Walter de Souza Ribeiro
Walter de Souza Ribeiro | |
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Nascimento | 24 de setembro de 1924 Teófilo Otoni |
Morte | Desconhecido São Paulo |
Cidadania | Brasil |
Progenitores |
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Ocupação | jornalista |
Causa da morte | perfuração por arma de fogo |
Walter de Souza Ribeiro (Teófilo Otoni, 24 de setembro de 1924 — Petrópolis, 1974) foi um militar e jornalista brasileiro, um dos desaparecidos políticos no Brasil[1][2][3] da era da ditadura militar brasileira. Dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
É um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, que apura mortes e desaparecimentos na ditadura militar brasileira.
Histórico[editar | editar código-fonte]
Era filho de Benedito Ribeiro e Maria Natalícia Alves Ribeiro e casou-se com Adalcy Byrro Ribeiro, com quem teve três filhos: Marcos, Marina e Marcelo.[4]
Oficial do Exército Brasileiro graduado Aspirante a Oficial pela Academia Militar de Resende, atual Academia Militar das Agulhas Negras, em 1948 e promovido à patente de segundo-tenente em 1949. Reformado em 1951 pela Lei 1057-A[5] (posteriormente revogada)[6] por ter sido considerado incompatível com o oficialato após ter assinado um apelo em favor da paz e contra a participação de tropas brasileiras, uso de armas nucleares ao lado dos Estados Unidos, na Guerra da Coreia. Após deixar o exército atuou como jornalista profissional na década de 1950, tendo trabalhado no jornal quinzenário "Para-todos" ao lado de Moacir Werneck de Castro (1915-2010) e dos irmãos James (1922-) e Jorge Amado (1912-2001). Era inscrito no sindicato de jornalistas do Rio de Janeiro
Em 1959 muda-se para Brasília, a nova capital em construção, onde trabalha ao lado dos arquitetos Oscar Niemeyer (1907-2012), Sabino Machado Barroso e do artista plástico Athos Bulcão (1918-2008), entre outros, como funcionário público da NOVACAP até 1964, quando foi demitido do cargo, sem qualquer direito a defesa, pela ditadura civil-militar,[7][8] através do Ato Institucional, conhecido posteriormente como AI-1. Perseguido pela ditadura civil-militar, entrou na clandestinidade e juntou-se ao movimento de oposição – era membro do Comitê Central do PCB. Em 1974 foi preso em São Paulo, e nunca mais foi visto.[9]
Busca da família[editar | editar código-fonte]
Em 6 de junho de 1966, foi condenado como revel à pena de três anos de reclusão ao responder o chamado do “Processo das Cadernetas de Prestes” – sentença que foi reformada em 27 de julho de 1974 pelo STM sendo reduzida a 18 meses de detenção e depois considerada extinta quando Walter já estava desaparecido. Esses documentos foram usados pela viúva de Walter, Aldacy, em resposta a nota expelida pelo ministro da Justiça em fevereiro de 1975 a respeito de três desaparecidos, sendo, um deles, seu marido.
EXCERTO DA NOTA:
“Ex-oficial do Exército, expulso por atividades subversivas, como indigno para o oficialato. Há um mandado de prisão expedido pela 2ª Auditoria da 2ª CJM em 1970. Encontra-se foragido”
A prisão de Walter aconteceu presumivelmente no dia 3 de abril de 1974 e então, sua família começou a peregrinar no intuito de encontrá-lo.
Contataram o deputado federal Fábio Fonseca que telefonou para o chefe do Estado Maior do II Exército, general Gentil Marcondes em São Paulo que informou que Walter estava preso. O irmão de Walter, Tibúrcio Geraldo Alves Ribeiro, então oficial da ativa do Exército, procurou no dia 23 de maio de 1974 o general Gentil Marcondes em São Paulo para tentar visitar seu irmão. Entretanto, nessa circunstância, o general negou que Walter estivesse preso.
Através do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, o deputado Freitas Nobre, disse que teve notícia de que, naquele mês, Walter esteve no DOPS/SP e, por isso, foi o deputado foi contatado pela família dele. Também foram contatados a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) – Marina, sua filha, ainda também persistiu na busca anunciando em jornais.[4]
Reconhecimento e oficialização da morte[editar | editar código-fonte]
A família, após buscas incessantes durante décadas, obteve apenas poucas informações fragmentárias sobre o destino de Walter. De acordo com o sargento Marivaldo, em entrevista publicada na revista VEJA,[10] Walter foi sequestrado em São Paulo em torno de abril de 1974 e trazido para a prisão clandestina instalada pelo exército, em uma casa na cidade de Petrópolis, a chamada "Casa da Morte",[11][12][13][14][15] onde foi assassinado.[16] O corpo foi então esquartejado e os restos mortais foram despojados em local desconhecido. Tal foi o destino dado pelos órgãos de repressão brasileiros,[17] como CIE, DOI-CODI, DOPS, DPPS, etc, a vários desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira.
O reconhecimento oficial pelo governo brasileiro de Walter como desaparecido político ocorreu somente após quase 22 anos. Tal foi feito pela Lei 9.140 de 4 de dezembro de 1995.[2] Seu nome é listado sob o número 134 do Anexo I da referida lei,[18] a qual permitiu que a família, após décadas de "limbo jurídico", pudesse finalmente obter um atestado de óbito, o qual ainda afirma que a causa da morte, onde ocorreu e local do sepultamento são "desconhecidos".
Walter deixou esposa e três filhos, sendo que dois eram menores de idade por ocasião de sua morte.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ Comissão Especial sobre Mortos e desaparecidos Políticos. «Direito à Memória e à Verdade». Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
- ↑ a b «Lei 9.140 de 4 de dezembro de 1995 - Reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979.»
- ↑ Na pista dos desaparecidos: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI223049-15223,00.html
- ↑ a b Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil 1964-1985. (IEVE- Instituto de Estudos Sobre Violência do Estado e Imprensa Oficial, São Paulo, 2009)
- ↑ Lei 1057-A de 28 de janeiro de 1950, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L1057-A.htm
- ↑ A lei 1057-A foi substituída pela lei 5.300 de 29 de junho de 1967, que também foi revogada e substituída pela lei 5.836 de 5 de dezembro de 1972, assinada pelo General Presidente Médici e ainda em vigor. O parágrafo V, artigo 2o. prevê afastamento de militares por motivos puramente políticos. Fontes: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L5300.htm#art22 ; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L5836.htm#art19
- ↑ Civis e militares agiam em sintonia fina no Dops: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,civis-e-militares-agiam-em-sintonia-fina-no-dops,997849,0.htm
- ↑ A comunidade dos que escondiam tudo: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-comunidade-dos-que-escondiam-tudo-,997846,0.htm
- ↑ Elio Gaspari, "A Ditadura Escancarada", volume 2. Coleção As Ilusões Armadas, São Paulo: Companhia das Letras, 2002. ISBN 8535902996
- ↑ Edição 1262 de 18 de novembro de 1992, página 26. Acervo digital em http://veja.abril.com.br/acervodigital/
- ↑ 'Casa da Morte' em Petrópolis, RJ, teria recebido mais de 100 pessoas; http://g1.globo.com/rj/serra-lagos-norte/noticia/2012/11/casa-da-morte-em-petropolis-rj-teria-recebido-mais-de-100-pessoas.html
- ↑ Torturadores usavam até jacaré na "Casa da Morte" em Petrópolis; http://www.d24am.com/amazonia/historia/torturadores-usavam-ate-jacare-na-casa-da-morte-em-petropolis/62074
- ↑ Única sobrevivente da Casa da Morte relata tortura, estupro e humilhação; http://oglobo.globo.com/pais/unica-sobrevivente-da-casa-da-morte-relata-tortura-estupro-humilhacao-5300325
- ↑ 'Casa da Morte' de Petrópolis é desapropriada e deve virar museu; http://www1.folha.uol.com.br/poder/1198000-casa-da-morte-de-petropolis-e-desapropriada-e-deve-virar-museu.shtml
- ↑ Adriano Barcelos (12 de novembro de 2014). «Procuradoria acha carcereiro da Casa da Morte». Folha de S.Paulo. Consultado em 12 de novembro de 2014
- ↑ Vítimas da Casa da Morte, O Globo, http://oglobo.globo.com/infograficos/casatortura/
- ↑ Governo Médici ordenou por escrito silêncio sobre tortura: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,governo-medici-ordenou-por-escrito-silencio-sobre-tortura,993024,0.htm
- ↑ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1995_1997/anexo/ANL9140-95.pdf