Usuário(a):Heune/Hospital Laennec

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Hospital Laennec
Hôpital Laennec
Heune/Hospital Laennec
Pátio e fachada principal
Tipo Antigo hospital
Estilo dominante Luís XIII
Arquiteto Christophe Gamard (original)
Valode & Pistre (residências)
Benjamin Mouton (escritórios)
Início da construção 1632
Fim da construção 1757 (continuando a ser alvo de intervenções de arquitetos)
Inauguração 1637
Restauro 2010
Proprietário inicial Conseil Général des Hospices de Paris
Função inicial Hospital psiquiátrico
Proprietário atual Altarea Cogedim
Função atual Complexo multifuncional
Patrimônio nacional
Classificação Monumento histórico
Data 25 de julho de 1977
Geografia
País França
Cidade Paris
Coordenadas 48° 50' 48" N 2° 19' 16" E

O Hospital Laennec (em francês: Hôpital Laennec) é um antigo hospital do século XVII construído no 7.º arrondissement de Paris, na França. Focado principalmente no tratamento da tuberculose, o Hospital Laennec foi um local de referência em Paris, onde foram realizados numerosos estudos no campo da patologia pulmonar, que contribuíram para o atual progresso terapêutico e preventivo.[1] Após seu fechamento em dezembro de 2000, os serviços e laboratórios hospitalares foram transferidos para o Hospital Europeu Georges-Pompidou.[2][3] Foi nomeado em homenagem ao médico francês René Laennec, inventor do estetoscópio, que introduziu o método de exame físico pela auscultação.[1]

Devido à deterioração, as instalações do Hospital Laennec foram vendidas para a iniciativa privada em 2002.[4] Em 2010, todos os prédios foram alvo de um vasto projeto de incorporação imobiliária, cuja obra foi concluída em 2014.[5][6] O espaço foi convertido em um complexo de edifícios de uso misto composto por habitações sociais, escritórios comerciais, uma residência estudantil, áreas verdes privadas e um parque público.[7] Desde 2016, o conjunto arquitetônico acolhe a sede do grupo de luxo Kering e de sua subsidiária, a casa de moda Balenciaga.[8][9]

História[editar | editar código-fonte]

O Hospital Laennec visto da rua de Sèvres, de Corard (1839), Museu Carnavalet

A história da instituição data do século XVII, quando, em 1632, o cardeal François de La Rochefoucauld empreendeu a construção de um hospital para os pobres acometidos de doenças incuráveis, em razão disso, foi nomeado na época como Hôpital des Incurables (lit. "Hospital dos Incuráveis"). Para fazê-lo funcionar, François obteve em 1637 cartas patentes do rei Luís XIII, além de privilégios, franquias e as necessárias autorizações eclesiásticas.[10] Na parte memorial do hospital estão os túmulos do cardeal Rochefoucauld e vários membros da família Turgot, entre eles Michel-Étienne Turgot e Anne Jacques Turgot, este último que foi ministro de Luís XIV.[1] Em 1658, o hospital já contava com 108 leitos, número que foi crescendo até atingir 370 leitos em 1788.[11] Jacques René Tenon, em 1788, no seu livro Mémoires sur les hôpitaux de Paris, faz uma descrição do hospital: "são dois edifícios dispostos em cruz, separados por uma capela, um para homens e outro para mulheres".[12]

O período conturbado da Revolução Francesa levou, em 1789, à abolição do regimento interno hospitalar, não sendo fornecidos meios adicionais para a manutenção das instalações. Em 1801, o hospital se encontrava em estado de degradação e foi alvo de uma grande reestruturação, sendo reservado apenas para o cuidado de mulheres, enquanto os homens foram transferidos para o antigo Couvent des Récollets, mais tarde conhecido como Hospital Villemin.[10] No entanto, em 1869, a Administração Geral da Assistência Pública, criada em 10 de janeiro de 1849 e que incluía a maioria dos hospitais civis parisienses, decide transferir os pacientes para o Hospital de Ivry, e o Hospital dos Incuráveis ​​é fechado.[11] Durante o Segundo Império Francês, o Lycée Louis-le-Grand mudou-se para as instalações do hospital.[13]

Reaberto em 1870, por causa da Guerra Franco-Prussiana, o hospital foi novamente fechado em julho de 1871, voltando a funcionar em 1874 com o nome de Hôpital Temporaire (lit. "Hospital Temporário").[14][11] Em, 1878, por ordem do prefeito de Sena, o hospital passou a se chamar Hospital Laennec, em homenagem ao médico francês René-Théophile-Hyacinthe Laennec, o inventor do estetoscópio, que desenvolveu o diagnóstico médico pela ausculta indireta. O hospital então passa a receber doentes graves, sejam adultos ou crianças – e não mais apenas os incuráveis.[15]

Descrição geral[editar | editar código-fonte]

Estilo arquitetônico[editar | editar código-fonte]

O arquiteto responsável pela construção do Hospital Laennec, Christophe Gamard, se inspirou nas edificações italianas para realizar o projeto.[16] Sua fachada é característica do chamado estilo Luís XIII, que predominou na França durante o século XVII.[17] O uso típico de materiais contrastantes como pedras brancas, tijolo vermelhos e ardósia marca os diferentes edifícios do hospital. É notável ainda a rigorosa simetria da planta em cruz, com a capela ao centro. Sua arquitetura distintamente sóbria está em sintonia com a linhagem de grandes hospitais parisienses, como o Invalides ou o Salpêtrière.[14] No entanto, sucessivas demolições, ampliações ou eviscerações dos edifícios ao longo dos séculos, alteraram a sua aparência original.[18]

Capela e estruturas[editar | editar código-fonte]

A capela do Hospital Laennec foi construída no centro do edifício, para que a missa pudesse ser ouvida em todos as instalações.[19] Sua fachada é rematada por um frontão triangular dominado por uma empena e uma lanterna, enquanto sua nave sustenta uma torre sineira inteiramente de madeira, a última do gênero ainda existente em Paris.[14] De cada lado da capela há dois corpos de edificações em formato de cruz de Jerusalém – ao sul, o dos homens, ao norte, o das mulheres – que foram construídos em três níveis: um térreo abobadado que acomodava os pacientes, um primeiro andar destinado ao profissionais de enfermagem e o sótão que manteve sua excepcional estrutura original de madeira.[16] Os ramos destas duas cruzes delimitam oito pátios internos, em cada um foi cavado com um poço para abastecer o hospital com água limpa. Eles agora abrigam pequenos jardins.[14]

Referências

  1. a b c «Hôpital Laënnec – Histoire de l'Inserm». Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (em francês). Consultado em 25 de novembro de 2022. Arquivado do original em 5 de maio de 2018 
  2. Favereau, Eric (4 de outubro de 1999). «Parallèlement à l'ouverture de l'hôpital Georges-Pompidou, trois hôpitaux parisiens vont fermer: Laennec (VIIe), Broussais (XIVe) et Boucicaut (XVe).». Libération (em francês). Consultado em 25 de novembro de 2022 
  3. Cossardeaux, Joël (4 de julho de 2000). «Paris : l'hôpital Georges-Pompidou préfigure de nouvelles pratiques médicales». Les Échos (em francês). Consultado em 26 de novembro de 2022 
  4. Pelé, Laure (11 de junho de 2001). «Davantage de logements sociaux sur les terrains Laennec». Le Parisien (em francês). Consultado em 26 de novembro de 2022 
  5. Sabbah, Catherine (13 de março de 2014). «Cogedim livre enfin Laennec». Les Échos (em francês). Consultado em 26 de novembro de 2022 
  6. «La reconversion du site Laennec s'achève». Le Moniteur (em francês). 21 de fevereiro de 2014. Consultado em 26 de novembro de 2022 
  7. Boccara, Laurence (14 de dezembro de 2013). «A Paris, l'ancien hôpital Laennec transformé en un îlot haut de gamme». Le Monde (em francês). Consultado em 26 de novembro de 2022 
  8. Socha, Miles (15 de setembro de 2016). «Kering, Balenciaga Unveil Tranquil Headquarters — Lavender Included». WWD (em inglês). Consultado em 26 de novembro de 2022 
  9. Hennion, Aurore (19 de setembro de 2016). «Kering dévoile son nouveau siège». FashionUnited (em francês). Consultado em 26 de novembro de 2022 
  10. a b Dauphin, Alain; Mazin-Deslandes, Christine (2000). «Quatre siècles de pharmacie à l'hôpital Laennec de Paris». Revue d'Histoire de la Pharmacie (em francês) (325): 53–72. doi:10.3406/pharm.2000.5037. Consultado em 17 de dezembro de 2022 – via Persée 
  11. a b c Dauphin, Alain; Mazin-Deslandes, Christine (1 de maio de 2001). «L'Hôpital Laennec 400 ans d'histoire de la médecine»Subscrição paga é requerida. Pour la science (em francês). Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  12. Tenon, Jacques (1788). Mémoires sur les hôpitaux de Paris (em francês). [S.l.]: Ph.-D. Pierres. p. 80 . Consultado em 17 de dezembro de 2022 – via Gallica
  13. Le Cœur, Marc (1993). «Le lycée Louis-le-Grand à Paris : chronique d'une reconstruction différée (1841-1881)». Histoire de l'art (em francês) (23): 67–80. doi:10.3406/hista.1993.2568. Consultado em 24 de junho de 2023 – via Persée 
  14. a b c d «Le 40, rue de Sèvres Paris» (PDF) (em francês). Kering. Consultado em 24 de junho de 2023. Arquivado do original (PDF) em 24 de junho de 2023 
  15. Dauphin, Alain; Voisin, Marc (15 de outubro de 2000). De l'Hospital des incurables à l'Hôpital Laennec (em francês). [S.l.]: Hervas. 284 páginas. ISBN 978-2843340123 
  16. a b «Heurs et splendeurs de l'Hôpital Laennec». J'aime mon patrimoine (em francês). 8 de setembro de 2020. Consultado em 24 de junho de 2023. Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2023 
  17. Jeammet, Corinne (14 de setembro de 2018). «Journées du Patrimoine : le coffre reliquaire d'Héloïse et Abélard dévoilé à l'ancien Hôpital Laennec». France Info (em francês). Consultado em 24 de junho de 2023 
  18. Thoméret, Pascal (17 de agosto de 2022). «L'ex-hôpital Laënnec». Le Quotidien du médecin (em francês). Consultado em 24 de junho de 2023 
  19. Grandsart, Hervé (23 de setembro de 2015). «La chapelle Laennec, gratis pro Deo». Connaissance des Arts (em francês). Consultado em 24 de junho de 2023