Mulher com sete filhos
A mulher com sete filhos foi uma mártir judia descrita em II Macabeus 7[1] e em outras fontes. Embora seu nome não tenha sido citado no texto bíblico, ela é chamada popularmente de Ana (Hannah),[2] Míriam[3] e Salomônia.[4]
II Macabeus
[editar | editar código-fonte]Pouco antes da revolta de Judas Macabeu (II Macabeus 8[5]), Antíoco IV Epifânio prendeu uma mãe e seus sete filhos e tentou forçá-los a comer carne de porco. Quando eles se recusaram, ele torturou e matou os filhos dela, um por um. O narrador menciona que "particularmente admirável e digna de elogios foi a mãe que viu perecer seus sete filhos no espaço de um só dia e o suportou com heroísmo, porque sua esperança repousava no Senhor" (II Macabeus 7:20[1]). Cada um dos filhos proferiu um discurso antes de morrer e o último diz que seus irmãos "participam agora da vida eterna" (II Macabeus 7:36[1]). O narrador termina dizendo que a mãe morreu, mas sem dizer se ela foi executada ou se morreu de outra forma.
Tratado Gittin
[editar | editar código-fonte]O Talmude conta uma história parecida, mas a respeito da recusa de idolatrar um ídolo no lugar da recusa de comer carne de porco. O Tratado Gittin 57b cita o Rabi Judá dizendo que "isto é uma referência à mulher e seus sete filhos" e o rei não nomeado é chamado de "imperador" e "césar". A mulher se suicida nesta versão ("ela subiu num telhado e se atirou e morreu").[6]
Outras versões
[editar | editar código-fonte]Outras versões da história estão em IV Macabeus, que sugere que a mulher pode ter se atirado às chamas em 17:1,[7] e Josippon, que afirma que ela caiu morta sobre os cadáveres de seus filhos.[2]
Nome
[editar | editar código-fonte]As diversas fontes propuseram variados nomes para a mulher. Nos "Lamentos de Rabbah", ela é chamada de "Míriam bat Tanhum",[3] na tradição da Igreja Ortodoxa, ela é conhecida como "Salomônia",[4] na Igreja Apostólica Armênia ela é chamada de "Shamuna"[8] e na Igreja Siríaca ela é chamada de "Shmuni".[9] Além disso, ela é chamada de Ana (Hannah) ou "Chana" em Josippon, provavelmente uma ligação da história dela com a de Ana no Livro de Samuel, que cita que uma «estéril deu à luz sete filhos» (I Samuel 2:5). Gerson Cohen lembra que este nome aparece apenas na versão espanhola mais longa de Josippon (1510) e não na versão mais curta mantuana, que se refere a ela de forma anônima.[2]
Legado
[editar | editar código-fonte]A mulher com sete filhos é lembrada em alta estima por sua firmeza ao ensinar os filhos a manterem a fé, mesmo à beira da morte. A história em Macabeus reflete um dos temas gerais do livro, o de que a "força dos judeus está na realização dos mitzvot na prática".[10]
É provável que Santo Hilário de Poitiers tenha se referido a esta mulher como uma profetisa. Diz ele: "Pois todas as coisas, como diz a profetisa, foram criados do nada",[11] que, segundo Patrick Henry Reardon, seria uma citação de II Macabeus 7:28.[1][12]
O apologista católico Jimmy Akin usa esta história para defender os livros deuterocanônicos. Ele examina Hebreus 11:35 ("uns foram torturados, não aceitando o seu livramento para alcançarem melhor ressurreição") e nota que esta esperança de vida eterna depois da tortura não é encontrado em lugar nenhum do Antigo Testamento protestante, mas está presente em II Macabeus 7,[1] um livro considerado canônico apenas pelos católicos.[13]
Segundo a tradição cristã antioquena, as relíquias da mãe e dos sete filhos foram enterrados numa sinagoga (depois convertida em igreja) no quarteirão de Kerateion de Antioquia.[2] Por outro lado, túmulos que se acredita serem destes mártires foram descobertos em San Pietro in Vincoli em 1876.[14] Há ainda mais um túmulo que se acredita ser da mulher e seus sete filhos no cemitério judaico de Safed, em Israel.
Santos Mártires Macabeus
[editar | editar código-fonte]Santos Macabeus | |
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Santos Macabeus | |
Mártires | |
Nascimento | século II a.C. Judeia (Israel) |
Morte | Entre 167 e 160 a.C. Judeia |
Veneração por | Igreja Católica Igreja Ortodoxa[15][16] |
Festa litúrgica | 1 de agosto |
Portal dos Santos |
Embora não sejam os mesmos monarcas hasmoneus chamados de "macabeus", a mulher e seus filhos, juntamente com Eleazar, descrito em II Macabeus 6,[17] são conhecidos conjuntamente como "Santos Macabeus" ou "Santos Mártires Macabeus" na Igreja Católica e na Igreja Ortodoxa.
Esta última celebra os "Santos Mártires Macabeus" em 1 de agosto. A Igreja Católica os inclui na lista de santos celebrados na mesma data. Desde antes do Calendário Tridentino, os Santos Macabeus tinham uma comemoração na liturgia do rito romano durante a festa de São Pedro Acorrentado. Esta comemoração permaneceu na liturgia dos dias da semana até o papa João XXIII, em 1960, suprimir esta festa de São Pedro. Nove anos depois, 1 de agosto tornou-se o dia de Santo Afonso Maria de Ligório e a menção aos mártires macabeus desapareceu do Calendário Geral Romano, que, desde a revisão de 1969, não se admite mais comemorações.[18] Porém, como eles estão entre os santos e mártires reconhecidos no Martirológio Romano,[19] os Santos macabeus podem ser venerados por todos os católicos.
De acordo com a tradição ortodoxa, os filhos chamavam-se Abim, Antonius, Gurias, Eleazar, Eusebonus, Alimus e Marcellus,[4] embora os nomes divirjam levemente entre as diferentes fontes.[20]
Os três livros etíopes de Meqabyan (canônicos na Igreja Ortodoxa Etíope, mas distintos dos outros quatro livros dos Macabeus) fazem referência a um outro grupo de "Mártires Macabeus", sem relação com estes, cinco irmãos chamados "Abya, Seela e Fentos, filhos de um benjaminita chamado Macabeu, que foi capturado e martirizado por liderar uma guerrilha contra Antíoco Epifânio".[21]
Várias peças de mistério na Idade Média retrataram os mártires macabeus e representações de seu martírio provavelmente deram origem ao termo "macabre", provavelmente derivado do termo latim "machabaeorum".[22]
Ver também
[editar | editar código-fonte]O tema da mulher e seus sete filhos aparece também na história de duas outras santas cristãs:
Referências
- ↑ a b c d e «II Macabeus 7». Bíblia Ave Maria
- ↑ a b c d Cohen, Gerson D. Jewish Virtual Library. Hannah and Her Seven Sons (em inglês). [S.l.: s.n.]
- ↑ a b Ilan, Tal. Jewish Women's Archive. Hannah, Mother of Seven (em inglês). [S.l.: s.n.]
- ↑ a b c «Seven Holy Maccabee Martyrs» (em inglês). Antiochian Orthodox Christian Archdiocese of North America
- ↑ «II Macabeus 8». Bíblia Ave Maria
- ↑ Talmude Babilônio: Tratado Gittin Folio 57.
- ↑ «IV Macabeus» (em inglês)
- ↑ «Commemoration of the Maccabees, Sts. Eleazar the Priest, Shamuna and her seven Sons» (em inglês). Diocese of the Armenian Apostolic Church in Georgia
- ↑ The Women's Bible Commentary. [S.l.]: Westminster John Knox Press. 1998. p. 324
- ↑ Grintz, Yehoshua M. Jewish Virtual Library. Maccabees, Second Book of (em inglês). [S.l.: s.n.]
- ↑ Hilário de Poitiers. Da Trindade. Livro IV, 16.
- ↑ Patrick Henry Reardon. Creation and the Patriarchal Histories: Orthodox Christian Reflections on the Book of Genesis. Conciliar Press, 2008. pp.34-35.
- ↑ James Akin, Defending the Deuterocanonicals
- ↑ Taylor Marshall, The Crucified Rabbi: Judaism and the Origins of the Catholic Christianity (Saint John Press, 2009), p. 170. (em inglês)
- ↑ «Οἱ Ἅγιοι Ἑπτὰ Μακαβαίοι]. 1 Αυγούστου. ΜΕΓΑΣ ΣΥΝΑΞΑΡΙΣΤΗΣ» (em grego). Great Synaxaristes
- ↑ «7 Holy Maccabee Martyrs» (em inglês). Orthodox Church in America
- ↑ «II Macabeus 6». Bíblia Ave Maria
- ↑ "Calendarium Romanum" (Libreria Editrice Vatican, 1969), p. 132
- ↑ "Martyrologium Romanum" (Libreria Editrice Vaticana, 2001 ISBN 88-209-7210-7)
- ↑ No site da Igreja Ortodoxa Russa de Baltimore, eles aparecem como "Habim, Antonin, Guriah, Eleazar, Eusebon, Hadim (Halim) e Marcellus." «The Seven Holy Maccabean Martyrs» (em inglês). Igreja Ortodoxa Russa de Baltimore
- ↑ 1 Meqabyan 2:1-2 e 3:28, Standard English Version
- ↑ O Shorter Oxford English Dictionary (5ª edição; 2002) afirma que a origem de "macabre" seja provavelmente uma referência a "uma peça milagrosa sobre o assassinato dos macabeus", Volume 1, p. 1659.