Beryx decadactylus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaBeryx decadactylus

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante [1].
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Osteichthyes
Subclasse: Actinopterygii
Ordem: Beryciformes
Família: Berycidae
Género: Beryx
Espécie: B. decadactylus
Nome binomial
Beryx decadactylus
(Cuvier, 1829)

Beryx decadactylus é uma espécie de peixe teleósteo bericiforme da família dos bericídeos, frequentemente conhecida como a família dos alfonsins. Conhecido pelos nomes comuns de cardeal, melo e imperador, apresenta ampla distribuição geográfica, ocupando grande parte da coluna de água durante o seu ciclo de vida. É tipicamente associado a corais do fundo do mar, formando cardumes junto a montes submarinos. Os adultos são demersais e procuram presas ao longo do fundo do oceano, principalmente peixes, cefalópodes e crustáceos. A autoridade científica da espécie é Cuvier, tendo sido descrita no ano de 1829.

Apesar de não existirem grandes informações sobre a sua reprodução, acredita-se que esta espécie, apesar de considerada como pouco preocupante pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), pela sua distribuição geográfica, esteja vulnerável à expansão da pesca.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie marinha. Mede cerca de 35 cm, podendo chegar aos 43 cm de comprimento médio, contudo, perto do arquipélago dos Açores, o tamanho máximo registado foi de 55 cm de comprimento à furca[2], com uma idade de primeira maturação de cerca de 4 anos e tamanho de primeira maturação de 32,5 cm (comprimento à furca) para as fêmeas e de 30,3 cm (comprimento à furca) para machos[3]. Atinge os 63 cm de comprimento à furca, com base de indivíduos de sexo indeterminado.

As estimativas mínimas de idades máximas relatadas para esta espécie no Atlântico Norte são de 15 anos no leste do Oceano Atlântico Norte[4] e de 49 anos no oeste do Oceano Atlântico Norte[5].

Num estudo sobre a idade e crescimento desta espécie realizado ao largo dos Açores, Madeira e Ilhas Canárias ficou-se a saber que o seu crescimento é lento e que é capaz de atingir uma idade de pelo menos 11 anos[6], contudo, as idades máximas relativamente aos Açores foram registadas com o valor de 15 anos e com 3 a 4 anos na idade da primeira maturação[4].

Distribuição e Habitat[editar | editar código-fonte]

O Beryx decadactylus é uma espécie bentopelágica de grande distribuição mundial que pode ser encontrada nas águas profundas dos Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico[7]. Pode ser encontrada em todo o Oceano Atlântico, no Mediterrâneo ocidental, bem como nos Oceanos Índico e Pacífico, em áreas tropicais, subtropicais e algumas áreas temperadas [8][9][10][11]. No Atlântico Nordeste, o Beryx decadactylus é comum em águas espanholas e portuguesas, incluindo Açores, Madeira e Ilhas Canárias [8][9][11][12].


Esta espécie ocupa a coluna de água em grandes intervalos de profundidade (25-1 300 metros), formando agregações densas que se alojam ou junto aos fundos oceânicos rochosos ou em recifes de águas profundas entre os 100 e os 1240 metros. Normalmente vive perto do fundo do talude superior entre os 200 e 900 metros de profundidade, podendo ser encontrado, em casos extremos, entre os 25 e 1 240 metros. Geralmente, é encontrada entre os 400 e os 600 metros[8][9].

Biologia e Ecologia[editar | editar código-fonte]

Caracteriza-se pela altura do corpo que é nitidamente superior ao comprimento da cabeça e está contida três ou menos vezes no comprimento total, a barbatana dorsal é composta por 4 raios duros e 16 a 19 raios moles[13]. Apresenta uma coloração escarlate ou rosa muito vivo[13].

O Beryx decadactylus distingue-se do Beryx splendens por apresentar um corpo mais robusto, registando um comprimento padrão superior, bem como um comprimento da cabeça ligeiramente maior. A sua barbatana anal surge abaixo do meio da base da barbatana dorsal e apresenta barbatanas pélvicas que atingem o início da barbatana anal quando aprimoradas para o auxílio nas deslocações na coluna de água[14].

Os Beryx spp. apresenta uma dinâmica espacial muito característica desta espécie durante o seu ciclo de vida[15], ocupando as regiões oceânicas epipelágicas, mesopelágicas e batipelágicas superior[16]. Este grupo define-se por apresentar um longo período de vida planctónico[6][17] (ovos e larvas epipelágicas e juvenis pelágicos[4][17]), seguido por migrações para áreas nas quais os indivíduos se desenvolvem até atingirem a maturidade, tendo-se verificado uma forte relação entre o tamanho dos indivíduos e as profundidades que estes ocupam, com os juvenis a desenvolverem-se em zonas pouco profundas e indivíduos de grandes dimensões e maturos a habitarem águas mais profundas[18][19]. Esta espécie, à semelhança dos seus congéneres, efetua migrações verticais diárias, que não excedem os 2-3 metros por minuto, e apresenta a capacidade de atravessar facilmente a camada mínima de oxigénio[20]. O comportamento e o movimento dos alfonsins, na coluna de água, apresentam uma forte reação com os seus hábitos alimentares, baseados no consumo de outros peixes, crustáceos e cefalópodes[21], e com as suas atividades reprodutoras[16].

O período reprodutivo dos Beryx spp. ocorre no Verão e no início do Outono, podendo estender-se por quatro meses. Nas zonas temperadas, a época de desova ocorre durante o outono-inverno[16]. A longa época de reprodução dos Beryx spp. é provavelmente influenciada pela temperatura favorável da água, colocando-se a hipótese deste ser o principal fator indutor da maturação e desova[20][22][23][24].

Apesar das descrições realizadas por diferentes autores, os aspetos relacionados à estratégia reprodutiva não estão totalmente conhecidos [19].

Interesse comercial[editar | editar código-fonte]

Esta espécie está identificada como menos preocupante pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), uma vez que, a sua extensa distribuição faz com que este esteja protegido do perigo de extinção e em partes de seu alcance não é uma espécie-alvo. A degradação do seu habitat pode estar ameaçada pela pesca de arrasto em águas profundas, que causa danos aos corais do fundo do mar[1].

Sendo uma atividade valiosa e com potencial de empregabilidade, a pesca de Beryx spp. é encontrada em quase todos os mares, onde se verificam águas moderadamente profundas, tanto em latitudes tropicais como temperadas, à exceção do Pacífico Nordeste onde não existem registos desta atividade[16].

O mercado principal para esta espécie é o Japão e o Extremo Oriente, embora a Europa e os Estados Unidos da América também sejam bons mercados[25].

Pescarias na Macaronésia[editar | editar código-fonte]

Nos Açores, B. decadactylus é uma das espécies alvo de uma pesca demersal tradicional com linhas de mão e palangres que opera ao largo das costas das ilhas e em vários montes submarinos da Zona económica exclusiva açoriana até aos 900 m[6]. No entanto, este é normalmente capturado como captura acessória na pesca demersal de Beryx splendens no arquipélago, com as estatísticas de pesca agruparem estas duas espécies de Beryx. Existe alguma preocupação de que B. decadactylus possa ser mais suscetível à sobrepesca devido a subpopulações menores e história de vida mais conservadora do que as do B. splendens[26].

Na Madeira, B. decadactylus é uma espécie de captura acessória na pesca artesanal demersal de linha de mão e espinhel entre 250 e 750 m de profundidade[6].

Nas Ilhas Canárias, B. decadactylus é uma espécie secundária na pesca demersal de pequena escala de B. splendens ao largo das ilhas Gran Canaria e El Hierro com linhas de mão e linhas de fundo a cerca de 400-700 m de profundidade[6].

As capturas das principais espécies comerciais, como é o caso do imperador apresentam tendências decrescentes na última década e as análises exploratórias realizadas através da utilização de métodos expedidos sugerem que esta espécie está intensivamente explorada[27].

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Beryx decadactylus - Froese, R. and D. Pauly. Editors. 2014. FishBase. World Wide Web electronic publication. www.fishbase.org, (11/2014)
  1. a b Iwamoto, T., Russell, B., Polanco Fernandez, A., McEachran, JD & Moore, J. (2015). Beryx decadactylus . A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN 2015: e.T198578A21910085. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2015-4.RLTS.T198578A21910085.en . Consultado a 02 de fevereiro de 2022 .
  2. Rosa, A., Menezes, G., Melo, O. & Pinho, M.R. (2006). Weight–length relationships of 33 demersal fish species from Azores archipelago. Fisheries Research 80: 329-332.
  3. Estácio, S., Mendonca, A., Krug, H., Menezes, G.M. &Pinho, M.R. (2001). Aspects of the reproduction of six exploited demersal fish species in the Azores Archipelago. Arquipélago. Life and Marine Sciences Supplement 2: 83-94.
  4. a b c Isidro, E. (1996). Biology and population dynamics of selected demersal fish species of the Azores Archipelago. PhD Thesis, University of Liverpool, U.K.
  5. Friess, C. and Sedberry, G. R. (2011). Age, growth and spawning season of the deep-water berycid red bream (Beryx decadactylus). Fishery Bulletin 109: 20–33.
  6. a b c d e Krug, H., Carvalho, D., and González, J. (2011). Age and growth of the alfonsino Beryx decadactylus (Cuvier, 1829) from the Azores, Madeira and Canary Islands, based on historical data, (January).
  7. Paxton, J. R., (1999). Berycidae. Alfonsinos. In K.E. Carpenter, V.H. Niem (Eds). FAO species identification guide for fishery purposes. The living marine resources of the WCP. Vol. 4. Bony fishes part 2 (Mugilidae to Carangidae). Rome, Italy: FAO.
  8. a b c Maul, G.E. (1981). Trachichthyidae. In W. Fischer, G. Bianchi & W.B. Scott, eds. Eastern Central Atlantic: fishing Areas 34 and Part of 47. FAO Species Identification Sheets for Fishery Purposes, Vol. 4. Rome, Dept. Fish. & Oceans Canada and FAO. (also available at www.fao.org/docrep/009/ag419e/ag419e00.htm).
  9. a b c Maul, G.E. (1986). Berycidae. In P.J.P. Whitehead, M.-L. Bauchot, J.-C. Hureau, J. Nielson & E. Tortonese, eds. Fishes of the North-eastern Atlantic and Mediterranean, III: 740–742. Bungay, UK, UNESCO.
  10. Busakhin, S.V. (1982). Systematics and distribution of the family Berycidae (Osteichthyes) in the world ocean. J. Icthyol., 22: 1–21.
  11. a b Maul, G.E. (1990). Berycidae. In J.C. Quero, J.C. Hureau, C. Karrer, A. Post & L. Saldanha, eds. Checklist of the fishes of the eastern tropical Atlantic (CLOFETA), Vol. 2, 626 PP. Lisbon, JNICT; Paris, SEI and UNESCO.
  12. Albuquerque, R.M. (1956). Peixes de Portugal e Ilhas adjacentes. Chaves para sua determinação. Portugaliae Acta Biologica (B), 5(1): 1–1164.
  13. a b Martins, R. & Carneiro, M. (2015). Manual prático de identificação de peixes ósseos da costa continental portuguesa - Principais características diagnosticantes. Publicações Avulsas do IPMA, 2: 147 p.
  14. FAO. (1974). FAO SPECIES IDENTIFICATION SHEETS BER. In Names, 4: 513–520. https://doi.org/10.1016/S0921-4526(05)00705-2
  15. Flores, A., Wiff, R., Gálvez, P., & Díaz, E. (2012). Reproductive biology of alfonsino Beryx splendens. Journal of Fish Biology, 81(4), 1375–1390. https://doi.org/10.1111/j.1095-8649.2012.03424.x
  16. a b c d Shotton, R. (2016). Global review of Alfonsino (Beryx spp.) their fisheries, biology, and management. In Food and Agriculture Organization of the United Nations, 1084 (1084). http://www.fao.org/3/a-i5336e.pdf
  17. a b Mundy, B. C. (1990). Development of larvae and juveniles of the alfonsins, Beryx splendens and B. decadactylus (Berycidae, Beryciformes). Bulletin of Marine Science, 46: 257–273.
  18. Iguchi, K. (1973). Research by trawl fishery for commercialization if the fishing ground by the Japan Marine Fishery Resource Research Center. Outline of trawl fishery investigation for commercialization in the central North Pacific Ocean II. Bulletin of the Japanese Society Oceanography, 23: 47–56.
  19. a b Santos, R.V.S., Novoa-Pabon, A.M. , Silva, H.M. & Pinho, M.R. (2019). Can we consider the stocks of alfonsinos Beryx splendens and Beryx decadactylus from the Azores a discrete fishery management unit? Journal of Fish Biology, 94: 993-1000.
  20. a b Galaktionov, G. Z. (1984).Features of the schooling behaviour of the Alfonsino,Beryx splendens(Berycidae) in the thalassobathyal depths of the Atlantic Ocean. J. Icthyol., 24(5): 148–151.
  21. Dürr, J. & González, J.A. (2002). Feeding habits of Beryx splendens and Beryx decadactylus (Berycidae) off the Canary Islands. Fisheries Research, 54: 363-374.
  22. González, J.A., Rico, V., Lorenzo, J.M., Reis, S., Pajuelo, J.G., Dias, M.A., Mendonça, A., Krug, H.M. & Pinho, M.R. (2003). Sex and reproduction of the alfonsino Beryx splendens (Pisces, Berycidae) from the Macaronesian archipelagos. Journal of Applied Ichthyology, 19: 104–108.
  23. Lehodey, P. & Grandperrin, R. (1996). Age and growth of the alfonsino Beryx splendens over the seamounts off New Caledonia. Mar. Biol., 125: 249–258.
  24. Lehodey, P., Grandperrin, R. & Marchal, P. (1997). Reproductive biology and ecology of a deep demersal fish, alfonsino Beryx splendens, over the seamounts off New Caledonia. Marine Biology, 128: 17–27.
  25. Japp, D.W., & Wilkinson, S. (2007). Deep-sea resources and fisheries. In FAO. Report and documentation of the Expert Consultation on Deep-sea Fisheries in the High Seas. Bangkok, Thailand, 21 to 23 November 2006, pp. 39-54. FAO Fisheries Report No. 838. Rome, FAO. 203 pp
  26. Aboim, M.A.(2005). Population genetics and evolutionary history of some deep-sea demersal fishes from the Azores - North Atlantic. School of Ocean and Earth Science, University of Southampton.
  27. Pinho, M. R. & Menezes, G. (2009). Pescaria de Demersais dos Açores, 85–102.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Beryx decadactylus
Ícone de esboço Este artigo sobre peixes é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.