "reiterou ... profunda preocupação"[6] com as atividades terroristas, bem como com as violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos, em particular a discriminação contra mulheres e meninas. [6]

Após a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos e a deposição do Talibã do governo, as sanções foram alteradas para atingir indivíduos específicos. [7] Essas pessoas foram incluídas em uma lista a pedido dos Estados-membros. [7]

Eficácia[editar | editar código-fonte]

Os dois objetivos da Resolução 1267 eram coagir o Talibã a entregar Osama bin Laden às autoridades dos Estados Unidos para responder as acusações criminais pelos ataques bombistas as duas embaixadas estadunidenses na África Oriental e impedir que o Talibã e a al-Qaeda conduzissem atos internacionais de terrorismo. [8] As Nações Unidas falharam em coagir o governo afegão controlado pelos talibãs a entregar Osama bin Laden, que foi morto no Paquistão em 2011 como parte do esforço de guerra dos Estados Unidos no Afeganistão. [9] As sanções também não impediram o Talibã de conduzir atos terroristas. Nos anos seguintes à implementação das sanções, al-Qaeda assumiu a responsabilidade pelo atentado ao USS Cole em 2000, provocando a morte de dezessete marinheiros norte-americanos e feridos outros 39. [10] Além do USS Cole, a al-Qaeda reivindicou "responsabilidade direta" [11] pelos ataques de 11 de setembro, que provocaram a morte de 2 977 pessoas em Nova York, Washington, D.C. e a parte externa de Shanksville (Pensilvânia).[12] O sucesso da Resolução 1267 foi limitado devido à confiabilidade nas informações fornecidas pelos Estados-membros. [8]

O objetivo da Resolução 1333 era restringir o acesso do Talibã a armas e munições convencionais e armas de destruição em massa. O sucesso da Resolução 1333 foi limitado [8] devido à dependência de informações fornecidas pelos Estados-membros para permitir que os Comitês monitorem e apliquem sanções com sucesso. A Resolução 1333 contava com a capacidade das nações em desenvolvimento sem a competência de aplicar e relatar violações. [8] O Comitê enviou a Equipe de Apoio a Sanções em 2002. A equipe de apoio a sanções, encarregada de implementar o Embargo de Armas ao longo da fronteira Afeganistão-Paquistão, foi descrita como pequena e uma "força inadequada" que foi colocada na região após o ataque terrorista de 11 de setembro.[13] A implantação dos monitores foi atrasada [13] e o embargo de armas não pôde ser totalmente implementado.

A Resolução 1267 e a subsequente Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, incluindo a 1333, foram creditadas com a promoção da cooperação internacional no combate ao terrorismo e o fortalecimento de medidas antiterrorismo em organizações intergovernamentais, como a Força-Tarefa de Ação Financeira (FATF) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).[8][14] Os mecanismos que foram criados para minimizar a efetividade da al-Qaeda ainda estão em vigor e foram utilizados pelas Nações Unidas para combater o Estado Islâmico.[8]

Efeitos sobre o povo afegão[editar | editar código-fonte]

Protestos generalizados eclodiram no Afeganistão em novembro de 1999, quando as sanções das Nações Unidas entraram em vigor. Os manifestantes atacaram escritórios e veículos da ONU.[15] A companhia aérea nacional afegã, Ariana, que transportava medicamentos, alimentos e prestadores de serviços de saúde para o Afeganistão, foi penalizada. Várias ONGs retiraram seus programas à medida que o nível de insegurança no Afeganistão aumentava e devido à retirada do apoio dos doadores. [15] Na época, as ONGs representavam aproximadamente 70% dos serviços de saúde prestados no Afeganistão. As sanções agravaram a crise humanitária no país, que vinha sofrendo com a guerra há mais de vinte anos.

Em agosto de 2000, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (ENUCAH) relatou que as sanções existentes tiveram um “efeito negativo tangível” sobre a população do Afeganistão. [16] Grupos de ajuda humanitária como Médicos Sem Fronteiras e Human Rights Watch, juntamente com o Secretário-Geral das Nações Unidas Kofi Annan e a UN Afghanistan, criticaram a decisão de sanções mais rígidas contra o partido governante do Afeganistão em 2000, no que diz respeito à situação humanitária no país. [17]

O jornal médico The Lancet relatou em 2001 que a implementação de sanções mais rigorosas pela ONU contra o Afeganistão coincidiu com um período de seca no país. De acordo com um porta-voz do Médicos Sem Fronteiras (MSF), a comida havia se tornado tão escassa que muitas pessoas começaram a comer raízes de plantas. Um porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) chamou a situação de "uma crise semelhante à fome".[17]


Referências

  1. «ONU impõe sanções ao Afeganistão». Folha de S.Paulo. 15 de Novembro de 1999 
  2. Regeringskansliet, Regeringen och (18 de fevereiro de 2015). «Sanktioner mot talibanerna i Afghanistan». Regeringskansliet (em sueco) 
  3. a b c d Enrico, Carisch (27 de outubro de 2017). The evolution of UN sanctions : from a tool of warfare to a tool of peace, security and human rights. Rickard-Martin, Loraine,, Meister, Shawna R. Cham, Switzerland: [s.n.] 252 páginas. ISBN 9783319600055. OCLC 1008962905 
  4. UNSC S/RES/1214, para. 13.
  5. a b Lynch, Colum. «The 10 Worst U.N. Security Council Resolutions Ever». Foreign Policy (em inglês). Foreign Policy 
  6. a b c «Security Council Committee pursuant to resolutions 1267 (1999)». www.un.org (em inglês). ions. p. 2 
  7. a b «Targeted Sanctions - Terrorism». www.globalpolicy.org (em inglês). Global Policy 
  8. a b c d e f «Security Council Committee pursuant to resolutions 1267 (1999) 1989 (2011) and 2253 (2015) concerning ISIL (Da'esh) Al-Qaeda and associated individuals groups undertakings and entities | United Nations Security Council Subsidiary Organs». www.un.org (em inglês). United Nations 
  9. Li. «Death of Osama bin Laden Fast Facts». edition.cnn.com. CNN 
  10. «USS Cole Bombing Fast Facts». edition.CNN.com. CNN 
  11. «Bin Laden claims responsibility for 9/11 | CBC News». www.CBC.ca. CBC 
  12. «September 11th Terror Attacks Fast Facts». edition.CNN.com. CNN 
  13. a b «AFGHANISTAN CRISIS OF IMPUNITY The Role of Pakistan, Russia, and Iran in Fueling the Civil War» (PDF). www.hrg.org. Human Rights Watch 
  14. «Special Notices / Notices / INTERPOL expertise / Internet / Home - INTERPOL». www.interpol.int. Interpol 
  15. a b «Despair as sanctions against Afghanistan start.: Lund University Libraries». eds.b.ebscohost.com (em inglês) 
  16. Administrator. «Sanctions Against Al Qaeda and the Taliban». www.globalpolicy.org (em inglês) 
  17. a b Ahmad, Khabir (20 de janeiro de 2001). «UN sanctions imposed against Afghanistan while thousands flee». The Lancet. 357 (9251). 207 páginas. PMID 11213109. doi:10.1016/S0140-6736(05)71314-3