Fernanda Kaingang

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Fernanda Jófej Kaingang
Nome completo Lucia Fernanda Jófej Kaingáng[1]
Nascimento 1978
Tapejara, Rio Grande do Sul, Brasil
Ocupação jurista, artista e líder indígena caingangue

Lucia Fernanda Jófej Kaingáng (Tapejara, 1978) é uma jurista, artista e líder indígena brasileira da etnia caingangue.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Fernanda, cujo nome no idioma caingangue é Jófej, é filha de indígenas caingangues, sendo o pai um funcionário público da FUNAI e a mãe, Andila Nivygsãnh, uma professora indígena caingangue, ambos pertencentes à Terra Indígena Carreteiro, em uma época anterior à emancipação política do município de Água Santa, no estado do Rio Grande do Sul, quando aquelas terras eram identificadas com o território do município de Tapejara. Jófej veio a ser registrada com o nome de "Lucia Fernanda Inácio Belfort", nome baseado na língua portuguesa que atendia aos requisitos da legislação brasileira de registros públicos, a qual constitui uma reprodução dos padrões impostos por uma cultura jurídica de matriz europeia. Ela é neta de lideranças da Terra Indígena Carreteiro, o cacique Manoel Inácio e a parteira e funcionária pública estadual Joana Caetano[2][3]

Aprovada no vestibular com 17 anos e tendo estudado com uma bolsa de auxílio custeada por organizações não governamentais, formou-se em direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) no ano de 2000. Em seguida, com a aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Fernanda veio a ocupar um cargo público em comissão de assessora do Gabinete da Presidência da FUNAI. Logo após essa experiência no serviço público federal, ingressou no mestrado em direito público da Universidade de Brasília.[2][4]

Ainda na primeira metade da década de 2000, quando ela já havia deixado a assessoria da FUNAI, ela se tornou diretora executiva do "Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual" (INBRAPI)[5][6], entidade da sociedade civil voltada para a proteção do patrimônio cultural dos povos indígenas, atuação que passará a exercer pelas décadas seguintes em defesa dos interesses desses povos perante a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e durante as Conferências das Partes relacionadas à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB).[7]

Ela, que já havia se destacado por ser a primeira advogada indígena nascida na Região Sul do Brasil[4], notabilizou-se por ser a primeira indígena a obter o título de mestre em direito público em uma universidade brasileira, visto que Joênia Wapixana havia obtido o seu mestrado nos Estados Unidos. Assim, Fernanda defendeu em 2006 a sua dissertação de mestrado denominada de "A proteção dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas, em face da convenção sobre diversidade biológica" na Universidade de Brasília, tendo a orientação da professora Alejandra Leonor Pascual e a co-orientação da professora Edite do Céu Faial Jacques.[8] Com esse título, ela veio também a se tornar a primeira indígena especializada em biodiversidade sob a ótica acadêmica ocidental.[2][5][9][10]

Em agosto de 2015, Fernanda foi eleita para o cargo de mediadora do Colegiado Setorial de Culturas dos Povos Indígenas, instância colegiada do Ministério da Cultura responsável por acompanhar a implementação do Plano Nacional das Culturas Indígenas, principal documento de planejamento estatal das políticas indígenas naquela pasta.[11] No mesmo ano, ela se tornou conselheira suplente no Conselho Nacional de Políticas Culturais.[10]

Durante a década de 2010, Fernanda Kaingang ingressou no curso de doutorado em arqueologia pela Universidade de Leiden, situada nos Países Baixos.[12]

Em outubro de 2023, ela foi indicada pela presidente da FUNAI, Joênia Wapixana, para ocupar o cargo de diretora nacional do órgão público responsável pelo Museu do Índio que virá a se tornar o Museu dos Povos Indígenas. Assim, Jófej se tornará a primeira indígena a ocupar esse cargo público.[13]

Obras acadêmicas[editar | editar código-fonte]

Artigos e capítulos de livros[editar | editar código-fonte]

  • BELFORT, Lucia Fernanda I. (KAINGÁNG, Lucia Fernanda Jófej); KAINGANG, P. L. F. J. "O Conhecimento Tradicional e os Povos Indígenas". Cadernos do INBRAPI, São Paulo, v. 1, p. 8-15, 2004;
  • BELFORT, Lucia Fernanda I. (KAINGÁNG, Lucia Fernanda Jófej); KAINGANG, P. L. F. J. "Debates sobre Biodiversidade e Tecnociência". In: Fernando Mathias; Henry Novion. (Orgs.). As Encruzilhadas das Modernidades. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2006;
  • BENSUSAN, Nurit; BARROS, Ana Cristina; BULHÕES, Beatriz; ARANTES, A.; BELFORT, Lucia Fernanda I. (KAINGÁNG, Lucia Fernanda Jófej). "Wide-eyed and open-hearted". In: Nurit Bensusan, Ana Cristina Barros, Beatriz Bulhões, Alessandra Arantes (Orgs.). The role of the Brazilian indigenous peoples in the implementation of the CDB. São Paulo: Peirópolis, 2006;
  • KAINGANG, P. L. F. J. ; BELFORT, L. F. I. (KAINGÁNG, Lucia Fernanda Jófej). "O Papel dos Povos Indígenas na Implementação da CDB". In: Nurit Bensusan; Nurit Bensusan; Ana Cristina Barros; Beatriz Bulhões; Alessandra Arantes (Orgs.). Biodiversidade: para comer, vestir ou passar no cabelo?. São Paulo: Peiróplis, 2006.

Livros[editar | editar código-fonte]

Os principais livros publicados e coletâneas organizadas são os seguintes:

  • KAINGÁNG, Susana Fakój; JACODSEN, Joziléia Daniza Jagso Inacio ; BELFORT, L. F. I. (KAINGÁNG, Lucia Fernanda Jófej); KAINGANG, P. L. F. J. (Orgs.). Eg Rá Nossas Marcas. São Paulo: DM Projetos Especiais, 2013.
  • KAINGÁNG, Lucia Fernanda Jófej; KAINGÁNG, Susana Fakój; INACIO, A.; KAINGÁNG, V.; JACODSEN, Joziléia Daniza Jagso Inacio (Orgs.). Ponto de Cultura Kanhgág Jãre 15 Anos. Ronda Alta: Instituto Kaingáng, 2020.[14]
  • KAINGÁNG, Lucia Fernanda Jófej; BELFORT, S. A. I. (Orgs.). Expressões culturais tradicionais Kaingáng. 1ª. ed. Ab Aeterno, 2021.[14]
  • KAINGÁNG, Lucia Fernanda Jófej. DIREITOS NEGADOS, PATRIMÔNIOS ROUBADOS: Desafios para a proteção dos conhecimentos tradicionais, recursos genéticos, e expressões culturais tradicionais dos povos indígenas no cenário internacional. Ronda Alta: Instituto Kaingáng, 2023.

Obras artísticas[editar | editar código-fonte]

  • Vídeo audiovisual para crianças Kaingáng sobre cuidados de saúde na Pandemia de Covid-19 (2020). Obra produzida em conjunto com a educadora Vãngri Kaingáng, contendo música interpretada pelo artista Márcio Bororo.[15]

Referências

  1. Airton Centeno (20 de abril de 2022). «Enquanto brasileiros se acovardam, indígenas marcham para Brasília contra genocídio». Diálogos do Sul. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  2. a b c «Fernanda Caingangue é a primeira indígena mestre em direito no país». Migalhas. 21 de janeiro de 2008. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  3. Schild, Joziléia Daniza Jagso Inácio Jacodsen (2016). «Mulheres Kaingang, seus caminhos, políticas e redes na TI Serrinha» (PDF). Dissertação (mestrado em Antropologia Social) - UFSC. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  4. a b «Médica, advogada, estilista... Conheça a história de cinco indígenas que são destaque em especial da Globo». Extra. 16 de abril de 2021. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  5. a b «Diálogos Contemporâneos com Fernanda Kaingáng». 6 de maio de 2018. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  6. «Índios brasileiros criam foro para discutir a biodiversidade». Agência Senado. 22 de março de 2006. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  7. Silva, Paulo Émerson Cardoso da (12 de abril de 2023). «Fernanda Kaingáng e Diego Hernandez abordarão as (re)existências dos povos indígenas no Simpósio Diálogos da Contemporaneidade». UNIVATES. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  8. «A proteção dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas, em face da convenção sobre diversidade biológica» (PDF). Portal Domínio Público. 2006. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  9. «A construção das desigualdades sociais na historia do Brasil». TV Brasil. 19 de abril de 2014. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  10. a b «BIOGRAPHIES (ENGLISH)». Lado Brasil. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  11. «A construção das desigualdades sociais na historia do Brasil». Ministério da Cultura. 14 de agosto de 2015. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  12. «"Apesar da política de extermínio, continuamos existindo e resistindo", diz Fernanda Kaingang». Brasil de Fato. 16 de abril de 2022. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  13. «Museu do Índio no Rio de Janeiro recebe visita Presidente da Funai e reforça compromisso com fortalecimento da instituição e com mudanças». Rádio Yandê. 11 de outubro de 2023. Consultado em 21 de outubro de 2023 
  14. a b Belfort, Susana Andréa Inácio; Menezes, Magali Mendes de (2021). «Ponto de Cultura Kanhgág Jãre: Caminho para implementação da lei 11.645/2008». UNISINOS. Revista Latino-Americana de História. 10 (26). Consultado em 21 de outubro de 2023 
  15. «AUDIOVISUAL PARA CRIANÇAS INDÍGENAS KAINGÁNG SOBRE CUIDADOS DE SAÚDE NA PANDEMIA DE COVID-19». Instituto Kaingang. Consultado em 21 de outubro de 2023 
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