Cerco de Damasco (1400)

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 Nota: Para outros significados, veja Cerco de Damasco.
Cerco de Damasco
Data 1400 (624 anos)
Local Damasco
Coordenadas 33° 30' 23" N 38° 18' 55" E
Desfecho Vitória decisiva de Tamerlão[1][2]
Beligerantes
Timúridas Burjidas
Comandantes
Tamerlão Faraje
Forças
50 000 desconhecida
Baixas
desconhecidas todos mortos

O cerco de Damasco foi um confronto militar que ocorreu em 1400. O Império Timúrida, em expansão sob o seu fundador, Tamerlão, cercou e tomou Damasco, então na posse do sultanato mameluco do Egito. Quando as tropas de Tamerlão retiraram, saquearam a cidade e massacraram grande parte da sua população.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Tamerlão foi um dos líderes mais poderosos da Ásia Central desde Gengis Cã. Através de longas e incansáveis guerras, ele procurou reconstruir o Império Mongol dos seus antecessores.[3][4] Antes do fim de 1399, Tamerlão entrou em guerra com o burjida Faraje (Nasir Adine Faraje), sultão mameluco do Egito, e invadiu a Síria, uma possessão mameluca. As tropas de Tamerlão tomaram Alepo,[5] onde massacraram muitos dos habitantes. O líder turco-mongol ordenou a construção de uma torre com 20 000 crânios fora da cidade.[6]

Após ter esmagado Alepo, Tamerlão tomou as cidades de Hama, Homs e Baalbek, que se renderam sem oferecer resistência. Marchou então para Damasco, ao mesmo tempo que enviou destacamentos de cavalaria para pilharem Tiro e Sídon.[7]

Batalha[editar | editar código-fonte]

Faraje demorou a reagir, tendo conduzido o seu exército primeiro para Gaza. Quando chegou a Damasco, onde Tamerlão já tinha sob controlo os acessos a ocidente, a discórdia entre os líderes mamelucos estava instalada, com alguns generais muito receosos de enfrentarem os timúridas e outros que opinavam que o desastre de Alepo tinha sido um acidente e que deviam atacar Tamerlão imediatamente. Encontrando-se nesta posição enfraquecida, Faraje recebeu outra carta de Tamerlão, com as exigências por ele impostas para fazer a paz e que já tinha apresentado antes: os mamelucos deveriam depor as armas; o sobrinho de Tamerlão, Atilmixe, refém dos mamelucos, deveria ser entregue; e o nome de Tamerlão deveria ser incluído nas orações de sexta-feira. Desta vez Faraje deu sinais de aceitar as condições, mas não deu qualquer resposta no prazo dado de cinco dias.[7]

No fim do prazo, surpreendentemente, Tamerlão, em vez de atacar, retirou para leste, o que levou os sitiados a fazer uma saída da cidade para o perseguirem. Este ataque foi repelido, provocando elevadas baixas entre os damascenos e a raiva de Tamerlão. Faraje tentou ganhar tempo alegando que o ataque tinha sido devido a uma revolta popular na cidade e que não tinha sido comandado por qualquer dos seus generais. Tamerlão voltou a estacionar o seu exército e a cercar a cidade. Segundo algumas fontes, ao amanhecer do dia seguinte o exército egípcio tinha debandado da planície — alguns emires tinham tido notícia de uma revolta no Cairo e tiraram as suas divisões do campo de batalha, sendo seguido do sultão. Tamerlão enviou a sua cavalaria atrás dos mamelucos, que foram desbaratados.[7] Todas as fontes falam numa derrota de Faraje no exterior das muralhas de Damasco, que deixou a cidade à mercê dos timúridas.[8]

Devido a Damasco dispor de sólidas fortificações e estar bem aprovisionada para um cerco, Tamerlão achou prudente oferecer um acordo de rendição.[7] Outras fontes dão a entender que a iniciativa de encetar negociações foi dos mamelucos, que teriam enviado emissários do Cairo para falar com os timúridas.[carece de fontes?] Após algumas negociações, nas quais um dos intervenientes por parte dos mamelucos foi ibne Caldune, as condições dos sitiantes foram aceites e as tropas de Tamerlão marcharam através das portas das muralhas. Foram dadas ordens estritas a proibir pilhagens e aqueles que desobedeceram foram crucificados no mercado público. Estas medidas tinha como objetivo assegurar ao povo de Damasco que o novo governante era benevolente e justo. Não obstante a cidade propriamente dita ter-se rendido, a guarnição da fortaleza principal continuou a resistir, e fê-lo com determinação durante um mês. A fortaleza acabou por cair quando as suas paredes foram parcialmente derrubadas, aquecendo-as com nafta em fogo, seguidamente arrefecendo-as com vinagre e finalmente martelando-as. Os soldados defensores foram escravizados e o governador foi decapitado.[7]

Tamerlão pediu então um tributo avultadíssimo, impossível de pagar. Depois, clamando vingança pelo assassínio de AliTamerlão era xiita e os sunitas de Damasco, nomeadamente os omíadas, eram apontados como os assassinos de Ali, que para os xiitas era o legítimo sucessor de Maomé, — mandou pilhar a cidade e incendiar a Mesquita dos Omíadas. As pilhagens puseram a cidade a ferro e fogo durante três dias. Todos os objetos valiosos foram roubados, muitos edifícios foram queimados e muitos habitantes foram massacrados ou escravizados. As cabeças dos executados foram empilhadas num campo junto no exterior da esquina nordeste da muralha, onde atualmente existe um praça chamada Burj al-Ru'us ("torre das cabeças"). Numerosos artesãos foram levados para Samarcanda, a capital timúrida. Damasco, até então uma das maiores cidades do mundo e uma das mais importantes do mundo árabe, nunca mais recuperou a sua antiga glória depois dessa destruição.[7]

Rescaldo[editar | editar código-fonte]

Depois da captura de Damasco, o império neo-mongol de Tamerlão passou a fazer fronteira com outra potência emergente na região, o Império Otomano. As duqas potências não tardariam a entrar em confronto direto. O sultão otomano Bajazeto I (r. 1389–1402) exigiu tributo a um dos beilhiques da Anatólia que tinham declarado lealdade a Tamerlão e ameaçou com invasão. Tamerlão interpretou isso como um insulto a ele próprio e em 1400 saqueou a cidade otomana de Sebaste (atual Sivas).[9] Mais tarde, em 20 de julho de 1402, Tamerlão derrotaria Bajazeto na Batalha de Ancara.[10]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. Abazov, Rafis .Palgrave Concise Historical Atlas of Central Asia, (Palgrave Macmillan, 2008), 56.
  2. Europe in the Late Middle Ages, ed. Hale, John Rigby; Highfield, John Roger Loxdale; Smalley, Beryl. (Northwestern University Press, 1965), 150; "Timur, after defeating the Mamluks in 1400, won a decisive victory over the Ottomans near Ankara in 1402".
  3. Forbes Manz, Beatrice. "Temür and the Problem of a Conqueror's Legacy," Journal of the Royal Asiatic Society, Third Series, Vol. 8, N.º 1 (Abr. 1998), 25; "In his formal correspondence Temur continued throughout his life as the restorer of Chinggisid rights. He even justified his Iranian, Mamluk and Ottoman campaigns as a reimposition of legitimate Mongol control over lands taken by usurpers ...".
  4. Biran, Michal. "The Chaghadaids and Islam: The Conversion of Tarmashirin Khan (1331–34)," Journal of American Oriental Society, Vol. 122, N.º 4 (Out.-Dec., 2002), 751; "Temur, a non-Chinggisid, tried to build a double legitimacy based on his role as both guardian and restorer of the Mongol Empire."
  5. Runciman, p. 463.
  6. «The Seven Years Campaign, Part 2: War with the Mamluks — Battle of Aleppo». everything2.com. 2003. Consultado em 3 de dezembro de 2015 
  7. a b c d e f «The Seven Years Campaign, Part 2: War with the Mamluks — Battle of Damascus». everything2.com. 2003. Consultado em 3 de dezembro de 2015 
  8. Meserve, Margaret. Empires of Islam in Renaissance Historical Thought, (Harvard University Press, 2008), 207.
  9. Tucker, Spencer C. (2010) Battles That Changed History: An Encyclopedia of World Conflict. ABC-ClIO; p. 140
  10. «The Seven Years Campaign, Chapter 3: The Battle of Angora — Battle of Damascus». everything2.com. 2003. Consultado em 3 de dezembro de 2015