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Colo (filme)

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 Nota: Para outros significados, veja Colo.
Colo
Portugal Portugal
 França
2017 •  cor •  137 min 
Género drama
Direção Teresa Villaverde
Produção Teresa Villaverde
Cécile Vacheret
Coprodução Flavien Giorda
Roteiro Teresa Villaverde
Elenco Beatriz Batarda
João Pedro Vaz
Diretor de fotografia Acácio de Almeida
Edição Rodolphe Molla
Companhia(s) produtora(s) Alce Filmes
Sedna Films
Lançamento Alemanha 15 de fevereiro de 2017 (Festival de Berlim)
Idioma português

Colo é um filme dramático português de 2017, realizado, escrito e produzido por Teresa Villaverde. A longa-metragem é protagonizada por Beatriz Batarda, João Pedro Vaz e Alice Albergaria Borges, membros de uma família a viver os efeitos da crise financeira dos anos 2010.[1]

A sua estreia mundial ocorreu na sexagésima sétima edição do Festival de Berlim a 15 de fevereiro de 2017, onde competiu pelo Urso de Ouro.[2]

Em Lisboa, uma mãe trabalha em dois empregos enquanto o seu marido ficou desempregado, os efeitos da crise económica dos anos 2010.[3] Têm uma filha adolescente, que tenta encontrar o seu caminho por entre as novas limitações financeiras. Com as dificuldades que se vão acumulando, gradualmente os membros desta família afastam-se uns dos outros, e uma tensão cresce em silencio e culpa. O pai desempregado passa os seus dias a olhar a paisagem no horizonte que não lhe oferece oportunidades de futuro. A mãe regressa sempre exausta a casa depois de trabalhar duplos turnos. A filha adolescente mantém segredos para si, idealizando a vida que poderia ter se tivesse dinheiro.[4]

  • Beatriz Batarda, como Mãe.
  • João Pedro Vaz, como Pai.
  • Alice Albergaria Borges, como Marta.
  • Clara Jost, como Júlia.
  • Tomás Gomes, como João.
  • Dinis Gomes, como Pescador.
  • Ricardo Aibéo, como Jaime.
  • Simone de Oliveira, como Avó.
  • Rita Blanco, como Sílvia.
  • Angela Cerveira, como Senhora do Café.

Dados técnicos

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  • Produção: Alce Filmes e Portugal Film
  • Formato: Digital (Digital Cinema Package DCP) / Cor
  • Produtor: Teresa Villaverde[5]
  • Assistente de realização: Paulo Belém
  • Diretores de produção: Bruno Adrião e Catarina Barros
  • Diretor de fotografia: Acácio de Almeida
  • Operador de som: Heine Florian
  • Montagem de som: Marion Papinot e Josefina Rodríguez
  • Montagem: Rodolphe Molla
  • Laboratório de imagem: La Ruche Studio, Paris

A ideia para o argumento de Colo surgiu a Villaverde enquanto a autora não só vivia as consequências da crise financeira dos anos 2010, mas também a partir de uma reflexão sobre a rapidez com que a comunidade processou diferenças e adaptações aos novos constrangimentos económicos. Ainda assim, a autora não pretendeu com o guião especificar a situação financeira em Portugal ou referências temporais.[6] A longa-metragem é uma co-produção luso-francesa[7] que marca a estreia da realizadora no cinema digital. Colo contou com o apoio financeiro do Instituto do Cinema e do Audiovisual. Foi distribuído internacionalmente pela Films Boutique.[8]

Temas e estilo

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Apesar da temática das consequências da crise financeira dos anos 2010 em Portugal, os protagonistas não têm uma reação política contra o Governo, não buscam culpados para a sua situação, não dão qualquer sinal de consciência política, não se fala da Troika nem de nenhum governante. Pelo contrário, o filme procura representar como sofrem e acumulam progressivamente as mazelas. Procura-se demonstrar que as feridas afetivas são ainda mais difíceis de sarar do que as financeiras. [9] Tal como em Os Mutantes ou Transe, Colo revela um elaborado trabalho com os atores, interpretando personagens em necessidade de superar um qualquer lugar-comum psicológico ou comportamental.[10]

Os planos amplos da câmera ajudam a capturar esse estado de humor e a tentativa de um movimento em frente pelos personagens. Os restantes movimentos de câmera são elegantes e precisos, embora Villaverde não se preocupe em embelezar a cena, demonstrando cores mortas, o céu cinzento. [11] Colo surgiu como uma reflexão atual e serena sobre o caminho comum das sociedades europeias. Fala sobre o isolamento e a perplexidade das comunidades perante as dificuldades financeiras e sistémicas que vão surgindo. É um filme em tensão crescente que nunca chega a explodir e que recai, também, sobre a vida dentro das nossas famílias.[12]

Colo estreou a 15 de fevereiro na edição de 2017 do Festival de Berlim. O filme estreou em Portugal no dia 15 de março de 2018, em Lisboa (Cinema Ideal, Medeia Monumental), no Porto (Cinema Trindade, Teatro Campo Alegre) e em Coimbra (Alma Shopping). [13]

O filme fez parte da seleção dos seguintes Festivais internacionais de cinema:

A crítica internacional foi altamente negativa para com o filme. Rui Martins, escrevendo para o Jornal Opção, brasileiro, noticiou que a crítica internacional, desagradada com os "'silêncios', os planos fixos demorados e a falta de movimento em contraposição às cenas mais rápidas da moderna cinematografia", abandonou a exibição para críticos do filme no Festival Internacional de Cinema de Berlim e não compareceu à coletiva para a imprensa, embora tenha apreciado o tema, que foi considerado "dos melhores".[18]

Stephen Dalton, crítico na revista norte-americana The Hollywood Reporter, num trocadilho, referiu que "colo-nic irrigation would be more fun than this drab slab of anti-social realism" ("a hidrocolonterapia seria mais divertida que esta laje monótona de realismo anti-social"), no entanto falando de dois pontos positivos: as atrizes mais jovens trazerem uma "authentically gawky adolescent awkwardness to their roles" ("estranheza adolescente autenticamente desajeitada aos seus papéis") e que "Cinematographer Acacia de Almeida also locates tiny pockets of lyricism in unlikely locations, from a litter-strewn rooftop to a crumbling beach hut." ("a cinematógrafa Acácia de Almeida também localiza pequenos bolsos de liricismo em locais pouco habituais, desde um telhado cheio de lixo até uma tenda de praia em ruínas").[19]

Luís Diogo, do Jornal de Notícias, comentou que a imprensa portuguesa não veiculou nem o abandono nem a crítica negativa do Reporter.[20]

No entanto, houve críticas mais positivas. Jessica Kiang, da Variety, falou de "Portuguese filmmaker Teresa Villaverde's enigmatic, intelligent but drowsily paced examination of familial dissolution in modern Portugal" ("exame enigmático, inteligente mas lentamente atempado da cineasta portuguesa Teresa Villaverde sobre a dissolução familiar no Portugal moderno"),[21] ao passo que a Screen Daily também deu crítica positiva.[22]

O crítico português Jorge Mourinha, no Público, referiu-se a "um filme duro, difuso, comovente, perturbante sobre o que acontece às vidas normais quando a crise atinge o último reduto, o da família. Um statement português na Alemanha da disciplina orçamental".[23]

Ano Premiação Categoria Trabalho Resultado Ref.
2017 Festival de Berlim Urso de Ouro, Melhor filme Colo, Teresa Villaverde Indicado [24]
Bildrausch Filmfest Basel Bildrausch Ring of Film Art, Melhor filme Colo, Teresa Villaverde Venceu [25]
2018 CinEuphoria Melhor filme, Competição nacional Colo, Teresa Villaverde e Cécile Vacheret Indicado [26]
Top 10 do ano, Competição nacional Colo, Teresa Villaverde e Cécile Vacheret Venceu
Melhor realizador, Competição nacional Teresa Villaverde Venceu
Melhor cinematografia, Competição nacional Acácio de Almeida Indicado
Melhor edição, Competição nacional Rodolphe Molla Indicado
Melhor argumento, Competição nacional Teresa Villaverde Indicado
Melhor atriz secundária, Competição nacional Beatriz Batarda Indicado
Melhor atriz, Competição nacional Alice Albergaria Borges Indicado
Melhor ator, Competição nacional João Pedro Vaz Indicado
Festival L'Europe Autour de l'Europe Prix Sauvage, Melhor filme Colo, Teresa Villaverde e Cécile Vacheret Venceu [27]
2019 Prémio Autores Melhor filme Colo, Teresa Villaverde e Cécile Vacheret Indicado [28]
Melhor argumento Colo, Teresa Villaverde Indicado
Globos de ouro Melhor atriz Beatriz Batarda Indicado [29]
Prémios Sophia da Academia Portuguesa Melhor atriz secundária Beatriz Batarda Indicado [30]
Melhor canção original Arabic Soul, Tomás Gomes Indicado

Referências

  1. «Colo». Instituto do Cinema e Audiovisual. Consultado em 19 de fevereiro de 2017 
  2. Lusa (15 de fevereiro de 2017). «"Colo" de Teresa Villaverde estreia-se hoje no festival de Berlim». Porto Canal 
  3. «Avant-première en France du nouveau film de la réalisatrice Teresa Villaverde « Colo »». portugalglobal.pt. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  4. a b «Colo – IndieLisboa». indielisboa.com. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  5. Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Colo». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  6. «Teresa Villaverde Fala Sobre Cinema, a Crise e o Silêncio de «Colo» -». Elle Portugal - Revista de moda, beleza, tendências e celebridades. 15 de março de 2018. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  7. «Colo, A film by Teresa Villaverde» 
  8. «ArteKino Festival». ArteKino Festival (em inglês). Consultado em 8 de novembro de 2020 
  9. «Visão | Em Colo, de Teresa Villaverde, a crise tem sequelas íntimas». Visão. 18 de março de 2018. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  10. «Teresa Villaverde encena um tempo de muitas solidões - DN». www.dn.pt. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  11. «O rigor de Teresa Villaverde em 'colo'». ISTOÉ Independente. 17 de dezembro de 2017. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  12. «COLO — DE TERESA VILLAVERDE» 
  13. Pinto, João Gabriel Ribeiro, Mário Rui André, Rita; André, Mário Rui (14 de março de 2018). «Colo: mais uma reflexão sobre Portugal em filme». Shifter. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  14. «Colo». www.berlinale.de (em alemão). Consultado em 8 de novembro de 2020 
  15. «Colo (2017) | Film, Trailer, Kritik». www.kino-zeit.de. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  16. «Colo | Portugal Film - Portuguese Film Agency». www.portugalfilm.org. Consultado em 8 de novembro de 2020 
  17. «Scheda film». Torino Film Fest (em italiano). Consultado em 8 de novembro de 2020 
  18. Martins, Rui (15 de Fevereiro de 2017). «Crítica internacional abandona exibição de filme sobre a crise econômica em Portugal». Jornal Opção (2170). Consultado em 16 de Julho de 2017. Embora o tema de 'Colo' seja dos melhores, o que a crítica chamou de 'silêncios', os planos fixos demorados e a falta de movimento em contraposição às cenas mais rápidas da moderna cinematografia, não foram bem recebidos pela crítica internacional que abandonou a projeção e não foi à coletiva para a imprensa. 
  19. Dalton, Stephen (15 de Fevereiro de 2017). «'Colo': Film Review - Berlin 2017» ['Colo': Crítica ao Filme - Berlim 2017]. The Hollywood Reporter (em inglês). Consultado em 16 de Julho de 2017. Colo-nic irrigation would be more fun than this drab slab of anti-social realism. [...] If Colo has any saving graces, its two young female co-stars bring an authentically gawky adolescent awkwardness to their roles. Both were under 20 at the time of filming. Cinematographer Acacia de Almeida also locates tiny pockets of lyricism in unlikely locations, from a litter-strewn rooftop to a crumbling beach hut. 
  20. Diogo, Luís (27 de Fevereiro de 2017). «O cinema português». Jornal de Notícias. Consultado em 16 de Julho de 2017. O 'sistema' fala agora do grande cinema português, pela presença em Berlim. O 'Colo' passou lá e o jornal brasileiro 'Opção' escreve: 'Crítica internacional abandona a exibição do filme'. Cá, não vimos referência a esse abandono, já habitual, de críticos que detestam tanto este filme, que vão embora antes de o mesmo terminar. Também não vimos excertos de críticas como a do 'Hollywood Reporter', que escreve frases como: 'Colo-nic irrigation would be more fun than this drab slab of anti-social realism'; 'reveals much more about the numbing, alienating effects of bad cinema'; 'is both stylistically dull and dramatically banal'; 'social realism has a long and noble tradition in european cinema, but it should (...) not bore us to death'. 
  21. Kiang, Jessica. «Berlin Film Review: 'Colo'» [Crítica de filme de Berlim: 'Colo']. Variety (em inglês). Consultado em 16 de Julho de 2017. Portuguese filmmaker Teresa Villaverde's enigmatic, intelligent but drowsily paced examination of familial dissolution in modern Portugal. 
  22. Marshall, Lea (15 de Fevereiro de 2017). «'Colo': Berlin Review». Screen Daily. Consultado em 16 de Julho de 2017 
  23. Mourinha, Jorge (15 de Fevereiro de 2017). «O dinheiro segundo Teresa Villaverde – ou a falta dele». Público. Consultado em 16 de Julho de 2017. Colo, em concurso na Berlinale, é um filme duro, difuso, comovente, perturbante sobre o que acontece às vidas normais quando a crise atinge o último reduto, o da família. Um statement português na Alemanha da disciplina orçamental. 
  24. «"Teresa Villaverde fala das crises de "Colo"" | Sapo». Consultado em 6 de novembro de 2020 
  25. «""Colo", de Teresa Villaverde, recebe o prémio Bildrausch». Consultado em 6 de novembro de 2020 
  26. «"CinEuphoria Top do Ano - Competição Nacional" | CinEuphoria». Consultado em 6 de novembro de 2020 
  27. «"Filme de Teresa Villaverde vence prémio do Festival L'Europe Autour de l'Europe"». Consultado em 6 de novembro de 2020 
  28. «Sociedade Portuguesa de Autores divulgou os nomeados». Consultado em 6 de novembro de 2020 
  29. «Globos de Ouro: Os Vencedores - Espalha-Factos». Consultado em 6 de novembro de 2020 
  30. «Fevereiro 2019 – Comunidade Cultura e Arte». Consultado em 6 de novembro de 2020 

Ligações externas

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