Estêvão I da Ibéria

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Estêvão I
Príncipe da Ibéria
Estêvão I da Ibéria
Dracma do príncipe Estêvão I
Reinado 590-627
Antecessor(a) Gurgenes I
Sucessor(a) Adarnases I
Morte 627
Nome completo  
სტეფანოზ
Casa guaramida
Pai Gurgenes I
Religião Cristianismo

Estêvão I (em georgiano: სტეფანოზ; romaniz.:Step'anoz I; 627) foi um príncipe da Ibéria da dinastia guaramida de 590 a 627. Foi morto durante uma batalha contra um exército bizantino invasor.

História[editar | editar código-fonte]

Tremisse do imperador Heráclio (r. 610–641)
Igreja da Vera Cruz

Segundo a crônica georgiana, Estêvão foi um bagrátida, filho de Gurgenes I, o curopalata que reinou por 19 anos como mthawar des éristhaws da Geórgia, de 600 a 619.[1] Cyril Toumanoff e outros estudiosos modernos rejeitam essa relação e consideram-o membro da dinastia guaramida, um ramo mais jovem da antiga dinastia real do Ibéria, que governou o Principado de Colarzena-Javaquécia.[2]

Seu pai, Gurgenes I, foi qualificado hegêmono em 572/575, recebendo em 588 o título de "príncipe primaz da Ibéria" e curopalata pelo Império Bizantino após a abolição, em 580, da monarquia ibérica pelo Império Sassânida. Ca. 590, Estêvão assumiu a sucessão e seu pai como o príncipe de Colarzena-Javaquécia e príncipe primaz da Ibéria.[3] Estêvão inverteu as políticas pró-bizantinas de seu pai para pró-iranianas e, por lealdade a seus suseranos sassânidas, conseguiu reunir a Ibéria sob seu domínio. Ele fez Tiflis sua capital e defendeu-a com uma força georgiano-iraniana quando o imperador bizantino Heráclio (r. 610–641), em aliança com os cazares,[nt 1] atacou a Ibéria em 626 (ver guerra bizantino-sassânida de 602-628). Estêvão foi morto por Ziebel, o líder dos cazares, e seu crânio foi mandado para Heráclio.[5][6] Seu ofício foi dado a Adarnases I, seu parente da dinastia cosroida.[7][8]

Seu reinado coincidiu com outro ponto crucial na história local. Quando Estêvão mudou da posição pró-bizantina à cooperação com os iranianos, suas simpatias religiosas deslocaram-se em direção ao anti-calcedonianismo, levando a sua adoção oficial pelo católico da Ibéria em 598 ou 599. Por 608, contudo, a Igreja Ortodoxa Georgiana retornou para uma posição calcedônia, o que levou a Igreja irmã da Armênia a quebrar comunhão com a Igreja georgiana e excomungar o católico Cirião I. Contudo, por volta da campanha de Heráclio houve uma vitória final da fé calcedônia na Ibéria.[9]

Estêvão foi o primeiro entre os governantes iberos que escreveu no anverso dos dracmas "ibero-sassânidas" cunhados por ele as iniciais de seu nome, simetricamente colocadas na borda em letras estilizadas georgianas. No reverso de suas moedas, em vez da chama sagrada (Atar), o principal emblema do zoroastrismo, ele colocou a Cruz - símbolo da vitória do cristianismo. Isto foi um ato político significativo apontando que Estêvão não tinha uma mera iranofilia, mas sim seus esforços para restabelecer a autonomia política da Geórgia Oriental e fortalecer a Igreja cristã.[10][11]

A placa de pedra exterior da Igreja da Vera Cruz em Mtsqueta, na Geórgia, menciona os principais construtores desta igreja: Estêvão, o patrício, Demétrio, o hípato, e Adarnases, o hípato que tinham sido igualados pelos estudiosos georgianos com Estêvão I, filho de Gurgenes I, Demétrio, irmão de Estêvão I, e Adarnases I. Porém, a opinião expressa pelo professor Cyril Toumanoff não abona esse ponto de vista, identificando-os com Estêvão II, Demétrio (irmão de Estêvão I), e Adarnases II (filho de Estêvão II), nessa ordem.[12]

Notas

  1. Embora as fontes bizantinas citem os povos aliados de Heráclio como cazares, atualmente é comum a identificação com os goturcos. Por conseguinte Ziebel é relacionado com Tong Jabgu.[4]

Referências

  1. Brosset 1830, p. 223.
  2. Toumanoff 1990, p. 533.
  3. Toumanoff 1990, p. 382; 533.
  4. Kaegi 2003, p. 143.
  5. Grousset 1947, p. 275.
  6. Assatiani 1997, p. 78-79.
  7. Suny 1994, p. 26.
  8. Martindale 1992, p. 1195-1196.
  9. Suny 1994, p. 27.
  10. Djobadze 1960, p. 118.
  11. Lang 1966, p. 100-101.
  12. Rapp 2003, p. 344.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Assatiani, Nodar; Alexandre Bendianachvili (1997). Histoire de la Géorgie. Paris: l'Harmattan. ISBN 2-7384-6186-7 
  • Brosset, Marie-Félicité (1830). Chronique Géorgienne. Paris: Imprensa Real 
  • Djobadze, Wachtang (1960). «The Sculptures on the Eastern Facade of the Holy Cross of Mtzkheta». Oriens Christianus 
  • Grousset, René (1947). Histoire de l’Arménie des origines à 1071. Paris: Payot 
  • Lang, David Marshall (1966). The Georgians. Westport, Connecticut: Praeger Publishers 
  • Martindale, John Robert; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press. ISBN 0-521-20160-8 
  • Rapp, Stephen H. (2003). Studies In Medieval Georgian Historiography: Early Texts And Eurasian Contexts. Lovaina: Peeters Publishers. ISBN 90-429-1318-5 
  • Suny, Ronald Grigor (1994). The Making of the Georgian Nation: 2nd edition. Bloomington: Indiana University Press. ISBN 0-253-20915-3 
  • Toumanoff, Cyril (1990). Les dynasties de la Caucasie chrétienne de l'Antiquité jusqu'au xixe siècle : Tables généalogiques et chronologiques. Roma: Edizioni Aquila