Ramón Mercader: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Mercader post arrest.jpeg|thumb|320px|direita|Ramón Mercader (no centro, com a cabeça enfaixada) detido pelo assassinato de Trotsky.]]

'''Jaime Ramón Mercader del Río Hernández''', também conhecido como '''Ramón Mercader''', '''Jacques Monard''' ou ainda '''Frank Jacson''' ([[Barcelona]], [[7 de fevereiro]] de [[1914]] - [[Havana]], [[18 de outubro]] de [[1978]]) foi um [[Espionagem|agente]] no exterior do Comissariado do Povo para Assuntos Internos [[NKVD]] da [[URSS]], na época que [[Josef Stalin]] era o secretário geral do [[Partido Comunista]] da [[União Soviética]]. Seu ato mais conhecido foi se infiltrar na casa de [[Leon Trotsky]], em seu exílio no [[México]] e cometer o atentado que levaria à morte o principal rival de Stalin.
'''Jaime Ramón Mercader del Río Hernández''', também conhecido como '''Ramón Mercader''', '''Jacques Monard''' ou ainda '''Frank Jacson''' ([[Barcelona]], [[7 de fevereiro]] de [[1914]] - [[Havana]], [[18 de outubro]] de [[1978]]) foi um [[Espionagem|agente]] no exterior do Comissariado do Povo para Assuntos Internos [[NKVD]] da [[URSS]], na época que [[Josef Stalin]] era o secretário geral do [[Partido Comunista]] da [[União Soviética]]. Seu ato mais conhecido foi se infiltrar na casa de [[Leon Trotsky]], em seu exílio no [[México]] e cometer o atentado que levaria à morte o principal rival de Stalin.


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== Vida ==
== Vida ==

Mercader nasceu em [[Barcelona]], mas passou grande parte de sua juventude na [[França]] com sua mãe, Eustacia Maria Caridad del Río Hernández, após a separação de seus pais. Seu avô havia sido governador de Cuba. Ainda jovem abraçou o stalinismo, ajudando organizações stalinistas na Espanha durante meados dos [[Década de 1930|anos 30]]. Esteve preso por algum tempo devido a suas atividades, mas libertado quando a [[Frente Popular (Espanha)|Frente Popular]] venceu as eleições e assumiu o governo de seu país em [[1936]].
Mercader nasceu em [[Barcelona]], mas passou grande parte de sua juventude na [[França]] com sua mãe, Eustacia Maria Caridad del Río Hernández, após a separação de seus pais. Seu avô havia sido governador de [[Cuba]]. Ainda jovem abraçou o [[stalinismo]], ajudando organizações stalinistas na [[Espanha]] durante meados dos [[Década de 1930|anos 30]]. Esteve preso por algum tempo devido a suas atividades, mas libertado quando a [[Frente Popular (Espanha)|Frente Popular]] venceu as eleições e assumiu o governo de seu país em [[1936]].


Nesta época sua mãe se torna uma agente soviética. Pouco tempo antes de irromper a [[Guerra Civil Espanhola]] Ramón viaja a [[Moscou]], com o intuito de treinar as artes da sabotagem, luta de [[guerrilha]]s e assassinato. Foi-lhe dado o nome-código “GNOME” por seus superiores.
Nesta época sua mãe se torna uma agente soviética. Pouco tempo antes de irromper a [[Guerra Civil Espanhola]] Ramón viaja a [[Moscou]], com o intuito de treinar as artes da sabotagem, luta de [[guerrilha]]s e assassinato. Foi-lhe dado o nome-código “GNOME” por seus superiores.


== Assassinato de Trotsky ==
== Assassinato de Trotsky ==

[[Imagem:Trotsky grave.jpg|thumb|Túmulo de Leon Trótski em Coyoacán, bairro da cidade do México, no jardim da casa onde morou durante seus últimos anos de vida.]]
[[Imagem:Trotsky grave.jpg|thumb|Túmulo de Leon Trótski em Coyoacán, bairro da cidade do México, no jardim da casa onde morou durante seus últimos anos de vida.]]

Na primavera de 1939 Stalin afirma ao agente Sudoplotov:
Na primavera de 1939 Stalin afirma ao agente Sudoplotov:
{{quote1|''A guerra está próxima. O trotskismo tornou-se um cúmplice do Fascismo. Devemos dar um profundo golpe na IV internacional. Como? Decapitem-na! '' Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior. (Citado em Volkogonov, D. ''Trotsky''. pg. 456)|Stálin (O Assassinato de Trotsky: Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior.)}}


{{quote1|''A guerra está próxima. O trotskismo tornou-se um cúmplice do Fascismo. Devemos dar um profundo golpe na [[Quarta Internacional|IV internacional]]. Como? Decapitem-na! '' Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior. (Citado em Volkogonov, D. ''Trotsky''. pg. 456)|Stálin (O Assassinato de Trotsky: Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior.)}}
Em outubro de 1939, Mercader entrara no [[México]] com um passaporte falso, identificando-se como “Jacques Mornard”, um homem de negócios. Segundo Volgokanov a operação que levou ao assassinato de Trotski custa cerca de cinco milhões de dólares ao governo stalinista (Volkogonov, Trotski, pg 458).


Em outubro de 1939, Mercader entrara no [[México]] com um passaporte falso, identificando-se como “Jacques Mornard”, um homem de negócios. Segundo Volgokanov a operação que levou ao assassinato de Trotski custara cerca de cinco milhões de [[dólar]]es ao governo stalinista (Volkogonov, Trotski, pg 458).
No dia 24 de maio de 1940, falha um elaborado plano de assassinato estabelecido por Mercader e outro agente da NKVD no México. Um segundo plano foi rapidamente engendrado. Desta vez, “Jacques Mornard”, que tinha evitado levantar suspeitas durante o primeiro atentado contra a vida de Trotsky, consegue amizade com a secretária de Trotsky, Sylvia Agelof.


No dia 24 de maio de 1940, falha um elaborado plano de assassinato estabelecido por Mercader e outro agente da [[NKVD]] no México. Um segundo plano foi rapidamente engendrado. Desta vez, “Jacques Mornard”, que tinha evitado levantar suspeitas durante o primeiro atentado contra a vida de Trotsky, consegue amizade com a secretária de Trotsky, Sylvia Agelof.
Encontra-se por duas vezes com Trotsky sob o pretexto de ser um patrocinador canadense de suas ideias. Na segunda, em 20 de agosto, no escritório da casa de Trotsky em [[Coyoacán]] (próximo da [[Cidade do México]]), Mercader feriu-o mortalmente na cabeça com um [[Piolet|piolet]] (pequena picareta de alpinismo). Segundo alguns relatos, os seguranças de Trotsky iriam matá-lo, mas Trotsky impediu, gritando “Não o matem! Este homem tem uma história a contar.


Encontra-se por duas vezes com Trotsky sob o pretexto de ser um patrocinador canadense de suas ideias. Na segunda, em 20 de agosto, no escritório da casa de Trotsky em [[Coyoacán]] (próximo da [[Cidade do México]]), Mercader feriu-o mortalmente na cabeça com um [[Piolet|piolet]] (pequena picareta de [[alpinismo]]). Segundo alguns relatos, os seguranças de Trotsky iriam matá-lo, mas Trotsky impediu, gritando: "''Não o matem! Este homem tem uma história a contar.''"
Mercader foi conduzido às autoridades mexicanas, a quem se recusou a revelar sua real identidade; não obstante, foi condenado por assassinato e sentenciado a 20 anos de prisão, ficando os primeiros cinco anos em solitária (Levine, 1960 pg 10). Apenas em agosto de [[1953]] sua verdadeira identidade foi descoberta, suas conexões com a NKVD não foram reveladas até que tivesse ocorrido a dissolução da [[União Soviética]], quando foram abertos os arquivos da NKVD.

Mercader foi conduzido às autoridades mexicanas, a quem se recusou a revelar sua real identidade; não obstante, foi condenado por assassinato e sentenciado a 20 anos de prisão, ficando os primeiros cinco anos em [[Cela solitária|solitária]] (Levine, 1960 pg 10). Apenas em agosto de [[1953]] sua verdadeira identidade foi descoberta, suas conexões com a NKVD não foram reveladas até que tivesse ocorrido a [[dissolução da União Soviética]], quando foram abertos os arquivos da NKVD.


== Mercader descreve suas ações em seu julgamento no México ==
== Mercader descreve suas ações em seu julgamento no México ==

{{quote1|Coloquei minha capa de chuva na mesa, de uma forma que fosse capaz de remover o [[Piolet|piolet]] que estava dentro do bolso. Eu decidi aproveitar aquela maravilhosa oportunidade que se apresentava. O momento que Trotski começou a ler meu artigo foi quando decidi fazê-lo. Retirei o piolet do bolso do casaco, coloquei-o nas minhas mãos e, com meus olhos fechados, dei-lhe um forte golpe na cabeça. Trotski emitiu um grito que eu nunca esquecerei. Um longo ''aaaa'', interminavelmente longo, eu penso que ainda ecoa em meu cérebro. Trotski pulou em cima de mim como pôde e mordeu a minha mão. Olhe, você ainda pôde ver as marcas dos seus dentes. Eu o empurrei e ele caiu no chão. Então ele levantou-se e cambaleou para fora do escritório. (Volkogonov, Trotski, pg 466).|Ramon Mercader (Assassinato de Trotsky)}}
{{quote1|Coloquei minha capa de chuva na mesa, de uma forma que fosse capaz de remover o [[Piolet|piolet]] que estava dentro do bolso. Eu decidi aproveitar aquela maravilhosa oportunidade que se apresentava. O momento que Trotski começou a ler meu artigo foi quando decidi fazê-lo. Retirei o piolet do bolso do casaco, coloquei-o nas minhas mãos e, com meus olhos fechados, dei-lhe um forte golpe na cabeça. Trotski emitiu um grito que eu nunca esquecerei. Um longo ''aaaa'', interminavelmente longo, eu penso que ainda ecoa em meu cérebro. Trotski pulou em cima de mim como pôde e mordeu a minha mão. Olhe, você ainda pôde ver as marcas dos seus dentes. Eu o empurrei e ele caiu no chão. Então ele levantou-se e cambaleou para fora do escritório. (Volkogonov, Trotski, pg 466).|Ramon Mercader (Assassinato de Trotsky)}}


== Prisão, Fidelidade e Reconhecimento ==
== Prisão, Fidelidade e Reconhecimento ==
Mesmo sendo frequentemente torturado pela polícia mexicana, Mercader jamais revelou sua identidade ou suas ligações com a NKVD. Alfonso Quiroz, um psicólogo mexicano que se interessou pelo caso, concluiu após diversas análises que Mercader era uma pessoa superdotada, pois além de dominar vários idiomas fluentemente tinha uma capacidade de raciocínio acima do normal. Após poucos anos de prisão, Mercader pleiteou liberdade condicional, que foi negada pelo Dr. Jesús Siordia e pelo criminologista Q. Cuarón. Após cumprir sua pena, foi finalmente libertado do presídio Lecumberri, na Cidade do México, em maio de [[1960]], e mudou-se para [[Havana]], onde [[Fidel Castro]] o acolheu.


[[Imagem:Sentencia definitiva condenando a Ramón Mercader en 1944 - 'Ramón Mercader, mi hermano' (Luis Mercader y Germán Sánchez).jpg|thumb|210px|direita|Sentença de condenação de Mercader (1944). A sentença refere-se a ele como "''Jacques Monard ou Frank Jacson''".]]
Em [[1961]], Mercader mudou-se para a [[URSS]] e foi condecorado com a medalha de [[Herói da União Soviética]], uma das mais altas comendas do país. Mercader dividiu-se entre Cuba e a União Soviética pelo resto de sua vida, reverenciado pela [[KGB]] (sucessora da NKVD). Veio a falecer em Havana, em 1978, e encontra-se sepultado sob o nome de Ramon Ivanovitch López no cemitério de [[Kuntsevo (distrito)|Kuntsevo]], em Moscou, possuindo um lugar de honra no museu da KGB na capital russa.

Mesmo sendo frequentemente [[tortura]]do pela polícia mexicana, Mercader jamais revelou sua identidade ou suas ligações com a [[NKVD]]. Alfonso Quiroz, um psicólogo mexicano que se interessou pelo caso, concluiu após diversas análises que Mercader era uma [[Superdotado|pessoa superdotada]], pois além de dominar vários idiomas fluentemente tinha uma capacidade de raciocínio acima do normal. Após poucos anos de prisão, Mercader pleiteou liberdade condicional, que foi negada pelo Dr. Jesús Siordia e pelo criminologista Q. Cuarón.

A NKVD chegou a elaborar um ousado plano para resgatá-lo da prisão em Outubro de 1944.<ref>[http://agesmystery.ru/rubriki/lica-razvedki/razvedchiki-nelegaly-mixail-i-anna-filonenko/ Ages Mystery] - Разведчики-нелегалы Михаил и Анна Филоненко ("Os agentes ilegais Mikhail e Anna Filonenko"). {{ru}} Acessado em 13/09/2016.</ref> Entretanto, este plano, que contaria com a participação da espiã [[Anna Feodorovna Filonenko-Kamaeva]], jamais foi realizado.<ref>[[Gazeta Russa]] - [http://www.gazetarussa.com.br/defesa/2016/03/08/as-espias-que-sabiam-demais_573343 As espiãs que sabiam demais. De Hitler e Trótski a uma rede no Brasil.] Aleksandr Koroliov, 8 de Março de 2016. Acessado em 13/09/2016.</ref> Após cumprir sua pena, foi finalmente libertado do presídio Lecumberri, na [[Cidade do México]], em maio de [[1960]], e mudou-se para [[Havana]], onde [[Fidel Castro]] o acolheu.

Em [[1961]], Mercader mudou-se para a [[URSS]] e foi condecorado com a medalha de [[Herói da União Soviética]], uma das mais altas comendas do país. Mercader dividiu-se entre Cuba e a União Soviética pelo resto de sua vida, reverenciado pela [[KGB]] (sucessora da NKVD). Veio a falecer em Havana, em 1978, e encontra-se sepultado sob o nome de Ramon Ivanovitch López no cemitério de [[Kuntsevo (distrito)|Kuntsevo]], em [[Moscou]], possuindo um lugar de honra no museu da KGB na capital russa.


Na tarde do dia 20 de agosto de 1940, o agente stalinista Ramón Mercader saiu de um hotel no centro da capital mexicana e se dirigiu à residência de Trotsky, guardada por uma legião de seguranças. Mercader entrou na casa e se dirigiu ao escritório de Trotsky, onde lhe entregou um documento para ler e, enquanto isso, golpeou-o na cabeça com uma picareta de alpinista.
Na tarde do dia 20 de agosto de 1940, o agente stalinista Ramón Mercader saiu de um hotel no centro da capital mexicana e se dirigiu à residência de Trotsky, guardada por uma legião de seguranças. Mercader entrou na casa e se dirigiu ao escritório de Trotsky, onde lhe entregou um documento para ler e, enquanto isso, golpeou-o na cabeça com uma picareta de alpinista.
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Segundo o relato de Mercader a seu irmão, Luis, mesmo com a perfuração de sete centímetros na cabeça, Trotsky atirou-lhe objetos e ainda lhe salvou a vida, pedindo aos seguranças que não o matassem enquanto não confessasse o nome do mandante.
Segundo o relato de Mercader a seu irmão, Luis, mesmo com a perfuração de sete centímetros na cabeça, Trotsky atirou-lhe objetos e ainda lhe salvou a vida, pedindo aos seguranças que não o matassem enquanto não confessasse o nome do mandante.


Mercader jamais fez essa confissão às autoridades mexicanas. Cumpriu 20 anos de prisão no México e, em 1961 foi condecorado como "herói da URSS" pelo dirigente Nikita Kruchev. Mas o "herói" passou a ser um "peso morto" para o governo soviético e teve sua identidade modificada pelos agentes de Stálin, até mesmo nos livros de registros de Barcelona, cidade onde nasceu. A partir de 1974, tornou-se amigo íntimo de Fidel Castro, de quem ganhou uma residência em Havana, onde morreu quatro anos depois. Suas cinzas foram transportadas em um vôo especial para Moscou. Sua lápide no cemitério de Kuznetsovo diz: "Ramón Ivanovitch López, herói da União Soviética". (Flavio Campos e Renan Garcia Miranda. A escrita da História. 1ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2005)
Mercader jamais fez essa confissão às autoridades mexicanas. Cumpriu 20 anos de prisão no México e, em 1961 foi condecorado como "herói da URSS" pelo dirigente [[Nikita Khrushchov]]. Mas o "herói" passou a ser um "peso morto" para o governo soviético e teve sua identidade modificada pelos agentes de Stálin, até mesmo nos livros de registros de Barcelona, cidade onde nasceu. A partir de 1974, tornou-se amigo íntimo de Fidel Castro, de quem ganhou uma residência em Havana, onde morreu quatro anos depois. Suas cinzas foram transportadas em um vôo especial para Moscou. Sua lápide no cemitério de Kuznetsovo diz: "Ramón Ivanovitch López, herói da União Soviética". (Flavio Campos e Renan Garcia Miranda. A escrita da História. 1ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2005)


== Filmografía sobre Ramón Mercader ==
== Filmografía sobre Ramón Mercader ==
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== Referências ==
== Ver também ==

* [[Divergências entre Stalin e Trotsky]]
* [[Stalinismo]]
* [[Trotskismo]]

{{Referências}}

== Fontes ==

* [http://www.revistabula.com/posts/livros/livro-revela-como-foi-articulado-assassinato-de-trotski O Chefe das Operações Especiais (assassinatos e terrorismo) de Stálin explica como coordenou o assassinato do revolucionário ucraniano, no México, em [[1940]], e o roubo dos segredos atômicos dos Estados Unidos. Operações Especiais — Memórias de uma Testemunha Indesejada. Publicações Europa-América, 543 páginas, 1994]
* [http://www.revistabula.com/posts/livros/livro-revela-como-foi-articulado-assassinato-de-trotski O Chefe das Operações Especiais (assassinatos e terrorismo) de Stálin explica como coordenou o assassinato do revolucionário ucraniano, no México, em [[1940]], e o roubo dos segredos atômicos dos Estados Unidos. Operações Especiais — Memórias de uma Testemunha Indesejada. Publicações Europa-América, 543 páginas, 1994]
* Dmitri Volkogonov. “Trotsky — The Eternal Revolucionary”. Free Press/Simon & Schuster, 524 páginas, 1996
* Dmitri Volkogonov. “Trotsky — The Eternal Revolucionary”. Free Press/Simon & Schuster, 524 páginas, 1996
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== Bibliografia ==
== Bibliografia ==

* Trotsky's Diary in Exile (London 1959);
* Trotsky's Diary in Exile (London 1959);
* Victor Serge and Natalia Sedova Trotsky: The Life and Death of Leon Trotsky (London 1975);
* Victor Serge and Natalia Sedova Trotsky: The Life and Death of Leon Trotsky (London 1975);
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* Ronald SegaI: The Tragedy of Leon Trotsky (London 1979).
* Ronald SegaI: The Tragedy of Leon Trotsky (London 1979).


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== Ver também ==
* [[Trotskismo]]
* [[Stalinismo]]

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Revisão das 11h58min de 13 de setembro de 2016

Ficheiro:Mercader post arrest.jpeg
Ramón Mercader (no centro, com a cabeça enfaixada) detido pelo assassinato de Trotsky.

Jaime Ramón Mercader del Río Hernández, também conhecido como Ramón Mercader, Jacques Monard ou ainda Frank Jacson (Barcelona, 7 de fevereiro de 1914 - Havana, 18 de outubro de 1978) foi um agente no exterior do Comissariado do Povo para Assuntos Internos NKVD da URSS, na época que Josef Stalin era o secretário geral do Partido Comunista da União Soviética. Seu ato mais conhecido foi se infiltrar na casa de Leon Trotsky, em seu exílio no México e cometer o atentado que levaria à morte o principal rival de Stalin.

Como um suposto rico comerciante ele se tornara amante da trotskista estadounidense Sylvia Agelot, e se infiltrara na casa onde Trotski morava (Volkogonov, Trotski, pg 465), cometendo o atentado ao final da tarde de 20 de agosto de 1940. Em 1961 foi condecorado com a medalha de Herói da União Soviética, uma das mais altas comendas do país.

Vida

Mercader nasceu em Barcelona, mas passou grande parte de sua juventude na França com sua mãe, Eustacia Maria Caridad del Río Hernández, após a separação de seus pais. Seu avô havia sido governador de Cuba. Ainda jovem abraçou o stalinismo, ajudando organizações stalinistas na Espanha durante meados dos anos 30. Esteve preso por algum tempo devido a suas atividades, mas libertado quando a Frente Popular venceu as eleições e assumiu o governo de seu país em 1936.

Nesta época sua mãe se torna uma agente soviética. Pouco tempo antes de irromper a Guerra Civil Espanhola Ramón viaja a Moscou, com o intuito de treinar as artes da sabotagem, luta de guerrilhas e assassinato. Foi-lhe dado o nome-código “GNOME” por seus superiores.

Assassinato de Trotsky

Túmulo de Leon Trótski em Coyoacán, bairro da cidade do México, no jardim da casa onde morou durante seus últimos anos de vida.

Na primavera de 1939 Stalin afirma ao agente Sudoplotov:

Em outubro de 1939, Mercader entrara no México com um passaporte falso, identificando-se como “Jacques Mornard”, um homem de negócios. Segundo Volgokanov a operação que levou ao assassinato de Trotski custara cerca de cinco milhões de dólares ao governo stalinista (Volkogonov, Trotski, pg 458).

No dia 24 de maio de 1940, falha um elaborado plano de assassinato estabelecido por Mercader e outro agente da NKVD no México. Um segundo plano foi rapidamente engendrado. Desta vez, “Jacques Mornard”, que tinha evitado levantar suspeitas durante o primeiro atentado contra a vida de Trotsky, consegue amizade com a secretária de Trotsky, Sylvia Agelof.

Encontra-se por duas vezes com Trotsky sob o pretexto de ser um patrocinador canadense de suas ideias. Na segunda, em 20 de agosto, no escritório da casa de Trotsky em Coyoacán (próximo da Cidade do México), Mercader feriu-o mortalmente na cabeça com um piolet (pequena picareta de alpinismo). Segundo alguns relatos, os seguranças de Trotsky iriam matá-lo, mas Trotsky impediu, gritando: "Não o matem! Este homem tem uma história a contar."

Mercader foi conduzido às autoridades mexicanas, a quem se recusou a revelar sua real identidade; não obstante, foi condenado por assassinato e sentenciado a 20 anos de prisão, ficando os primeiros cinco anos em solitária (Levine, 1960 pg 10). Apenas em agosto de 1953 sua verdadeira identidade foi descoberta, suas conexões com a NKVD não foram reveladas até que tivesse ocorrido a dissolução da União Soviética, quando foram abertos os arquivos da NKVD.

Mercader descreve suas ações em seu julgamento no México

Prisão, Fidelidade e Reconhecimento

Sentença de condenação de Mercader (1944). A sentença refere-se a ele como "Jacques Monard ou Frank Jacson".

Mesmo sendo frequentemente torturado pela polícia mexicana, Mercader jamais revelou sua identidade ou suas ligações com a NKVD. Alfonso Quiroz, um psicólogo mexicano que se interessou pelo caso, concluiu após diversas análises que Mercader era uma pessoa superdotada, pois além de dominar vários idiomas fluentemente tinha uma capacidade de raciocínio acima do normal. Após poucos anos de prisão, Mercader pleiteou liberdade condicional, que foi negada pelo Dr. Jesús Siordia e pelo criminologista Q. Cuarón.

A NKVD chegou a elaborar um ousado plano para resgatá-lo da prisão em Outubro de 1944.[1] Entretanto, este plano, que contaria com a participação da espiã Anna Feodorovna Filonenko-Kamaeva, jamais foi realizado.[2] Após cumprir sua pena, foi finalmente libertado do presídio Lecumberri, na Cidade do México, em maio de 1960, e mudou-se para Havana, onde Fidel Castro o acolheu.

Em 1961, Mercader mudou-se para a URSS e foi condecorado com a medalha de Herói da União Soviética, uma das mais altas comendas do país. Mercader dividiu-se entre Cuba e a União Soviética pelo resto de sua vida, reverenciado pela KGB (sucessora da NKVD). Veio a falecer em Havana, em 1978, e encontra-se sepultado sob o nome de Ramon Ivanovitch López no cemitério de Kuntsevo, em Moscou, possuindo um lugar de honra no museu da KGB na capital russa.

Na tarde do dia 20 de agosto de 1940, o agente stalinista Ramón Mercader saiu de um hotel no centro da capital mexicana e se dirigiu à residência de Trotsky, guardada por uma legião de seguranças. Mercader entrou na casa e se dirigiu ao escritório de Trotsky, onde lhe entregou um documento para ler e, enquanto isso, golpeou-o na cabeça com uma picareta de alpinista.

Segundo o relato de Mercader a seu irmão, Luis, mesmo com a perfuração de sete centímetros na cabeça, Trotsky atirou-lhe objetos e ainda lhe salvou a vida, pedindo aos seguranças que não o matassem enquanto não confessasse o nome do mandante.

Mercader jamais fez essa confissão às autoridades mexicanas. Cumpriu 20 anos de prisão no México e, em 1961 foi condecorado como "herói da URSS" pelo dirigente Nikita Khrushchov. Mas o "herói" passou a ser um "peso morto" para o governo soviético e teve sua identidade modificada pelos agentes de Stálin, até mesmo nos livros de registros de Barcelona, cidade onde nasceu. A partir de 1974, tornou-se amigo íntimo de Fidel Castro, de quem ganhou uma residência em Havana, onde morreu quatro anos depois. Suas cinzas foram transportadas em um vôo especial para Moscou. Sua lápide no cemitério de Kuznetsovo diz: "Ramón Ivanovitch López, herói da União Soviética". (Flavio Campos e Renan Garcia Miranda. A escrita da História. 1ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2005)

Filmografía sobre Ramón Mercader

Ano Filme Diretor Ator Nota
1972 O Assassinato de Trotsky Joseph Losey Alain Delon Filme britânico que conta a história do assassinato de Trotsky
1996 Asaltar los cielos José Luis López-Linares e Javier Rioyo - Documentário espanhol do ponto de vista da família Mercarder
2009 El hombre que amaba a los perros Leonardo Padura - Novela histórica cubana com a narração em torno do exílio de Trotsky e sua confluência no México com Mercader.
2015 El Elegido Antonio Chavarrías Alfonso Herrera Filme mexicano/espanhol que conta a história de Ramón durante a operação do assassinato de Trotsky. Também estão no elenco Hanna Murray (Game of Thrones) e Henry Goodman.

Ver também

Referências

  1. Ages Mystery - Разведчики-нелегалы Михаил и Анна Филоненко ("Os agentes ilegais Mikhail e Anna Filonenko"). (em russo) Acessado em 13/09/2016.
  2. Gazeta Russa - As espiãs que sabiam demais. De Hitler e Trótski a uma rede no Brasil. Aleksandr Koroliov, 8 de Março de 2016. Acessado em 13/09/2016.

Fontes

Bibliografia

  • Trotsky's Diary in Exile (London 1959);
  • Victor Serge and Natalia Sedova Trotsky: The Life and Death of Leon Trotsky (London 1975);
  • Natalia Trotsky: How it Happened and Father and Son ('Fourth International,' May 1941 and August 1941);
  • Jean van Heijenoort: With Trotsky in Exile (London 1978);
  • Elizabeth Poretsky: Our Own People: A Memoir of Ignace Reiss (London 1969);
  • Isaac Don Levine; The Mind of an Assassin (London 1960);
  • Georges Vereeken: The GPU in the Trotskyist Movement (London 1978);
  • Alexander Orlov: The Secret History of Stalin's Crimes (London 1954);
  • Walter Krivitsky: I Was Stalin's Agent (London 1941);
  • Ronald SegaI: The Tragedy of Leon Trotsky (London 1979).