Voo Aerolíneas Argentinas 322

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Voo Aerolíneas Argentinas 322
Acidente aéreo
Voo Aerolíneas Argentinas 322
De Havilland Comet da Aerolíneas Argentinas, similar ao avião destruído.
Sumário
Data 23 de novembro de 1961 (62 anos)
Causa Colisão com o solo em voo controlado decorrente de erro do piloto
Local Brasil Campinas, SP
Coordenadas 22° 59′ 27″ S, 47° 10′ 30″ O
Origem Argentina Aeroporto Internacional Ministro Pistarini, Argentina
Escala Brasil Aeroporto Internacional de Viracopos/Campinas

Trindade e Tobago Aeroporto Internacional de Piarco, Trinidad

Destino Estados Unidos Aeroporto de Idlewild, Nova Iorque
Passageiros 40
Tripulantes 12
Mortos 52
Sobreviventes 0
Aeronave
Modelo Reino Unido De Havilland Comet
Operador Argentina Aerolíneas Argentinas
Prefixo LV-AHR
Primeiro voo 1960

O Acidente aéreo de 1961 em Campinas foi um desastre aéreo ocorrido com o voo Aerolíneas Argentinas 322 que causou a morte de 52 pessoas no município de Campinas, no Brasil.[1][2]

Na madrugada de 23 de novembro de 1961, um jato Comet 4 de prefixo LV-AHR das Aerolíneas Argentinas caiu logo após decolar de Viracopos, provocando a morte das 52 pessoas que estavam a bordo.[3]

Aeronave envolvida[editar | editar código-fonte]

A aeronave envolvida era um de Havilland Comet IV, um jato dotado de quatro reatores embutidos nas asas. O equipamento tinha capacidade máxima de 81 ocupantes e estava registrado pela Aerolineas Argentinas com o prefixo LV-AHR e tinha sido batizada com a denominação "Arco-íris".[4]

A aeronave em questão havia feito seu primeiro voo em 1960, apresentando um total de 5242 horas de voo na ocasião do acidente.[5]

Devido à questões relacionadas à sua autonomia, esta aeronave tinha que fazer constantes paradas para reabastecimento. Deste modo, o voo realizado entre Buenos Aires e Nova Iorque incluía escalas técnicas em Campinas e na ilha caribenha de Trinidad, nas quais a empresa aproveitava para efetuar o embarque de novos passageiros.[6]

Embora o Comet fosse uma aeronave problemática, esse acidente não teve relação com os problemas estruturais relacionados a esse modelo, no qual comumente ocorriam rachaduras na fuselagem.[7] No caso do acidente de Campinas, a causalidade do evento está relacionada com falha de procedimentos da tripulação.[2]

A tripulação[editar | editar código-fonte]

A tripulação do voo 322 da Aerolineas Argentinas, na madrugada de 23 de novembro de 1961 era composta por 12 pessoas, comandadas pelo piloto Roberto Luis Mosca,[8][9] o qual contava com 12.550 horas de voo, sendo 1612 horas no comando de aeronaves do mesmo modelo envolvido no acidente[2]. Mosca era um aviador experiente, apresentando mais de 500 horas de atuação como instrutor das aeronaves de Havilland Comet IV.[2]

O co-piloto, Raul Mário Quesada contava com 13.427 horas de voo. Contudo, apresentava pouca experiência neste tipo de aeronave, nunca tendo oficialmente atuado como piloto em comando deste modelo. Desta forma, Raul Quesada estava atuando sob instrução de Roberto Mosca, com objetivo de ganhar experiência como piloto do Comet 4.[2]

Além do piloto e co-piloto, a tripulação era composta por Maurício Loubet, copiloto reserva; Boris Juan Marijanac, navegador; Carlos Leiva, mecânico; Juan Leira, engenheiro de voo; Antônio Sigilli, operador de rádio; Washington Garcia, comissário; Ricardo Henrique Garcia, comissário; Cândida Perez, aeromoça; Lylian Casanovich, aeromoça e Manuel Vallecillos, navegador reserva.[9]

O acidente[editar | editar código-fonte]

A aeronave que vinha de Buenos Aires, fez uma breve escala em Campinas, de onde seguiria para Trinidad e Nova Iorque no voo designado sob o código AR322.

Ainda era madrugada na cidade de Campinas quando a aeronave acionou seus motores com objetivo de partir rumo ao seu próximo destino. Aparentemente, o co-piloto, ainda inexperiente, estava no comando da aeronave, enquanto era instruído pelo piloto, para obter aprendizado no comando desse tipo de jato.

No entanto, devido à sua inexperiência, o co-piloto teve problemas durante o procedimento de decolagem e aeronave ficou descontrolada. Foi então perdendo altitude até atingir um eucaliptal situado a 500 metros da cabeceira da pista, que naquela época consistia em parte da zona rural do município de Campinas, mais precisamente em uma localidade fundada por descendentes de alemães, denominada Friburgo.[10][11]

Com o impacto, o avião abriu uma clareira de 400 metros de extensão entre as árvores e foi se despedaçando até bater contra uma pequena colina, onde acabou por explodir, causando a morte de todos os 52 ocupantes, incluindo tripulação e passageiros [5].

O incêndio decorrente do impacto da aeronave com as árvores foi tão intenso que durante horas as equipes de socorro não conseguiram se aproximar do local do acidente.[4][12] No local do acidente o cenário era catastrófico. Corpos mutilados estavam espalhados por toda a região,[4] sendo que vários estavam cortados ao meio.[12] O maior pedaço remanescente da aeronave foi a carenagem de um de seus motores.[9]

Por se tratar de uma área de mata na época da ocorrência, o impacto não atingiu nenhuma habitação.[13][14] Contudo, atualmente essa área é ocupada por diversos sítios, instalações rurais e algumas mineradoras.

Naquela época, o evento foi registrado como sendo o segundo maior acidente aéreo da história do Brasil.[5] Atualmente, considerando o número de vítimas fatais, o voo AR322 figura como o sétimo maior acidente aéreo ocorrido no país.[5]

Investigação[editar | editar código-fonte]

O peso da aeronave após o carregamento foi estimado em 157.604 libras (71.488 kg). Durante o taxiamento e aceleração ao longo da pista, cerca de 1165 libras (528 kg) foram queimadas adicionalmente, ou seja, o peso real de decolagem foi de 156.439 libras (70.960 kg). Para tal peso, o comprimento da corrida ao longo da pista deveria ter sido de no mínimo 2.240 metros, mas testemunhas indicaram que a aeronave decolou antes da marca dos 2.000 metros.[2]

Sequencialmente, a aeronave Comet IV iniciou sua subida em um ângulo de 4,5°. Transcorridos 55 segundos após o início da decolagem, o avião alcançou a altitude de cerca de 100 metros em relação ao solo.Tendo em conta o ângulo mínimo de subida deste modelo de aeronave, a investigação apontou que neste momento a altitude deveria ser 120 metros. A velocidade do ar indicada nos instrumentos era de 170 nós (315 km/h).[2]

Concluiu-se que a aeronave voou um total 3.170 metros antes do primeiro impacto. O ponto exato no qual o avião começou a perder altitude não pode ser determinado com precisão, embora estimativas indiquem que a queda teve na metade do trajeto entre a cabeceira da pista e o ponto do primeiro toque nas árvores.[2]

De acordo com o manual operacional desta aeronave, após atingir a velocidade de 170 nós, o piloto deveria alterar o ângulo do estabilizador. Como havia uma tendência para "mergulhar" neste momento, o procedimento indicava que esse efeito devia ser neutralizado usando a roda de controle. Porém, o impacto nas árvores ocorreu quase na horizontal, indicando que o avião baixou primeiramente o nariz e seguiu suavemente em direção ao solo. Quando a tripulação percebeu que estavam perdendo altitude e começou a tentar corrigir, puxando o manche para trás, já não havia altitude suficiente para evitar o desastre.[2]

Com a queda na altitude a aeronave passou a voar de forma perigosamente baixa. O primeiro impacto ocorreu entre o trem de pouso e a copa de um eucalipto, arrancando essa peça da aeronave.[4][9]

Quando a aeronave se chocou com as árvores pela primeira vez, o manche já havia sido puxado bruscamente, então o nariz começou a subir abruptamente. Desta forma, a 120 metros de distância do ponto do primeiro impacto, a angulação da aeronave já estava em 25°, o que ficou indicado pelo fato de que a perícia constatou que os jatos dos motores queimaram as folhagens das árvores abaixo deles.[2]

Em seguida, o estabilizador horizontal bateu em um eucalipto e se desprendeu da aeronave. A 145 metros do ponto do primeiro impacto, o meio da asa esquerda colidiu com um grande eucalipto e se separou da fuselagem. Com isso houve vazamento de combustível do tanque, o que causou imediatamente forte incêndio no lado esquerdo. Logo na sequencia, houve o impacto da área do motor 1 em uma árvore.[2]

Perdendo altitude rapidamente, o Comet IV atingiu o solo a 330 metros do ponto do primeiro impacto nas árvores. Nesse momento se chocou contra obstáculos terrestres e explodiu. Alguns destroços foram encontrados a 120 metros do ponto do contato com o solo e não mostraram sinais de fogo, evidenciando a intensidade da explosão.[2][15]

Até o momento em que atingiu as árvores, os motores da aeronave estavam em pleno funcionamento, não havendo nenhuma nenhuma falha, anormalidade ou incêndio a bordo.[2][15]

Prováveis causas[editar | editar código-fonte]

Segundo o relatório de investigação produzido pela junta de investigação de acidentes de aviação civil da Argentina,[2] baseado em informações coletadas pelo ministério da Aeronáutica do Brasil, fatores meteorológicos influenciaram a ocorrência deste acidente, uma vez que chovia na hora do acidente e havia nevoeiro até a altitude de 400 metros.[2][12] Mas esta não foi a principal causa.[2]

Este relatório indica que a causa primordial do acidente foi uma falha humana na operação dos instrumentos IFR durante a decolagem noturna e falha em adotar os procedimentos padrões para a decolagem daquele tipo de aeronave.[2] Um elemento contribuinte foi a falta de vigilância do comandante durante essa operação.[2]

Durante a ocorrência, o rádio-operador de bordo não teve tempo de enviar qualquer mensagem à torre de controle. A última comunicação havia sido feita pelo comandante ainda em solo, antes do início da aceleração para a decolagem.[9]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Reuters
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r Informe final: Investigation de acidentes de aviation [1] Arquivado abril 18, 2012 no WebCite
  3. AirDisaster.Com Accident Database.
  4. a b c d «52 Mortos na queda do jato em Campinas: nenhum sobrevivente». Folha de S.Paulo. 24 de novembro de 1961 
  5. a b c d Aviation Safety Network
  6. «#TBT - A passagem do Comet pelo Brasil». Passageiro de Primeira. 20 de dezembro de 2018. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  7. «Jato de janela quadrada». Super. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  8. Brasileira, Força Aérea. «Notimp 328 de 23/11/2014». Força Aérea Brasileira. Consultado em 20 de agosto de 2020 
  9. a b c d e «TRAGÉDIA EM CAMPINAS - AEROLINEAS ARGENTINAS VOO 322». www.desastresaereos.net. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  10. http://www.airdisaster.com/cgi-bin/aircraft_detail.cgi?aircraft=de+Havilland+DH-106+Comet
  11. Jetsite
  12. a b c Popular, Correio. «A amarga lembrança do 'voo da morte'». Correio Popular. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  13. www.solbrilhando.com.br https://www.solbrilhando.com.br/Campinas/Cidade/Viracopos_texto.htm. Consultado em 18 de dezembro de 2018  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  14. [http://www.voovirtual.com/t26105-histria-acidente-mais-grave-de-viracopos-deixou-52-mortos «Hist�ria: Acidente mais grave de Viracopos deixou 52 mortos»]. www.voovirtual.com. Consultado em 18 de dezembro de 2018  replacement character character in |titulo= at position 5 (ajuda)
  15. a b «ASN Aircraft accident de Havilland DH-106 Comet 4 LV-AHR São Paulo/Campinas-Viracopos International Airport, SP (VCP)» (em inglês). Aviation Safety Network. Consultado em 29 de maio de 2018 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]