Argentina na Copa do Mundo FIFA de 1930

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Argentina
6º lugar
Associação AFA
Confederação Conmebol
Participação
Melhor resultado Campeã: 1978, 1986
Treinador Argentina Francisco Olazar

A Seleção Argentina de Futebol foi uma das 13 equipes participantes da Copa do Mundo FIFA de 1930, realizada no Uruguai de 13 a 30 de julho.

Foi a primeira participação da Argentina na Copa do Mundo. O técnico era Francisco Olazar e os capitães eram Ángel Bossio e Manuel Ferreira. O torneio foi realizado durante a era amadora do futebol.

Preparação[editar | editar código-fonte]

A Argentina venceu o Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1927 e o Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1929 e ganhou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Verão de 1928, perdendo a final contra o Uruguai.

Um mês antes da Copa do Mundo de 1930, Argentina e Uruguai disputaram um amistoso no antigo estádio do Club Atlético San Lorenzo de Almagro, localizado no bairro de Boedo, em Buenos Aires. A partida terminou empatada em 1 a 1, com gols de Francisco Varallo para a Argentina e Pedro Petrone para o Uruguai. Como, em caso de empate, o visitante era declarado campeão, o Uruguai levou o troféu da competição amistosa.

De acordo com Francisco Varallo: "Antes do torneio, treinávamos três vezes por semana. Fazíamos ginástica e jogávamos um pouco. Eu era louco por treinamento, então ficava para correr depois que os outros meninos saíam. O técnico era Francisco Olazar, uma grande figura do Racing. Ele havia sido nomeado por causa de seu histórico, mas naquela época não tomava muitas decisões. Ele nomeava os onze e pronto. As grandes decisões eram tomadas pelos diretores. O preparador físico era Juan José Tramutola, que nos orientava com os exercícios. Não tinha nada a ver com as sessões de treinamento de hoje, mas era bom para a época.

A Argentina se concentrou em Santa Lucia (Uruguai), uma cidade mais tranquila, longe de Montevidéu, para evitar a pressão da torcida uruguaia. Francisco Varallo: "Foi como uma guerra psicológica, eles queriam nos assustar. Lá, em La Barra, não havia muito o que fazer, mas Carlos Gardel, um grande amigo e fanático por futebol, sempre vinha nos visitar. Ele ficava acordado até as 12 horas da noite jogando na loteria e sempre pegava seu violão para cantar as músicas que pedíamos para ele cantar".[1]

A equipe incluiu o espanhol Pedro Suárez, o primeiro jogador não nascido na Argentina que defendeu o país em uma Copa do Mundo. O segundo foi Constantino Urbieta Sosa na Copa do Mundo de 1934 e o terceiro foi Gonzalo Higuaín nas Copas do Mundo de 2010, 2014 e 2018.

Jogadores[editar | editar código-fonte]

# Nome Posição Idade J na Sel Clube
1 Ángel Bossio Capitán Goleiro 25 3 Argentina Atlético Talleres
2 Juan Botasso goleiro 29 25 Argentina Quilmes
3 Alberto Chividini Defensor 24 12 Argentina Atlético Central Norte
4 Edmundo Piaggio Defensor 24 29 Argentina Lanús
5 Fernando Paternoster Meio campista 27 5 Argentina Racing Club
6 José Della Torre Defensor 24 64 Argentina Racing Club
7 Juan Evaristo Defensor 28 8 Argentina Club Sportivo Barracas
8 Ramón Muttis Defensor 31 70 Argentina Boca Juniors
9 Adolfo Zumelzú Meio campista 28 5 Argentina Club Atlético Estudiantil Porteño
10 Attilio Demaría Meio campista 21 45 Argentina Club Atlético Estudiantil Porteño
11 Luis Monti Meio campista 29 54 Argentina San Lorenzo
12 Mario Evaristo Meio campista 21 4 Argentina Boca Juniors
13 Pedro Suárez Meio campista 22 54 Argentina Boca Juniors
14 Rodolfo Orlandini Meio campista 25 57 Argentina Club Atlético Estudiantil Porteño
15 Alejandro Scopelli Atacante 22 7 Argentina Estudiantes de La Plata
16 Carlos Peucelle Atacante 21 22 Argentina Club Social y Sportivo Buenos Aires
17 Carlos Spadaro Atacante 28 16 Argentina Lanús
18 Francisco Varallo Atacante 20 14 Argentina Gimnasia y Esgrima
19 Guillermo Stábile Atacante 25 21 Argentina Club Atlético Huracán
20 Manuel FerreiraCapitán Atacante 24 36 Argentina Estudiantes de La Plata
21 Natalio Perinetti Atacante 29 4 Argentina Racing Club
22 Roberto Cherro Atacante 23 6 Argentina Boca Juniors
T Francisco Olazar

Participação[editar | editar código-fonte]

Primeira fase[editar | editar código-fonte]


Equipe Pts J V E D GP GC Saldo
Argentina Argentina 6 3 3 0 0 10 4 +6
Chile Chile 4 3 2 0 1 5 3 2
França França 2 3 1 0 2 4 3 1
México México 0 3 0 0 3 4 13 -9


15 de julho de 1930 Argentina Argentina 1 – 0 França França Estádio Gran Parque Central, Montevidéu
16:00
Luis Monti Gol marcado aos 81 minutos de jogo 81' Súmula Público: 23 409
Árbitro: Gilberto de Almeida Rêgo Brasil


19 de julho de 1930 Argentina Argentina 6-3 México México Estádio Centenario, Montevidéu
13:30
Guillermo Stábile Gol marcado aos 08 minutos de jogo 08'
Adolfo Zumelzú Gol marcado aos 12 minutos de jogo 12',
Guillermo Stábile Gol marcado aos 17 minutos de jogo 17'
Francisco Varallo Gol marcado aos 53 minutos de jogo 53'
Adolfo Zumelzú Gol marcado aos 55 minutos de jogo 55'
Guillermo Stábile Gol marcado aos 80 minutos de jogo 80'
Súmula Manuel Rosas Gol marcado aos 42 minutos de jogo 42'
Manuel Rosas Gol marcado aos 65 minutos de jogo 65'
Roberto Gayón Gol marcado aos 75 minutos de jogo 75'
Público: 42 100
Árbitro: Ulises Saucedo Bolívia


22 de julho de 1930 Chile Chile 1-3 Argentina Argentina Estádio Centenario, Montevidéu
20:30
Guillermo Subiabre Gol marcado aos 15 minutos de jogo 15' Súmula Guillermo Stábile Gol marcado aos 12 minutos de jogo 12' Guillermo Stábile Gol marcado aos 13 minutos de jogo 13' Mario Evaristo Gol marcado aos 51 minutos de jogo 51' Público: 41 459
Árbitro: John Langenus  Bélgica

Semi-Final[editar | editar código-fonte]

26 de julho de 1930 Argentina Argentina 6 – 1 Estados Unidos Estados Unidos Estádio Centenario, Montevidéu
15:30
Luis Monti Gol marcado aos 20 minutos de jogo 20'
Alejandro Scopelli Gol marcado aos 56 minutos de jogo 56'
Guillermo Stábile Gol marcado aos 69 minutos de jogo 69'
Carlos Peucelle Gol marcado aos 80 minutos de jogo 80' Gol marcado aos 85 minutos de jogo 85'
Guillermo Stábile Gol marcado aos 87 minutos de jogo 87'
James Brown Gol marcado aos 71 minutos de jogo 71' Público: 72 886
Árbitro: John Langenus  Bélgica

Final[editar | editar código-fonte]

30 de julho de 1930 Uruguai Uruguai 4-2 Argentina Argentina Estádio Centenario, Montevidéu
16:00
Carlos Peucelle Gol marcado aos 20 minutos de jogo 20'
Guillermo Stábile Gol marcado aos 37 minutos de jogo 37'
Pablo Dorado Gol marcado aos 12 minutos de jogo 12'
Pedro Cea Gol marcado aos 57 minutos de jogo 57'
Victoriano Iriarte Gol marcado aos 68 minutos de jogo 68'
Héctor Castro Gol marcado aos 89 minutos de jogo 89'
Público: 68 346
Árbitro: John Langenus  Bélgica

Campanha[editar | editar código-fonte]

Argentina vs França[editar | editar código-fonte]

A Argentina participou da primeira Copa do Mundo como convidada, assim como os outros 11 participantes e o anfitrião. Sua sede era em Barra de Santa Lucia, a poucos quilômetros de Montevidéu. A estreia na Copa do Mundo ocorreu em 15 de julho de 1930, no Estádio Gran Parque Central, em Montevidéu, contra a França.

A dez minutos do final, o meio-campista Luis Monti marcou o único gol da partida em uma cobrança de falta. O árbitro brasileiro, Gilberto de Almeida Rêgo, cometeu um erro e encerrou a partida 6' antes do tempo, o que provocou a ira da torcida, em sua maioria uruguaia, que invadiu o gramado e gritou hostilidades contra os jogadores argentinos. Percebendo o erro, o árbitro foi aos vestiários e pediu aos jogadores que voltassem ao campo para completar o tempo normal. O resultado não foi alterado e a Argentina venceu por 1 a 0.

Francisco Varallo: "Jogamos muito bem, mas não conseguimos marcar. Criamos umas dez chances de gol e não entraram. A bola bateu na trave, raspou ou o goleiro Thépot, o primeiro que vi de luvas, pegou. Faltando dez minutos para o fim do jogo, recebemos uma cobrança de falta e Monti me pediu para cobrá-la. "Não, você bate, vai ser um gol", eu disse a ele sem me dirigir a ele como um garoto, porque eu era um garoto e chamava todos os meus companheiros de equipe de "você". Eu não queria saber de nada porque o goleiro havia bloqueado dois chutes incríveis, achei que não era a minha tarde de sorte. No final, o Monti acertou o gol, colocou a bola para dentro e vencemos com um placar justo".[1]

Argentina vs México[editar | editar código-fonte]

A segunda participação da Argentina foi contra o México no Estádio Centenário, em Montevidéu. A partida foi marcada por alguns episódios típicos da era amadora do futebol. Não havia árbitros suficientes. O árbitro era o diretor técnico da Bolívia na Copa do Mundo, Ulises Saucedo, e um dos auxiliares de linha - hoje chamados de assistentes - era o técnico da Romênia no torneio, Constantin Rădulescu. O capitão argentino naquela partida foi o goleiro Ángel Bossio, devido à ausência de Manuel Ferreira, que havia viajado para Buenos Aires para fazer um exame na carreira de Tabelião Público que estava seguindo na Faculdade de Direito.

Guillermo Stábile assumiu o posto de titular no lugar de Roberto Cherro, permanecendo até o final do torneio e terminando como o artilheiro da competição.

A partida teve o primeiro caso de Fair Play e também o primeiro pênalti perdido na história da Copa do Mundo. A Argentina vencia por 3 a 0 e recebeu um pênalti. Sob protestos no estádio, o árbitro, Ulises Saucedo, percebeu que havia cometido um erro e tentou aumentar a distância da marca do pênalti, dando 16 passos em vez de 12. Fernando Paternoster, da Argentina, perdeu o pênalti de propósito. Após a partida, Carlos Gardel foi ao vestiário para parabenizar os jogadores pelo grande gesto esportivo. Ulises Saucedo marcou mais dois pênaltis, ambos para o México, um convertido por Manuel Rosas Sánchez e o outro defendido por Bosio na frente do mesmo cobrador.[2]

Em uma partida em que a Argentina venceu por 6 a 3 com três gols de Guillermo Stábile, dois gols de Adolfo Zumelzú e um de Francisco Varallo.

Argentina vs. Chile[editar | editar código-fonte]

O último jogo, contra o Chile, era a partida final, pois o vencedor se classificava para as semifinais do torneio. Os argentinos venceram o Chile por 3 a 1 com dois gols de Guillermo Stábile e um de Mario Evaristo, enquanto Guillermo Subiabre marcou o gol do Chile.

A partida ficou marcada por uma briga generalizada, que começou com uma disputa entre Luis Monti e Guillermo Subiabre. O jornal uruguaio El Diario (Uruguai) descreveu o incidente, acusando Monti de ser o agressor: "impotente para deter os atacantes chilenos, que estavam atacando a defesa argentina, dando-lhes muito trabalho, o meia Monti, sendo coerente consigo mesmo, deliberadamente aplicou um chute no jogador chileno Zubiabre, quando este não estava com a bola, Isso provocou a reação lógica do jogador agredido, o que levou à intervenção dos jogadores argentinos que tentaram atacar Zubiabre novamente, seus companheiros de equipe vieram em sua defesa e uma briga generalizada entre todos os jogadores, o que constituiu um espetáculo deprimente". O argentino Francisco Varallo acusou Guillermo Subiabre de ser o agressor: "Esse Subiabre era muito mau. Enquanto eu comemorava um dos nossos gols, ele veio por trás e me deu um chute no joelho esquerdo. No calor do momento. E ele me acertou tão bem que eu não poderia estar na semifinal, pois doeu muito.". [1]

Argentina vs. Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

Não estava decidido como as semifinais seriam disputadas, nem se sabia como os cruzamentos seriam decididos. A FIFA optou por um sorteio puro somente depois que os quatro semifinalistas foram classificados.

Nas semifinais, a Argentina enfrentaria os Estados Unidos, que haviam vencido a Bélgica e o Paraguai por 3 a 0. Antes da partida, o NY Times considerou a equipe americana como favorita para o jogo. [3] Com 72 886, a maioria argentinos, foi o maior público da competição. O goleiro Juan Botasso assumiu a titularidade no lugar do até então capitão Ángel Bossio e permaneceria na posição na final da Copa do Mundo. A Argentina venceu por 6 a 1 e se classificou à final.

Uruguai vs. Argentina[editar | editar código-fonte]

Finalmente, a partida final foi disputada entre Argentina e Uruguai em 30 de julho no Estádio Centenário. O clima estava muito hostil para os argentinos. Como cada equipe queria jogar com sua própria bola, foi necessário fazer um sorteio. O primeiro tempo foi jogado com a bola argentina e o segundo tempo com a bola uruguaia, obviamente. O gramado estava em péssimas condições.

Aos 12 minutos do primeiro tempo, Pablo Dorado, do Uruguai, abriu o placar após um passe de Héctor Castro. Mas a Argentina reagiu rapidamente. Oito minutos depois, Carlos Peucelle recebeu de Manuel Ferreira e empatou a partida. Luis Monti avançou com a bola em direção ao ataque argentino e lançou. José Nasazzi levantou as mãos para alegar impedimento, mas o árbitro permitiu que a jogada prosseguisse. Guillermo Stábile avançou sem resistência e bateu Ballestrero com um chute alto.

Já no segundo tempo, a partida ficou mais acirrada. Aos 12 minutos do segundo tempo, José Pedro Cea empatou com um passe de Héctor Scarone e o Uruguai assumiu o controle da partida. Aos 23 minutos do segundo tempo, Victoriano Santos Iriarte colocou o time da casa à frente, em um chute surpreendente de 30 metros de distância, após um passe de Ernesto Mascheroni. Faltando 1 minuto para o fim do jogo, Héctor Castro cabeceou um cruzamento de Pablo Dorado para fazer 4 a 2 e dar ao Uruguai seu primeiro título da Copa do Mundo.[4]

Artilharia[editar | editar código-fonte]